sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Olhos Impetuosos

 

Ela estava assistindo a um filme de ação,

O mocinho passava o filme todo salvando a mocinha,

Isso trazia algum conforto ao seu coração,

Pelo menos em algum lugar havia amor ainda,

Ela havia preparado a pipoca no micro-ondas,

Estava com o achocolatado em mãos,

 

Nada de melhor poderia lhe acontecer naquele momento,

Com um sobressalto sem emoção,

Ela ouviu alguém tocar a campainha,

Deixou que tocassem, acreditou que desistiriam,

Mas ao terceiro toque decidiu verificar,

Poderia ser algo importante de alguém que não tivesse

 

Contato com ela através de seu telefone...

Soltou a pipoca e o chocolate de lado, e foi até o interfone,

Ao verificar através da câmara notou que era seu ex,

Depois de tudo que ele fez, decidiria voltar, sem mais nem menos,

Até carregava um belo buque de flores,

Com certeza, deveria estar acreditando que iria apagar os erros,

 

E ainda ofertar-lhe sonhos de um provável para sempre,

Cujo qual, ela sabia, já havia desistido, desde aquele fatídico dia,

Em que ele a deixou na escada e partiu sem dizer nada,

Avançando sinal de trânsito, pondo em risco a própria vida e o bem-estar

Psicológico dela, aquilo foi demasiado imaturo para perdoar,

Levou a mão a testa, saturada por tantas desculpas,

 

Tantas situações mal resolvidas, havia sempre um empecilho

Entre eles, esporte, academia, até basquete, não que fosse problema,

Mas lembrar de ele partindo daquela forma,

Sem falar que dentro do carro na vinda da festa,

Falava em monossílabos como se algo o tivesse importunado,

E a culpa fosse dela, ela pedia o que era ele se esquivava,

 

Ela o pressionava e ele metia o pé no pedal, a mil por hora,

Se ela tivesse que morrer, gostaria de no mínimo escolher a forma,

Se ele queria fugir de algo, que não fosse dela,

Ele ainda guardava aquele sorriso e o brilho no olhar que ela amava,

E a cada vez que fitava a câmera aflito seu coração pulsava alto,

Como se desejasse tocá-lo, alcança-lo e traze-lo para dentro,

Traição desmedida de si própria e de tudo que sentia,

 

Amava-o sem entender o porquê, olhando agora para a sua boca,

Ela entendia que sentia saudade do seu beijo, dos seus carinhos,

Deu dois passos para trás, desanimada, cambaleando para o lado,

Sem querer, tocou no interfone, atendeu, ele disse, “oi, você está ai? Te amo”,

Ela não acreditou no que havia feito, traída por seus próprios dedos,

Trêmulos, ansiosos... serrou os lábios, jurou para si mesma,

 

Nenhuma palavra sairia da sua boca, ele havia exagerado,

E acreditava que flores pudessem concertar os erros,

O pior de tudo é que ela sentia-se concordar, as flores, uma conversa,

Traída por suas emoções, pelo carinho desmedido que sentia,

Dizia para si mesma: carinho, pois amor era o que ele não merecia,

Não depois de tudo que fez na noite passada,

 

É certo que, vendo-a magoada, ele lhe pediu um beijo de despedida,

Também é certo que aquela era a sua forma de pedir desculpas,

Mas isso era demasiado pouco para o quanto ela era capaz de amar,

Amar em códigos, viver de coisas imaginadas, isso não era sensato,

Produzia sensações passageiras, fosse tudo, nunca seria amor,

E o sexo... sim, ela precisava disso, eles se completavam bem,

Sentou-se na bancada, ali onde tantas vezes haviam se acomodado,

Até em sua casa ele parecia estar mais do que ela,

 

Mesmo a pipoca que havia feito era a predileta dele,

Retornou, minutos haviam se passado, e ele estava lá em pé,

De olhos chorosos, “oi”, disse ela, “estou sim, o que você quer?”

Ele sorriu, “gostaria de te ver conversar, eu errei admito,

Mas preciso acertar as coisas contigo, sem você eu não vivo”,

Ela suspirou, olhou para as mãos tremulas, tentou controlar a voz,

 

Mas quando falou, foi traída, ela saiu sôfrega, “você bebeu muito, o que houve?

Não me senti bem com aquilo”, ao dizer isso, ela recostou-se na parede,

Incapaz de controlar as lágrimas, liberou a entrada, em um ímpeto,

Dando voz ao coração que pulsava por seu abraço, mais por impulso

Ou incapacidade de resistir que qualquer outra coisa,

Pelo menos tentou acreditar nisso, até ver ele entrar redimido,

Ele lhe deu um abraço, ela recusou, pegou as flores pôs num vaso,

 

Enquanto as arrumava, ele chegou por trás, abraçando-a,

Ela lembrou do quanto ele era alto, forte, e segurando-a,

Fazia dela a criatura mais frágil no mundo, ele falou ao seu ouvido,

Algo que ela não guardou na memória, mas não se virou,

Nem poderia pois, ele a mantinha presa em suas garras,

As mesmas mãos macias que tanto a acariciaram,

 

Agora a boca dela que tanto disse eu te amo, parecia dizer chega,

Basta, quero um tempo disso tudo, ao menos uma distância segura,

Mas antes que ela organizasse os pensamentos, ele puxou-a,

Levando sua boca de encontro a sua, em um beijo que ela tanto conhecia,

Mas não sabia mais se ainda queria, ele foi removendo suas roupas,

Ela continuou inerte, sôfrega, insegura, trêmula de corpo inteiro,

Os olhos dele, impossíveis de se esquecer eram de um azul gélido,

E as mãos quentes, tal qual antes, eram impetuosas...

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