Chacoalhou os chinelos pela terceira vez,
Caminhava pelo caminho a arrastar os pés,
Não porque não gostasse de algo – contrário,
Gostava do barulho que passava uma impressão errada,
De não estar sozinha,
Porque de fato,
Quanto se ama não se pode dizer que está,
Ah, mas o amor da mesma forma que chega,
Some sem fazer perguntas ou dar respostas,
Nem se quer pensou nisso,
Quando se decidiu por amar sem medidas,
Se é que o coração consulta a alma quanto a isso,
Naquele caminho de pedras, flores e espinhos,
A tortuosidade da rua se assemelhava a ela,
Logo, semblantes tristonhos dizem tudo,
Mesmo que permanecesse em silêncio mórbido,
A palavra é inútil, quando vem sozinha aos lábios,
É preciso de um resultado,
Há instantes em que se poderia afirmar sem erro
Que corações conversam entre si mesmos,
O seu decidia tudo por si próprio,
Não admitia controversas,
Coitada dela que sofria calada,
Sua dor ou renúncia ele não ouviria,
Corações, mesmo distantes,
Olham-se e reconhecem,
O dele deve ter dito na hora aos seus ouvidos:
-Cilada, cai fora antes que seja tarde.
Mas, ainda assim ele teve atitude arriscada – o beijo,
Sim, beijou-a como se fizesse uma promessa,
E logo depois desapareceu por onde veio,
Sem deixar rastro ou vestígios,
Não fosse o amor que sentia,
Nem poderia dizer que teria vindo,
Todavia, naquela tarde que caia,
Seu coração lhe fez bruscamente um pergunta:
-Ela se recusou a responder,
Alegou ofensa e fez silêncio,
O mesmo que ele sempre fez ante sua recusa,
Apresentou-se a sua alma com simples atitudes,
Descalçou o chinelo que incomodava
E pôs-se a andar de pés descalços sobre as pedras,
Doía, - mais dói a alma- foi tudo que disse.
O coração descansa quando compreende bem,
Mas, o seu as vezes parecia esquecer de bater,
Do horizonte parecia vir a salvação, - o nada,
Vazio profundo e obscuro que se aproximava,
Ante a perda talvez fosse melhor o nunca ter tido,
Somente é o coração a rocha que se oculta,
Permanece a espreita a espera de novo encontro,
O amor que sente e guarda é torre segura,
Um tornozelo ferido, um passo em falso,
Mas doce e tolo amor – jamais abalado,
Sentia-se ferida, era como a tarde que fugia,
Inclinada para o chão já não podia ver mais nada,
Sensação de perda e dor e certa angústia,
Como uma alma que derrama-se estava prestes a perder-se,
Todo o propósito daquele que parte
É ser esquecido como se nada houvesse acontecido,
Ele embebeu os lábios em mentiras feito veneno,
E o derramou sobre o beijo que entregou,
Com a boca disse: a quero, mas no íntimo se recusou.
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