domingo, 3 de janeiro de 2021

Moça Triste

 

O que você faria se seu corpo estivesse ferido

E sua alma caísse em um vazio do qual não conseguia sair?

Talvez perambulasse por entre as sombras em busca de abrigo,

De que as sombras pudessem esconder as marcas da sua dor,

Se seus olhos negavam-se a buscar uma saída que parecesse lógica,

Talvez camuflar-se pela escuridão da noite parecesse mais adequado,

 

Cansada de andar por ruas incertas e sem destino fixo,

Sentara-se sobre uma pedra a espera de que a poeira baixasse,

E quem sabe o sol da manhã pudesse apresentar um endereço,

Um rumo certo, mas antes mesmo que o sol se apresentasse,

Tudo parecia se apagar em sua mente,

Deixando sobre as margens apenas as marcas do seu corpo,

 

Chorar copiosamente, as escuras, parecera uma boa saída,

Quem sabe as lágrimas apagariam o gosto amargo da sua boca,

Ela não conseguia lembrar com nitidez, na verdade, nem queria,

Estava machucada, ferida, magoada, ela repetia para si mesma,

Ela sabia que não seria a primeira a ferir-se nem a última,

As lágrimas prendiam-se em sua garganta, engolindo no vazio a sua fala,

E isso a felicitava, pois a impediriam de gritar tudo que queria calar,

 

Ela precisava pensar, encontrar uma saída, não podia perder tempo demais a chorar,

Ela havia se perdido em algum lugar e por mais que tentasse,

Não conseguia se encontrar, porém após seus lapsos de lágrimas,

Ela sempre se sentia mais em si mesma, chorar parecia alivia-la,

Caminhar sob o luar, ou às escuras com sua sombra para companhia,

Sempre havia aparentado a saída mais ideal; decidira, jamais amaria,

 

Seus medos e pesadelos pareciam acompanha-la por onde quer que fosse,

Nem mesmo o edredom da sua cama lhe concedia o direito ao esquecimento,

Ela poderia entregar sua alma algum dia, mas não seria agora,

Não seria desta forma, escrevera algo na poeira da estrada,

A noite sem lua não permitiria a ninguém enxergar,

E talvez, antes do nascer do sol a chuva pudesse apagar,

 

Ela se sentia no limite da razão, um passo distante do coração,

Sua alma pairava sobre ela, como se estivesse a quilômetros de distância,

A luz da sua consciência parecia esvair-se da sua alma,

Largando-a submersa a toda dor que sentia e apesar do esforço, não entendia,

Poderia acabar longe demais de si mesma, precisava encontrar um caminho de volta,

Ela se sentia fora de si mesma, perdida em algum lugar,

Vítima dos seus conceitos, das promessas que jurou a si mesma,

 

Se sentia atacada, muito mais do que os tabloides poderiam noticiar,

Ela tentava contar sua história nas estrelinhas, mas as pessoas negavam-se a crer nela,

A entende-la, o sangue exposto sobre a pele tornou-se trivial,

Mesmo as letras garrafais apresentavam-se desconexas, a beira do irrisório,

Os vazios em que aos poucos, de um a um, os sentimentos se consumiam,

Pareciam inelegíveis, indistintos, vagos demais aos olhos desatentos,

Que embora desconfiados negavam-se a verdade dos fatos,

 

Seus olhos arregalados de medo eram desconsiderados,

Ela pediu por isso, mereceu cair por entre os vãos deste cenário,

Atriz coadjuvante de um filme de terror com final incerto,

Diziam os outros aterrorizados por contemplarem a si mesmo em seu reflexo,

Ela estava exposta sobre as luzes dos holofotes, mas ninguém queria vê-la,

Mesmo ela, negava-se a encarar a ferida que sobre a sua pele se cicatrizava,

 

Denunciando que sofrera, e que ninguém parecia se importar,

Para começo de conversa, ela nem sabia mais onde estava,

Tudo havia se perdido em reflexos de sua história,

Era como se houvesse um teatro sobre si mesma, em que ela sentara-se na última fila,

A última a saber sobre si própria, a última a acreditar em tudo que passara,

Mesmo escondida ali, no escuro, sentia vergonha de tudo que houvera,

Fontes atinentes aos seus passos relatavam utilizarem-se de uma peça íntima

Como forma de monopolizarem-na, manipularem os atos da sua vontade,

Ela afastou esse pensamento, pensaria nisso mais tarde, se houvesse um mais tarde...

 

Sua história parecia pertencer a outro alguém, ela nega a si mesma,

Havia então se apaixonado, isso mudaria sua rota e agora?

Esse pensamento embebia em lágrimas a luz do seu olhar,

Queria sair para a luz do dia, mas tinha medo de que as pessoas pudessem vê-la,

Não queria demonstrar que sofria, mas precisava seguir adiante,

Seu coração não batia, prendia-se junto a garganta,

Emudecido, cego, sem encontrar palavras ou saída,

De repente falar parecia algo difícil, ausente do seu alcance,

 

Queria fechar os olhos, desejava que tudo não passasse de uma vertigem,

Mas a luz do dia trazia tudo de volta, por mais que tentasse,

Nada poderia apagar tudo que houve da sua memória,

Os risinhos, as conversinhas, o sofrimento de não ter ninguém com quem contar,

Mas agora que ela tinha, não sabia como falar, como extravasar o que sentia,

Parecia uma incógnita, por mais que tentasse não se reconhecia,

Sentia-se ofegar, mas algo prendia sua fala, a impedia, a afastava...

 

Tinha medo de que suas esperanças se apresentassem falsas,

Até sua memória parecia falhar agora,

Sem chances de gritar, sentia-se paralisada, machucada,

Porém, ilesa? Embora destruída em sua alma,

Como se arrancassem-na de dentro para fora,

Expondo-a, gritando em uma voz que ela não entendia,

Ela tentava sorrir, mas seu rosto inchado doía,

 

Queria esconder as lágrimas, mas em que isso importava?

Quem desvendaria os segredos que os olhos que a julgavam

Guardavam no lugar obscuro e incerto, dentro de si mesmos?

Naquele instante, ela não conseguia lembrar-se nem do seu endereço,

Trancara-se por dentro com travas sem chave para abertura e isso era bom,

Mas agora alguém desejava encontra-la, como ela reagiria?

 

Os sonhos de uma noite poderiam se apagar com o tempo,

Ela desejou acreditar nisso, mas a saudade veio e negou-se a tanto,

Ele havia lhe prometido um para sempre? Isso ela não conseguiria responder,

Sentia medo e o medo a paralisava, engolia suas palavras, mas isso ela já disse,

Em um instante sua mente condenava-se a ficar em branco,

Esconder parecia o melhor caminho, queria acreditar, embora nega-se a isso.

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