sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Uma Saudade

Em parte, porque chegara o início de janeiro, celebração do Novo Ano,

Em parte, porque não conseguira esquecer seu abraço,

Ela estava em férias no trabalho, pegou as chaves do carro,

Aproveitou a brisa fresca do sol poente, olhos no futuro

E dirigiu-se até ele, é certo que a três dias haviam brigado,

Mas a dois dias, ela estava irreparável e irremediavelmente,

 

Tomada por algo que a fez arrepender-se, saudade,

Ela definira no final daquela tarde, mas pouco importava o nome,

Isso é que era o fato, havia bloqueado o seu número,

Então chegaria sem avisar, no auge da discussão também

Apagara as conversas, mas o que importava agora, era estar de volta,

De volta a cidade de onde não deveria ter saído, de volta a quem amava,

 

Comemorar o início de algo de não deveria ter acabado,

E atrasar o relógio para dar início a um ano que havia começado para todos,

Menos para eles, dizem que a cor da roupa reflete os desejos,

Ela preferiu usar a cor branca, sozinha, pois tudo de que precisava

Já havia alcançado e queira Deus, não tivesse perdido, pois no calor da hora,

Eles disseram tudo um ao outro, menos o eu te amo que quis, em um ímpeto

 

De ousadia e dor profunda refletir em seus olhos, mas ela soube fecha-los

Na hora certa, soube baixar a cabeça em sua frente, virar-se de costas

E sair, sem esquecer de bater a porta atrás de si, não forte o suficiente

Que demonstrasse um resquício de raiva, mas nem tão fraca como se

Simplesmente a encostasse, em indiferença forçada, soletrando: tudo bem,

Nem me importo, ela se importava sim, de forma simplória a tudo que sentia,

 

Mas eficiente para sair em evasiva, para esquivar-se de tudo que havia,

Sem entender bem por quê, ela precisou disso, certo, tudo bem, ela entendia sim,

Ele havia sido grotesco, gritou, xingou, ainda a pegou pelo braço

Forçando um abraço que naquele instante, ela não queria, detestava sua mania

De manipular, de forjar situações, por Deus: será que ele achava que iria dominá-la?

Parou o carro na estrada, saiu para fora, olhou a tardinha cair a sua frente,

 

Logo a noite chegaria com seu manto e tudo o mais ficaria diferente,

As pessoas passavam por ela, inertes a tudo que se passava com ela,

Tudo acontecia lá fora, mas não havia nada dentro dela?

Rostos sem vida, outros felizes e ela ali, sozinha... só ela sabia o encanto do seu sorriso,

Mas também tinha consciência do quanto seus dentes eram afiados,

O quanto sua voz melodiosa sabia conquistar, mas as vezes, preferia a distância,

 

Pensou nele, ligou o celular, desbloqueou o seu número,

Que ela não havia apagado, pensou que pudesse ter sido furtiva com ele,

O celular que encurtava distâncias também criava espaços

E talvez, ela pudesse ter caído em um desses vãos e agora não conseguisse sair,

O tráfego estava intenso, mas ela estava inerte a isso,

Intenso mesmos estavam os sentimentos a explodir dentro dela,

 

Tudo que ela não podia controlar agora a fitava de frente,

E ela poderia resumir a imagem refletida na tela do seu celular,

A primeira vista, era o rosto dela, em segunda ordem seus cães,

Em terceira vista, eles dois, abraçados, unidos e felizes,

Talvez, a ordem das coisas estivesse invertida,

Talvez ela nem devesse ter saído daquela forma que agora

 

Se apresentava insensata, mas quem poderia controlar ou controlar-se?

Sabia que o amava a cada acorde que ouvia da sua voz,

Em conversas familiares aos seus ouvidos, sentia que ele fazia pouco,

Sentia que precisava de mais esforços por parte dele,

Mas também, tinha certeza que o amava, ele era desejoso,

Deixava tudo para depois, abandonava as coisas ao acaso,

 

Gostava de acumular coisas, mas enquanto isso se desfazia do mais importante,

O mato cresce rápido em caminhos que não são percorridos,

Mas nos arredores das casas dos vadios, também,

E isso abre espaço para que estranhos adentrem e tomem partida,

Meio que a contragosto, ela clicou em seu número,

“Alô, eu te amo, eu estava errada”, ela disse, com voz monótona,

 

“Eu errei em algum momento, sei disso, gostaria de me desculpar,

Será que aí onde você mora ainda há um lugar para mim ficar,

Eu estou de chegada e não tenho aonde pernoitar,

Ainda é cedo, então pensei que estivesse em tempo para ficar”,

Ele sorriu e disse: “Você? Não esperava que me ligasse,

Estou com amigos aqui em casa, mas há um quarto vago,

 

Está um pouco sujo, desajeitado, muito diferente daquele

Em que um dia você fez morada, mas sim filha, pode ficar”. 

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