quinta-feira, 30 de junho de 2022

Saudade

 


A lágrima que tinha sobre a mão,

Secou a instantes do coração,

A luz do sol que ofuscava o horizonte,

Foi o bastante para conter sua existência,


Mas, não o bastante para apaga-la,

Restou sobre a mão a marca,

E nela um gosto,

Este gosto não buscou os lábios dela,


Mas chegou ao olfato,

E lembrou da dor que queria esquecer,

Sem perceber a fez notar: chorei...

Nem é preciso dizer,


Senti e vivi tanto que cheguei até aqui,

Algo anunciava-se para o dia seguinte,

Um novo sonho, um sorriso no rosto,

Que neste momento apagava a face,


O rosa da flor que um dia foi afeto,

Agora enrubescia do seu olhar ao resto,

Dor e outras coisas mais,

Sem delicadeza alguma,


A lágrima caiu e repousou em sua pele,

Já se acostumava a chorar todo dia,

Da secura que vinha aos lábios – nem sentia,

Então, quando estava neste pensamento doloroso,


Virou o rosto e andou um passo,

Teria caído ao abismo,

Mas, uma borboleta foi como refúgio,

Saiu da flor onde estava e chegou nela:


Pousou sobre sua mão e afagou-a,

De beijo a beijo a eternidade se faz,

De sonho e um adeus o encanto se desfaz,

Faz dos beijos um retorno ao pó,


Como se nunca tivesse existido,

Ou se quisesse apagar da memória o sabor,

O amor a quem se confia se divide em metades,

A que esteve inteira não está mais,


Mil sonhos se avistam no horizonte,

Outros tantos ficaram para trás,

Mas, não há como negar a verdade:

De que amor que é amor, não se desfaz.


Você simplesmente olhar e o vê:

No horizonte, nos lábios dos outros, em sua face,

Quem faz do amor um doce abrigo,

Não sente medo de dor ou do que a lembrança traz,


O esquecimento nunca chega,

O Adeus nunca marca,

Porque o coração dita as ordens a respeito,

E a alma se contenta por ser capaz,


Projetam-se sonhos e lembranças no caminho,

Aquele em que seguiram juntos agora é de espera,

Na mão que o afagou resta as marcas,

Os pés que andaram apoiados sabem caminhar,


Não há pedra ou outra coisa que fira ou impeça,

Na lagrima brota a lembrança,

O sol anuncia a noite e ela o dia,

O coração é a rocha e nele não há injustiça.


Veste a lembrança,

Evita descrer e arma-se de afeto,

O amor que foi um dia não se abala com a ausência,

O coração que amou não é capaz de deixar sozinho.


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