sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Sem Dizer Adeus

- tem sangue na sua camisa,
Pai.
Ticiane falou
Do banco de trás do Palio
Verde caído
No meio do asfalto.
Era tarde da noite,
Eles retornavam de um restaurante,
Foram comer pizza em família,
Ticiane, Pozze seu irmão
Mais velho e os pais
Magnan e Vaner.
Um corsa preto
Vinha em sentido contrário,
Nele estavam cinco jovens,
Todos bebiam suas bebidas
Alcoólicas e fumavam.
A fumaça, talvez,
Embaçou o vidro do carro
E dificultou a visão
Ou então, o efeito do álcool
Fez com que o motorista
Desviasse seu sentido,
Invadisse a pista contrária
E encontrasse o carro deles.
Ambos os carros colidiram
De frente,
O carro da família tombou,
Rodou na pista
E virou suas vezes,
Magnan nunca mais acordou.
Havia dentro do carro
Dois casais e um rapaz,
Que dirigia o carro,
Ao rodopiar na pista,
E tombar eles desceram
Do carro,
Se aproximaram embriagados
Do Palio
E deram coices e socos
Na lateral.
Com esforço,
Ticiane abriu a porta traseira
E saiu para fora,
Ela sangrava,
No teor de seus 15 anos
Não imaginou
Que tão jovem perderia
O pai,
Ou mesmo o irmão,
Ambos não abriram os olhos,
No entanto, sua mãe Vaner
Conseguiu abrir a porta
E sair.
Do seu rosto
Pingava sangue
Sobre a bolsa,
Ela se virou
Se encostou no carro
Tombado e chorou:
- por favor,
Não nos mantém.
Somos uma família.
Ela falou em pranto,
Implorando por suas vidas.
Paulino sorveu
A bebida de dentro da garrafa
E cuspiu em Pozze
Que não se movia,
Depois se virou e disse:
-Vamos embora.
Vamos desvirar o carro.
E assim procederam,
Em cinco pegaram na lateral
Do carro e o desviaram,
Fabian sentou no banco
Do motorista
Virou a chave
E o motor roncou,
Engatou a primeira marcha,
Acelerou e o carro andou.
Excetuadas as avarias
Na pintura, algo no painel
E a frente do carro
Que desgrudou,
Tudo estava normal.
Andado alguns metros,
Fabian desceu do carro,
Foi até o da família
Cuja mãe e filha
Se abraçaram em choro,
E chamou os amigos:
- venham.
Vamos desvirar este também.
Este nem perdeu a frente,
Parece que sofreu menos
Com o acidente.
Ele fez sinal com a mão
Em convite,
As garotas de salto alto,
Saia curta e abraçadas
Em seus namorados
Que lhes emprestaram
Suas jaquetas masculinas
Para se afugentar do frio
Foram até o carro
Com suas garrafas em mãos,
Os garotos jogaram fora
As deles.
Abriram a porta do carro,
Retiraram Magnan e o filho
Pozze, lhe deram tapas
No rosto e pediram
Que acordassem
Mas nenhum abriu os olhos,
Então, eles os soltaram
Fora da pista,
Ticiane e sua mãe
Correram até eles para vigia-los:
- eles irão melhorar.
A garota mais alta falou.
Ticiane e sua mãe
Assustadas preferiram
Ficar caladas,
Os jovens pegaram na lateral
Direita do Palio e
O endireitaram,
Ligaram o motor e
Também funcionava.
Depois disso,
Bateram nas mãos
Um do outro comemorando
Pois estava tudo certo.
Disseram adeus
E foram embora.
Ticiane gravou seus rostos,
Suas vozes,
A forma como falavam
E se vestiam.
Ela os cuidou se afastarem.
Junto de sua mãe,
Ela pegou o pai no colo
E depois o irmão
E os levou para dentro
Do automóvel,
Depois a mãe ligou o carro
E foram para o hospital.
Um mês se passou
E nenhum fez movimento,
Ou falou.
No entanto,
Ela estava segurando
A mão do pai,
Sentada no sofá de um hospital
Ao lado da mãe
Que sorvia seu café
Quando o coração do pai
Parou de bater para sempre.
Ela não abriu mais olhos,
Não a abraçou,
Não lhe deu um último conselho,
Não lhe deu o dinheiro
Para o lanche do refeitório escolar.
Aliás, ela deixou os estudos,
Por um mês
Sem preocupar-se,
Ficou ao seu lado,
Ora abraçando a mãe,
Ora olhando o irmão
Deitado imóvel na cama
Ao lado...
Agora, o pai partia
E não havia retorno.
Acabou,
Seu último pulsar ocorreu,
Enfraqueceu e desistiu.
Nem os médicos
Ou enfermeiros souberam
Como reanima-lo,
Nem o pranto de Ticiane
Abraçada a mãe
A olha-lo,
Nem ao menos quando
As duas abraçaram o irmão
E chamaram seu nome:
- pai, pai, pai
Volte.
-meu marido,
Meu esposo
Eu te amo.
“Precisamos de você “.
Disseram em uníssono.
Já era tarde,
Seu pulmão não respirou,
Seus olhos descansaram
A luta pela própria vida acabou.
Ticiane, recorreu até o chão,
Ajoelhada ao lado da cama
Do irmão,
Ela pegou sua mão,
Beijou e chorou.
A mãe implorou pelo esposo.
Ela levantou o rosto
E correu sem destino.
Não sabia dirigir,
No entanto,
Ela segurava a bolsa da mãe
E dentro dela havia as chaves
Do carro dela,
Um gol vermelho,
Ticiane pegou a chave
E sem saber como dirigiu.
Foi até a estrada
Onde colidiram contra
Os jovens e os esperou.
Sentiu como se seu coração
Fosse mais forte que tudo,
Olhou para o céu
E gritou
Depois disso
Soube que eles viriam
Todos juntos,
Bêbados, viciados e felizes.
E ela estaria ali,
Estacionada no meio
Da pista a espera-los.
Foi como se seu olhar
Tivesse um brilho hipnótico,
Ela olhou para o céu,
E eles souberam que precisavam
Sair, dirigir sem destino,
Porém, tinham um lugar
Para ir,
Uma estrada para passar.
E vieram,
Cabeças fora da janela,
Música alta,
Garrafas e cigarros
Entre os dedos,
Beijos e abraços
Entre todos com todos.
De longe, Ticiane os viu,
Agora estava preparada,
Ligou o carro,
Desligou as luzes e acelerou,
Testou o motor,
Foi para a frente e voltou
Diversas vezes,
Até que o carro ficou
Mais próximo,
Era o mesmo de anteriormente,
Deus lhe dava uma chance
Se defender seu pai,
De fazer algo por ele,
Um último algo
Agora que ele levaria
Para sempre...
Engatou a marcha
E acelerou,
Pegou de frente e em cheio
Contra o outro carro.
No choque os para-choque
Se juntaram um no outro,
Ela desceu do seu carro,
Olhou fixo em cada um deles
E eles se sentiram
Como se fossem de pedra.
Ficaram estagnados
Com as garrafas em mãos,
Olhos parados,
Cigarros entre os lábios,
Fumaça batendo contra a janela...
Então, Ticiane juntou
Uma madeira potente
De dentro do carro,
A bateu contra suas janelas,
Estourou seus vidros,
E só pensou no leito
De hospital que guardava
Seu irmão e seu pai.
O ódio foi tão intenso
Que nenhum deles moveu-se,
Com isto ela ateou fogo
Contra o carro,
Os viu queimar aos poucos,
Depois virar labareda,
Depois afastou-se.
Ao ficar longe
O magnetismo de seu olhar
Parou de fazer efeito
E ela pode contemplar
Uma garota fugir
Pela janela,
Correndo gritando
Pelo asfalto em chamas
Até cair morta
Sobre o asfalto.
Os rapazes também
Tentaram fugir,
Todos gritavam suas dores,
Mas o fogo os consumiu
Aos poucos.
O motorista correu na direção
De Ticiane
Que ficou de frente
Para eles,
Ele foi rápido,
Correu pelo escuro
E logo se aproximou
Então, ela manteve
O olhar seguro e instintivamente
Ele cessou.
Ela aproximou-se dele,
E lhe desferiu uma paulada
Contra o rosto,
Seu corpo que queimava
Caiu ensanguentado,
O fogo terminou de consumi-lo
No chão.
Depois disso,
Ambos os carros queimaram
E Ticiane voltou encontrar
Seus pais,
Só restava levá-lo
Para o cemitério,
Lá tudo acabou,
Dentro dela,
No entanto,
Se iniciou.

domingo, 14 de setembro de 2025

Noite na Avenida Porto Alegre

-Nossa e é sua primeira vez?
Indagou Andeane
Com os olhos cheios de expectativa.
-Claro que sim.
E vi duendes levando
Os vasos de flores
E voltando com dinheiro puro...
Respondeu Alex,
Tomando um gole de cerveja.
Estan olhou abismado,
Tudo que ele foi capaz de lembrar
A respeito da noite passada,
Foi de ver Alex transando
Com Andeane no capô
Do carro,
Ela totalmente nua,
Olhos fechados,
Simplesmente, “apagada”,
Ou dormia, ou sei lá...
Desmaiou.
-Uau, Alex.
Então, você usou drogas
Pela primeira vez ontem?
Ele indagou incapaz
De calar a curiosidade.
-Sim.
Claro. Vi estrelas no céu
Caírem se ascender em
Logo ali em frente
E nada queimar,
Porém, ficou dia ensolarado.
Ele disse.
Com um copo
Em mãos apontando
Para adiante.
-Uau.
Agora são 11 horas e o sol
Não apareceu.
Estan continuou.
- Certo.
Deve ter brilhado muito
Durante a noite
Enquanto eu me deliciava
Naquela droga pura
Da melhor qualidade.
Ele continuou.
Bebeu todo o líquido do copo
E tornou a encher
Com a garrafa que deixava
Sobre a lataria do carro.
Andeane não reclamou
Mas sentia dor em suas
Partes íntimas.
Contudo, passou as mãos
Pelo próprio corpo
E notou a ausência
De suas lingeries.
- Uau, por baixo
Da minha calça
Eu estou sem calcinha,
E por baixo da blusinha
Não está meu sutiã.
Como eu tirei?
Ela indagou trêmula.
-Você não lembra?
Nossa, você disse que
Virou atriz de televisão,
Subiu no carro e retirou
A própria roupa,
Então, fez xixi lá de cima,
Alegando que virou
Um homem.
Alex disse rápido
E rindo gargalhadas.
- Eu fiz isso?
Que vergonha?!
Ela gritou escondendo
O rosto entre as próprias mãos.
- E mais: você
Pôs os dedos na vagina
E imitou um pênis
Enquanto fazia xixi
E o xixi voou muito longe.
Alex respondeu.
- realmente, eu vi Alex
Lhe tirando de cima
Do carro quando você resvalou.
Estan continuou.
Estan gargalhou
Com vontade lembrando
Da música alta,
E das danças engraçadas
Colados um no corpo
Do outro rebolando os três
Juntos até cair no chão.
Os três encheram seus
Copos com a cerveja
E beberam três goles juntos
Olhando adiante,
Incapazes de voltar
Para suas casas
Devido a bebedeira.
-Ah, que bom
Que foi só isto,
Porque eu não lembro
De nada,
Se eu tivesse transado
Eu nem saberia.
Andeane encerrou a conversa.
-E quem iria querer lembrar
Do que faz em suas noites
De festa?
O melhor é o esquecimento
Que vem com a manhã.
Alex disse depois
De um pequeno silêncio.
Estan notou a falta
De sua carteira,
Lá estavam seus documentos
E o dinheiro.
Havia também um dinheiro
Do seus pais
Que ele guardou para entregar
A eles mais tarde,
Seria para pagar o aluguel
Da casa onde moravam.
- bah, eu notei
A falta da minha carteira,
Eu preciso dela,
Lá está o dinheiro para o aluguel,
Se meus pais não pagarem
Nós seremos despejados,
Está também meus documentos.
Ele disse preocupado,
E choroso.
Largou o copo sobre o carro,
E passou a olhar no seu redor
Para buscar a carteira.
-Caramba, cara.
Nunca mais acha.
Alex disse.
Depois olhou no seu redor,
Embaixo do carro,
Abriu o carro e olhou dentro,
Encontrou um preservativo
Feminino usado e jogou
Para fora
E tornou a buscar.
Andeane pulou de susto
Ao ver aquilo,
Levou por instinto as mãos
Entre meio as pernas,
E não disse nada.
Se afastou do carro
E buscou pela carteira de Estan,
Não encontraram.
-Aqui não há nada!
Ela disse,
Olhando para fora da avenida,
Para o lado dos loteamentos.
-que maldito erro,
Nós termos escolhido
Está noite para beber na avenida,
Seremos despejados de casa.
Estan disse entristecido.
Andeane voltou a vista
Até encontrar o olhar de Alex
Triste e curiosa.
Alex representava não se importar
Muito com o que acontecia,
Se encostou na porta do carro
E bebeu mais um pouco.
- bebe um pouco Estan,
Assim você esquece
Está bobagem.
É domingo ainda.

O galinheiro do Bruce

Na chácara Ahmed
Dona galinha Listradinha
Vivia feliz com seu esposinho
O galo Muhameh.
Eles habitavam um galinheiro
Que permanecia fechado
Nos períodos noturnos
E em dias chuvosos,
Porém, de dia eles percorriam
De asas unidas a chácara
Em busca de sementes,
Frutas e comidinhas.
Bruce era o dono da chácara
Todas as manhãs
Ele levantava bem cedinho,
Corria com suas quatro patinhas
Até o galinheiro,
Puxava o trinco da porta
E abria o galinheiro.
Bruce é um lindo shit-su,
Ele vive na chácara desde bebê.
O galo Muhameh e a galinha
Listradinha logo tiveram ovos,
Dos ovos nasceram pintinhos.
Bruce foi até o mercado
Dirigindo seu carrinho
Fusca azul
E trouxe de lá pequenas
Caixas de papel com mantimentos,
Estas caixas ele pôs no galinheiro
Para fazer ninho
Onde as galinhas passaram
A por todos os seus ovinhos.
Passou pouco tempo,
E as dez caixas ficaram
Cheias de ovos de galinha,
Dez galinhas chocaram ali
Dia após dia.
O Bruce abria a porta,
Entrava no galinheiro
E sorria ao ver os novos
Pintinhos quase nascendo.
Porém, veio o desespero,
Logo que os pintinhos nasceram,
Dez de cada galinha
Piolhos de galinha invadiram
O local.
Eram tantos piolhos
Que começaram a enfraquecer
As galinhas,
E não tardou invadiram
O quarto do Bruce
Em plena noite.
Ele fugiu da cama irritado
E com medo,
Minúsculos piolhinhos
Estavam em todos os locais,
Dentro das frutas do pomar,
Tornando elas impróprias
Pro consumo,
Dentro das flores do canteiro,
Matando-as.
Logo, os pintinhos
Ficaram tão fraquinhos,
Mas tão frageizinhos
Que caíram e não tinham força
Para levantar.
O milho que o Bruce dava
As galinhas não alimentava
Mais,
Elas estavam caindo,
Fuçando fracas,
Magras e perdiam suas penas
Se coçando sem parar.
Elas ficaram endoidecidas,
Corriam pelo terreiro,
Brigavam umas com as outras,
E os pintinhos piavam sofridos.
-Iremos morrer.
Disse o galo Muhameh.
-Não posso abandonar
Meus pintinhos.
Respondeu a galinha pintadinha.
O Bruce chamou o veterinário.
O veterinário disse
Que não existia remédio,
Teriam que abandonar
O local,
Fechar as portas
E queimar tudo,
Nada resistiria.
Depois, o veterinário
Foi embora,
Bruce sentiu no chão,
Lágrimas rolaram
De seus pequenos olhinhos
Mas ele não desistiu.
Foi até o limoeiro,
Colheu o máximo de limões
Que pode e trouxe
Até o terreiro,
Lá ele pingou na água
Das galinhas e fez todas beberem,
Depois pegou os limões
E espremeu no chão
Do galinheiro
E por toda a parte.
Então, ligou a mangueira
Do jardim e molhou
Toda a propriedade,
As flores, as frutas,
O galinheiro.
Deu banho nas galinhas,
No galo e nos pintinhos,
Depois tomou seu próprio banho,
Então, chamou todos para o terreiro,
E pôs fogo no galinheiro.
Todos se abraçaram
Olhando as chamas
Consumir sua morada,
Mas, Bruce logo construiu
Outra muito maior,
Feita de madeira, tela e brasilite.
Os pintinhos puderam,
Enfim,
Crescer felizes
Todos os 30.
Agora, todas as manhãs
O Bruce pega sua cestinha
Vai até o galinheiro,
Colhe os ovinhos
E vende no mercado Atacadão,
Alguns ele guarda
Para chocar
E tirar pintinhos.

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

O Assassino Está Solto

Ninguém prestou especial atenção
Ao jovem que saia do ônibus,
No início de sexta-feira,
Dia 08 de setembro,
Misturando-se a outros tantos
Iguais a ele.
Sujeito de porte médio,
Usava boné,
Jaqueta grossa que cobria
O corpo de cor escura,
Pasta na mão esquerda,
Se assemelharia a um pastor,
Mas nada apregoava,
Pareceria um operário
Retornando do trabalho,
Mas, não cheirava suor,
Não era mais que um estudante
A caminho da universidade.
Sentia-se a vontade
Ao cruzar de um ônibus
Para o outro,
De um lado da rua,
Para o lado oposto,
Escorou-se em um pilar
Do terminal de ônibus
E ficou quase como um
Manequim de algumas
Daquelas pequenas lojinhas
Que circundavam o local.
Não usou droga,
Ou fumou nada,
Apenas ficou estagnado
Olhando para o alto
Como se não tivesse o que fazer.
Estudante de boas notas,
Esforçava-se para ganhar
As respostas das questões
De antemão,
Amigo de muitos,
Parceiro de poucos.
Longe de sua história antiga,
Reinventou nova vida,
Com currículo inventado,
Não tinha a sua frente menos
Que sucesso.
Desta maneira,
Estava confiante de que
Sua liberdade duraria
Para sempre,
E que sua beleza
Se destacava o suficiente
Para ganhar
A quem desejasse.
Apaixonado por beijos fáceis,
E mulheres moles,
Sim,
Seu prazer provinha
Do resultado morte,
O sacolejar de seus corpos
Tendentes a fugir,
Se agarrar aos segundos
De vida que lhe proporcionava
Até o momento da morte eminente.
As vezes,
Ele as permitia a fuga,
Feria o suficiente
Para vê-las sangrar
Pelo caminho a correr
Crentes que iriam salvar-se,
Mas, ele sabia:
Isto não iria acontecer,
Porque Dand mata
E está nisto o seu prazer!
Não lhe importam as promessas,
O orgasmo de seus prazeres,
O seu instante é outro,
A despedida sem despedir-se,
O desespero por suas vidas,
O delírio do querer fugir
E jamais poder.

Não Aceitamos Carona

Eu e meu irmão
Brincavamos de rebatida
No quintal da nossa casa,
Ambos sem camisa,
Pés descalços,
Vestidos apenas de calção
De futebol vermelho.
De repente,
Uma mulher bonita
Parou o carro
Bem na nossa frente,
Nos convidou para entrar,
Disse que queria dar
Uma volta com nós,
Nos levar para tomar
Um sorvete,
Para passar o calor.
Eu me aproximei,
Ele ficou mais atrás,
Eu me recusei a ir,
O segurei pelos ombros,
E o afastei de perto do carro.
Ela riu alto,
Como se tivesse domínio
Da situação,
Parecia dona de si mesma,
Segura do que fazia.
Nisto nosso pai
Saiu na porta de casa
E nos chamou para dentro,
Depois, foi até ela
E lhe disse coisas feias
Que se recusou a nos repetir,
Dentro de casa,
Ele nos passou um sermão
Sobre não se aproximar
De estranhos,
E sermos mais inteligentes.
Logo, ligamos a televisão
No noticiário do meio dia,
E lá estava uma fotografia
Da moça,
A notícia a definia
Como assassina e estupradora.
Eu e meu irmão
Nos abraçamos apertado,
E até hoje eu agradeço
A Deus por ter nos livrado dela.
A morte nos beneficiou
Com mais algum tempo
De vida
E nós somos gratos sobremaneira,
Penso que ninguém deseja
Ser estuprado,
Sofrer violência contra
Seu corpo, realmente,
É o que há de terrível,
Mas, depois disso,
Ser morto,
Não calculo se exista coisa pior.

A Serviço do Próprio Bem

“E pensar que,
Se meu cachorro não tivesse
Latido tão alto
Com tanta intensidade
Eu teria sido mais uma
Das vítimas da capitã Andreia,
Me soa até agora inacreditável.”
Respondeu André,
Sentado em frente ao juiz
No tribunal penal
Para testemunhar acerca de um
Dos assassinatos da capitã Andreia.
Trata-se de mulher,
Que no uso de suas atribuições
Militares com o fim
De garantir a segurança pública
De seu Estado,
Nunca teve este intuito,
Ou empenhou-se para este fim.
Do contrário,
Usava, principalmente,
O horário de trabalho,
Das 13:30 até às 19 horas,
O uniforme militar cáqui,
A viatura e a arma
Para buscar suas vítimas
E mata-las.
Andre foi uma delas,
Certa vez,
Num sinal de trânsito,
Ela gostou dele,
Dirigindo sua camionete militar,
Olhou pra ele e gritou:
“Mãos ao alto”.
Ele não parou,
Se recusou a obedecer
A agente da lei,
Pela maneira como
Ela estava maquiada,
Unhas extremamente compridas
Bem feitas,
Uniforme aberto e exposto,
Ele jamais imaginaria
Se tratar realmente
De uma policial.
Mas mesmo ali,
Ela não o perdoou,
Anotou a placa de seu carro,
Entrou em seu sistema policial
E desprendeu longo tempo,
Parada no semáforo
Com a sirene ligada
A demandar multas contra seu nome.
Ele nunca mais dirigiria,
Teria sua carteira de habilitação
Cassada,
Enfim, seria presa fácil dela,
Como todos os outros,
O erro dele?
Ela deseja-lo.
Só isso.
Suas desordenadas multas
Endereçadas a André
Demandaram tempo
E isto gerou uma longa fila
De carros com motoristas
Irritados a buzinar atrás dela.
Ali mesmo,
Sem delongas,
Ela desceu de sua viatura,
Acompanhada de um sargento,
E fez blitz,
Isto mesmo,
Multou a todos,
Decretou prisão por embriaguez
Para um gordinho feio
E prisão por tráfico de drogas
Para um feio.
Neste ínterim,
Uma morena,
Pele de chocolate,
Olhos de avelã,
De aproximados 20 anos
Foi liberada pelo sargento,
A capitã não pensou duas vezes
Vendo na garota uma rival,
Provável concorrente
Para alcançar André,
Ou pior,
Chegar a um encontro marcado
Com o próprio,
Apontou sua arma contra
A motocicleta da moça
E atirou,
Atirou três vezes
Em várias partes do corpo dela,
Alegou fuga
Em seu relatório
De trabalho.
E marcou,
Marcou o rosto da moça,
No hospital,
Fez os médicos perderem
Sua identificação
E seu corpo foi enviado
Para a faculdade de medicina
Mais próxima para estudos
E testes da indigente.
Ninguém mais a viu,
Quanto a André,
Ela puxou no sistema seu nome,
Logo, encontrou seu endereço
E telefone,
E não perdeu tempo,
Foi até ele.
Ele lhe pertenceria,
Era seu querer,
Ninguém fugia a sua vontade,
Ela tinha a polícia nas mãos,
Era dona da ordem,
Senhora de seus desejos,
Contudo, o cão saiu antes,
Assim que ela estacionou
No portão de André,
O cão uivou e pulou nas grades
Latindo até babar
Contra ela,
Ela atirou,
Ele não parou,
Ela desistiu,
Só naquele instante
Prometeu a si própria.
O cão parecia farejar
O perigo
E não temer a dor,
Tal como seu dono,
Revidou contra ela,
Ferido e a sangrar,
Ele insistiu na defesa
Da casa e de seus donos,
Pela segunda vez,
Andre recebeu regalia,
Mais um instante de seu
Direito de viver,
Quanto ao cão,
Que fosse forte,
Não seria a medicina
Que iria ajudá-lo
E ela se incumbiria disso.
As imagens de câmeras locais
Mostraram o que ela fez,
André se desesperou
Ao ver o querido companheiro
A sangrar até morrer,
Denunciou.
As multas que ela assinou,
A busca por ele na própria casa
Eram início de provas,
Se juntou a isso
Outros relatos.
O que sobrou do que
Não foi queimado,
Ela era experta,
Tinha cúmplices,
Mas, agora com o sofrimento
Do cão,
Tudo pode vir a público:
Ela estava entre a justiça,
O medo e a corrupção.

O Assassino de Muletas

Mesmo tendo transcorrido
17 anos do início do cumprimento da pena
De 30 anos de Bundp
Pela sentença de cometimento
De 28 assassinatos,
Elaija se recusa a acreditar
Que a vítima daquele
Desesperado 07 de setembro
Fosse realmente Jandira.
Não,
Este pensamento é inaceitável
Para ela,
Os remédios que usa
Para curar o medo
Não são bons o bastante
Para permitir que ela
Falei sobre isso com clareza.
Ambas eram parecidas demais,
Faziam caminhada
No mesmo horário todos os dias,
Não andavam juntas
Ou eram amigas,
Contudo, se encontravam sempre,
Se cumprimentavam
E seguiram seus destinos.
Elaija tem medo
De que ao chegar ao fim
Da sentença,
Bundp volte a matar
E que recorde seu rosto
E da maneira como a perseguiu
17 anos atrás retorne
Atrás dela.
Hoje ela já não é uma moça,
Pelo contrário é mãe,
Mulher casada, trabalhadora
E honesta,
No entanto,
Que garantias existem
Para inibir este assassino?
Ela não sabe,
Porém, confia na justiça.
O que se sabe até então
É que Bundp não conhecia
As vítimas,
Ao contrário,
Eles as escolhia a esmo,
As perseguia por um tempo,
Obtinha prazer e dinheiro
Através de seu medo
E as matava sem remorsos.
Foi assim com Jandira,
Elaija estava presente,
Perto o suficiente para ver,
Ele usava muletas,
Fingia que tinha deficiência
Para se locomover,
Deixava o carro próximo
Ao local que escolhia,
Fingia que estava com alguma
Necessidade de auxílio
E pedia a sua escolhida
Ajuda para chegar até o carro,
Atravessar a rua,
Alcançar as chaves no bolso,
Pegar a carteira...
Certa vez,
Contou uma testemunha,
Que uma jovem
Acreditando nele
Tomou sua carteira
E correu para usar seu dinheiro,
Bundp a atacou com sua muleta,
Arremeteu um golpe
Contra a sua cabeça por trás,
E a deixou estirada no asfalto,
Sangrando.
Ela foi incapaz de acreditar
No quanto ele correu
E no quão foi rápido
Para alcança-la,
O sorriso de satisfação
Do seu rosto foi esfacelado
A golpes por pegar o dinheiro dele.
Deste antes,
Ela foi escolhida,
Hoje sabemos,
Porém, está ele teve o prazer
De tornar o rosto irreconhecível,
Sua muleta parecia
Uma barra de ferro,
Batendo e batendo
Mil vezes contra a boca dela,
Dizem que ela morreu de dor
E não medo ou assombro,
Mas, talvez, tenha se afogado
No próprio sangue,
Ou com algum dente.
No entanto, no que se refere
A Jandira,
Ele aproximou-se dela
Que caminhava de calça cáqui
E camiseta bergamota,
Derrubou o litro de água,
E fingiu ferir os dedos
Na muleta quando tentou
Se agachar para pegar
E notou, indefeso, que não
Podia alcançar.
Ela foi gentil,
Juntou o litro,
Limpou a sujeira,
Cumprimentou e sorriu
Para ele.
Ele a conduziu até o carro
Mancando e alegando
Não ter movimentos
Em uma das pernas,
Lá ela foi morta.
Assim que a porta se abriu,
Ela foi pega com força
E jogada para dentro
Do carro,
Então, foi atingida
Com golpes resistentes
Em seu peito,
Depois, ele passou um fio
De canivete em seu pescoço.
Elaija o viu dirigir,
Golpear e esfaquear Jandira,
Foi inacreditável,
O dia começava naquele instante,
Entre seis horas e sete da manhã,
Nem bem o sol se via,
E Jandira nunca mais o veria,
Nem a ninguém.
Através de testemunhos
Concluiu-se seus 28 assassinatos,
Ao menos,
Algumas poucas mulheres
Fugiram de seus dedos fortes
E puseram falar em seu benefício,
“Sim,
Ele correu atrás de mim
Por mais de um quilômetro,
Então, acho que o cansei.”
Disse Bianca.
“Ao menos eu fiz
Ele abandonar aquelas
Malditas muletas.”
Disse Jackeline em prantos
Ao juiz que só ouvia.

Laços de Afeto

Depois de tantos anos Doando sangue, Chega o dia em que Encontrou um rapaz recebendo, Ver com seus olhos Que você realmente...