sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Casal Dormindo Juntos

 

Olhara-a, de forma sagaz, no fundo da sua alma,

Apenas para se certificar, ouvir o eco do seu adeus,

Seus ouvidos duvidaram das palavras da sua boca,

Precisava ver a confirmação nos olhos seus,

Embora estivessem juntos a tanto tempo,

Não parecia ser o bastante para mantê-los unidos,

 

Ele fez tudo que pode, amara-a de todo o coração,

Mas ela nunca fora capaz de retribuir, uma vez sequer,

Chegara a pensar que quando dissera que o amava com intensa emoção,

Havia sido algo falso, sentimento passageiro, coisa de instantes,

Futilidade de almas vazias que se entregam por nada,

Vagam sozinhas por não terem com que acrescentar,

 

Uma lágrima quente quisera percorrer seu rosto gelado,

A rejeitara, seria difícil chorar na sua frente,

Depois de tanto e em vão tê-la amado,

Recusava-se a demonstrar amor tão próximo do fim

De todos os sonhos, todos os planos, sem resistir

Baixara os olhos, os dedos bonitos dela puxaram o seu encanto,

 

O anel que a presenteara brilhava, inocente a tudo que se passava,

Parecia indiferente, íntegro, seguro de tudo que um dia houvera,

Ele sabia que ela o gostara, então deixaria que levasse,

Jamais ousaria feri-la de qualquer forma que fosse,

Olhara para a sua mala, as poucas coisas que desejara levar,

Ter algo dele, talvez auxiliasse para que ela o mantivesse na memória,

 

Não importa quanto tempo se passaria daquela hora para frente,

Naquele anel sempre estaria guardado tudo que sentiram um pelo outro,

Os momentos felizes compartilhados, os sorrisos;

Contudo, no momento em que ela virara as costas em direção a porta,

Todo o seu orgulho se consumira em amor,

Pedira que ficasse, não suportaria arcar sozinho com as lembranças,

 

Ajoelhara-se de propósito, pegara sua mão macia entre as suas,

A beijara terna e apaixonado, como sempre faria,

Permitira que as lágrimas percorressem o caminho que quisessem,

Ela soluçara em prantos, ajoelhara-se, também, na sua frente,

“A um homem também é permitido amar e eu te amo”,

Dissera, sentindo-se tremulo, seguro apenas do que sentia,

 

“Eu também te amo, nunca desejei ir embora,

Mas parecia que algo não estava certo entre nós”,

O respondera, enxugando suas lágrimas entre beijos e soluços,

E uma carícia suave que só ela sabia de que forma afagava a alma,

A abraçara apertado, trazendo-a para dentro de si mesmo,

Seus corações pulsavam juntos, descompassados,

 

O amor havia vencido uma discussão para uni-los ainda mais que antes,

Naquela noite, descobriram coisas que a maioria das pessoas nem

Ao menos chega a vislumbrar em qualquer recanto das suas mentes,

O amor levara a ruína as barreiras que os mantinha distantes,

Que os impedia de confiarem um no outro, seus medos escorreram pelos dedos,

Enternecendo-se nas carícias que afagavam seus corpos,

 

O amor é glorioso, mas exige entrega, é trabalhoso,

Não é algo que se constrói de uma hora para a outra,

É feito de pilares resistentes para que não quebrem,

É construído de dentro para fora, dividido, meio a meio,

Tal como cada coração: composto por duas partes,

Não por mero completar de si mesmos, para “bastar-se”,

 

Mas por buscar o outro pelo prazer da sua companhia,

Deixando de lado a ideia de carência afetiva,

Para se abrigar a necessidade de ter alguém que caminhe ao seu lado

Por não ser possível traçar um caminho andando um de frente para o outro,

Andar frente a frente é mero regredir de tempo,

Impossível para quem deseja elevar sonhos de amor,

Vez que, caminhando lado a lado, os dois corações estarão completos,

Pulsando juntos, formando única medida,

 

E o amor que dizem bastar-se por si mesmo,

Extravasa, não cabe em si diante de tanto contento,

É por isso, que ele sempre a colocara dormir ao seu lado,

Sobre o seu peito, onde ela escolhera se abrigar,

Ouvindo o seu pulsar, aproximando seu coração ao dele,

De forma que ele pudesse abraça-la por toda a noite,

Mantendo-a acolhida, amparada em seu abraço,

 

Embora, sempre soubesse que ela também o protegera,

Com seu jeito suave de ser, seu carinho sempre acessível,

Ele adorava ouvir as batidas suaves dela sobre ele,

Aquele aquietar de tudo para que só os restasse,

O fulgor do sorriso terno que o acordara em cada amanhecer...

Seus corações pulsavam na mesma medida, 

Seus sonhos percorriam o mesmo caminho,

O vazio do medo era rompido por afagos apaixonados,

 

Encaixe perfeito para duas almas apaixonadas,

De maneira profunda, íntegra, genuína, que desliza ao seu agrado,

Satisfazendo os sentidos, preenchendo lacunas, formando consistência

Que cura e harmoniza vontades, desejos, carícia que se entrega para ganhar,

Que se derrama através do afagar,

Percorrendo-os; já não houvera mais vazios, 

Restaram apenas duas almas tocadas em amar.

Encontro Casual

 

Como todo o mês tem um dia especial,

Chegou o dia de quitar os boletos, afinal,

Pensou que teria que sair de casa,

Desejou ser o mais rápida que pudesse,

Pegou seu carro e seguiu sua rota,

Esperava que o tempo lhe auxiliasse,

 

No caminho ligou o rádio adorava ouvir as músicas,

Até que parou em uma sorveteria,

O que aconteceu lá a transformaria por inteiro,

Foi coisa que só se vive em sonho,

Tudo que sempre imaginou em seus melhores dias,

Aconteceram naquelas poucas horas da tarde fria,

 

Em uma lentidão terrível que parecia consumi-la,

Sentia que as coisas não se desenrolavam da forma prevista,

Claro, sempre imaginou que algum dia amaria,

Mas ali? Daquela forma constrangedora e de certa forma,

Pesarosa, ela nem em seus maiores tormentos imaginaria,

Ele estava sentado em uma mesa a frente dela,

 

Tomava seu sorvete, falava ao telefone,

Sorria de uma forma cativante,

Do jeito que ela nunca sonhou avistar antes,

Ela mordeu cada parte daquele picolé,

Deliciando-se ao vê-lo derreter em sua boca,

Em sua imaginação, ela o beijava, sugando-o,

Sentiu-se rubra, fingiu dar de ombros,

Apenas para olhá-lo com mais encanto,

 

Havia algo de magico naquilo,

Cada gota que bebia, a preenchia,

A fazia suspirar acordada, como uma menina apaixonada,

Ela desejou que ele se aproximasse e que isso acontecesse

Bem depressa, sua voz era poderosa, quente, suave, macia,

Em um misto de gravidade e melodia que apenas a ele seria possível,

De repente, seus olhares se encontraram...

 

Um pensamento insistente saiu do brilho dos seus olhos penetrantes,

Vindo parar em um sorriso que iluminou sua boca,

Havia um misto de timidez, amor e algo diferente,

Ele havia levantado, porém algo o deteve, não se aproximou,

Ela não resistiu ao impulso e com aquele mesmo sorriso displicente,

Caminhou, do jeito mais eloquente que pode,

 

Até o caixa para fazer o pagamento, procurou por sua carteira,

Não a encontrou, haviam tantas coisas em sua bolsa;

Ela sentiu-se esvair, era como se todo o sorvete que consumiu,

Tivessem se tornado uma bola em sua garganta,

Gelando-a, deixando-a tremula, lágrimas tomaram sua face,

Mas antes que ela embebesse seu sorriso em lágrimas,

 

Ele aproximou-se silencioso, com poucas passadas firmes,

Pondo-se atrás dela, com aquele sorriso de homem seguro,

Que a poucos era permitido ou digno de ter,

Pediu a ela licença, perguntando se poderia ajudar em algo,

Ela abaixou a cabeça, olhou para os pés, não sabia o que falar,

“Percebi que perdeu sua carteira, me permita ajudar”,

 

Falou ele, com aquela voz enigmática que ela jurou jamais esquecer,

Quando o viu abrir a carteira, percebeu que havia um cartão com seu nome,

Sorriu diante disso, era sua oportunidade de aproximar-se,

Se apresentou a ele, saíram juntos até a rua, sem esquecer de agradecer,

Pegaram caminhos opostos, mas ela sabia, depois de tê-lo em seu caminho,

Algum dia, algo os faria se encontrar de novo, não admitiria o contrário,

 

Ela hesitou, tentou se libertar da ideia de conquista-lo,

Mas algo em seu peito a chamava para ele,

Ela soltou um gritinho de felicidade incontida que refletia em seus olhos,

Pensou que a sorte a havia escolhido sem nenhuma impropriedade,

Como se ele a houvesse guiado até aquele lugar por ato de algo maior,

Algo que ela sentia, dentro dela; eram as mãos do amor,

 

Ainda sentia sobre a sua pele o toque dele ao cumprimenta-la horas antes,

Ele parecia pressiona-la de alguma forma, e ela gostava disso,

Os últimos raios de sol se erguiam no horizonte a sua frente,

Ele já estava chegando em casa, solitária, mas contente com aquilo,

Tantas pessoas cruzam pelo amor e não sabem reconhece-lo,

Ela jamais deixaria escoar pelos dedos sua oportunidade,

 

Ela estacionou na garagem, pegou o celular e digitou seu nome,

Encontrou-o em uma rede social e não resistiu: mandou convite,

Um convite singelo, para que fossem amigos, e talvez, pudessem tomar uma cerveja

Pensou alto com um sorriso confiante, ela lambia os lábios com vontade

De provar a cerveja, parecia senti-la percorrendo sua boca,

E poder usufruir de instantes mais em sua companhia, era o que mais queria,

Ele pareceu gostar da ideia, aceitou o convite na mesma hora,

 

Em seus planos e devaneios jamais permitiu-se apaixonar tão rápido,

Mas a quem seria permitido manipular as mãos do destino?

No que tange ao destino, ela era apenas uma serva nada mais que isso,

Não se desviaria dos seus preceitos, não suportaria perde-lo,

Lutou contra a vontade de se atirar em seus braços,

Mas jamais recusaria a oportunidade de tê-lo por inteiro.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Manhã de Outono

Uma semana depois, ele pensou depois de pegar seu número,

Seria tempo o bastante para disfarçar toda a admiração que sentiu,

Apesar do sentimento ter sido forte, ele sabia não era amor,

Talvez algo próximo o suficiente para que ele desejasse vê-la de novo,

 

Porém, a noite transcorreu insone, contou carneirinhos,

Ligou a tv, releu um livro mas nada parecia adiantar,

Aquela voz macia e sedosa parecia ter prendido sua alma,

E mesmo no escuro, seus olhos ainda brilhavam feito estrelas,

 

Desejava ter dançado mais uma música com ela,

Talvez, provar o sabor doce da sua boca,

O hálito quente dela o deixava atônito,

Parecia envolve-lo, não sentia-se preparado para tanto,

 

Toda a intensidade que provou o deixou surpreso,

Era como se os céus descessem e pousassem nos seus braços,

Os mesmos braços fortes que tanto o ajudavam no trabalho,

Agora viam-se trêmulos, inseguros diante da intensidade do sentimento,

 

A música acabou, ele nem percebeu isso, continuou rodando no salão,

Conversando com a moça, sobre o quê, ele nem lembrava,

Apenas seguia o ritmo guiado pelo destino ao som do coração,

Cinco minutos depois, agradeceu a dança e se dirigiu para casa,

 

Sabia que ela estava de carona com amigas e que estava segura,

Sentiu que estaria interferindo se insistisse para leva-la,

E esta intromissão lhe soava um tanto desrespeitosa...

O sol da manhã acordava sorrindo, encontrando-o com um sorriso na boca,

 

Trazendo-lhe a certeza de que as pessoas que amam tornam-se eternas,

Pois já não vivem para si mesmas, mas para algo maior,

Completar alguém, cuidar, proteger, desejar estar perto,

Sacramentar o amor ao unirem suas almas em outra: um filho;

 

Sim, podia admitir agora, foi isso que viu nos olhos da moça,

E que não saia de forma alguma da sua lembrança,

Desde um dia atrás e com certeza, por toda a vida,

Ela o havia olhado de uma forma terna e delicada,

 

Parecia uma menina ao ritmo contagiante da música...

Ele levantou, abriu a janela de vidro e viu as borboletas voando,

Como um arco-íris que brinca no romper da aurora,

Depois desciam brincar por entre as flores do outono,

 

Ele desejou dividir aquele encanto com a moça,

Será que o amor realmente conseguiria uni-los?

Porque sempre que pensou em casar,

Imaginava que seria por uma vida inteira,

Amava de forma intensa, verdadeira, não aceitaria menos,

 

Quando via-se tomando seu chimarrão na varanda,

Sempre imaginou sua família unida, os filhos, os netos...

Aquele amor desenhado no comercial de margarina,

Parecia existir, pelo menos era o que estava em seus sonhos,

 

Ele respirou o ar da manhã, sentindo-se mais seguro,

Acreditava estar satisfeito com as coisas em que acreditava,

Era meados de novembro, 7:00 h da manhã de domingo,

Ao tomar o café da manhã, ele lembrou-se que de início,

 

Desejava apenas dançar uma música com ela,

Depois desejou a segunda, a terceira aconteceu por consequência,

Sorte a sua não ter havido a quarta, pois sabia, teria que beijá-la,

E para isso, teria que admitir que a amava,

 

Conforme o dia tomava forma acordando os campos,

Ele sentia-se voar para longe daquele lugar,

Pegou o telefone, olhou-o inúmeras vezes para ligar,

Mas não se renderia, precisava seguir o plano,

 

Dentro dele havia um homem solitário, porém, o homem solitário sonhava,

Mas sonhar nunca lhe seria o bastante, precisava sentir-se retribuído,

Amar por instantes nunca preencheria suas expectativas de uma vida plena,

Este homem solitário, que contentava-se com pouco, morreu em 1898,

Logo que foi abandonado pouco após o dia do seu nascimento,

Deixado a esmo aos cuidados de estranhos de olhos bondosos,

 

Ele permitiu-se tomar mais uma xicara de café forte,

Sentia conforto naquele ato, queria ligar, mas não parecia prudente,

Não após um único encontro, em que trocaram olhares coniventes,

Ficar tão perto de alguém que se deseja tanto, parecia castigo,

Ela o olhou de forma astuta, depois sorriu em cumplicidade,

Suas conversas ao pé do ouvido agora lhe rendiam belos suspiros...

 

Era difícil demais a ouvir e encontrar forças para resistir,

Suas palavras inebriavam a alma com um enlace cego,

Do qual sabia, nunca conseguiria, nem desejaria fugir,

Ele havia resistido ao amor, guiando-se pelas mãos do destino,

Mas ao provar a delicadeza das mãos daquela moça, tudo mudou,

Passou um braço ao redor da sua cintura, a sentiu recostar-se em seu peito...

 

Dando vazão a luz da razão que o tocava no rosto,

Trazendo a carícia, que nunca houve entre eles, a sua imaginação,

Pegou o telefone e ligou: sorriu ao ouvir o doce da sua voz,

“Gostaria que ficássemos juntos, você aceitaria?” A disse, com incontida emoção.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Casal Sentado Num Banco

 

A quem queira saber:

Meu nome é Bianca sem sobrenome,

Neste breve relato, gostaria de confessar,

Se por algum motivo quisesse mudar algo,

Nunca seria por arrependimento,

Os motivos, a seguir poderei revelar,

Eu amei, com toda a alma e com todo o sentimento,

 

Sempre sussurrava aos prantos para mim mesma,

Nunca irei amar, nunca me entregarei a alguém,

Essa questão de corpo e alma

É para os apaixonados, e apenas quando os convém,

E isso para mim é muito pouco,

Não satisfaz, não alimenta, é vazio por dentro,

 

Feito aquele beijo que se pousa nos lábios,

Para em seguida, disfarçadamente, limpar a boca,

Ou aquela mordida disfarçada que traz um leve sabor

De sangue tirado de um cantinho discreto da boca,

Se é para ferir porque eu teria que sentir?

Se não for para amar, porque motivo iria me entregar?

 

Morte iminente, premeditada, inconsistente,

O que é irônico considerando o quanto minha pele

Se arrepiava ao menor som suave e intenso da sua voz,

Cada vez que o ouvia, sentia meu corpo procura-lo,

Movido por uma atração única, irresistível,

Se sentir seu abraço custasse a minha própria vida,

Por Deus, não haveria alternativa: me entregaria!

 

Mas me senti insegura quanto ao que poderia dizê-lo,

Parei, disfarcei, fechei os olhos, olhei para o chão úmido,

Desejei do fundo do coração que ele viesse ao meu encontro,

Ele me pareceu não dar ouvidos, senti como se estivesse fechado

Trancado para o amor, fadado a algo distante que não pude entender,

Sentei-me no banco mais próximo, esperei por um cumprimento,

 

O que, naquela terça-feira de outono, não aconteceu,

Me senti entristecida, e isso pareceu despertar algo em mim,

De repente, deixou de fazer sentido todo aquele distanciamento

Que eu mantinha de tudo e todos,

Lembro-me com real intensidade, como desejei encontrar seus olhos,

E mesmo que por um instante, enamora-lo,

 

Mas algo em mim me deteve, ele era inteligente,

Eu precisaria de uma estratégia, uma forma de conquista-lo,

Ele não parecia o tipo de homem volúvel,

Eu não soube ao certo como reagir a isso,

Mas tomei minha decisão, não era o que se poderia definir plano,

Mas era uma boa estratégia, usar minha arte feminina e conquista-lo...

 

Na quarta de outono de 1925, quando o sol brilhou no horizonte,

Eu já o esperava, com maquiagem feita e um vestido vermelho,

Conquistaria ao menos o seu abraço, já seria suficiente,

O apertaria em meu corpo para guardar em mim seu cheiro,

E poder senti-lo, ao menos, no decorrer do restante do dia,

Destino traiçoeiro, ele não veio, desencontro frio e calculista,

 

Pensei comigo mesma, precisava mais que isso,

Ele merecia meu esforço, eu tinha certeza,

Um distanciamento de quem se ama, embora doa,

Faz com que os sentimentos se personifiquem,

Consegui imagina-lo ao meu lado em cada hora

Do dia que insistia para que eu não desistisse,

 

Ah, como minha alma procurava a dele,

Como minha pele desejava poder ao menos um instante...

As 3:30 h da madrugada, eu ainda não sabia o que fazer,

As 5:00 h, acordei, abri os olhos e chamei seu nome,

Não houve resposta, lágrimas me tomaram de assalto,

Em um ato instintivo, toquei meu rosto,

 

Nem mesmo eu acreditei no que sentia,

Amava-o, em tão pouco tempo, como poderia?

Será que a alguém seria possível entender um amor assim?

Esforço-me para contar com o máximo de detalhes,

Porém, sempre que tento definir tudo que senti

Me faltam palavras, com um arfar de ombros, deitei-me, novamente,

 

Na quinta-feira, outonal, pedi um dia de folga no trabalho,

Sentei-me e fiquei o dia inteiro a escrever uma carta,

Com a única intensão de descrever toda a emoção,

Que senti em nosso breve cruzar de olhar,

Deus é testemunha do quanto me esforcei

Para demonstrar tudo que senti naquela vez,

 

Se isso não for amor, não sei mais o que poderia ser,

A mulher apaixonada em mim sabia,

Que um singelo abraço, jamais seria suficiente,

Mas seria um bom começo, o bastante para saciar a vontade

Que me consumia por dentro, me deixando trêmula,

De que adianta amar com tanta profundidade,

Sem jamais declarar o quanto o queria?

 

O mais difícil foram as primeiras linhas, depois tudo correu com naturalidade,

Eu sempre acreditei no amor, só não imaginava que o encontraria,

Ainda mais dessa forma tão displicente, entregue a casualidade,

Nas últimas linhas da carta levantei a possibilidade de ser retribuída,

As 3h daquela mesma noite, próxima do ponto final,

Conclui que eu tinha belas chances, pelo menos de ser ouvida,

 

As 7: da manhã, lá estava eu, sentada no banco a espera-lo,

Carta em mãos, desatenção disfarçada, sorriso tímido,

Se ele não me correspondesse, como eu faria?

Como seriam o decorrer dos próximos dias?

Tão solitários quanto os anteriores,

Por Deus, não sei se aguentaria, será que ele me entenderia?

 

Ele sentou-se bem próximo, com um singelo roçar de braços,

Ofertei meu melhor sorriso, senti meu coração dar um salto

Quando o vi retribuir, nem consegui acreditar,

Esse sempre foi o sonho de amor que guardei comigo,

Logo que senti seu cheiro, seu calor a me tocar por inteira...

Lembro que essa conversa aconteceu a uma quadra da praça,

 

Sem refletir sobre as consequências dos meus atos,

Eu acariciei sua mão, depois arrisquei tocar seu rosto,

Puxando-o com delicadeza ao encontro dos meus lábios,

Provei o amor em cada roçar, do doce da saliva

Ao sabor da sua boca macia de encontro a minha,


Jurei para mim mesma que o amaria por toda a vida,

Senti que ele também me amava, com aquele beijo,

Entrelacei nossas mãos e seguimos nosso caminho juntos

Até hoje, e acredito que até o fim das nossas vidas,

Talvez seja difícil acreditar, pois a poucos é possível amar nessa medida.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Reclusão em um Livro

Dezembro seguia sua rotina, dia após dia,

A vida passava vazia e tristonha,

Ainda na metade do ano ela fizera 30 anos,

Ainda podia recordar dos seus sonhos,

 

Desejava, ao menos um pouco, revive-los,

Lembrava da infância humilde que teve,

Onde fazia as bonecas de milho ganharem vida,

Bolinhos, e objetos esculpidos no barro,

Tudo ao seu redor se transformava

E parecia transportá-la para um outro mundo,

 

Morava no interior, em um reino perdido no meio do mato,

Lá havia poucos vizinhos, se contentava em amar e cuidar dos bichos,

Teve uma adolescência vazia e reclusa,

Por não ter muitos amigos era impedida de ter vida social,

 

Não tinha liberdade para sair sozinha,

Não ganhava a confiança dos pais para reger sua vida,

Era presa em algemas invisíveis que a freavam,

Marcavam sua pele sem muita conversa,

 

Filha de mãe distante e pai possessivo,

Não conseguia controlar nem dar vida as suas ideias,

Se trancava no quarto, chorava sozinha,

Corria para o longe para poder contar com sua própria companhia,

 

Sentia com todo o coração que ninguém a entendia,

O amor que provava no seio familiar não sustentava,

Pelos erros que seus pais cometeram: a julgavam,

Os desejos que sonharam projetavam sobre ela,

 

Que liberdade teria para viver deste jeito?

Não importava o que pensava ou sentia,

Imponham-na a viver como eles queriam,

Até seus diários rabiscados em cadernos eram violados,

 

Suas leituras para passar o tempo,

As músicas que escutava, tudo era vigiado,

E punido com rigor excessivo,

Ela nunca conseguiu entender isso,

 

Não podia falar sobre seus anseios, seus desejos,

Suas paixões como as que as outras meninas tinham,

Não era entendida, apenas julgada, subjugada,

Excluía-se, nunca achou que tivesse alternativa,

 

Logo cedo, decidiu ir embora,

Partir para algum lugar ao longe,

Permitir que a vida a conduzisse para algo diferente,

Ironia do destino, decidiu por se casar,

 

Enfrentou o óbice da família e até da sociedade,

As pessoas a apontavam: só pode estar grávida!

Ela ria por fora, chorava por dentro, mas lutava,

Nunca permitiu-se ficar por muito tempo no mesmo lugar,

 

Havia algo que faltava em sua vida 

E ela seria forte o suficiente para buscar,

Não importava quem ou o que teria que enfrentar,

O mundo nunca foi feito para pessoas fracas,

Aquelas criadas para estarem rodeadas por redomas,

 

Que apenas acomodavam-na, prendendo mais que protegendo,

Como se o mundo fosse recebe-las da mesma forma,

Com aquele tapa que era seguido por uma carícia,

O mundo era muito mais cruel do que aparentava,

 

Não a preparavam para viver, apenas prendiam sua mente,

A falta de diálogo em sua família levou-a embora de casa,

A mesma falta de diálogo emudeceu suas fugas doloridas,

Aprisionavam seus impulsos, tudo que era ou poderia ter sido,

 

Todos queriam que ela fosse de um jeito, como poderia contenta-los?

Vinham com suas ideias prontas como se o mundo se resumisse a aquilo,

Em que parte do seu caminho permitir-se-ia ser algo em que pudesse se encontrar?

Quem hoje poderia falar sobre aquela que ousou sonhar,

Mas foi proibida, impedida desde pequena,

Ninguém é igual a ninguém, em busca de proteger destroem as almas,

 

Agora aos trinta, decidiu preencher os vazios do tempo,

Aproveitar tudo que lhe foi tirado, impedido,

Mas os bares eram frequentados por jovens,

Seus sonhos de menina haviam mudado,

Roubaram sua inocência de pensar,

Mas também, levaram os sonhos em que acreditar,

 

Custava a tempos atrás sentar e conversar?

Custava confiar ao menos um pouco em suas habilidades

E maturidade para tomar suas próprias decisões?

Aquela que excluíram a tempos atrás,

 

Agora se recusava a sair da sua reclusão,

Havia conquistado seu carro, sua casa, era independente,

Mas, haviam decidido ou imposto que preferisse a solidão,

Então, por que agora a procuravam e desejavam cumplicidade?

Pelas Noites da Balada

 

Muito mais do que pensava que amaria,

Ele pegou o telefone mil vezes,

Mil vezes discou seu número na tela,

Mil vezes desistiu insegura de como agir,

 

Era uma noite a mais na balada,

Ela dançava, bebia uma cerveja ou outra,

Olhava ao redor mas nada mexia com sua emoção,

Haviam apenas pessoas absortas em seus mundos

 

De fantasias em que buscavam ostentar uma vida

Que não tinham, com uma felicidade que não havia,

No fim da noite de liberdade em que ninguém desejava

Realmente encerrar a noite de forma solitária,

 

Restava apenas aquele zumbido no ouvido,

E a tontura que parecia corroer o cérebro,

Entre beijos babados e espaços privados,

Não restava nada que merecia ser lembrado,

 

A melhor parte era estar do lado de fora vendo as estrelas,

As quais brilhavam assustadas, apagadas pelas luzes

Ofuscantes da cidade que dormia um sono sórdido,

De olhos fechados para todo o murmúrio

 

E o tumulto daqueles seres vivos vazios de si mesmos,

Corpos errantes perambulantes por espaços a serem preenchidos,

Eventualmente, uma música chamava a atenção,

Uma dor aguda tocava no fundo do coração,

 

A solidão a qual buscava apaziguar,

Tomava-a pela mão e a machucava,

Ela não admitia, mas sentia-se ferida,

Olhava para as pessoas a sua volta

 

E se via, aparentemente reconhecida,

Mas nada que sustentasse sua emoção,

Parecia haver uma pessoa mais vazia que a outra,

Vestiam roupas, acessórios, maquiagem chamativa,

 

Homens pagavam bebida a custo de beijos,

Mulheres entregavam seus corpos, vendiam suas almas,

Alguns dançavam e achavam que podiam toca-las,

Havia preço alto para se ter companhia,

 

Pois não havia espaço para conversar,

De que forma reconheceriam um ao outro?

Danças extravagantes, passos ensaiados,

Nada sólido em que pudesse se prender,

 

Nenhuma palavra ou frase que merecesse

O mérito de se tornar uma história de amor,

Como seria possível preencher vazios com mais vazios?

Só restava entornar o gargalo, dançar com poucos,

 

Pouco era possível entender sobre pessoas que frequentavam festas

Sem saber dominar um único passo de dança,

Ir a um banheiro lotado, secar o rosto em toalhas de papel,

Fingir que tudo estava se saindo bem,

 

Trocar telefone com um, depois com outro,

No outro dia se ver dividida entre desejar uma mensagem,

Um toque, ou na pior das expectativas: uma ligação,

Travar uma conversa frívola e perceber que perdeu-se a chance

 

De guardar um beijo para um outro dia,

Uma outra hora, ou quem sabe, outra boca,

Onde estava a pessoa que desejava amar alguém,

Aquela que, por vezes, havia sonhado em ter?

Ela já não sabia, só percebia que aquilo não iria adiante,

 

No caminho de estrelas que a guiava a seguir adiante,

Alguém estendeu um tapete de luzes ofuscantes,

Nos braços em que ela sonhou abrigar o amor,

Entravam e saiam pessoas embaladas pelo ritmo

Da dança, que por algum motivo, não parava,

 

A vista do salão em que dançava era fria e sombria,

Onde se podia ver prédios erguendo-se para o alto,

Ela sorria, sempre soube que buscavam a lua,

Mas nunca entendeu porque motivo precisavam ofusca-la,

 

As ruas silenciosas ganhavam a vida dos sonhadores

Que as percorriam, reconhecendo histórias,

Testemunhando pessoas vagarem em busca de si mesmas,

Mas ela sempre repetia, estava feliz pelas flores que se abriam,

 

As quais lembravam vagamente, as que possuía em sua janela,

Seus cachorros a espera-la, talvez, tristes por sua ausência,

Quem sabe podiam estar sem água ou ter faltado a comida,

Ela estava longe já não saberia, ou quem sabe, nem ao menos voltaria,

 

Ela confiava no seu potencial para dirigir,

Sempre que estava ao volante se privava de beber,

No entanto, sabia que estava na contramão da grande maioria,

O que a fazia pisar no pedal e correr para sentir a brisa,

 

Vagando por entre aquelas ruas malfeitas,

Respeitando sinais, procurando prudência,

Então desacelerava, havia pouco para admirar,

Tudo caia aos poucos na rotina,

 

Mas solitária como percorria os ares da cidade nova,

Ela não percebia que, ao longe, alguém a observava,

Com uma expressão de admiração, uma gota de contentamento,

No instante em que ele a convidou para uma dança,

 

Ela percebeu que a direção que sua vida havia tomado,

Era o melhor rumo que podia ter escolhido,

Então viu o quanto foi bom ter se valorizado,

E buscado mais que uma conversa de bar para conquista-la.

TE AMO!

 

Sem conseguir conter as lágrimas,

Ela entregou-se a dor que a abraçava,

Deslizando por seu rosto, deixando-a exposta,

Sentia suas forças esgotarem-se na mesma hora,

 

Permitiu-se cair ali mesmo, no chão frio,

De onde se encontrava conseguia vê-lo sangrar,

Sua dor a dominava, a entorpecia,

Não conseguia, nem queria controlar o que sentia,

Sua dor eram lâminas afiadas sobre a sua alma,

 

Sentia que percorria suas veias e a corroía,

Como se sua própria alma lhe fosse roubada,

Pois sem ele de onde tiraria forças?

Ela havia jurado a si mesma, jamais chorar,

 

Mas vê-lo sofrer, enxergar naqueles olhos castanhos,

Que sempre tivera brilho intenso, seguro, protetor,

Um resquício de quem padecia e via a morte ao seu lado,

Não deixou alternativa senão escoar sua dor em lágrimas,

 

Lágrimas de sangue escureciam seu olhar,

Já não via mais nada na sua frente, somente a vontade de protege-lo,

De demonstrar todo o amor que sentiu desde o primeiro momento,

Suas lágrimas escorriam quentes,

 

Ela sentiu no pulsar confiante do seu peito

Que ainda tinha forças para abriga-lo,

Rastejou até ele, o tomou nos braços,

Deixou que suas lágrimas o molhassem por inteiro,

 

Com um pedido audível, sensível, visível,

De que a tudo resistisse,

Pois precisava dele ao seu lado,

Ele, sempre tão forte, padecia com seus olhos avermelhados,

 

A dor que ele guardava em seu peito,

Escorria da sua alma e o afogava dentro de si mesmo,

Precisava salva-lo, não poderia permitir que Deus o tirasse tão cedo,

Acreditava que o amor não morria se transformava,

Mas sabia dentro dela, que nunca estaria pronta,

 

O amava a cada segundo, a cada instante,

Para além do eterno, um abraço a mais de todo o sempre,

Seus soluços rompiam o silêncio,

Seu amor vencia a dor que tentava toca-lo,

 

O abraçou como quem entregaria a própria vida,

Se preciso fosse, para um instante a mais ao seu lado,

Não poupou amor para abriga-lo,

Os olhos dele se fecharam por um momento,

 

Como se estivesse um pouco mais calmo,

Devido as suas palavras enternecidas,

“Eu preciso de você ao meu lado,

Esta me ouvindo?” Lhe disse, abrigando-o em si mesma,

 

Jogada aos seus pés, entregue a tudo que sentia,

Guiada pela certeza, sem ele não viveria,

Ele parecia ter sido feito para ela,

A protegia a todo custo, se entregava de uma forma

Que, ela tinha certeza, ninguém mais faria,

 

Sentia seu corpo frágil, entregue a dor

Assim, apertou o abraço fazendo-o deitar no seu colo,

Entregue a esse gesto com todo o carinho do mundo,

O pediu que ficasse, falou sobre o quanto era importante,

O quanto o amava com toda a vida e mais a cada instante,

 

Beijou seu rosto, seu corpo triste,

Provou o gosto do sangue dos seus lábios,

Com o único pedido de afasta-lo do vínculo da morte,

Entregando a ele, seu amor, sua alma, o que fosse preciso,

 

Ela o abrigava perto do seu peito,

O embalando com um amor que ele sabia pertence-lo,

Jamais permitiria vê-lo jogado nas mãos do sofrimento,

Vez que, para o amor que sentiam um pelo outro,

Nunca houve momento ou lugar certo,

Todo o instante era hora de demonstrar o que sentiam,

 

Um cuidava do outro, não foi para isso que inventaram o amor?

Venha comigo, disse ela, eu imploro,

É apenas mais um dia de dezembro,

Não faça com que isso se torne um eterno tormento,

 

Não entregue-se a esta dor faminta e solitária,

Que ao invés de suprir suas lacunas,

O priva, o distancia de tudo que juramos acreditar,

Ele não falou nada, mas ela pode ver em seu olhar o quanto a amava,

 

Ele não desistiria de ambos, resistiria ao que fosse preciso,

Aos poucos ela sentiu seus olhos afastarem-se do escuro,

Mas permitiu que a dor ficasse mais um pouco,

Enquanto ele a ouvia ler uma história de amor,

Ela, então lhe sussurrou com um sorriso tremulo nos lábios,

Eu te amo, jamais esqueça disso.

Eu Sou Uma Danada

Sem o troféu “A melhor” Nem a miss mundo, Ou a garota modinha, Simplesmente, Datada “a perfeita” Intitulada “A grande g...