sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Sem Dizer Adeus

- tem sangue na sua camisa,
Pai.
Ticiane falou
Do banco de trás do Palio
Verde caído
No meio do asfalto.
Era tarde da noite,
Eles retornavam de um restaurante,
Foram comer pizza em família,
Ticiane, Pozze seu irmão
Mais velho e os pais
Magnan e Vaner.
Um corsa preto
Vinha em sentido contrário,
Nele estavam cinco jovens,
Todos bebiam suas bebidas
Alcoólicas e fumavam.
A fumaça, talvez,
Embaçou o vidro do carro
E dificultou a visão
Ou então, o efeito do álcool
Fez com que o motorista
Desviasse seu sentido,
Invadisse a pista contrária
E encontrasse o carro deles.
Ambos os carros colidiram
De frente,
O carro da família tombou,
Rodou na pista
E virou suas vezes,
Magnan nunca mais acordou.
Havia dentro do carro
Dois casais e um rapaz,
Que dirigia o carro,
Ao rodopiar na pista,
E tombar eles desceram
Do carro,
Se aproximaram embriagados
Do Palio
E deram coices e socos
Na lateral.
Com esforço,
Ticiane abriu a porta traseira
E saiu para fora,
Ela sangrava,
No teor de seus 15 anos
Não imaginou
Que tão jovem perderia
O pai,
Ou mesmo o irmão,
Ambos não abriram os olhos,
No entanto, sua mãe Vaner
Conseguiu abrir a porta
E sair.
Do seu rosto
Pingava sangue
Sobre a bolsa,
Ela se virou
Se encostou no carro
Tombado e chorou:
- por favor,
Não nos mantém.
Somos uma família.
Ela falou em pranto,
Implorando por suas vidas.
Paulino sorveu
A bebida de dentro da garrafa
E cuspiu em Pozze
Que não se movia,
Depois se virou e disse:
-Vamos embora.
Vamos desvirar o carro.
E assim procederam,
Em cinco pegaram na lateral
Do carro e o desviaram,
Fabian sentou no banco
Do motorista
Virou a chave
E o motor roncou,
Engatou a primeira marcha,
Acelerou e o carro andou.
Excetuadas as avarias
Na pintura, algo no painel
E a frente do carro
Que desgrudou,
Tudo estava normal.
Andado alguns metros,
Fabian desceu do carro,
Foi até o da família
Cuja mãe e filha
Se abraçaram em choro,
E chamou os amigos:
- venham.
Vamos desvirar este também.
Este nem perdeu a frente,
Parece que sofreu menos
Com o acidente.
Ele fez sinal com a mão
Em convite,
As garotas de salto alto,
Saia curta e abraçadas
Em seus namorados
Que lhes emprestaram
Suas jaquetas masculinas
Para se afugentar do frio
Foram até o carro
Com suas garrafas em mãos,
Os garotos jogaram fora
As deles.
Abriram a porta do carro,
Retiraram Magnan e o filho
Pozze, lhe deram tapas
No rosto e pediram
Que acordassem
Mas nenhum abriu os olhos,
Então, eles os soltaram
Fora da pista,
Ticiane e sua mãe
Correram até eles para vigia-los:
- eles irão melhorar.
A garota mais alta falou.
Ticiane e sua mãe
Assustadas preferiram
Ficar caladas,
Os jovens pegaram na lateral
Direita do Palio e
O endireitaram,
Ligaram o motor e
Também funcionava.
Depois disso,
Bateram nas mãos
Um do outro comemorando
Pois estava tudo certo.
Disseram adeus
E foram embora.
Ticiane gravou seus rostos,
Suas vozes,
A forma como falavam
E se vestiam.
Ela os cuidou se afastarem.
Junto de sua mãe,
Ela pegou o pai no colo
E depois o irmão
E os levou para dentro
Do automóvel,
Depois a mãe ligou o carro
E foram para o hospital.
Um mês se passou
E nenhum fez movimento,
Ou falou.
No entanto,
Ela estava segurando
A mão do pai,
Sentada no sofá de um hospital
Ao lado da mãe
Que sorvia seu café
Quando o coração do pai
Parou de bater para sempre.
Ela não abriu mais olhos,
Não a abraçou,
Não lhe deu um último conselho,
Não lhe deu o dinheiro
Para o lanche do refeitório escolar.
Aliás, ela deixou os estudos,
Por um mês
Sem preocupar-se,
Ficou ao seu lado,
Ora abraçando a mãe,
Ora olhando o irmão
Deitado imóvel na cama
Ao lado...
Agora, o pai partia
E não havia retorno.
Acabou,
Seu último pulsar ocorreu,
Enfraqueceu e desistiu.
Nem os médicos
Ou enfermeiros souberam
Como reanima-lo,
Nem o pranto de Ticiane
Abraçada a mãe
A olha-lo,
Nem ao menos quando
As duas abraçaram o irmão
E chamaram seu nome:
- pai, pai, pai
Volte.
-meu marido,
Meu esposo
Eu te amo.
“Precisamos de você “.
Disseram em uníssono.
Já era tarde,
Seu pulmão não respirou,
Seus olhos descansaram
A luta pela própria vida acabou.
Ticiane, recorreu até o chão,
Ajoelhada ao lado da cama
Do irmão,
Ela pegou sua mão,
Beijou e chorou.
A mãe implorou pelo esposo.
Ela levantou o rosto
E correu sem destino.
Não sabia dirigir,
No entanto,
Ela segurava a bolsa da mãe
E dentro dela havia as chaves
Do carro dela,
Um gol vermelho,
Ticiane pegou a chave
E sem saber como dirigiu.
Foi até a estrada
Onde colidiram contra
Os jovens e os esperou.
Sentiu como se seu coração
Fosse mais forte que tudo,
Olhou para o céu
E gritou
Depois disso
Soube que eles viriam
Todos juntos,
Bêbados, viciados e felizes.
E ela estaria ali,
Estacionada no meio
Da pista a espera-los.
Foi como se seu olhar
Tivesse um brilho hipnótico,
Ela olhou para o céu,
E eles souberam que precisavam
Sair, dirigir sem destino,
Porém, tinham um lugar
Para ir,
Uma estrada para passar.
E vieram,
Cabeças fora da janela,
Música alta,
Garrafas e cigarros
Entre os dedos,
Beijos e abraços
Entre todos com todos.
De longe, Ticiane os viu,
Agora estava preparada,
Ligou o carro,
Desligou as luzes e acelerou,
Testou o motor,
Foi para a frente e voltou
Diversas vezes,
Até que o carro ficou
Mais próximo,
Era o mesmo de anteriormente,
Deus lhe dava uma chance
Se defender seu pai,
De fazer algo por ele,
Um último algo
Agora que ele levaria
Para sempre...
Engatou a marcha
E acelerou,
Pegou de frente e em cheio
Contra o outro carro.
No choque os para-choque
Se juntaram um no outro,
Ela desceu do seu carro,
Olhou fixo em cada um deles
E eles se sentiram
Como se fossem de pedra.
Ficaram estagnados
Com as garrafas em mãos,
Olhos parados,
Cigarros entre os lábios,
Fumaça batendo contra a janela...
Então, Ticiane juntou
Uma madeira potente
De dentro do carro,
A bateu contra suas janelas,
Estourou seus vidros,
E só pensou no leito
De hospital que guardava
Seu irmão e seu pai.
O ódio foi tão intenso
Que nenhum deles moveu-se,
Com isto ela ateou fogo
Contra o carro,
Os viu queimar aos poucos,
Depois virar labareda,
Depois afastou-se.
Ao ficar longe
O magnetismo de seu olhar
Parou de fazer efeito
E ela pode contemplar
Uma garota fugir
Pela janela,
Correndo gritando
Pelo asfalto em chamas
Até cair morta
Sobre o asfalto.
Os rapazes também
Tentaram fugir,
Todos gritavam suas dores,
Mas o fogo os consumiu
Aos poucos.
O motorista correu na direção
De Ticiane
Que ficou de frente
Para eles,
Ele foi rápido,
Correu pelo escuro
E logo se aproximou
Então, ela manteve
O olhar seguro e instintivamente
Ele cessou.
Ela aproximou-se dele,
E lhe desferiu uma paulada
Contra o rosto,
Seu corpo que queimava
Caiu ensanguentado,
O fogo terminou de consumi-lo
No chão.
Depois disso,
Ambos os carros queimaram
E Ticiane voltou encontrar
Seus pais,
Só restava levá-lo
Para o cemitério,
Lá tudo acabou,
Dentro dela,
No entanto,
Se iniciou.

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