segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Mulher Armada

O barulho que a despertou a fez chorar de novo,

Lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto,

Se agarrou nas cobertas, desejou se esconder,

Mas não importava o que fizesse, seria presa fácil

Se não levantasse e reagisse da forma que fosse possível,

Do espaço da cama ao interruptor havia o medo do escuro,

 

O medo do inseguro, dos fantasmas que faziam um eco

Em seu pensamento, fazendo-a ver reflexos de sombras do teto ao assoalho,

Alguém poderia pegá-la, naquele exato instante,

Agarra-la e fazer dela presa fácil, objeto de desejos obscuros,

Ela parou um momento, fechou os olhos, desejou morrer,

Então, lembrou-se da arma que guardava na cômoda

 

Logo ao lado da cama, pensou que havia um copo de água sobre ela,

E que estava cheio, pois ela havia bebido apenas dois goles,

E o reservado para depois, se ela tateasse de forma errada,

Poderia derrubar a água que escorreria sobre a arma,

E quem sabe, para o seu azar ela falhasse na hora em que mais precisava,

Precisava pensar um pouco, refletir parecia ser a melhor ideia,

 

Mas ela achava que não havia tempo, as formas nas sombras

Pareciam sussurrar: corra, fuja, se esconda, ela se via

Dominada por seus medos, era como se todo o seu redor se movesse,

Lembrou do seu cão rottweiler, ele poderia estar ferido, pois a amava,

Certamente poria em risco sua própria vida por ela, precisava ser forte,

Não poderia chama-lo para não chamar a atenção de quem poderia estar à espreita,

 

Esperando o momento para domina-la, e sabe-se Deus lá o que fazer,

O medo se aproximava tomava forma e ela fugia, com o máximo de destreza que pode,

De passo a passo, rumou ao interruptor, errou a metragem, bateu na parede,

Um risco de sangue correu do seu braço, teve que conter o grito de dor,

Pensou no seu cachorro a esta hora ele poderia estar morto,

Pensou em chorar, mas conseguira conter as lágrimas a algum tempo,

 

Não lhe restara outra alternativa que não fosse ser forte,

De costas para a parede, colada a ela, como se agora já não fosse humana,

Fosse mero objeto, matéria fria e sem vida, ela suspirou,

Pediu forças a Deus e esticou o braço, raspando-o de novo,

Dessa vez sem se ferir, seus dedos não encontraram o interruptor,

Parecia que sua casa havia mudado de lugar, coisa estranha,

 

Pois tudo costumava ser deixado exatamente da mesma forma,

Estendeu um dedo, depois o outro, no terceiro conseguiu encontra-lo,

Sentiu medo, mas dessa vez era da luz, e se alguém estivesse ali parado,

A sua espera, talvez com uma arma, talvez apenas com seus músculos,

Ela estava nua, isso seria bom ou ruim? Não sabia se desejava ser vista dessa forma,

O medo tomava diversas nuances e neste instante parecia dominá-la por completo,

 

Ela desejou que seu cão a ouvisse, que ao menos suspirasse, mas nada...

Apertou o dedo, ligou o interruptor e sem pestanejar, nem pensar,

Se jogou ao chão no mesmo instante, assustada pelo barulho do interruptor,

Tendo sua queda amortecida pelos joelhos e a mão direita que estendera ao assoalho,

Com a esquerda cobriu o rosto, tinha medo que a ferissem de forma tão visível,

Como enfrentaria as pessoas no outro dia se estivesse com a cara amassada?

 

Sua alma já gritava agressão, sentia que não precisava mais que isso,

O que diria, que sofrera uma queda? Que havia se ferido sozinha?

A vizinhança jamais acreditaria e seria difícil encarar o olhar atento

Da vizinha da frente que casada por mais de trinta anos,

Nunca havia aparecido com uma única sequela para fora da casa,

Nem mesmo grito, barulho, nada...apenas silêncio...

 

Minutos se passaram sem que nada a tenha atingido,

Arriscou olhar para o alto por meio aos dedos, não encontrou ninguém,

Foi levantando-se ainda recostada na parede,

E sorrateiramente olhou para cada canto do quarto, sentiu-se, por segundos,

Um pouco mais tranquilizada estava sozinha, mas o silêncio ainda imperava,

Onde estaria seu cão que costumava dormir na mesma cama que ela?

 

Algo poderia estar errado no outro cômodo, e agora?

Seria melhor seguir até ele, chama-lo, ou o quê? Lembrou-se da arma,

Mas se andasse até ela, poderia ser tarde para o seu cão,

Seus olhos lagrimejaram de novo, sentia-se ferida, tonta,

As lágrimas que não escorriam por sua cara

Rumavam para algum lugar, ferindo sua alma,

 

Como se embebessem seus pensamentos, embriagando a razão,

Afogando seus sentidos, abafando o pulsar do coração,

Com poucos passos chegou a cama, sentou-se, sentia-se fraca,

Talvez a arma já estivesse sido removida... olhou para os lados,

Abriu a cômoda e a sacou com uma das mãos,

De repente, o aço dela, antes tão frio e duro, agora lhe parecera quente

E reconfortante, para sua segurança havia deixado ela desmuniciada,

 

Puxou o tambor do revolver com as mãos tremulas,

Pegou a munição, atentando-se triste para a sua forma,

Pareciam pequenos absorventes internos usados outrora para estancar sangue,

Que ironia, sorriu para si mesma, e carregou o tambor,

Não saberia precisar se era contra ou a favor ao desarmamento,

Mas naquele instante, a ideia de ter o porte lhe pareceu favorável,

 

Mas imaginar ceifar a vida de alguém, contemplar seu cão imóvel,

Tudo isso, a deixava insegura, frágil, não sabia se teria forças para rumar

Até a sala, sua cabeça rodava, as coisas não se apresentavam bem,

As imagens das violações sofridas viam a sua cabeça, e pareciam domina-la,

Contudo as ondas de roubos da região haviam se intensificado,

Precisava ser forte por ela e por seu animal de estimação,

 

Colocou os dedos no gatilho e caminhou escondida na parece,

Sem fazer barulho, parecia nem ao menos respirar, apenas seguia,

Ela estava nua, havia escolhido ser uma vítima nua?

Estava impedida de fazer barulho em que sua roupa poderia protege-la?

Da exposição de aparecer nas manchetes de jornais, talvez reportagem capa?

Não seria mais que um corpo bonito, uma pobre alma atormentada,

 

Seria bom estar assim, lhe daria mais chances para reagir,

Afinal, todo o tempo era precioso para o que tinha em mente,

Ela teria coragem para atirar nele, sabia disso, o fato de estar nua,

Exposta, não mudaria em nada a sua concepção, contemplar seus medos,

As marcas das feridas de outrora nada a fariam mudar seus objetivos,

Nem mesmo se seu cão estivesse caído, no chão, morto...

 

Nem mesmo se um par de olhos inexpressivos a estivessem esperando, agressivos,

Nem mesmo se fosse alto, bonito, musculoso, ou estivesse armado?

Ou mesmo agarrado junto ao pescoço do seu cão, sufocando-o?

Nunca entendera por que nos filmes os estupradores eram retratados como feios,

Mas o que fora fácil identificar é que eles gostavam de tirar a roupa,

Então, ela estaria nua, saberia o que falar e fazer na h,

Também lembrou que as vezes haviam cúmplices ou co-autores?

Ela saberia o que fazer mesmo se estivessem armados...

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