Lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto,
Se agarrou nas cobertas, desejou se esconder,
Mas não importava o que fizesse, seria presa fácil
Se não levantasse e reagisse da forma que fosse possível,
Do espaço da cama ao interruptor havia o medo do escuro,
O medo do inseguro, dos fantasmas que faziam um eco
Em seu pensamento, fazendo-a ver reflexos de sombras do teto ao
assoalho,
Alguém poderia pegá-la, naquele exato instante,
Agarra-la e fazer dela presa fácil, objeto de desejos
obscuros,
Ela parou um momento, fechou os olhos, desejou morrer,
Então, lembrou-se da arma que guardava na cômoda
Logo ao lado da cama, pensou que havia um copo de água sobre
ela,
E que estava cheio, pois ela havia bebido apenas dois goles,
E o reservado para depois, se ela tateasse de forma errada,
Poderia derrubar a água que escorreria sobre a arma,
E quem sabe, para o seu azar ela falhasse na hora em que
mais precisava,
Precisava pensar um pouco, refletir parecia ser a melhor
ideia,
Mas ela achava que não havia tempo, as formas nas sombras
Pareciam sussurrar: corra, fuja, se esconda, ela se via
Dominada por seus medos, era como se todo o seu redor se
movesse,
Lembrou do seu cão rottweiler, ele poderia estar ferido,
pois a amava,
Certamente poria em risco sua própria vida por ela,
precisava ser forte,
Não poderia chama-lo para não chamar a atenção de quem
poderia estar à espreita,
Esperando o momento para domina-la, e sabe-se Deus lá o que
fazer,
O medo se aproximava tomava forma e ela fugia, com o máximo de
destreza que pode,
De passo a passo, rumou ao interruptor, errou a metragem,
bateu na parede,
Um risco de sangue correu do seu braço, teve que conter o
grito de dor,
Pensou no seu cachorro a esta hora ele poderia estar morto,
Pensou em chorar, mas conseguira conter as lágrimas a algum
tempo,
Não lhe restara outra alternativa que não fosse ser forte,
De costas para a parede, colada a ela, como se agora já não
fosse humana,
Fosse mero objeto, matéria fria e sem vida, ela suspirou,
Pediu forças a Deus e esticou o braço, raspando-o de novo,
Dessa vez sem se ferir, seus dedos não encontraram o
interruptor,
Parecia que sua casa havia mudado de lugar, coisa estranha,
Pois tudo costumava ser deixado exatamente da mesma forma,
Estendeu um dedo, depois o outro, no terceiro conseguiu encontra-lo,
Sentiu medo, mas dessa vez era da luz, e se alguém estivesse
ali parado,
A sua espera, talvez com uma arma, talvez apenas com seus músculos,
Ela estava nua, isso seria bom ou ruim? Não sabia se
desejava ser vista dessa forma,
O medo tomava diversas nuances e neste instante parecia
dominá-la por completo,
Ela desejou que seu cão a ouvisse, que ao menos suspirasse,
mas nada...
Apertou o dedo, ligou o interruptor e sem pestanejar, nem
pensar,
Se jogou ao chão no mesmo instante, assustada pelo barulho do
interruptor,
Tendo sua queda amortecida pelos joelhos e a mão direita que
estendera ao assoalho,
Com a esquerda cobriu o rosto, tinha medo que a ferissem de
forma tão visível,
Como enfrentaria as pessoas no outro dia se estivesse com a
cara amassada?
Sua alma já gritava agressão, sentia que não precisava mais
que isso,
O que diria, que sofrera uma queda? Que havia se ferido
sozinha?
A vizinhança jamais acreditaria e seria difícil encarar o
olhar atento
Da vizinha da frente que casada por mais de trinta anos,
Nunca havia aparecido com uma única sequela para fora da
casa,
Nem mesmo grito, barulho, nada...apenas silêncio...
Minutos se passaram sem que nada a tenha atingido,
Arriscou olhar para o alto por meio aos dedos, não encontrou
ninguém,
Foi levantando-se ainda recostada na parede,
E sorrateiramente olhou para cada canto do quarto, sentiu-se,
por segundos,
Um pouco mais tranquilizada estava sozinha, mas o silêncio
ainda imperava,
Onde estaria seu cão que costumava dormir na mesma cama que ela?
Algo poderia estar errado no outro cômodo, e agora?
Seria melhor seguir até ele, chama-lo, ou o quê? Lembrou-se
da arma,
Mas se andasse até ela, poderia ser tarde para o seu cão,
Seus olhos lagrimejaram de novo, sentia-se ferida, tonta,
As lágrimas que não escorriam por sua cara
Rumavam para algum lugar, ferindo sua alma,
Como se embebessem seus pensamentos, embriagando a razão,
Afogando seus sentidos, abafando o pulsar do coração,
Com poucos passos chegou a cama, sentou-se, sentia-se fraca,
Talvez a arma já estivesse sido removida... olhou para os
lados,
Abriu a cômoda e a sacou com uma das mãos,
De repente, o aço dela, antes tão frio e duro, agora lhe
parecera quente
E reconfortante, para sua segurança havia deixado ela desmuniciada,
Puxou o tambor do revolver com as mãos tremulas,
Pegou a munição, atentando-se triste para a sua forma,
Pareciam pequenos absorventes internos usados outrora para estancar sangue,
Que ironia, sorriu para si mesma, e carregou o tambor,
Não saberia precisar se era contra ou a favor ao desarmamento,
Mas naquele instante, a ideia de ter o porte lhe pareceu
favorável,
Mas imaginar ceifar a vida de alguém, contemplar seu cão imóvel,
Tudo isso, a deixava insegura, frágil, não sabia se teria
forças para rumar
Até a sala, sua cabeça rodava, as coisas não se apresentavam
bem,
As imagens das violações sofridas viam a sua cabeça, e
pareciam domina-la,
Contudo as ondas de roubos da região haviam se
intensificado,
Precisava ser forte por ela e por seu animal de estimação,
Colocou os dedos no gatilho e caminhou escondida na parece,
Sem fazer barulho, parecia nem ao menos respirar, apenas
seguia,
Ela estava nua, havia escolhido ser uma vítima nua?
Estava impedida de fazer barulho em que sua roupa poderia
protege-la?
Da exposição de aparecer nas manchetes de jornais, talvez
reportagem capa?
Não seria mais que um corpo bonito, uma pobre alma
atormentada,
Seria bom estar assim, lhe daria mais chances para reagir,
Afinal, todo o tempo era precioso para o que tinha em mente,
Ela teria coragem para atirar nele, sabia disso, o fato de
estar nua,
Exposta, não mudaria em nada a sua concepção, contemplar
seus medos,
As marcas das feridas de outrora nada a fariam mudar seus objetivos,
Nem mesmo se seu cão estivesse caído, no chão, morto...
Nem mesmo se um par de olhos inexpressivos a estivessem esperando, agressivos,
Nem mesmo se fosse alto, bonito, musculoso, ou estivesse
armado?
Ou mesmo agarrado junto ao pescoço do seu cão, sufocando-o?
Nunca entendera por que nos filmes os estupradores eram retratados
como feios,
Mas o que fora fácil identificar é que eles gostavam de
tirar a roupa,
Então, ela estaria nua, saberia o que falar e fazer na h,
Também lembrou que as vezes haviam cúmplices ou co-autores?
Ela saberia o que fazer mesmo se estivessem armados...
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