Ela estava assistindo a um filme de ação,
O mocinho passava o filme todo salvando a mocinha,
Isso trazia algum conforto ao seu coração,
Pelo menos em algum lugar havia amor ainda,
Ela havia preparado a pipoca no micro-ondas,
Estava com o achocolatado em mãos,
Nada de melhor poderia lhe acontecer naquele momento,
Com um sobressalto sem emoção,
Ela ouviu alguém tocar a campainha,
Deixou que tocassem, acreditou que desistiriam,
Mas ao terceiro toque decidiu verificar,
Poderia ser algo importante de alguém que não tivesse
Contato com ela através de seu telefone...
Soltou a pipoca e o chocolate de lado, e foi até o
interfone,
Ao verificar através da câmara notou que era seu ex,
Depois de tudo que ele fez, decidiria voltar, sem mais nem
menos,
Até carregava um belo buque de flores,
Com certeza, deveria estar acreditando que iria apagar os
erros,
E ainda ofertar-lhe sonhos de um provável para sempre,
Cujo qual, ela sabia, já havia desistido, desde aquele
fatídico dia,
Em que ele a deixou na escada e partiu sem dizer nada,
Avançando sinal de trânsito, pondo em risco a própria vida e
o bem-estar
Psicológico dela, aquilo foi demasiado imaturo para perdoar,
Levou a mão a testa, saturada por tantas desculpas,
Tantas situações mal resolvidas, havia sempre um empecilho
Entre eles, esporte, academia, até basquete, não que fosse
problema,
Mas lembrar de ele partindo daquela forma,
Sem falar que dentro do carro na vinda da festa,
Falava em monossílabos como se algo o tivesse importunado,
E a culpa fosse dela, ela pedia o que era ele se esquivava,
Ela o pressionava e ele metia o pé no pedal, a mil por hora,
Se ela tivesse que morrer, gostaria de no mínimo escolher a
forma,
Se ele queria fugir de algo, que não fosse dela,
Ele ainda guardava aquele sorriso e o brilho no olhar que
ela amava,
E a cada vez que fitava a câmera aflito seu coração pulsava
alto,
Como se desejasse tocá-lo, alcança-lo e traze-lo para
dentro,
Traição desmedida de si própria e de tudo que sentia,
Amava-o sem entender o porquê, olhando agora para a sua
boca,
Ela entendia que sentia saudade do seu beijo, dos seus
carinhos,
Deu dois passos para trás, desanimada, cambaleando para o
lado,
Sem querer, tocou no interfone, atendeu, ele disse, “oi,
você está ai? Te amo”,
Ela não acreditou no que havia feito, traída por seus
próprios dedos,
Trêmulos, ansiosos... serrou os lábios, jurou para si mesma,
Nenhuma palavra sairia da sua boca, ele havia exagerado,
E acreditava que flores pudessem concertar os erros,
O pior de tudo é que ela sentia-se concordar, as flores, uma
conversa,
Traída por suas emoções, pelo carinho desmedido que sentia,
Dizia para si mesma: carinho, pois amor era o que ele não
merecia,
Não depois de tudo que fez na noite passada,
É certo que, vendo-a magoada, ele lhe pediu um beijo de
despedida,
Também é certo que aquela era a sua forma de pedir
desculpas,
Mas isso era demasiado pouco para o quanto ela era capaz de
amar,
Amar em códigos, viver de coisas imaginadas, isso não era
sensato,
Produzia sensações passageiras, fosse tudo, nunca seria amor,
E o sexo... sim, ela precisava disso, eles se completavam
bem,
Sentou-se na bancada, ali onde tantas vezes haviam se
acomodado,
Até em sua casa ele parecia estar mais do que ela,
Mesmo a pipoca que havia feito era a predileta dele,
Retornou, minutos haviam se passado, e ele estava lá em pé,
De olhos chorosos, “oi”, disse ela, “estou sim, o que você
quer?”
Ele sorriu, “gostaria de te ver conversar, eu errei admito,
Mas preciso acertar as coisas contigo, sem você eu não
vivo”,
Ela suspirou, olhou para as mãos tremulas, tentou controlar
a voz,
Mas quando falou, foi traída, ela saiu sôfrega, “você bebeu
muito, o que houve?
Não me senti bem com aquilo”, ao dizer isso, ela recostou-se
na parede,
Incapaz de controlar as lágrimas, liberou a entrada, em um ímpeto,
Dando voz ao coração que pulsava por seu abraço, mais por
impulso
Ou incapacidade de resistir que qualquer outra coisa,
Pelo menos tentou acreditar nisso, até ver ele entrar
redimido,
Ele lhe deu um abraço, ela recusou, pegou as flores pôs num
vaso,
Enquanto as arrumava, ele chegou por trás, abraçando-a,
Ela lembrou do quanto ele era alto, forte, e segurando-a,
Fazia dela a criatura mais frágil no mundo, ele falou ao seu
ouvido,
Algo que ela não guardou na memória, mas não se virou,
Nem poderia pois, ele a mantinha presa em suas garras,
As mesmas mãos macias que tanto a acariciaram,
Agora a boca dela que tanto disse eu te amo, parecia dizer
chega,
Basta, quero um tempo disso tudo, ao menos uma distância
segura,
Mas antes que ela organizasse os pensamentos, ele puxou-a,
Levando sua boca de encontro a sua, em um beijo que ela
tanto conhecia,
Mas não sabia mais se ainda queria, ele foi removendo suas
roupas,
Ela continuou inerte, sôfrega, insegura, trêmula de corpo
inteiro,
Os olhos dele, impossíveis de se esquecer eram de um azul
gélido,
E as mãos quentes, tal qual antes, eram impetuosas...
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