sábado, 9 de janeiro de 2021

Meia Hora

 

O fim de tarde se apresentou nublado,

A chuva estava prevista para daqui a pouco,

Não esperaria, deixei o trabalho um pouco mais cedo,

Peguei o carro e segui a direção do vento,

Àquela hora o sol estaria no horizonte,

Assim, dirigi um pouco mais rápido, como as nuvens estavam vagarosas,

Eu chegaria até ele com tempo suficiente para um banho de chuva

 

Enquanto colheríamos as frutas saborosas do final do verão,

Eu ansiava por vê-lo, tinham sido apenas horas de distância,

Mas sentia em meu coração como se o peso da morte me tocasse,

Engraçado como a distância mexe de forma estranha os corações apaixonados,

Mesmo a menor fagulha, quando chega explode em momentos que pedem,

Imploram para serem revistos, de segundo a segundo e revividos sempre,

 

Estes momentos em que a saudade nos pega desprevenidos,

Nos dão a falsa sensação de que poderíamos resistir ao sentimento,

Nos permitem abrir aquele sorriso largo, de um jeito desajeitado e bobo,

Nos afastando de tudo o que estamos fazendo e nos levando para perto,

Perto de alguém que mesmo não estando conosco, se faz presente,

A vontade de ligar é incontrolável, deseja-se ouvir a voz, mas no fundo sabemos:

 

Que o que nos prende mesmo, são aqueles momentos fortuitos de sorrisos despretensiosos,

Com aquele Q de “o desejo muito, quero abraça-lo, quero beijá-lo, mas não sei como agir”,

Há quem defina isso timidez, eu, porém, acho que é amor em demasia,

Aquele em que se teme errar por medo de perder, perder?

Seria possível perder o que se guarda dentro da gente,

Gestos de carinho e saudade se confundem, no que meu coração define: amor;

Me vejo tocar meus lábios e imaginar um beijo, o calor, o cheiro...

 

Já nos conhecíamos a tanto tempo, havíamos vivido tantas coisas juntos,

Eu ousei imaginar nosso beijo por milhares de vezes, mas me sinto vacilar,

Como se dá o primeiro passo em direção a algo que se deseja tanto,

Quando se ama em sobremaneira, qual seria o meio exato para se demonstrar?

O amor deveria vir com manual de instruções,

Do tipo que não se admite erros, que não se prende a vacilos,

 

De preferência daqueles que se ensina até mesmo a forma de beijar,

Beijo de língua, sem língua, onde pôr a mão, quando tirar,

Aqueles que ensina a conquistar a alma,

A alcançar tudo que vejo e sinto com ele, mas que não sei demonstrar,

Como agir nos instantes em que as palavras se confundem na cabeça,

Nos momentos em que tudo falha e apenas busca-se o reencontro, o estar perto,

 

Por Deus que moveria mundos apenas para contemplar o brilho dos seus olhos,

Parei o carro, pedi ao vento que também esperasse,

Queria pegar o início da chuva junto com ele,

O noticiário já estava prevendo a chuva a algum tempo,

Mas, de última hora denunciou a possibilidade de vento forte,

Eu sabia que ele sentia medo, embora não quisesse admitir,

 

Então, seria minha deixa para me aproximar, quem sabe,

Pegar sua mão, entregar-lhe um abraço, em tom confidencial

Eu posso admitir que sempre me admiro com as belezas da natureza,

Mas confesso que a magia que vem com a chuva me deixa extasiada,

E a melhor parte é o começo, o jeito como as nuvens vem e tomam conta de tudo,

A forma como o vento brinca com os pingos, como tudo ao redor reage,

 

Então, com um sorriso de cumplicidade, do tipo que diz mais do que quer dizer,

Comprei duas árvores frutíferas de espécie desconhecida,

Na agropecuária em que estacionei,

Apenas para plantarmos juntos e aproveitarmos o mistério de colher os frutos,

Sem saber quais seriam, nossa paixão são as frutas, então não haveria erro,

Pensei que poderia numerar este como o primeiro acerto entre nós,

Mas não, no decorrer dos anos em que nos conhecemos já vivemos tanta coisa...

 

Olhei ao redor, peguei também umas mudas de flores e veneno contra formigas,

Fui até o caixa, cumprimentei a menina que me sorriu enquanto passava as coisas,

Ajudei-a a coloca-las no pacote, paguei e rumei com destino: o amor,

Eu sabia que ele estaria me esperando, eu havia feito suspense,

Pela primeira vez, em anos, eu não liguei e quando ele mandou uma mensagem,

Eu nem conferi, fui forte e consegui resistir, ele deveria estar ansioso,

 

Seria maravilhoso contemplá-lo, quem não gostava tanto de surpresas era eu,

Sorri diante disso, achei engraçado que meus medos fechavam com os dele,

Conforme eu temia, ele sorria gentil, conforme ele temia, eu resistia,

A vida monopolizada era boa, mas quando se abre uma brecha para o improviso,

Tudo se transforma e o resultado muda no mesmo instante,

As nuvens já se aproximavam de forma mais densa, nebulosa,

 

Teria que seguir, meu destino estava em meia hora...

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Um Gole

 

Ela bebeu um copo de uísque de uma vez,

Deliciando-se com o gosto metálico na boca,

Sentiu-se desinibida, feliz, como nunca antes,

Engraçado como a bebida de forma moderada,

Faz um bem danado para as pessoas sagazes,

Ela pensou isso, tocando de leve a beirada do seu copo

 

Na do seu pai, estavam sentados em um bar da cidade,

Logo, em frente a praça, aos olhos do sol a iluminá-los

Com seu brilho espelhado, contraste genuíno, ao azul do céu poente,

Entre graças e trapaças, gargalhadas vinham a boca,

De uma forma quase inusitada, em instantes

Tudo ao redor se transformava e o povo a comentar:

 

Engraçado, o quanto a menina de seus 20 anos ainda

Bebia na companhia do pai, e andava pelas calçadas

De braços dados com ele, despedindo-se sempre

Com um abraço apertado e aquele eu te amo refletido nos olhos,

Sem temor ao público ou ao que os outros pudessem falar,

Pois o amor havia a muito tempo se tornado algo escasso,

 

Ela sentia que as pessoas tinham medo de abraços,

De simples demonstrações de carinho, tudo era calculado em números,

Números de flores a se receber ou dar, preço a se presentar ou ganhar,

Até mesmo o tradicional amigo-secreto de Natal, vinha

Estabelecido de um valor no presente a se dar,

Já não era mais a amizade que importava, o carinho que sentiam,

 

Coitado do bom-velhinho que a cada ano mais empobrecia o seu saquinho,

Sorte das renas que possuíam sua charretinha cada vez mais leve,

Não bastou definirem datas para se lembrar de quem se ama,

Agora botavam preços aos sentimentos,

O dezembro estava perdendo seu encanto,

Mesmo os fogos se tornaram escassos,

Os abraços muito mais distantes e o amor a família algo pitoresco,

 

Mesmo os sorrisos largos e encorajadores agora estavam meados,

Meio de canto da boca, estilo falseado, os cumprimentos dos amigos,

Também, do mesmo modo, mas isso não intimidava a menina dos 20 anos,

Ela abraçava seus pais, amigos, parentes e até pedia a benção,

Sabia dar valor a tradição milenar que recebera ainda no berço,

E levaria isso consigo por toda a vida, eu te amo repetia a eles em público,

 

E, também, em espaço privado, porque o amor só é amor quando é demonstrado,

Mesmo que, perante a olhos assustados e céticos, talvez desconhecidos,

Desconhecidos de carinho, de amor, de cumplicidade familiar;

Havia muito respeito entre eles, mesmo nas discussões ou em tudo o mais,

Ela sempre gostou de se despedir com um abraço, um beijo e um eu te amo

Isso era a sua marca registrada, tentaram lhe tirar isso, mas não conseguiram,

 

Só Deus sabe o quanto o diabo tem suas trapaças, porém, não era questão

De religiosidade, mas simples respeito, ato de boa vontade, vontade de demonstrar

Sentimentos, mesmo que aos gritos ou aos prantos, pois o amor também

Comete erros, desde que se saiba manter a linha tênue entre o respeito

E a liberdade exagerada, está tudo certo.


No amor há brigas, encontros e desencontros,

Mas onde há exagero no uso da força, necessidade de se impor,

Desconfio que haja falta de amor.

Uma Saudade

Em parte, porque chegara o início de janeiro, celebração do Novo Ano,

Em parte, porque não conseguira esquecer seu abraço,

Ela estava em férias no trabalho, pegou as chaves do carro,

Aproveitou a brisa fresca do sol poente, olhos no futuro

E dirigiu-se até ele, é certo que a três dias haviam brigado,

Mas a dois dias, ela estava irreparável e irremediavelmente,

 

Tomada por algo que a fez arrepender-se, saudade,

Ela definira no final daquela tarde, mas pouco importava o nome,

Isso é que era o fato, havia bloqueado o seu número,

Então chegaria sem avisar, no auge da discussão também

Apagara as conversas, mas o que importava agora, era estar de volta,

De volta a cidade de onde não deveria ter saído, de volta a quem amava,

 

Comemorar o início de algo de não deveria ter acabado,

E atrasar o relógio para dar início a um ano que havia começado para todos,

Menos para eles, dizem que a cor da roupa reflete os desejos,

Ela preferiu usar a cor branca, sozinha, pois tudo de que precisava

Já havia alcançado e queira Deus, não tivesse perdido, pois no calor da hora,

Eles disseram tudo um ao outro, menos o eu te amo que quis, em um ímpeto

 

De ousadia e dor profunda refletir em seus olhos, mas ela soube fecha-los

Na hora certa, soube baixar a cabeça em sua frente, virar-se de costas

E sair, sem esquecer de bater a porta atrás de si, não forte o suficiente

Que demonstrasse um resquício de raiva, mas nem tão fraca como se

Simplesmente a encostasse, em indiferença forçada, soletrando: tudo bem,

Nem me importo, ela se importava sim, de forma simplória a tudo que sentia,

 

Mas eficiente para sair em evasiva, para esquivar-se de tudo que havia,

Sem entender bem por quê, ela precisou disso, certo, tudo bem, ela entendia sim,

Ele havia sido grotesco, gritou, xingou, ainda a pegou pelo braço

Forçando um abraço que naquele instante, ela não queria, detestava sua mania

De manipular, de forjar situações, por Deus: será que ele achava que iria dominá-la?

Parou o carro na estrada, saiu para fora, olhou a tardinha cair a sua frente,

 

Logo a noite chegaria com seu manto e tudo o mais ficaria diferente,

As pessoas passavam por ela, inertes a tudo que se passava com ela,

Tudo acontecia lá fora, mas não havia nada dentro dela?

Rostos sem vida, outros felizes e ela ali, sozinha... só ela sabia o encanto do seu sorriso,

Mas também tinha consciência do quanto seus dentes eram afiados,

O quanto sua voz melodiosa sabia conquistar, mas as vezes, preferia a distância,

 

Pensou nele, ligou o celular, desbloqueou o seu número,

Que ela não havia apagado, pensou que pudesse ter sido furtiva com ele,

O celular que encurtava distâncias também criava espaços

E talvez, ela pudesse ter caído em um desses vãos e agora não conseguisse sair,

O tráfego estava intenso, mas ela estava inerte a isso,

Intenso mesmos estavam os sentimentos a explodir dentro dela,

 

Tudo que ela não podia controlar agora a fitava de frente,

E ela poderia resumir a imagem refletida na tela do seu celular,

A primeira vista, era o rosto dela, em segunda ordem seus cães,

Em terceira vista, eles dois, abraçados, unidos e felizes,

Talvez, a ordem das coisas estivesse invertida,

Talvez ela nem devesse ter saído daquela forma que agora

 

Se apresentava insensata, mas quem poderia controlar ou controlar-se?

Sabia que o amava a cada acorde que ouvia da sua voz,

Em conversas familiares aos seus ouvidos, sentia que ele fazia pouco,

Sentia que precisava de mais esforços por parte dele,

Mas também, tinha certeza que o amava, ele era desejoso,

Deixava tudo para depois, abandonava as coisas ao acaso,

 

Gostava de acumular coisas, mas enquanto isso se desfazia do mais importante,

O mato cresce rápido em caminhos que não são percorridos,

Mas nos arredores das casas dos vadios, também,

E isso abre espaço para que estranhos adentrem e tomem partida,

Meio que a contragosto, ela clicou em seu número,

“Alô, eu te amo, eu estava errada”, ela disse, com voz monótona,

 

“Eu errei em algum momento, sei disso, gostaria de me desculpar,

Será que aí onde você mora ainda há um lugar para mim ficar,

Eu estou de chegada e não tenho aonde pernoitar,

Ainda é cedo, então pensei que estivesse em tempo para ficar”,

Ele sorriu e disse: “Você? Não esperava que me ligasse,

Estou com amigos aqui em casa, mas há um quarto vago,

 

Está um pouco sujo, desajeitado, muito diferente daquele

Em que um dia você fez morada, mas sim filha, pode ficar”. 

Olhos Impetuosos

 

Ela estava assistindo a um filme de ação,

O mocinho passava o filme todo salvando a mocinha,

Isso trazia algum conforto ao seu coração,

Pelo menos em algum lugar havia amor ainda,

Ela havia preparado a pipoca no micro-ondas,

Estava com o achocolatado em mãos,

 

Nada de melhor poderia lhe acontecer naquele momento,

Com um sobressalto sem emoção,

Ela ouviu alguém tocar a campainha,

Deixou que tocassem, acreditou que desistiriam,

Mas ao terceiro toque decidiu verificar,

Poderia ser algo importante de alguém que não tivesse

 

Contato com ela através de seu telefone...

Soltou a pipoca e o chocolate de lado, e foi até o interfone,

Ao verificar através da câmara notou que era seu ex,

Depois de tudo que ele fez, decidiria voltar, sem mais nem menos,

Até carregava um belo buque de flores,

Com certeza, deveria estar acreditando que iria apagar os erros,

 

E ainda ofertar-lhe sonhos de um provável para sempre,

Cujo qual, ela sabia, já havia desistido, desde aquele fatídico dia,

Em que ele a deixou na escada e partiu sem dizer nada,

Avançando sinal de trânsito, pondo em risco a própria vida e o bem-estar

Psicológico dela, aquilo foi demasiado imaturo para perdoar,

Levou a mão a testa, saturada por tantas desculpas,

 

Tantas situações mal resolvidas, havia sempre um empecilho

Entre eles, esporte, academia, até basquete, não que fosse problema,

Mas lembrar de ele partindo daquela forma,

Sem falar que dentro do carro na vinda da festa,

Falava em monossílabos como se algo o tivesse importunado,

E a culpa fosse dela, ela pedia o que era ele se esquivava,

 

Ela o pressionava e ele metia o pé no pedal, a mil por hora,

Se ela tivesse que morrer, gostaria de no mínimo escolher a forma,

Se ele queria fugir de algo, que não fosse dela,

Ele ainda guardava aquele sorriso e o brilho no olhar que ela amava,

E a cada vez que fitava a câmera aflito seu coração pulsava alto,

Como se desejasse tocá-lo, alcança-lo e traze-lo para dentro,

Traição desmedida de si própria e de tudo que sentia,

 

Amava-o sem entender o porquê, olhando agora para a sua boca,

Ela entendia que sentia saudade do seu beijo, dos seus carinhos,

Deu dois passos para trás, desanimada, cambaleando para o lado,

Sem querer, tocou no interfone, atendeu, ele disse, “oi, você está ai? Te amo”,

Ela não acreditou no que havia feito, traída por seus próprios dedos,

Trêmulos, ansiosos... serrou os lábios, jurou para si mesma,

 

Nenhuma palavra sairia da sua boca, ele havia exagerado,

E acreditava que flores pudessem concertar os erros,

O pior de tudo é que ela sentia-se concordar, as flores, uma conversa,

Traída por suas emoções, pelo carinho desmedido que sentia,

Dizia para si mesma: carinho, pois amor era o que ele não merecia,

Não depois de tudo que fez na noite passada,

 

É certo que, vendo-a magoada, ele lhe pediu um beijo de despedida,

Também é certo que aquela era a sua forma de pedir desculpas,

Mas isso era demasiado pouco para o quanto ela era capaz de amar,

Amar em códigos, viver de coisas imaginadas, isso não era sensato,

Produzia sensações passageiras, fosse tudo, nunca seria amor,

E o sexo... sim, ela precisava disso, eles se completavam bem,

Sentou-se na bancada, ali onde tantas vezes haviam se acomodado,

Até em sua casa ele parecia estar mais do que ela,

 

Mesmo a pipoca que havia feito era a predileta dele,

Retornou, minutos haviam se passado, e ele estava lá em pé,

De olhos chorosos, “oi”, disse ela, “estou sim, o que você quer?”

Ele sorriu, “gostaria de te ver conversar, eu errei admito,

Mas preciso acertar as coisas contigo, sem você eu não vivo”,

Ela suspirou, olhou para as mãos tremulas, tentou controlar a voz,

 

Mas quando falou, foi traída, ela saiu sôfrega, “você bebeu muito, o que houve?

Não me senti bem com aquilo”, ao dizer isso, ela recostou-se na parede,

Incapaz de controlar as lágrimas, liberou a entrada, em um ímpeto,

Dando voz ao coração que pulsava por seu abraço, mais por impulso

Ou incapacidade de resistir que qualquer outra coisa,

Pelo menos tentou acreditar nisso, até ver ele entrar redimido,

Ele lhe deu um abraço, ela recusou, pegou as flores pôs num vaso,

 

Enquanto as arrumava, ele chegou por trás, abraçando-a,

Ela lembrou do quanto ele era alto, forte, e segurando-a,

Fazia dela a criatura mais frágil no mundo, ele falou ao seu ouvido,

Algo que ela não guardou na memória, mas não se virou,

Nem poderia pois, ele a mantinha presa em suas garras,

As mesmas mãos macias que tanto a acariciaram,

 

Agora a boca dela que tanto disse eu te amo, parecia dizer chega,

Basta, quero um tempo disso tudo, ao menos uma distância segura,

Mas antes que ela organizasse os pensamentos, ele puxou-a,

Levando sua boca de encontro a sua, em um beijo que ela tanto conhecia,

Mas não sabia mais se ainda queria, ele foi removendo suas roupas,

Ela continuou inerte, sôfrega, insegura, trêmula de corpo inteiro,

Os olhos dele, impossíveis de se esquecer eram de um azul gélido,

E as mãos quentes, tal qual antes, eram impetuosas...

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

À Luz Da Lua

 

Lá fora o vento da primavera brincava com as flores,

Saboreando o frescor noturno, brincando de esconder

A lua através de um véu de nuvens esparsas,

Como se desejasse esconder seu brilho inocente,

De quem acredita e sabe muito mais do que demonstra,

Embora pudesse afugentar pouco as sombras,

 

Nem mesmo o véu da noite conseguia despista-la,

E mesmo, ela estando, ali dentro, escondida,

Ela sabia e nunca poderia negar: ainda amava,

Como o amou desde a primeira vez que o viu,

E por mais que tentasse esconder, amava-o muito,

Passou as mãos pelo cabelo, sem querer sentiu seu rosto,

 

Seus olhos estavam assombrados pelo quanto podia amar

Mesmo através da distância, do tempo, da saudade

Que consumia toda a sua “dignidade” e sussurrava:

“ligue para ele, gaste seu último resquício de orgulho e o procure”,

A vidro da janela ficou embaçado, pareceu descontente

Ou talvez estivesse confuso diante da confissão,

 

Orgulho, dignidade? Burrice era negar-se a voz do coração,

E de repente, como se chateado pela mentirinha inventada,

Todo o seu horizonte se desfez pelo vapor a sua frente,

Em um ímpeto de ousadia ela levantou a mão e o tocou,

Limpando com os dedos, entre os espaços pode contemplar-se,

Era como se ela já não fosse mais uma única pessoa,

 

Era como se parte dela estivesse ali, ela sentia a si mesma,

Mas outra parte estava distante, em outro lugar,

Lá onde a saudade volta e meia a levava em pensamento,

Lá onde passou seus melhores momentos,

Onde amou como nunca acreditou ser possível,

Onde desejava desesperadamente voltar algum dia,

 

A lua saiu de uma nuvem espessa e iluminou seu rosto,

Por entre os vãos, como se a convidasse para ir lá fora,

Para quebrar aquelas grades invisíveis que a prendiam

Sem ferir, que a tomavam através do sentimento de... impossibilidade?

Afinal, a que ela se prendia para estar tão distante?

Para desistir do homem que amou como louca

 

E do qual jamais deveria ter desistido, procurou em si um motivo,

Reviveu cada momento que passaram juntos,

Mas nem um único parecia resistente para mantê-la longe,

Para apagar tudo que viveram, toda a felicidade que tiveram,

Ela sabia que se fosse lá fora iria querer ir além,

Sabia que dirigiria até ele, ainda mantinha viva cada lembrança,

 

Se apegava a tão pouco para pôr um fim a todo o amor que sonharam,

Aquelas grades desenhadas em seu reflexo eram precárias,

Por mais que tentassem fazê-la resistir ao que sentia,

Não conseguiriam por nada, mas e quanto a ele, o que diria?

Parecia que a lua já sabia sua resposta, ela sentia isso em sua certeza,

Não fosse amor, ela não teria afastado nuvens tão densas,

 

Movida por um único motivo: amor genuíno, amor puro, íntegro,

Para ilumina-la, para convida-la a perder o medo do inseguro,

Construir barreiras para manter-se distante de si mesma?

Para distanciar quem ama e sabia que amaria por toda a vida?

Isso era ego inflamado, conversas mal resolvidas, erros apagados

Aos quais ousava se prender apenas para por em evidência

 

Empecilhos jogados no chão, por onde construiu seu caminho,

Se eram eles seu chão, não poderia ela, mudar de posição?

Ainda lembrava do dia em que tiveram uma discussão,

Ela pegou o perfume que o presenteou e o jogou ao chão,

Estatelado em mil pedaços, teria ela resumido o amor a um vidro?

É certo que o cheiro poderia ter escapado pela janela,

 

Também, é certo que, mantendo-a fechada ali permaneceria,

Mas há ninguém é permitido fechar-se culpando-se pelo desnecessário,

A culpa deveria ser definida sobre o que é possível fazer

E o que não é, sendo imutável a tolice está no prender-se,

O caminho construído a erros existia apenas na sua imaginação,

Nos fazes de conta que ela inventava para manter-se distante,

 

Para se apegar e não atender ao telefone, não ligar,

Com a lua a iluminá-la em metades, ela decidiu ser inteira,

Num rompante de algo em que ela acreditou, embora,

Não soubesse nomear o que a moveu, ela levantou a mão inteira

E a sentou sobre o vidro com força suficiente para o desembaraçar,

Até que seu rosto tornou-se uma imagem fraca, ali refletida,

 

Enquanto a lua continuava a chama-la, com ainda mais intensidade,

Ela secou as lágrimas, não queria mais viver de miragem,

Pegou as chaves do carro, a bolsa, seu cachorrinho enroscou-se entre os seus pés,

Ela o abraçou com toda a força e amor que tinha, fechou as cortinas...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Mulher Armada

O barulho que a despertou a fez chorar de novo,

Lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto,

Se agarrou nas cobertas, desejou se esconder,

Mas não importava o que fizesse, seria presa fácil

Se não levantasse e reagisse da forma que fosse possível,

Do espaço da cama ao interruptor havia o medo do escuro,

 

O medo do inseguro, dos fantasmas que faziam um eco

Em seu pensamento, fazendo-a ver reflexos de sombras do teto ao assoalho,

Alguém poderia pegá-la, naquele exato instante,

Agarra-la e fazer dela presa fácil, objeto de desejos obscuros,

Ela parou um momento, fechou os olhos, desejou morrer,

Então, lembrou-se da arma que guardava na cômoda

 

Logo ao lado da cama, pensou que havia um copo de água sobre ela,

E que estava cheio, pois ela havia bebido apenas dois goles,

E o reservado para depois, se ela tateasse de forma errada,

Poderia derrubar a água que escorreria sobre a arma,

E quem sabe, para o seu azar ela falhasse na hora em que mais precisava,

Precisava pensar um pouco, refletir parecia ser a melhor ideia,

 

Mas ela achava que não havia tempo, as formas nas sombras

Pareciam sussurrar: corra, fuja, se esconda, ela se via

Dominada por seus medos, era como se todo o seu redor se movesse,

Lembrou do seu cão rottweiler, ele poderia estar ferido, pois a amava,

Certamente poria em risco sua própria vida por ela, precisava ser forte,

Não poderia chama-lo para não chamar a atenção de quem poderia estar à espreita,

 

Esperando o momento para domina-la, e sabe-se Deus lá o que fazer,

O medo se aproximava tomava forma e ela fugia, com o máximo de destreza que pode,

De passo a passo, rumou ao interruptor, errou a metragem, bateu na parede,

Um risco de sangue correu do seu braço, teve que conter o grito de dor,

Pensou no seu cachorro a esta hora ele poderia estar morto,

Pensou em chorar, mas conseguira conter as lágrimas a algum tempo,

 

Não lhe restara outra alternativa que não fosse ser forte,

De costas para a parede, colada a ela, como se agora já não fosse humana,

Fosse mero objeto, matéria fria e sem vida, ela suspirou,

Pediu forças a Deus e esticou o braço, raspando-o de novo,

Dessa vez sem se ferir, seus dedos não encontraram o interruptor,

Parecia que sua casa havia mudado de lugar, coisa estranha,

 

Pois tudo costumava ser deixado exatamente da mesma forma,

Estendeu um dedo, depois o outro, no terceiro conseguiu encontra-lo,

Sentiu medo, mas dessa vez era da luz, e se alguém estivesse ali parado,

A sua espera, talvez com uma arma, talvez apenas com seus músculos,

Ela estava nua, isso seria bom ou ruim? Não sabia se desejava ser vista dessa forma,

O medo tomava diversas nuances e neste instante parecia dominá-la por completo,

 

Ela desejou que seu cão a ouvisse, que ao menos suspirasse, mas nada...

Apertou o dedo, ligou o interruptor e sem pestanejar, nem pensar,

Se jogou ao chão no mesmo instante, assustada pelo barulho do interruptor,

Tendo sua queda amortecida pelos joelhos e a mão direita que estendera ao assoalho,

Com a esquerda cobriu o rosto, tinha medo que a ferissem de forma tão visível,

Como enfrentaria as pessoas no outro dia se estivesse com a cara amassada?

 

Sua alma já gritava agressão, sentia que não precisava mais que isso,

O que diria, que sofrera uma queda? Que havia se ferido sozinha?

A vizinhança jamais acreditaria e seria difícil encarar o olhar atento

Da vizinha da frente que casada por mais de trinta anos,

Nunca havia aparecido com uma única sequela para fora da casa,

Nem mesmo grito, barulho, nada...apenas silêncio...

 

Minutos se passaram sem que nada a tenha atingido,

Arriscou olhar para o alto por meio aos dedos, não encontrou ninguém,

Foi levantando-se ainda recostada na parede,

E sorrateiramente olhou para cada canto do quarto, sentiu-se, por segundos,

Um pouco mais tranquilizada estava sozinha, mas o silêncio ainda imperava,

Onde estaria seu cão que costumava dormir na mesma cama que ela?

 

Algo poderia estar errado no outro cômodo, e agora?

Seria melhor seguir até ele, chama-lo, ou o quê? Lembrou-se da arma,

Mas se andasse até ela, poderia ser tarde para o seu cão,

Seus olhos lagrimejaram de novo, sentia-se ferida, tonta,

As lágrimas que não escorriam por sua cara

Rumavam para algum lugar, ferindo sua alma,

 

Como se embebessem seus pensamentos, embriagando a razão,

Afogando seus sentidos, abafando o pulsar do coração,

Com poucos passos chegou a cama, sentou-se, sentia-se fraca,

Talvez a arma já estivesse sido removida... olhou para os lados,

Abriu a cômoda e a sacou com uma das mãos,

De repente, o aço dela, antes tão frio e duro, agora lhe parecera quente

E reconfortante, para sua segurança havia deixado ela desmuniciada,

 

Puxou o tambor do revolver com as mãos tremulas,

Pegou a munição, atentando-se triste para a sua forma,

Pareciam pequenos absorventes internos usados outrora para estancar sangue,

Que ironia, sorriu para si mesma, e carregou o tambor,

Não saberia precisar se era contra ou a favor ao desarmamento,

Mas naquele instante, a ideia de ter o porte lhe pareceu favorável,

 

Mas imaginar ceifar a vida de alguém, contemplar seu cão imóvel,

Tudo isso, a deixava insegura, frágil, não sabia se teria forças para rumar

Até a sala, sua cabeça rodava, as coisas não se apresentavam bem,

As imagens das violações sofridas viam a sua cabeça, e pareciam domina-la,

Contudo as ondas de roubos da região haviam se intensificado,

Precisava ser forte por ela e por seu animal de estimação,

 

Colocou os dedos no gatilho e caminhou escondida na parece,

Sem fazer barulho, parecia nem ao menos respirar, apenas seguia,

Ela estava nua, havia escolhido ser uma vítima nua?

Estava impedida de fazer barulho em que sua roupa poderia protege-la?

Da exposição de aparecer nas manchetes de jornais, talvez reportagem capa?

Não seria mais que um corpo bonito, uma pobre alma atormentada,

 

Seria bom estar assim, lhe daria mais chances para reagir,

Afinal, todo o tempo era precioso para o que tinha em mente,

Ela teria coragem para atirar nele, sabia disso, o fato de estar nua,

Exposta, não mudaria em nada a sua concepção, contemplar seus medos,

As marcas das feridas de outrora nada a fariam mudar seus objetivos,

Nem mesmo se seu cão estivesse caído, no chão, morto...

 

Nem mesmo se um par de olhos inexpressivos a estivessem esperando, agressivos,

Nem mesmo se fosse alto, bonito, musculoso, ou estivesse armado?

Ou mesmo agarrado junto ao pescoço do seu cão, sufocando-o?

Nunca entendera por que nos filmes os estupradores eram retratados como feios,

Mas o que fora fácil identificar é que eles gostavam de tirar a roupa,

Então, ela estaria nua, saberia o que falar e fazer na h,

Também lembrou que as vezes haviam cúmplices ou co-autores?

Ela saberia o que fazer mesmo se estivessem armados...

domingo, 3 de janeiro de 2021

Moça Triste

 

O que você faria se seu corpo estivesse ferido

E sua alma caísse em um vazio do qual não conseguia sair?

Talvez perambulasse por entre as sombras em busca de abrigo,

De que as sombras pudessem esconder as marcas da sua dor,

Se seus olhos negavam-se a buscar uma saída que parecesse lógica,

Talvez camuflar-se pela escuridão da noite parecesse mais adequado,

 

Cansada de andar por ruas incertas e sem destino fixo,

Sentara-se sobre uma pedra a espera de que a poeira baixasse,

E quem sabe o sol da manhã pudesse apresentar um endereço,

Um rumo certo, mas antes mesmo que o sol se apresentasse,

Tudo parecia se apagar em sua mente,

Deixando sobre as margens apenas as marcas do seu corpo,

 

Chorar copiosamente, as escuras, parecera uma boa saída,

Quem sabe as lágrimas apagariam o gosto amargo da sua boca,

Ela não conseguia lembrar com nitidez, na verdade, nem queria,

Estava machucada, ferida, magoada, ela repetia para si mesma,

Ela sabia que não seria a primeira a ferir-se nem a última,

As lágrimas prendiam-se em sua garganta, engolindo no vazio a sua fala,

E isso a felicitava, pois a impediriam de gritar tudo que queria calar,

 

Ela precisava pensar, encontrar uma saída, não podia perder tempo demais a chorar,

Ela havia se perdido em algum lugar e por mais que tentasse,

Não conseguia se encontrar, porém após seus lapsos de lágrimas,

Ela sempre se sentia mais em si mesma, chorar parecia alivia-la,

Caminhar sob o luar, ou às escuras com sua sombra para companhia,

Sempre havia aparentado a saída mais ideal; decidira, jamais amaria,

 

Seus medos e pesadelos pareciam acompanha-la por onde quer que fosse,

Nem mesmo o edredom da sua cama lhe concedia o direito ao esquecimento,

Ela poderia entregar sua alma algum dia, mas não seria agora,

Não seria desta forma, escrevera algo na poeira da estrada,

A noite sem lua não permitiria a ninguém enxergar,

E talvez, antes do nascer do sol a chuva pudesse apagar,

 

Ela se sentia no limite da razão, um passo distante do coração,

Sua alma pairava sobre ela, como se estivesse a quilômetros de distância,

A luz da sua consciência parecia esvair-se da sua alma,

Largando-a submersa a toda dor que sentia e apesar do esforço, não entendia,

Poderia acabar longe demais de si mesma, precisava encontrar um caminho de volta,

Ela se sentia fora de si mesma, perdida em algum lugar,

Vítima dos seus conceitos, das promessas que jurou a si mesma,

 

Se sentia atacada, muito mais do que os tabloides poderiam noticiar,

Ela tentava contar sua história nas estrelinhas, mas as pessoas negavam-se a crer nela,

A entende-la, o sangue exposto sobre a pele tornou-se trivial,

Mesmo as letras garrafais apresentavam-se desconexas, a beira do irrisório,

Os vazios em que aos poucos, de um a um, os sentimentos se consumiam,

Pareciam inelegíveis, indistintos, vagos demais aos olhos desatentos,

Que embora desconfiados negavam-se a verdade dos fatos,

 

Seus olhos arregalados de medo eram desconsiderados,

Ela pediu por isso, mereceu cair por entre os vãos deste cenário,

Atriz coadjuvante de um filme de terror com final incerto,

Diziam os outros aterrorizados por contemplarem a si mesmo em seu reflexo,

Ela estava exposta sobre as luzes dos holofotes, mas ninguém queria vê-la,

Mesmo ela, negava-se a encarar a ferida que sobre a sua pele se cicatrizava,

 

Denunciando que sofrera, e que ninguém parecia se importar,

Para começo de conversa, ela nem sabia mais onde estava,

Tudo havia se perdido em reflexos de sua história,

Era como se houvesse um teatro sobre si mesma, em que ela sentara-se na última fila,

A última a saber sobre si própria, a última a acreditar em tudo que passara,

Mesmo escondida ali, no escuro, sentia vergonha de tudo que houvera,

Fontes atinentes aos seus passos relatavam utilizarem-se de uma peça íntima

Como forma de monopolizarem-na, manipularem os atos da sua vontade,

Ela afastou esse pensamento, pensaria nisso mais tarde, se houvesse um mais tarde...

 

Sua história parecia pertencer a outro alguém, ela nega a si mesma,

Havia então se apaixonado, isso mudaria sua rota e agora?

Esse pensamento embebia em lágrimas a luz do seu olhar,

Queria sair para a luz do dia, mas tinha medo de que as pessoas pudessem vê-la,

Não queria demonstrar que sofria, mas precisava seguir adiante,

Seu coração não batia, prendia-se junto a garganta,

Emudecido, cego, sem encontrar palavras ou saída,

De repente falar parecia algo difícil, ausente do seu alcance,

 

Queria fechar os olhos, desejava que tudo não passasse de uma vertigem,

Mas a luz do dia trazia tudo de volta, por mais que tentasse,

Nada poderia apagar tudo que houve da sua memória,

Os risinhos, as conversinhas, o sofrimento de não ter ninguém com quem contar,

Mas agora que ela tinha, não sabia como falar, como extravasar o que sentia,

Parecia uma incógnita, por mais que tentasse não se reconhecia,

Sentia-se ofegar, mas algo prendia sua fala, a impedia, a afastava...

 

Tinha medo de que suas esperanças se apresentassem falsas,

Até sua memória parecia falhar agora,

Sem chances de gritar, sentia-se paralisada, machucada,

Porém, ilesa? Embora destruída em sua alma,

Como se arrancassem-na de dentro para fora,

Expondo-a, gritando em uma voz que ela não entendia,

Ela tentava sorrir, mas seu rosto inchado doía,

 

Queria esconder as lágrimas, mas em que isso importava?

Quem desvendaria os segredos que os olhos que a julgavam

Guardavam no lugar obscuro e incerto, dentro de si mesmos?

Naquele instante, ela não conseguia lembrar-se nem do seu endereço,

Trancara-se por dentro com travas sem chave para abertura e isso era bom,

Mas agora alguém desejava encontra-la, como ela reagiria?

 

Os sonhos de uma noite poderiam se apagar com o tempo,

Ela desejou acreditar nisso, mas a saudade veio e negou-se a tanto,

Ele havia lhe prometido um para sempre? Isso ela não conseguiria responder,

Sentia medo e o medo a paralisava, engolia suas palavras, mas isso ela já disse,

Em um instante sua mente condenava-se a ficar em branco,

Esconder parecia o melhor caminho, queria acreditar, embora nega-se a isso.

Eu Sou Uma Danada

Sem o troféu “A melhor” Nem a miss mundo, Ou a garota modinha, Simplesmente, Datada “a perfeita” Intitulada “A grande g...