O que você faria se seu corpo estivesse ferido
E sua alma caísse em um vazio do
qual não conseguia sair?
Talvez perambulasse por entre as
sombras em busca de abrigo,
De que as sombras pudessem
esconder as marcas da sua dor,
Se seus olhos negavam-se a buscar
uma saída que parecesse lógica,
Talvez camuflar-se pela escuridão
da noite parecesse mais adequado,
Cansada de andar por ruas incertas
e sem destino fixo,
Sentara-se sobre uma pedra a
espera de que a poeira baixasse,
E quem sabe o sol da manhã pudesse
apresentar um endereço,
Um rumo certo, mas antes mesmo que
o sol se apresentasse,
Tudo parecia se apagar em sua
mente,
Deixando sobre as margens apenas
as marcas do seu corpo,
Chorar copiosamente, as escuras,
parecera uma boa saída,
Quem sabe as lágrimas apagariam o
gosto amargo da sua boca,
Ela não conseguia lembrar com
nitidez, na verdade, nem queria,
Estava machucada, ferida, magoada,
ela repetia para si mesma,
Ela sabia que não seria a primeira
a ferir-se nem a última,
As lágrimas prendiam-se em sua
garganta, engolindo no vazio a sua fala,
E isso a felicitava, pois a impediriam
de gritar tudo que queria calar,
Ela precisava pensar, encontrar
uma saída, não podia perder tempo demais a chorar,
Ela havia se perdido em algum
lugar e por mais que tentasse,
Não conseguia se encontrar, porém
após seus lapsos de lágrimas,
Ela sempre se sentia mais em si
mesma, chorar parecia alivia-la,
Caminhar sob o luar, ou às escuras
com sua sombra para companhia,
Sempre havia aparentado a saída
mais ideal; decidira, jamais amaria,
Seus medos e pesadelos pareciam
acompanha-la por onde quer que fosse,
Nem mesmo o edredom da sua cama
lhe concedia o direito ao esquecimento,
Ela poderia entregar sua alma
algum dia, mas não seria agora,
Não seria desta forma, escrevera
algo na poeira da estrada,
A noite sem lua não permitiria a ninguém
enxergar,
E talvez, antes do nascer do sol a
chuva pudesse apagar,
Ela se sentia no limite da razão,
um passo distante do coração,
Sua alma pairava sobre ela, como
se estivesse a quilômetros de distância,
A luz da sua consciência parecia
esvair-se da sua alma,
Largando-a submersa a toda dor que
sentia e apesar do esforço, não entendia,
Poderia acabar longe demais de si
mesma, precisava encontrar um caminho de volta,
Ela se sentia fora de si mesma,
perdida em algum lugar,
Vítima dos seus conceitos, das
promessas que jurou a si mesma,
Se sentia atacada, muito mais do
que os tabloides poderiam noticiar,
Ela tentava contar sua história
nas estrelinhas, mas as pessoas negavam-se a crer nela,
A entende-la, o sangue exposto
sobre a pele tornou-se trivial,
Mesmo as letras garrafais
apresentavam-se desconexas, a beira do irrisório,
Os vazios em que aos poucos, de um
a um, os sentimentos se consumiam,
Pareciam inelegíveis, indistintos,
vagos demais aos olhos desatentos,
Que embora desconfiados negavam-se
a verdade dos fatos,
Seus olhos arregalados de medo
eram desconsiderados,
Ela pediu por isso, mereceu cair
por entre os vãos deste cenário,
Atriz coadjuvante de um filme de
terror com final incerto,
Diziam os outros aterrorizados por
contemplarem a si mesmo em seu reflexo,
Ela estava exposta sobre as luzes
dos holofotes, mas ninguém queria vê-la,
Mesmo ela, negava-se a encarar a
ferida que sobre a sua pele se cicatrizava,
Denunciando que sofrera, e que ninguém
parecia se importar,
Para começo de conversa, ela nem
sabia mais onde estava,
Tudo havia se perdido em reflexos
de sua história,
Era como se houvesse um teatro
sobre si mesma, em que ela sentara-se na última fila,
A última a saber sobre si própria,
a última a acreditar em tudo que passara,
Mesmo escondida ali, no escuro,
sentia vergonha de tudo que houvera,
Fontes atinentes aos seus passos
relatavam utilizarem-se de uma peça íntima
Como forma de monopolizarem-na,
manipularem os atos da sua vontade,
Ela afastou esse pensamento,
pensaria nisso mais tarde, se houvesse um mais tarde...
Sua história parecia pertencer a
outro alguém, ela nega a si mesma,
Havia então se apaixonado, isso
mudaria sua rota e agora?
Esse pensamento embebia em
lágrimas a luz do seu olhar,
Queria sair para a luz do dia, mas
tinha medo de que as pessoas pudessem vê-la,
Não queria demonstrar que sofria,
mas precisava seguir adiante,
Seu coração não batia, prendia-se
junto a garganta,
Emudecido, cego, sem encontrar palavras
ou saída,
De repente falar parecia algo
difícil, ausente do seu alcance,
Queria fechar os olhos, desejava
que tudo não passasse de uma vertigem,
Mas a luz do dia trazia tudo de
volta, por mais que tentasse,
Nada poderia apagar tudo que houve
da sua memória,
Os risinhos, as conversinhas, o
sofrimento de não ter ninguém com quem contar,
Mas agora que ela tinha, não sabia
como falar, como extravasar o que sentia,
Parecia uma incógnita, por mais
que tentasse não se reconhecia,
Sentia-se ofegar, mas algo prendia
sua fala, a impedia, a afastava...
Tinha medo de que suas esperanças
se apresentassem falsas,
Até sua memória parecia falhar
agora,
Sem chances de gritar, sentia-se
paralisada, machucada,
Porém, ilesa? Embora destruída em
sua alma,
Como se arrancassem-na de dentro
para fora,
Expondo-a, gritando em uma voz que
ela não entendia,
Ela tentava sorrir, mas seu rosto
inchado doía,
Queria esconder as lágrimas, mas
em que isso importava?
Quem desvendaria os segredos que
os olhos que a julgavam
Guardavam no lugar obscuro e
incerto, dentro de si mesmos?
Naquele instante, ela não
conseguia lembrar-se nem do seu endereço,
Trancara-se por dentro com travas
sem chave para abertura e isso era bom,
Mas agora alguém desejava encontra-la,
como ela reagiria?
Os sonhos de uma noite poderiam se
apagar com o tempo,
Ela desejou acreditar nisso, mas a
saudade veio e negou-se a tanto,
Ele havia lhe prometido um para
sempre? Isso ela não conseguiria responder,
Sentia medo e o medo a paralisava,
engolia suas palavras, mas isso ela já disse,
Em um instante sua mente
condenava-se a ficar em branco,
Esconder parecia o melhor caminho,
queria acreditar, embora nega-se a isso.
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