quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Seu Olhar

Guardava no olhar,
Um brilho intenso,
Uma chama sempre acesa,
Que apagava o choro,
Desinibia a conversa,
Me dava amparo.
Eu não nego,
Amei Cristian Grey,
Ser sua prometida,
Foi mais que um sonho bom,
Eu sonhei cara,
Derramei amor tomando remédio,
Esperei o cara que me valorizaria,
Olharia pra minha ausência de decote,
E não imaginasse que meus seios
Eram feios,
E eu fora de moda,
Então, quisesse me ver nua,
Pela simples sobra de tecido,
Retirar peça a peça,
E jogar uma máscara
Na minha cara
Para sair comigo,
Linda e perversa
Em público.
Foi sonho,
Mais que sonho.
Quase tive por objetivo.
A virgem despida na primeira noite,
Medida em seus dedos,
Acordada aos vômitos
E arrependimentos da balada,
Sozinha num quarto enorme,
De um cara rico e gostoso,
Que me respeitou ao máximo,
Saio, visto suas roupas,
E faço comida em sua cozinha,
Reviro tudo e limpo,
Cuido do Closet a cozinha,
Na sala dou uma espiadinha,
A sua garota.
Passar deste sonho
Para rostos brutais
É um tanto quanto cruel,
Desembarcar do carrão top,
Do cara lindo,
Para pegar uma calçada,
Andar a pé e tentar
Um espetinho de churrasco,
Alegra viver,
Não se chama a isso sonho,
Mas é realístico.
Quando alguém lá de casa
Se casa,
Quebra-se a taça do vinho,
Diz-se que o casamento,
Obrigatoriamente,
Deve durar o tanto de pedaços
Do vidro,
Não é por pouco,
Mas costuma ser
O tempo que se demora
Para quitar os gastos do casamento,
Ninguém endivida ninguém
E larga,
É a praxe.
Sem máscaras ou vidro na cara,
Nada de acrescentar possíveis dívidas.
Um casal que permanece
Na adversidade,
Na felicidade,
É um sonho interessante,
As vezes, ele me olha,
Me vê chorar escondido,
Espera ao lado da porta,
Leva um lenço até o corredor,
E seca suas lágrimas,
Hoje o olhar dele não é tão quente,
Nem mesmo eu choro
O tanto quanto antes,
A realidade coloca a gente no chão,
O coração coloca alguém perto,
Não há muito tempo
Para se desperdiçar a vagar
Em imaginários,
Só se prende a este fio,
Ver nele
O que busquei desde o início.

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Porquê Eu o Sinto

Se te escuto,
Vejo seus lábios,
Parece que te sinto,
Me vejo estar onde você está,
Não me pergunto
Se irá me amar,
Se deseja outra,
Ou não me quer tanto.
Olho para meu próprio corpo,
Me vejo capaz,
De não pouco,
Ser sua,
Por minutos,
E seu olhar,
Sua.
Me deixou percorrer,
Fazer o que você faria,
Com alma quente,
Coração pulsante,
Juro estou contigo,
Se desejar voltar,
Tocar, me ter,
Não estarás em nada errado.
Estou aqui,
Estarei aqui,
Sou sua,
Percorro com minha carícia,
Faço o que você faria,
Você sabe,
Não me Basto,
Mas por um pouco,
Sou sua,
Pensamento,
Sentimento,
Carícias,
Não há mais distâncias,
Quilômetros são vencidos,
Pensamentos sob impulsos.
Deslizo um dedo,
Mergulho num infinito,
Percorro caminhos,
Que são seus,
Que eu gostaria,
Estivessem em suas mãos,
Junto as mãos,
Uso dois dedos,
Me basta só pensamento,
Você está comigo,
Não há nada mais importante,
Te ver,
Sentir,
Estar entre meus dedos,
Como se você próprio
Estivesse aqui.
Você não duvidaria,
Não rejeita,
Quer estar comigo,
Reconhecer meu jeito
De ser sua,
Me entender
Por te pertencer tanto.
Passou tanto tempo,
E desta vez,
Estou molhada
E não são lágrimas,
Desculpa dizer tanto,
É mais fácil falar que mulher chora,
Mas agora digo sente,
E eu sou capaz de senti-lo
E você gosta,
Eu gosto.
Dou tudo por você,
Meu tempo,
Meu universo,
Meus lugares mais profundos,
Mergulho em mim
A te buscar
E me reconheço mais e mais,
Não duvide que diante do frio,
Eu estou a me abraçar,
Desculpa por não entender
Você não estar.
E se eu te pedir se deseja voltar,
Me querer,
Me ter,
Você gosta da ideia
Tanto quanto eu gosto?
Veja,
Suas lembranças estão entre meus
Dois dedos,
Jogados na sua cara,
Nunca foi tão intenso,
Por Deus,
Me é o primeiro,
Transparente,
Espesso,
Preparada,
Pronta,
É só querer voltar,
Estou quente,
Pronta para ser sua.
Cara grande,
Alto,
Cabelos escurecidos,
Olhos enegrecidos,
Lábios espessos,
Sorriso generoso,
Braços fortes,
Peito aconchegante,
É impressão ou parece perfeito,
Me vejo tanto em você,
Que me sinto quente,
De frente,
A olhar seus olhos,
Você é capaz de ver?
Sinto você,
Você sente ou eu preciso dizer,
Está procurando amor em outros lábio?
Não seja assim equivocado,
Me vejo aberta para tê-lo,
Eu sou sua,
Sou capaz de sentir as lembranças,
Imaginar mais do que houve,
Ter você,
Romper distâncias,
Pulsa em seus dedos
Tanto quanto eu o vejo
Me percorrer?
Macio, quente, vicioso,
Consigo ir até o fim,
Fazê-lo jorrar,
Adoro ver você escorrer,
Me veja,
Invadir sua tela,
Inundar seu olhar,
Me veja querer voltar,
Te ver,
Ser sua.

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Pitelmario O Aventureiro - Gravateiro

Pitelmario O Aventureiro – Gravateiro
O bom garoto,
Lindo menino,
Olhos castanhos,
Olhar ingênuo,
Penas brancas,
E uma listra nas costas negra.
E o sorriso?
Sempre naquele rosto vermelho,
Um dia.
Fazia sol,
Era de dia,
Ele voou, voou,
Chegou a janela,
Se sentou,
Olhou, olhou,
Deu dois passinhos
Para a direita,
Dois passinhos
Para a esquerda,
Um e dois,
Um e dois,
Dançou.
Pitelmario,
Garoto apaixonado,
Vou uma menina,
Linda patinha,
Ela usava uma calca branca,
E uma capa negra,
Tinha belos olhos claros,
Com pinceladas de penas brancas,
Era menina, recatada,
Não sorria por nada,
Não brincava.
Chegou Pitelmario,
Lhe estendeu a asa,
Abraçou e foi amigo,
Colocou no rostinho dela,
Lindo sorriso.
Agora, eles nadam juntos
No rio de águas cristalinas,
E calmas.
Nada Pitelmario,
Nada Harthinha,
A linda patinha,
Ele mergulha na água,
Busca o peixinho
E dá pra ela.
Lindo casal de amiguinhos,
Pitelmario é um garoto feliz.
Agora decidiu que ficou adulto,
Foi no roupeiro do irmão,
Pegou gravatinha,
E gritou:
- me empresta, amado irmão.
-claro que sim,
Respondeu Bruce vindo
Em sua direção,
Correndo e sorrindo,
Agora Pitelmario
é um garoto engravatado,
Sorri com o lacinho
No pescoço,
Faz sua dancinha
De passinhos perfeitinhos,
Um, dois e um, dois,
Anda ele
Para cada um dos lados,
Sorri,
Feliz,
Toca a asinha da Harthinha
E diz:
- vamos a janela,
Linda menina?
Podemos dançar lá.
E puxa ela para o quarto do irmão,
Abraça apertado Bruce,
E diz:
- te amo Brucinho,
Você quer andar nas minhas costas?
Eu te levo.
Bruce que é um cachorrinho
Adulto,
Não anda nas costas de Pitelmario,
Bruce é gordinho,
Sente medo de ferir o menininho.
Mas, os três juntos,
Correm na grama
Em direção ao rio,
E todos juntos mergulham,
E todos juntos pescam os peixinhos.
Um,
Dois,
Três,
Menininhos mergulhando,
Um,
Dois,
Três,
Peixinhos são pescados.
Pitelmario o garoto engravatado,
É mesmo um menino aventureiro,
Mergulha e nada muito faceiro.

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Lembro

Lembro, sim.
-Então, o vi, o achei incrível.
Marcamos o encontro e segui.
Não pareceu que precisaria
Ficar recordando o dia,
Relembrando o horário.
- Você sabe.
Me apaixonei a olhos vistos.
Eu não sei fingir,
Desejei você,
Quis provar seus lábios.
Os olhos castanhos dela,
Sábios, brilhosos,
Sempre a guardar uma lágrima,
Ficaram-se em mim,
Eu a quis.
Tive absoluta certeza,
Destas certezas que removem distâncias,
Que dão vontade de estar perto,
Que faz até sonhar,
Que deixa um pouco inseguro.
- Eu não consigo desviar meu olhar,
Querer, sonhos e desejos,
O vejo,
E meus lábios ficam entreabertos,
Desde a primeira palavra,
Antes de tudo,
Eu o esperava,
Quis sua boca,
Desejei seus beijos.
Não negaria.
Parecia que o olhar dela
Mais que qualquer coisa
O conhecia de forma verdadeira,
Foi emocionante o que senti,
Conhecer ela,
Marcar o encontro,
Estar ali.
Não precisaria reagendar,
Jamais haveria desencontro,
Estava tudo muito certo.
- eu não quis esperar,
Só desejei ter certeza
Que você sabia arder e gemer,
Querer estar comigo,
Tocar sua cintura,
Remover sua camisa surrada branca,
Que aliás,
Você parece trocar por nada,
O vi outras vezes,
Sempre fui clara
Com relação ao meu prazer,
E você sempre com ela.
Linda camisa branca.
Está tudo bem agora.
É só seguir viagem.
Vamos ficar bem.
Trocar carícias,
Falar de amor,
Fazer um bom sexo.
-E o quarto ficou tão quieto,
Que podemos ouvir nossos corações,
Eu sinto
Que você me deseja
Tanto quanto eu o amo.
Vamos ficar sempre juntos.
Vamos ficar sempre juntos.
Ela encerrou o monólogo.
Ele encerrou seus pensamentos.
Rolou sexo.

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Direção

Hoje caminhei,
Segui, corri,
Quis andar o mais rápido,
Chegar muito depressa,
Foi então, que vi,
Eu não sabia para onde ir.
Aí, simplesmente, peguei o carro,
Saí.

Dirigi depressa,
Vi tudo passar por mim,
Rápido demais,
Vi a curva se fechar,
Rápido demais,
Cansei de ver,
Quis fechar os olhos,
Fugir,
Nem enxergar mais.
Quis deixar tudo pra trás.

Chorei,
Clamei,
Me entreguei,
Foi questão de minutos,
Me justifiquei,
Procurei Deus,
Me consolei,
Andei mais devagar,
Mesmo que tudo explodisse,
Vi que minha estrada era segura,
Que Deus planejou tudo antes.

Levantei as mãos aos céus,
Baixei,
Segurei firme o volante,
Percebi que Deus é maior,
Que ele me colocou em seus planos,
Não interrompi estradas,
Não cortei frentes,
Não entrei sem ligar o pisca,
Não diminuí sem ligar o alerta,
Eu vi,
Tudo ficou claro,
Mesmo entre lágrimas,
Deus estava ali,
Caminhando na estrada,
Me esperava.

Quando o trânsito parou,
Eu não bati,
Quando o carro ultrapassou,
Eu não corri,
Quando recebi a notícia
Que eu não quis,
Ela já não me feria,
Eu vi Deus ali,
Caminhando comigo,
Seguindo a estrada,
Sentado ao meu lado,
Ele nem rezava,
Estava seguro,
Sabia bem certo quem sou,
Sua seguidora,
Aquela que Ele criou,
Sim,
Sou sua serva,
Não preciso antecipar nada,
Deus segue comigo,
Eu não tenho pressa,
Estamos seguro,
Juntos no mesmo carro.

Ele não precisa se cansar,
Caminhar a passos lentos,
Eu conheço o caminho,
Ele já andou por onde irei,
Eu posso levá-lo,
Sim, hoje, não irei sozinha,
Ofereço uma carona,
Levo Deus comigo,
Não sinta medo,
Eu sei dirigir muito bem,
É Deus quem senta ao meu lado,
E se eu errar a marcha?
Eu diminuo velocidade,
Peço para ele me ajudar.
É Deus quem esteve a frente,
Hoje levo ele comigo,
Ele já pode descansar,
Receber um beijo de agradecimento,
Eu o levo no carona.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Amor

Caiu por terra
Afogado em palavras
Que não teve forças
Para falar,
Lágrimas a percorrer seu rosto,
Pesadas demais
Para indiferenças.
Sentiu-se fraquejar,
Com a cabeça contra os joelhos,
A beirar a terra,
Ele permaneceu,
- como consegue não sentir nada?
Me ver cair e não se ressentir,
Você não sabe amar,
Você não é capaz de se entregar,
Sempre contida,
É como se o amor
Em você
Tivesse medida.
Diga uma palavra,
Fala alguma coisa,
Você beijou minha boca,
Tocou meu corpo,
Dormiu comigo,
Eu soube te fazer feliz?
Por favor, me diz.
Meu coração está emudecido,
Bateu feito uma pedra,
A pesar no peito,
Estou fraco demais para me levantar,
Não capaz de sair deste chão,
Onde você me fez escorregar,
Eu não quero sua compaixão,
Lhe pedi amor,
Por quê se recusa?
Bondade, moça,
Bondade.
Diga uma palavra,
Uma frase qualquer,
Este rosto cheio de dor,
Já foi digno de seus carinhos,
Você se recusa a me tocar,
Evita de aproximar,
Me diz,
O que eu te fiz?
Estou a desmoronar,
Meus alicerces ficaram entre seus dedos,
Em cada carícia sua,
Em cada sonho perdido,
Você está disposta ao caminho errado,
Entenda que eu sei sobre destinos,
Me quer a seus pés,
Não me veja como um de seus escravos,
Eu a terei,
Me coloco ao seu dispor,
A busco,
Me arrasto se não puder caminhar,
Mas estarei ao seu lado,
O amor não é maligno.
Sua distância
Ressoa sobre minha pele
Feito ferro em brasa,
Me faz arder,
Temos sua falta,
Pela última vez,
Seja minha,
Reconheça o que sinto...
A moça virou as costas,
Não foi capaz de amar,
Não sabia corresponder,
Dizem que encontraram um esqueleto,
Depois de muito tempo,
De uma jovem solitária,
Cujo qual não permaneceu
Muito tempo sozinho
Na vala onde foi jogado,
Quando quiseram separar
O esqueleto masculino
Do feminino
Em que morreu abraçado,
Ele, que morreu após ela,
Segurava forte,
Seguro como se sonhasse,
Se desfez no pó.
Após sua morte,
Parecia que ainda tentava protege-la
Mesmo seus ossos
Reconheciam o amor.
O dele se desfez,
O dela ainda possuia roupa e tecidos.

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

É a Vida

A solidão é uma base fria,
Escorregadia,
E destruidora,
Há quem caia nela
E voltei melhor?
Ou que não sinta tanta dor.
Hoje abri meus olhos
E senti medo,
Um pavor me percorrer,
Eu não quis deixar o cobertor,
Me recusei a levantar-me.
Mas o dia corre,
E antes que as horas passem,
Eu preciso ser forte,
Preciso sair do lugar,
Enfrentar tudo que houve,
Desistir de culpar,
Buscar
E insistir.
Seguir.
A solidão é base fria,
De quebrar a cabeça,
Romper o cérebro,
Retirar as certezas,
A solidão cega,
Ou apenas apaga
Aquele que não se importa?
Sozinha.
Sozinha.
Sozinha.
Não posso me acostumar.
Estou em ruínas.
Queria uma frase se sentimento,
E uma atitude,
Romper distâncias,
Estar perto,
Ter um alguém.
Aos 35 anos
Tudo que mais sinto é medo.
Momentos de ódio,
E medo.
Não sei se me escondo,
A vida toda não fiz outra coisa,
Rompi as certezas,
A verdade é que nunca tive as respostas,
Nunca soube o que fazer,
Tudo que fiz
Foi mentir,
Mentir para você.
Eu nem fui tão feliz.
Ou tudo está muito lá atrás,
Esquecido.
Eu sonhei com ídolos,
Eu imaginei frases eróticas,
Eu desejei me entregar,
Eu vivi cenas em minha cabeça.
E tudo que eu fiz com elas
Foi destrui-las,
De uma a uma,
Em cada dia que eu desejei vive-las,
Eu sinto dores intensas,
Eu tento me masturbar,
E nem sempre consigo,
Eu acho difícil sentir prazer,
Eu odeio gozadas curtas,
Eu gosto de metidas fortes,
Meu riso é involuntário,
E meu peido também,
Eu não gosto do amor.
Eu amo meus cheiros,
Admiro minha bunda
E cada um de seus movimentos.
Eu me amo de costas,
Admiro meus ossos,
O formato dos meus ângulos,
Eu gostaria de um pênis intenso,
Estou cansada de masturbadores,
Mesmo que isso signifique
Reconhecer dores
E saber dissipa-las
Por si própria.
Eu tiro dez em minhas histórias,
Quando percebo
elas são de todo mundo,
Eu sei que exigem da mulher
O conhecimento do prazer solitário,
Mas eu não sou capaz
E não me importo,
Eu preciso de companhia,
E exijo homens calorosos,
Nunca fui boa com garotos,
Nem dispenso os mais velhos,
Mas, por favor,
Não insista comigo,
E claro,
Só transo homens,
Não tenta ser doida garota.
Não se bobeia,
Garoto que mexe comigo,
Por quê não se aproxima,
Eu deixo claro,
Não me sinto bem sozinha,
Vem e fica comigo.

terça-feira, 15 de outubro de 2024

A beira do rio

Sentada na pedra
Onde a rainha da França
Reza suas horas,
Dezesseis dias
Antes de se passar
Está história ,
Ela já molhava o pé na água,
Cuidava a grama,
E via os peixes nadar,
Não daria para negar:
Sonhava.

Numa bela manhã
De quarta,
Até resolverem demolir
Cada moita de flor do lugar,
Trocar aparências,
Puxar um barco a remo,
Tudo andaria bem,
Se não fosse o relinchar
Do cavalo,
A acorda-la.

Ela não era mais
Que um espécime vivo
Deitada sobre aquela pedra,
Marcas no corpo,
Mas o ano era do Senhor
De 2020,
Ano prometido.
Mil moedas jogadas
Naquela água,
Se falassem,
Diriam tudo:
Promessas e cumprimento!

- Otário.
Disse ela ao levantar
A face
E direcionar-se,
Ao belo homem,
De porte atlético
E elegante,
De rédeas a mão,
E chapéu sobre o rosto.
Ela respirou a realidade,
Levantou-se,
E lhe estendeu a mão
Em cumprimento,
- Olá, como está?
Sorriu.
E um rubor lhe correu a face,
Ao devorar com o olhar
O peito másculo
Que se mostrava
Por entre botões
Frouxos da camisa azul,
Sua realidade
Era um lindo homem
Alto, magro e fascinante!

Ele permaneceu imóvel
E ao seu dispor,
Sorriso fraco e contido,
Se tivesse uma borboleta
No bolso,
Certamente,
Ele lhe daria a borboleta,
Mas este homem
Não tinha nada no bolso,
Aliás nem tinha bolsos,
Felizmente, um incidente
Veio a socorre-lo,
Iniciou-se chuva forte,
Então, apeou do cavalo,
Abrigou-se a uma árvore,
Despiu-se da camisa,
E abrigou-a em seu peito,
Aquecida pelo tecido.

domingo, 13 de outubro de 2024

Neblina

Noite sem lua,
Noite escura,
Noite vazia,
Noite fria.
Olhar fixo
Naquela que amava,
Ali não era percebido,
Ela não o procurava.
Logo baixaram-se pontos brancos,
Mesmo as estrelas
Não estavam mais presentes,
Seu sorriso pálido
De um sonhador que ama,
Não consegue esquecer,
Não tenta buscar.
Tudo se apaga,
Assim que os olhos se fecham,
Tudo fica escuro,
Repousa uma mão no peito,
Um vazio que não se preenche,
Torna a acordar-se,
E não há nada
A não ser si próprio.
- Rápido, rápido.
Ele corre a gritar para o moço.
- Sei de moça que o ama.
E neste mesmo segundo
Ela o chama.
O rapaz grita ao outro
Não no coração dele segredo,
A moça ao dormir chama
Um nome,
E ao acordar
O procura por entre as ruas,
Tal rapaz, moço galante.
Belo rapaz
Que não resiste a aventuras,
Beija de boca a boca,
Troca seus nomes,
E número de suas casas,
Não se negaria a vê-la,
Não está,
Tão bonita e importante.
(Amada pelo amigo)
Seria tão ou mais querida
Por este,
O amante!
Mas a bota do belo rapaz
Veio ensurdecida e cega
Ao seu peito,
A empurrar chute violento,
Sabe-se,
Botas não sentem,
Ouvem ou vêem,
Chutaram-o com máxima força,
E pernas são para manter
Um homem em pé,
E aquele,
Por sua natureza conquistadora,
Queria tudo,
Menos amor,
- venha.
Como você é feliz por ter alguém
Que o ama!
Venha!
O amigo ainda tentou
Último gesto.
O rapaz ignorou toda conversa,
Simplesmente deu-lhes as costas,
O amigo também fez
Uso de suas pernas,
Teve amor por si mesmo,
Pegou rumo diverso
E foi-se embora.
- Oh, recusar-se a isso?
Sussurrou ele,
A sumir-se
Através da neblina.
Há homens que esperam.
Mulheres que esperam.
E há, outros.

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Si mesma

Aterrada,
Infeliz,
Destruída,
Sonhos a ruir.
Promessas obscuras.
Lábios trêmulos
Como se estivessem
Sempre a rezar.

Já não se tratava de juras.
Seus olhos estavam adiante,
Subiam aos céus,
Não havia promessa alguma.
Foi quando ele contou a multidão,
Aproximou-se de seu ouvido
E falou com sofrega paixão,
Como se única alternativa:
- você me quer?
Eu ainda posso ser seu homem.
-O que pensa que sou?
Ela respondeu.

É como se a ideia de mulher
Fosse afixada a um alicerce,
E que este fosse o homem,
Sem o qual ela não poderia ser.
Mulher dependente.
Mulher amparada.
Mulher escorada.
Apenas é mulher
Se tiver um homem.
- Só desejo o amor.
- então, no que depender
De mim,
Não será de ninguém.

Ele respondeu
Cuspiu em seu rosto
E gritou: vagabunda.
Ela sai por dinheiro!
Os olhos de todos
Se jogaram contra seu rosto,
Era como se ela fosse acorrentada,
E que cada olhar
Contasse suas horas de vida.
Morte.

Morte por se entregar
A quem não merecia.
Morte.
Por ter feito sexo por prazer.
Ergueu os olhos aos céus,
Falou baixo o nome
Do homem por quem nutria sentimento,
Ele estava distante,
Não era capaz de ouvir,
Talvez,
Não tivesse disposição
Para ajudar.

Lhe lançar uma palavra amiga,
Fazer uma aproximação de conforto.
Nada além de desprezo.
O céu azul parecia fazer
Recortes nas nuvens claras,
Era como se produzisse impulso
Para que baixassem,
Ela não queria permanecer,
Desejou com todo o seu ser,
Uma saída
Daqueles olhares punitivos.
Duro é o amor,
Tão frágil, belo e delicado,
Que as vezes,
Não parece querer
Pertencer a mãos humanas,
Ela apertou seu próprio
Corpo com os braços,
Quis dar-se carinho e amor próprio.

Rejeitada,
Devido a boatos e murmúrios,
Especulações de esposas fracassadas,
Banida por homens
Que não a queriam
Se não fosse apenas por prazer,
De repente,
Ela correu a praça
Abraçada a si feito uma louca,
Caindo e levantando,
Limpando a sujeira da roupa
E gritando:
- amor! Amor! Amor!
Amor ou um soco na cara!

Foi até o fim da praça,
Retornou e correu a avenida
Abraçada a si mesma
E gritando:
- Amor! Amor! Amor!
Amor ou um soco na cara?!

Escondidas

Deslumbrado com a pele
De chocolate espesso,
Dizia a si mesmo:
Foi um erro,
Melhor fingir que não a conheço.
Dois tragos de bebida,
Um beijo,
E algumas horas.
Não passou disso.
Ele tentou fechar a porta.
Evitar.
Mas, de alguma forma,
Está não era como as outras,
Ela requeria o olhar,
Cativava,
Parecia apaixonar.
Como eu amaria alguém
Que não fosse está morena?
Ambos guardavam o silêncio,
Porém, ele preferia a distância.
Indiferença forçada,
Nunca foi tão desmascarada.
De vez em quando
A moça erguia os olhos
E parecia ganhar a todos,
Um pudor avermelhado
Lhe tomava o rosto.
No seu lugar mais íntimo,
Nada parecia existir nela
Que não fosse cristalino.
Tímida garota dos olhos escuros.
Seus cabelos ganhavam
O tom leitoso do chocolate
Ao sol da manhã quente,
Brilhava,
E cheirava tão bem.
Neste momento de meio-dia,
Da cidade antiga,
Um murmúrio de satisfação
Percorria.
Ela tinha sido dele,
E agora todos pareciam saber.
Aconteceu.
Mesmo que a evitasse.
Houve.
E foi a poucos instantes.
Não foram seus gemidos de prazer,
Ou a satisfação
Da rubra face,
Era sua altivez que contava.
Mulher.
Doce e altiva criatura.
A última vibração da décima segunda badalada
Ainda não se extinguia,
Quando todas as cabeças
A olharam,
Nenhum rosto resistiu a ela,
Seu passar conquistava,
E ele já não conseguia fugir.
Decididamente,
Ela não era como as outras.
Era como se uma tempestade
Ganhasse as ruas,
Nada mais ficava como antes.
Ela pareceu pôr a mão no rosto
Para não ver.
Sozinha,
Deveria ser difícil
Enfrentar todos os olhares,
Cúmplices de sua noite
De entrega e luxúria,
Infelizmente,
Não é para tal instantes
Que o pudor é feito,
Sexo é bom e acontece,
Não precisa existir no outro dia,
Nem o casal permanecer junto,
Muito menos jurar que é amor.
A moça seguia a calçada,
Como se a contar os ladrilhos,
Num último grau de desonra e desgraçada,
Talvez, escolheu o cara errado,
E ele já erguia a voz e riso
Para de oferecer
Como melhor amante
Quando percebeu que
O erro se tratada dele,
Calou-se,
Sem um mínimo de vergonha,
Apenas, sentiu cautela,
Iria aguardar
Que aquela lágrima
Que se via em seu olhar,
Vitria e cristalina,
Parecendo congelada
Desaparecesse,
Ou que ela estivesse
Menos exposta,
Mas haveria segunda vez,
Certo que sim,
Direito a conversinha
E regalias,
Mas, as escondidas.
Como sempre foi e seria.

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Saudade

Sua presença
É um anjo que acaricia,
Sua ausência,
Um demônio que belisca.
Certa manha de outubro,
O céu se levantava
Num dia escuro,
Algo desperta,
Um barulho.
Me vejo agitar,
Não entendo.
A anos abraço este casaco,
Meu amor,
Antes de ir embora,
Esqueceu-o,
Deixou-o para trás,
Também deixou nosso amor.
Meu pensamento ficou nele,
Assim será até minha morte.
Abraço este casaco,
Meu consolo e desespero,
Pelos próximos anos,
Até que um dia eu possa encontra-lo.
Eu não vou desistir.
Me desmanchou em dores,
Mas o amo,
Como amei desde o primeiro dia.
Assim será.
Até sempre.
Para a saudade,
O último beijo
Possui o mesmo gosto
Do primeiro.
Essa saudade não envelhece,
A espera não desgasta,
A roupa é que desbota,
Mas o coração permanece.
Feito este casaco.
Ele não é uma roupa qualquer.
Nos viu juntos.
O céu é que sabe
Dos meus desejos tocantes,
Das minhas saudades,
É Ele quem acolhe minhas preces,
Conhece dos meus soluços,
Nunca maior desespero
Se derramou sobre um casaco.
Mesmo que não o veja mais.
O amo.
Sempre acho que foi ontem.
O último beijo.
O primeiro beijo.
Deus não poderia tê-lo levado,
Oh, foi tão cedo.
Melhor seria nunca ter conhecido.
Ter sido aquecida por este casaco.
Por quê o deixei ir aquele dia?
O que houve de errado,
Será que terei respostas?
Aguardo, aguardo e aguardo.
Quem foi capaz de tira-lo
De mim,
Não se importou
Nenhum pouco
De me ver infeliz.
Maldita.
Maldita seja.
Saudade de seus beijos,
De seu cheiro tão perto,
Me sentir segura,
Poder amar com toda alma.
Quem o levou
Não provou o amor.
Oh, querido,
Esqueceu seu casaco,
Será que sente frio?
Será que me entende
Daí onde você está?
O que fizeram de nós?
Foi tão bonito
Cada instante juntos.
Levaram-no.
Roubaram-nos.
Meus joelhos
Estão esfolados em prece,
Dias parecem minutos,
De tanto que a saudade não entende
Chamo seu nome.
Sim.
Ainda lembro.
De cada beijo.
Cada abraço.
Se o pudesse ter,
Por um minuto poder ver,
Após isso,
Que eu fosse atirada ao inferno,
Gemesse por uma eternidade,
Sofresse a pior dor,
Porém,
Que tivesse notícias suas,
Pudesse ver que está bem,
Não sente frio,
Nem precisa deste casaco.
Seu formoso casaquinho,
Quem levou meu amor
Não tem piedade.
Oh, será que está que o roubou
Seria capaz de devolver,
Tamanho remorso,
Ódio deve sondar em seu coração.
Não o amor
Eu sei disso.
Que ele seja aquecido pelo sol.
Como eu iria fazer.
Como poderia fazer
Com este lindo casaquinho.
Quem o tirou de mim
Quis me ver na ruína,
Me fez pecadora.
Só por ele fui devota.
Quis uma família,
Sonhei anos futuros.
Pobre amor,
Onde estará agora.
Pego este casaquinho
E o vejo.
Quase o sinto.
Tão perfeito ficava,
Tão lindo o tornava.
Meiga criatura.
Que miséria,
Seu casaquinho
E mais nada,
Seus beijos
Em lembranças
Para consolo
E mais nada.
Quem o roubou
Não teve sentimentos.
Não será capaz de ama-lo.
Não sabe deste casaco.
Saudade.
Saudade é dor que não envelhece.
Saudade é amor que não desgasta,
São lágrimas que não pedem,
Sentimento que não desbota.
Saudade é amor que permanece.

Prisioneira

Ao seu primeiro grito
De dor,
Eu dilacerei minha carne,
Se houvesse um segundo,
Eu arrancaria meu sangue.
Mas, não.
Apesar de tudo,
Você foi mais forte,
Silenciosa em seus medos,
E eu a salvar-me.
Ah, quem me dera estes pés,
Poder tocar-lhe,
Eu caminharia mundos
Para lhe repousar um beijo,
Virtuoso de tocar-lhe,
Por você iria até a morte.
Justa por entre meus dedos
Ou os infortúnios da virtude?
Não.
Querida,
Não pronuncie outro nome.
Grave o meu.
E a nenhum outro.
Eu.
O seu homem.
Você sabe que me tem.
Ao primeiro olhar e me vi absorto,
Não queira ter outro.
Outra não me séria suficiente.
Grave meu nome.
Eu, o seu homem.
Esqueça os malditos outros nomes,
Estes miseráveis,
Foram eles quem nos fizeram mal.
Veja, você sofre.
Eu sofro.
Chame a meu nome.
Esqueça qualquer outro.
Eles não são capazes de entender.
Você não seria amada tão ardentemente.
Veja o frio que acolhe seu corpo,
Sinta minhas mãos tão quentes,
Eu posso lhe dar um beijo,
E você jamais sentiria dor, cede ou fome.
Que estes lábios trêmulos
Sintam saciar-se,
Prove da minha boca,
Chame por meu nome.
Esqueça todo outro.
Desista desta masmorra que te envolve,
Eu posso cobrir sua pele,
Curar suas feridas,
Deixe deste jogo de fatalidades,
Querida,
Outro nome não lhe dará virtude,
Veja que no fundo você
Possui luz própria,
Ascenda seu olhar,
Mova seus lábios
E me chame.
Há um calabouço dentro de mim,
Lá as palavras caem ao vazio,
Se perdem nesta vácuo,
Diga meu nome,
Esqueça todo outro,
Você sabe o quanto sofri,
Eu assisti a todo o seu sofrimento,
Fui testemunha da sua dor,
Quando a conduziram,
Eu estava lá,
A cada discurso,
A cada aparição sua,
Eu estava lá.
Chame a isto tortura,
Eu me preocupar tanto,
E você nem ao menos me chamar,
Diga meu nome,
Eu sei que você é capaz.
Eu daria um império
Por seus beijos,
Ser o destino de seu caminho,
O caminhar destes lindos pés,
Que quanto mais admiro
Mais pisam sobre minha cabeça,
Querida,
Não haja desta forma,
Assim, iria parecer
Que não possuo um cérebro,
Que sou um mísero idiota,
E não que a vejo
Por todo o lugar que olho.
Pelo menor de seus sorrisos
Eu doaria minha alma,
Escravo de seus passos,
Aí de mim vê-la palpitar
E sangrar por beijos de outro,
Chame meu nome,
Esqueça todo o resto,
Enxugue o suor do meu rosto,
Dê paz a este amor,
Sinta piedade,
Chame meu nome.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Única Esperança

Caí sem vida,
Nas profundezas da alma,
Num funil de esperança,
Onde não se alcança,
Onde eu não posso tocar,
Nem seu nome pronunciar.
Única esperança,
As lembranças,
Vidas a me apagar,
Não aceito outra boca,
Não sei deixar de te amar.
Perdida nestas trevas,
Chão frio e lembranças,
Paredes tórridas
E lembranças,
A afagar,
A te trazer de volta,
Aqui sozinha,
Esquecida,
Não há música
Que possa chegar,
Não há fala,
Não há nada.
Profundezas e lágrimas,
Sangue e torturar,
Te lembrar,
Não há outra esperança,
Nada me alimenta,
Não sinto sede ou alegria,
Você se afasta,
Feito o fogo da palha,
Acende e queima na hora,
Resta apenas fumaça,
E este cheiro intenso que fica.
Quem me viu feliz, estremeceria,
Perdi seus beijos,
Seu amor.
Nada me resta.
Condenada a ser sozinha,
Quase sem respirar,
Neste buraco que me enterra,
Não há vento a acariciar meus cabelos,
Nem seus carinhos,
Não há seus beijos,
Apenas o vazio profundo
E dor.
Intensa dor que atormenta
E o chama.
Primeiro o encontro,
O beijo, o sorvete,
O passeio juntos,
Então, a declaração de amor,
Depois o velho do bar,
As mentiras,
O punhal,
As desfeitas,
Você foi embora,
Me trancando nesta cela fria.
A música que toca lá fora,
De tão distante,
Aqui não pode ser ouvida,
Você foi figurante,
Não foi o amor da minha vida,
Acreditou no que quis,
Se apegou a mentira,
Não aceitou que eu estava aqui
Enquanto você dormia,
Sua vigia,
Noite ou dia.
Hoje esquecida.
Me apego a única esperança:
As memórias.
Poder manter.
Guardar.
Não te esquecer.
Sentir algo que me aqueça.

Esquecido

Condenado a bastilha,
Grades de ferro
Pesam a sua frente
E ao redor,
Cadeados por chaves
Que não pretendem abrir.
Esquecido.
Até virar carne podre,
Perdido lá embaixo,
Num subterrâneo,
Onde nada entra,
Ou sai.
Esquecido.
Sobre sua cabeça pedras,
As vezes,
Sorte grande.
Pior é o esquecer.
Silêncio triste
De paz profunda,
Você dentre os vivos
Não iria querer,
A movimentada e ruidosa vida
Vê -se abandonada
Até o apodrecer.
Ali formigas gritam de dor,
Mas a alma aguenta,
E geme seu silêncio,
Pedras ferem,
E morte silenciosa
Parece mais honrosa,
Bem,
Some-se a isto,
Que o tempo,
A dor,
E o abandono
Roubam as forças.
Dor ou penitência,
Querer de si próprio
Ou simples condena,
Um recluso,
Esquecido,
Atormentado pelo silêncio,
Sozinho,
Num buraco obscuro,
Olhos fracos,
Lábios vazios.
De joelhos
Neste espaço frio
Qualquer ser humano reza,
Me recuso.
Prefiro ser diferente,
Mas lá de cima
Não consigo saber
Se eles sabem disso,
Mas com certeza,
Num futuro
Me verão,
E não estarei de joelhos
Ou mãos juntas.
O esquecido
Aprende a ignorar.
Devoto a lamentação
Enquanto houver vida,
Lamento.
Horrível cela,
Intermédio de cova fresca,
Falta aqui o lugar em que deitar
E a terra para cobertura,
Nem direito a céu,
Apenas o escuro.
Esquecido.
Uma lamparina é consumida
Aos poucos,
Um sopro de voz nela,
Nenhum em meus lábios,
Sua luz logo se apagara,
 Não haverá esforço,
Desfalecera sozinha,
Não me importo.
Não sou mais que uma alma
Presa a um corpo
Este corpo sofre
A alma está livre,
Aqui não sou tocado,
Apenas o abandono,
Nenhum esforço,
Poucos medos.
Nada que santifique o sacrifício.
Só o ódio.
Pelo buraco do teto
Posso sentir o cheiro,
A comida é servida.
Novo dia se aproxima.
Não me sinto refém de vontades,
Não cedo a fome.
Esquecido.

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Calcula!

Então, chegou mensagem,

Meses hein?

Você voltou,

De saudade a saudade,

Retornou.

Não me contou o que fez,

Eu não pedi ambages.

 

Quanto tempo,

Eu nem lembro!

Eu segui o trabalho,

Vivo de beijo a beijo,

Esqueci de você por completo.

Então, abro a mensagem e o vejo.

 

Respondo.

Claro,

No começo sou raivosa,

Não escondo,

Não é por rancor,

É efúgio.

Você chega todo educado.

Tudo certo.

Perdoado.

 

Em outubro,

Dia 01,

Eu acho.

A noite chega cedo.

As ruas estão escuras

Quando você se despe

De príncipe

E abandona o Palácio.

 

Fico feliz por a noite ter caído,

Imaginar você tirar o sapato,

Calçar botas de barro,

Mas logo inicia mesmo papo,

Conversa antiga,

Teor melodioso,

Dispendioso,

Amparativo.

 

O que você me pede

Está além do meu alcance,

Já foi repetido tanto

O desenlace

Do que você fala,

Eu escuto e lhe respondo,

Que imagino que você sabia

Ou então descobriu,

Eu não tinha mesmo

Tal poderio.

E você,

De repente,

Não tinha outra desculpa

Para usar de conversa.

 

Ok.

Podíamos falar da lua,

Do sol, da terra e outras coisas,

Mas você prefere falar de emprego,

Da dificuldade de encontra-lo,

Do prazer de exercer função,

Receber salário,

Ser independente,

Me diz que é bom com os números,

A cada salário,

Sabe bem o que fazer,

Nisto combinamos.

Ok.

As vezes, eu extrapolo gastos,

Preciso realmente de um amparo,

Você entra e resolve,

Cálculo e cálculo.

Ok.

 

Cidades distantes,

Coisa chata de se viver,

Vamos calcular quilômetros,

Números considerados em gastos,

Perfeito.

De repente, a parcela de um terreno,

O sonho de ter nosso filho.

Ótimo.

Você é lindo.

Perfeito.

Bom nos números.

Então, calcula nossa chance juntos.


terça-feira, 1 de outubro de 2024

Seu Idiota

Eu sei.
Não te interessa!
Estive folgando,
Relendo páginas
Esquecidas,
Evitadas.
Fechadas.
Abri-as.
Eu abri aquele livro
Que lembrou nossa primeira vez,
Trouxe a minha memória,
Sobre o quanto eu notei
Que você não sentia nada,
O quanto eu parecia esperta
E entre quatro paredes
Não fui nada.
Desprotegida.
Desabrigada.
Foi difícil falar de amor
Nua entre suas mãos.
Eu quis me esquivar,
Correr daquele lugar,
Fugir para longe,
Até de seus olhar,
Suas frases,
Suas histórias.
Você me enganou bem.
Tudo que disse e fez,
Foi o bastante para tirar minha roupa,
E meter,
Meter em mim sua presença,
Seu sobrenome estúpido,
Sua família idiota.
Você.
Desnuda,
Pensei que não havia saída,
Tive que convence-lo
A sentar-se ao meu lado,
De seios farfalhantes,
Coração a mil,
E aqueles seus dentes
A mostra e tão perto,
Perto demais da gente,
Sua mão buscou minha perna.
Não bastava me ver,
Não conseguia se conter.
Seu calor
Parecia me tocar
E enjoar cada parte.
Seu cheiro possessivo
Tomou conta do lugar,
Eu tive que dizer eu te amo.
Esconder o ódio,
Ignorar rancor.
Tivemos que conviver.
Obrigação recíproca,
Você forçado a me dar prazer,
Eu aturar o seu derreter.
Foi horrível o peso de sua mão
Sobre meu corpo,
Meus ossos frágeis ao seu dispor.
Eu fui fraca,
Ingênua.
Não soube dizer não.
Entrego tudo isto a vergonha
E tudo que você fez
Nunca foi o bastante.
Me obrigou a conviver
Eu te obrigo a saber:
Você não é suficiente.
Não sabe dar prazer,
Eu ainda,
Mesmo após tanto tempo,
Sinto nojo de você!
Aquilo que você tirou
Não foi virgindade,
Eu não sou troféu,
Foi apenas sua máscara,
Entenda,
Ela caiu
E hoje todos te reconhecem.

Sua

Mas o gesto dele foi o bastante,
Com voz serena,
Fez as promessas,
Seus carinhos seguros
Foram o bastante,
De alfinete a alfinete,
Deixou-a: ombros e peitos nus.
A mostra.
A seu dispor.
Num único movimento
Perdeu a inocência,
Não se via mais menina,
O rubor e vergonha impediam-na.
Não.
Em tudo que ensaiou,
Em tudo que aprendeu
Não foi capaz...
Reconhecer,
Afastar,
Proteger-se.
Estar segura.
-Eu te amo, diz como voz rouca.
Ele ri, seguro de si.
Poucas horas.
E outra puritana,
Linda moça em sua cama.
Mais um nome a desonra!
-Marta, é isso?
-Não, querido. Márcia...
Ela diz doce e serena.
Toca seu rosto com amor.
-que fascínio, tê-lo.
Tanto esperei por este momento!
-Ah, querida.
Que importa um nome?
Eu tanto a busquei,
A segui, procurei.
Enfim, a sós.
Finalmente, um do outro.
Nisto um nome pouco importa.
Ele fala afastando
Seu cabelo comprido
Dos ombros
E repousando um beijo.
Gélido e quente.
Desejante e dilacerante.
- beija-me,
Seja mais insistente.
Ele diz,
Puxando-a pelo canto do rosto,
Próximo a boca
E buscando seus lábios
Com maliciosa segurança.
Ela estremece,
Leva as mãos para cobrir os seios,
Sente o corpo quente dele
Busca-la,
Exceto a isso: medo!
-Eu não te amo?
Estou contigo agora!
Ela segurou-o através de um gesto,
Fazendo-o sentar-se ao seu lado.
-Mas o que está dizendo amado?
O que você deseja,
Dilacerar meu coração?
É certo que o amor
Com toda certeza e precisão.
Por isso, me entregou, busco.
Ah, você quer mais que isso?
Deseja me tocar inteira?
Sentir cada parte,
Remover toda a roupa?
Eu sou sua,
Que importa o tirar a roupa?
Faz de mim o que deseja,
Me ensina a dar prazer,
Que me importa outra coisa,
Se o amor
E a nenhum outro!
Olha-me,
Sustenta seus olhos
Em meu olhar,
Você me vê?
Eu sou aquela que te amava,
E promete ser sua,
E será.
Sou eu,
A garota que você não quer rejeitar,
Sou a que você busca,
Precisa e anseia.
Veja-me agora.
Então, casa-se,
Meu amor.
Nos casemos!
Eu me casar com um
Grande homem feito você,
Seguro,
Cavalheiro,
Com mais hábeis,
Justo eu?
Que tanto o amor!
-ora, querida.
Não nos fale em casamento.
Ela retira a mão dele
Que buscava seu ombro
Esquerdo
E a puxava de frente
E para ele,
Com um gesto forte,
Quase um tapa.
-ora, eu a menina.
A que te ama e espera.
Não fui feita para isso.
Ser sua.
Certo que não.
Mereço ser desprezada.
Não sou digna de sua afeição.
Quanto eu importa?
Sua amada,
E sou a mais orgulhosa das mulheres,
Estar em sua cama,
Remover sua roupa,
E assim, o será.
Para sempre.
E o tempo irá passar
E eu ficar feia,
E ainda sua.
Quando não servir mais para prazer
Ainda serei mulher
E poderei lhe proteger,
Amparar,
Cuidar de você.
Tenha de mim piedade,
Seja meu homem.
Não sou o bastante para outro,
Um instante de volúpia
E pele exposta,
Pega-me!
Toca meus seios
Isto te pertence.
Apenas me ama.
Que me importa
Que não seja ar e amor?
Sua.
De graça.
Por nada.
Aceita.
Sua desgraçada.
Não posso ser de outro.
Sua agora.
E por todo o tempo.

Sombras

É, Raha?
Era já!
O casaco surrado
Do garoto visualizado,
Viu seu último suspiro,
Antes de ser deixado.
Sobre o decorrer desta luta,
Houve pescoço virado,
Primo desarraigado,
Até marido abandonado,
Resultado negativo,
Não foi beijo.
A realidade se esclarece,
A lua brilha ao redor,
Chocando seus olhos,
Aquecendo seus pés,
Que de chinelos,
Ainda não se movem,
Mas sentem o orvalho.
E vê-se demolir,
Como se cada sombra
Tivesse seu existir,
E tudo que estivesse antes,
Já não houvesse,
Pois sombra sendo,
Já deixa de ser objeto,
Vira assombro,
Acaso e medo.
Desagrado meticuloso,
Tudo se desforma,
Pedaço a pedaço,
Até mesmo a mais aterradora
Poesia,
Perde suas frases
E deixa encanto,
Efeito de máscara
Ou coisa qualquer,
Tudo que foi um dia,
Na noite deixa de ser.
E como benigna forma,
Ele foi,
Adentrou-se entre sombras,
Até ver-se no horizonte
Desforme,
Onde por mais que busque,
Não acha-se,
Por entre sombras,
Todo olhar se engana,
E quem estava,
Simplesmente parte.

Torrentes de Água

Choveu por toda parte, A chuva embaçou o para-brisa, Deixou cega a toda vista, E retirou-a de seus devaneios, Assim que lama...