sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Um Gole

 

Ela bebeu um copo de uísque de uma vez,

Deliciando-se com o gosto metálico na boca,

Sentiu-se desinibida, feliz, como nunca antes,

Engraçado como a bebida de forma moderada,

Faz um bem danado para as pessoas sagazes,

Ela pensou isso, tocando de leve a beirada do seu copo

 

Na do seu pai, estavam sentados em um bar da cidade,

Logo, em frente a praça, aos olhos do sol a iluminá-los

Com seu brilho espelhado, contraste genuíno, ao azul do céu poente,

Entre graças e trapaças, gargalhadas vinham a boca,

De uma forma quase inusitada, em instantes

Tudo ao redor se transformava e o povo a comentar:

 

Engraçado, o quanto a menina de seus 20 anos ainda

Bebia na companhia do pai, e andava pelas calçadas

De braços dados com ele, despedindo-se sempre

Com um abraço apertado e aquele eu te amo refletido nos olhos,

Sem temor ao público ou ao que os outros pudessem falar,

Pois o amor havia a muito tempo se tornado algo escasso,

 

Ela sentia que as pessoas tinham medo de abraços,

De simples demonstrações de carinho, tudo era calculado em números,

Números de flores a se receber ou dar, preço a se presentar ou ganhar,

Até mesmo o tradicional amigo-secreto de Natal, vinha

Estabelecido de um valor no presente a se dar,

Já não era mais a amizade que importava, o carinho que sentiam,

 

Coitado do bom-velhinho que a cada ano mais empobrecia o seu saquinho,

Sorte das renas que possuíam sua charretinha cada vez mais leve,

Não bastou definirem datas para se lembrar de quem se ama,

Agora botavam preços aos sentimentos,

O dezembro estava perdendo seu encanto,

Mesmo os fogos se tornaram escassos,

Os abraços muito mais distantes e o amor a família algo pitoresco,

 

Mesmo os sorrisos largos e encorajadores agora estavam meados,

Meio de canto da boca, estilo falseado, os cumprimentos dos amigos,

Também, do mesmo modo, mas isso não intimidava a menina dos 20 anos,

Ela abraçava seus pais, amigos, parentes e até pedia a benção,

Sabia dar valor a tradição milenar que recebera ainda no berço,

E levaria isso consigo por toda a vida, eu te amo repetia a eles em público,

 

E, também, em espaço privado, porque o amor só é amor quando é demonstrado,

Mesmo que, perante a olhos assustados e céticos, talvez desconhecidos,

Desconhecidos de carinho, de amor, de cumplicidade familiar;

Havia muito respeito entre eles, mesmo nas discussões ou em tudo o mais,

Ela sempre gostou de se despedir com um abraço, um beijo e um eu te amo

Isso era a sua marca registrada, tentaram lhe tirar isso, mas não conseguiram,

 

Só Deus sabe o quanto o diabo tem suas trapaças, porém, não era questão

De religiosidade, mas simples respeito, ato de boa vontade, vontade de demonstrar

Sentimentos, mesmo que aos gritos ou aos prantos, pois o amor também

Comete erros, desde que se saiba manter a linha tênue entre o respeito

E a liberdade exagerada, está tudo certo.


No amor há brigas, encontros e desencontros,

Mas onde há exagero no uso da força, necessidade de se impor,

Desconfio que haja falta de amor.

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