sábado, 6 de maio de 2023

Por Favor

 


Por isso ouvi-lo aumenta o apetite,

E escancara a boca,

Sim, falo sobre o que me dá saudade,

De sonhos e tempo de conquista.


-Tempo de conquista?

Então, há tempo para se apaixonar?

Ele indaga em tom desafiador.

Respondo sem dó ou pudor:


-Você tem 3min. E 49 segundos.

Começo a contar o tempo,

Agora é contigo!

Ele repensa o que dizer,


As promessas ensaiadas não preenchem.

Por fim, diz algo bonito,

Não o tipo de fala repetida,

É o que penso.


Permito a ele um beijo.

Um selinho próximo aos lábios.

Ele prefere o rosto.

Acredita que seria capaz de mais que isso.


Mas não,

Afastou-se o que permiti proximidade.

Não foi por paixão,

Ainda hoje não sinto saudade.


Ele tem emoção,

Sua fala veste-se de atitudes.

Ganha-me então os lábios ao meio.

Enquanto beija-me mordaz e seguro,


Eu digo coisas com sentido...

-Enquanto você me beija eu falo,

Creio que para beijar precise do mexer de lábios,

Me desculpa, se não posso colar aos seus,


Seus pensamentos são incondizentes aos meus.

Aliás, quanto sentido!

Ele me pede tempo,

-Você tem 3 minutos e 49 segundos.


Ele prepara um discurso,

Olha o relógio,

-Você nota as roupas que eu visto,

O sofá,


Eu gosto disso.

Eu viro o rosto e sorrio,

Creio que ele queira dizer que aceite eu com algum ‘outro’,

Embora, eu pense que não é isso.


Me aproximo e noto,

Ele queria trocar de lugar comigo.

Reflito:

-Você sujou suas cuecas de novo?


Não se preocupe eu as lavo.

Você é tão jovem e capaz de tanta coisa,

Mas, trocar uma a cada dia por outra nova,

Bem, talvez, beire ao erro.


Ah, sobre trocar de lugar contigo?

Desculpa, eu não aceito!

Ele grita comigo:

-Querida, está tudo acabado!


Eu saio de soslaio,

Concordo em ação e termo.

Ele retorna, então é assim e... acabado?

-Três minutos e quarenta e nove segundos.


Ele pega as chaves e corre para o carro.

Fecha a porta atrás de si,

Já faz algum tempo que não vejo.

Em dez anos ou mais isso.


Não há três minutos e quarenta e nove segundos de conhecimento,

Sobre o que sou e gosto,

Como me conquistar ou merecer meu beijo,

É certo o vejo tocar meu corpo,


Mas, e quanto ao beijo?

Meus lábios ainda anseiam por mais que palavras,

Gostaria de alguém que eu não precisasse preencher,

Que enquanto abrisse os lábios colados aos meus,


Eu não precisasse pensar em como retribui-lo,

Pudesse permitir chegar até ele o tanto que sinto,

-Três minutos e quarenta e nove segundos,

É o tempo de uma das músicas que amo,


Penso nela se me sinto mal,

Será que nenhuma outra coisa me tira disso?

É tão pouco o tempo,

Não há promessa que dure o tanto,


Nem conquista que mereça o dispêndio- a entrega,

A letra é legal e o som é bacana,

Mas, e este ao meu lado,

Há quem se entrega?


O que pensa durante este lapso,

Sinto que não conheço como a ela.

-Oh, Aline. Me dá seu tempo?

Eu retorno:


-O que há?

Ele sorri sombrio.

-Meu coração por ti bati e faz taratatá.

Eu me volto, lhe dou as costas.


-Ah, que tal!

-E uma música.

Eu reajo na hora e me volto totalmente de frente,

Ele consegue minha atenção total.


-Você me dá um beijo?

Eu lhe entrego um suspiro e fujo disso.

Saio correndo.

E ao final da escada passo uma mão na testa,


Retiro o suor,

Confiro o relógio atordoada.

-Ufa, três minutos e quarenta e oito.

Quase... quase lá.


Ah, por Deus, não me sinto preparada.

-Te amo, te amo, nanana.

Ainda hoje durmo ouvindo esta música,

Ou pensando nela,


Em certa parte eu imagino o beijo,

São trinta e dois anos,

Nunca fui beijada!

Uh uh uh,


Por favor, por favor, por favor...

(Faz todo o sentido,

As duas frases juntas,

Assombro e proximidade,


Sim, sou capaz de amar,

Apenas não estou mais na puberdade!)


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