sexta-feira, 17 de junho de 2022

Um Abraço

 


Assim, se criam amores raros,

Existe a paixão, como existe de tudo,

Mas quando o amor chega e torna-se possível,

Quando ao final do beijo não se quer abrir os olhos,


Ou se quer, apenas para poder contemplar aquele,

Tudo ao redor toma forma e se encaixa, concilia-se,

Como antes eu vivia? Como? Talvez, eu saiba dizer,

Quem sabe até o final dessas linhas eu o possa fazer,


Ao pagar o preço para ser digna de quem se quer,

Instante em que a majestosa luz do amor nos toca,

Não se deseja outra coisa senão ele,

Seu beijo, seu carinho e sua graça,


Naquela época, amores eram sonhos,

Mas no instante em que o tem em seus braços,

Torna-se a doce e fluída realidade,

A percorrer por seus corpos e entregar-se em carinhos,


Um roçar de dedos em sua pele quente e macia,

E o sorriso que a alma sente ressoa em seus lábios,

Não é mais que reflexo dos olhos daquela que ama,

Depois a dor de ter que se afastar e ir embora,


O triste sentimento de querer ficar e não poder,

O querer estar mais que tudo,

Mas, ter algo que ainda impeça – o início-,

O momento em que ainda se cogita:


Será que amo ou estou me enganando?

Por dois toques em sua pele macia aveludada

E tem-se seu sorriso e um abraço apertado,

Que mais iria querer aquela que está apaixonada?


Para que chegasse a estar em seu quarto,

Conhecer seu corpo desnudo e contemplá-lo,

Levaram-se anos, ou meses, pelo menos,

Tempos difíceis de se atravessar,


Há sempre outros que buscam um lugar em sua vida,

Mas quando o coração escolhe pertencer,

Não há o que dizer contra,

Não tem como oscilar num tom rosado e intenso,


Que cobre o rosto sempre que se admite:

Bem, sim, o amo acima de tudo!

As investidas dos que se colocam ao redor,

Ela não dá única chance.


Suporta a privação de olhar de longe,

De querer mais que tudo estar perto e não poder,

Suporta tudo, menos abrir sua alma a outro homem,

Poderia afirmar que jamais dirigiu único olhar a outrem,


Pessoa alguma duvidaria do que diz,

Para ele, aquele olhar foi uma espécie de libertação,

Para ela, a escravidão,

Apaixonou-se doce e perdidamente,


Fez tudo por ele e não se deteve.

Diz-se que um abraço e uma afago é pior que um beijo,

Aprisiona mais a alma que outros meios,

Porque o abraço sincero conquista a alma,


Enquanto um beijo toma apenas a boca,

E quem beija pode ferir com palavras,

O contrário de quem abraça,

Um carinho é capaz de esbofetear,


Mas no abraço, ainda hoje ela teima em acreditar,

Poderia beijar os lábios sem tocar o corpo?

Com isso, se distanciaria de tocar a sua alma?

Quem sabe, não foi dessa forma, o sentiu por inteiro,


Passaram muitos instantes juntos,

Tempo o bastante para olhar no fundo do olhar,

E encontra-lo, reconhece-lo passa a importar,

Sentiu cada uma de suas extremidades responder,


Usou de toda a sua força para ter cautela,

Por ela, o beijaria desde primeiro instante,

Mas, ceder a impulsos pode levar a fraqueza da alma,

Velava ciosamente por sua calma e sentimento,


Tal meio como tudo ocorreu e tal atitude,

Ainda hoje é reverenciada,

Qualquer outro jeito lhe pareceria uma deferência,

Forçar um beijo soaria indigno, então se retraia,


Sem a questão do forçar não haveria a despedida,

Não requerendo recuar, também, não se aventurava,

Guardava no rosto um rubor severo,

Destes que só o tem aquelas que são verdadeiras,


Era tão tímida que chegava a ser evasiva,

Tanto quanto era esguia...

Mas, o tão esperado dia do beijo chegou afinal...

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