Ela bebeu um copo de uísque de uma vez,
Deliciando-se com o gosto metálico na boca,
Sentiu-se desinibida, feliz, como nunca antes,
Engraçado como a bebida de forma moderada,
Faz um bem danado para as pessoas sagazes,
Ela pensou isso, tocando de leve a beirada do seu copo
Na do seu pai, estavam sentados em um bar da cidade,
Logo, em frente a praça, aos olhos do sol a iluminá-los
Com seu brilho espelhado, contraste genuíno, ao azul do céu
poente,
Entre graças e trapaças, gargalhadas vinham a boca,
De uma forma quase inusitada, em instantes
Tudo ao redor se transformava e o povo a comentar:
Engraçado, o quanto a menina de seus 20 anos ainda
Bebia na companhia do pai, e andava pelas calçadas
De braços dados com ele, despedindo-se sempre
Com um abraço apertado e aquele eu te amo refletido nos
olhos,
Sem temor ao público ou ao que os outros pudessem falar,
Pois o amor havia a muito tempo se tornado algo escasso,
Ela sentia que as pessoas tinham medo de abraços,
De simples demonstrações de carinho, tudo era calculado em
números,
Números de flores a se receber ou dar, preço a se presentar
ou ganhar,
Até mesmo o tradicional amigo-secreto de Natal, vinha
Estabelecido de um valor no presente a se dar,
Já não era mais a amizade que importava, o carinho que
sentiam,
Coitado do bom-velhinho que a cada ano mais empobrecia o seu
saquinho,
Sorte das renas que possuíam sua charretinha cada vez mais
leve,
Não bastou definirem datas para se lembrar de quem se ama,
Agora botavam preços aos sentimentos,
O dezembro estava perdendo seu encanto,
Mesmo os fogos se tornaram escassos,
Os abraços muito mais distantes e o amor a família algo
pitoresco,
Mesmo os sorrisos largos e encorajadores agora estavam
meados,
Meio de canto da boca, estilo falseado, os cumprimentos dos
amigos,
Também, do mesmo modo, mas isso não intimidava a menina dos
20 anos,
Ela abraçava seus pais, amigos, parentes e até pedia a
benção,
Sabia dar valor a tradição milenar que recebera ainda no
berço,
E levaria isso consigo por toda a vida, eu te amo repetia a
eles em público,
E, também, em espaço privado, porque o amor só é amor quando
é demonstrado,
Mesmo que, perante a olhos assustados e céticos, talvez
desconhecidos,
Desconhecidos de carinho, de amor, de cumplicidade familiar;
Havia muito respeito entre eles, mesmo nas discussões ou em
tudo o mais,
Ela sempre gostou de se despedir com um abraço, um beijo e
um eu te amo
Isso era a sua marca registrada, tentaram lhe tirar isso,
mas não conseguiram,
Só Deus sabe o quanto o diabo tem suas trapaças, porém, não
era questão
De religiosidade, mas simples respeito, ato de boa vontade,
vontade de demonstrar
Sentimentos, mesmo que aos gritos ou aos prantos, pois o
amor também
Comete erros, desde que se saiba manter a linha tênue entre
o respeito
E a liberdade exagerada, está tudo certo.
No amor há brigas, encontros e desencontros,
Mas onde há exagero no uso da força, necessidade de se
impor,
Desconfio que haja falta de amor.
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