sábado, 10 de maio de 2025

O Mulato- Ciumeiro

Junho chegou sereno
E frio,
Com seus ventos
A brincar com os cabelos,
Quebrar os galhos
E arrancar algumas flores.
Trouxe as festas de São João,
O comércio todo foi organizado,
As ruas foram enfeitadas
Com bandeirolas de papel,
E guarda chuvas espalhados.
Abriu-se a feira,
Todo o comércio se instalou
Para apresentar seus produtos
Frescos e descem colhidos,
Seus bolos, pães, queijos e pudins.
Tudo foi organizado com carinho,
Desde os doces tradicionais
Como o pé de muleque,
O cricri, a paçoca e o quentão...
Ao fundo da feira
Uma banda local tocava.
Raimundo, Ana Rosa e Manuel
Deixaram seus produtos
Por conta dos escravos
Para serem vendidos
E expostos,
Então, passearam por toda a festa,
Comeram e beberam
Do que era servido,
Conheceram as tradições.
Duas, no entanto,
Ficou para trás,
Adentrou no quarto de Raimundo,
Mexeu em suas coisas,
Bisbilhotou em seus documentos,
De lá, cansado e irritado,
Adentrou no quarto de dona Barbara,
Foi até sua palmatória de orar,
Acendeu uma vela,
E pegou a imagem do santo
São Raimundo
E queimou seu rosto na chama
Até enegrece-lo,
Rindo de despeito e dor.
Não tardou,
E a ideia de ter Dias
Invadindo cada quarto
E tomando as medidas que lhe
Coubessem
Invadiu a mente de todos,
E teria gerado medo,
Caso tivessem visto
E ouvido
Seus rompantes de risos abertos,
E altos ao enegrecer o santo.
Ter Dias liberto
A forçar portas,
Fazer chaves de mentiras
E usar de meios fraudulento
Para entrar em quartos
Era de todo o modo temerosa.
Sabe-se que Ana Rosa
Antes de beijar Raimundo
Sonhava com ele,
Chegava a senti-lo próximo,
Teve sonhos de todo realista...
Sabe-se ainda
Que Raimundo não a reconheceu
De imediato
Por ser a invasora de suas noites,
Preceptora de todo prazer
E desejos que despertaram
Um no outro.
De outra sorte,
Manuel adoeceu sem causa,
Acamou-se esmorecido,
Fraco de suas forças,
Abatido em suas dores,
Isto, lhe parecia injustificável.
Noutra medida,
As febres de Ana Rosa,
Suas tosses arrastadas,
Tudo isso,
Era digno de monta
Diante de descobrir-se
O que Dias fez
Na primeira oportunidade,
E sabe-se lá,
Se foi privilégio ou hábito,
Mas o fez.
Depois de queimar
O rosto do Santos Raimundo,
Dias tomou caminho diverso
Da festa junina,
Foi ver suas mulatinhas,
Ainda as escondidas,
Porquê a ninguém
Informou de suas saídas.
Não tendencia-se
Considerar Dias
Como uma pessoa perigosa,
Mas, suas ações pendem
Para o que poderia ser considerado
Ameaçador.
Rir dos modos religiosos
De dona Barbara,
Achar graça em colorir
O rosto do santo,
Bisbilhotar na vida privada
De Raimundo,
Tentar invadir o quarto de Ana Rosa,
Entrar às escondidas
Em locais privados...
Isto realmente,
Levava suas maneiras
Para um teor ilícito,
Até mesmo,
Perturbador.
Suas peraltices
Não beiravam a atitudes
De um adulto escrupuloso,
Sua comedida educação
Parecia estar sendo negligenciada,
Rir de um rosto por ser negro?
Ora a cor da pele não é motivo
Para zombarias.

O Mulato- Prosas, Versos e Pele Ardente

Audaciosa em seus sentimentos,
Pretensiosa de sentidos,
Valorosa em seus desejos,
Ana Rosa amou Raimundo
Por uma noite inteira,
Chegou sorrateira,
Retirou sua calcinha rendada,
Pôs lhe sobre os olhos,
E aperfeiçoou suas carícias,
Provou do amor mais puro,
Do néctar de todos os seus beijos.
Entregou-se como em seus sonhos,
Sonhou com o sol do dia
A acorda-los,
Percorreu cada centímetro
De sua pele negra
Com seus dedos alvos,
Embebeu a ponta do dedos
Em sua volúpia,
Percorreu-o a linhas de desenhos.
Mergulhou neste amor,
Sentiu como se tivesse as estrelas,
E tê-las não lhe significasse nada,
Diante da imensidão
Que foi amar aquele negro,
Sentir seus pelos eriçados,
Seu desejo crescer
E consumir a ambos,
Ele não buscou esquivar-se
Apenas a teve,
E entregou-se.
As horas correram no relógio,
Como se fossem areias
Numa ampulheta aberta,
O ponteiro deslizou
Como se percorresse minutos.
A chegada da manhã,
Ela escondeu-se por detrás
Da cortina vermelha e pesada,
Viu-o dali sem ser vista,
Pode ver o sol bater em sua cor
E resplandecer aquele negro
Ardente e prazeroso.
Ele sorriu,
Retirou a calcinha de sobre
Os olhos
Com indisfarçada estranheza,
Cismou ao ver o objeto
Entre seus dedos,
Soltou a calcinha na beirada da cama,
Sentou-se com ela entre os dedos,
Sentiu profundamente o cheiro,
E pôs ambas as mãos
Sobre o rosto.
Ana Rosa suspirou
Por ver aquela pele negra arfar,
Seus seios sobressaltaram,
Um perdeu-se do sutiã,
Sua camisa de dormir
Ficou molhada e pediu
Colando-se entre as pernas.
Ele olhou em direção ao banheiro,
Foi tomar o banho,
Ela aproveitou sua saída
Do banheiro
Com a toalha a secar o rosto,
Percorrendo seus cabelos,
Nuca e ombros,
E o esperou prostrada.
Ele retirou a toalha,
Fez cara de espanto,
E virou as costas para ela,
Ela sentiu-se tomada de pânico,
Viu-se a perde-lo,
E a ideia a destruiu por completo,
Então, jogou-se em suas pernas,
Pôs-se a lamber aquela cor negra,
A cedência de seus pêlos,
O calor efervescente de sua pele,
Ansiosa por tê-lo.
Depois ajoelhou-se
E pôs a chorar em parar,
Colada com a bunda no chão,
Com lágrimas a hora feito
Uma torrente desenfreada.
Ele não a reconheceu,
Juntou-a através de seu braço
Esquerdo,
Colocou ela de pé
Em sua frente,
Olhou seu rosto,
Não soube expressar
O que sentiu,
Nunca a imaginou de tal maneira.
- prima?
Eu não a esperava.
Ele disse.
- me perdoe os modos grosseiros,
Eu estava no banho...
Contudo,
Ela cansou de fingir,
Rejeitou a mentira,
O quis,
Neste intuito
Jogou-se para beija-lo,
Puxou seu rosto
Com ambas as mãos
E sorveu aqueles lábios negros
Sobre os seus,
Como se fosse um pêssego
Que se abre,
Se rejeita o caroço
Com a ponta da língua,
E suga toda a sua doçura
E pureza,
Movendo sua boca sobre ele
Com prazer imensurável
De quem está a submergir de fome
E tem ao seu alcance
Único pêssego,
Grande, carnudo e doce.
- precisamos nos casar.
Ele disse.
- saia, querida.
Precisamos nos recompor
Para eu pedir permissão
Para Manuel, seu pai.
Ela jogou-se para sobre
Suas pernas,
Até sentir seus prazeres
Se misturar
E escorrer sobre a pele
De ambos.
Então, se foi.
Como nem tudo é perfeito,
Manuel neste mesmo dia
Foi acamado
De temerosa doença,
Nada pode dizer
Ou fazer de importante,
Apenas medicar-se.
Raimundo aproveitou
A oportunidade
E pôs-se a escrever seus poemas
E prosas para o jornal local.
O povo reprovou sua rebeldia
De palavras e pensamentos,
Sua liberalidade para tratar
De assuntos íntimos,
E querer romantizar
Assuntos rotineiros,
Mudas conceitos,
Tratar de valores já estabelecidos,
E por isto,
Considerados imutáveis.
Ficou mal afamado
E irritou-se.
Todavia,
O pior lhe reservava
O mês de junho.

Poema da primeira página:

Acordou a negra,
Assustada e paciêncosa,
Percorreu as escadas
Da senhora branca,
Cuja filha desfalecia,
Nasceu fraca,
Mas branca se fez,
Precisou de leite,
Há quem recorrer?

As tetas da negra escrava,
Derramaram-se em carinhos,
Fez-se o ninho,
Entregaram-lhe a criança 
Aos seus cuidados,
E sabor de negra forte,
De pouco a pouco
Sorveu o leite,
Da manta que lhe cobria,
A negra fez-lhe a veste.

Aniversário de três anos
Da menina,
Branca, grande e forte,
A negra escrava,
Conhecedora das linhas,
Costurou-lhe perfeito vestido,
Presenteou a menina
Com tecido velho.

Imperdoável,
Disse o senhor branco,
Vai ao açoite 
Para recuperar os sentidos,
A criança correu as escadas,
Viu sua ama amarrada,
Ferida,
Do seio que lhe deu comida,
Sobrou a ferida
Do ferro quente 
Que o derreteu até a carne.

A alforria,
A alforria,
Disse o senhor branco,
Diante do seu domínio,
De medo por estar diante 
Da menina tão criança,
A negra jogou-se e jogou-se,
Estava com uma algema
De ferro a prender suas mãos,
Dilacerou seus músculos,
Perdeu seus movimentos,
Agora vive na casa de negros,
A senzala é seu lugar,
Cuida de seus iguais,
Não serve para as paredes
Tão quentes e grandes demais,
Não é vista ou sai lá fora.

O Mulato- Desejo de Pele

Ana Rosa
Mais se comunicava a Raimundo,
Certo dia,
De tanto pensar
Perdeu o sono,
No nascer da manhã,
Recusou-se a acordar,
Fez cisma de pensar
Em seu rosto,
Desenhou com o dedo
Traços imaginários no teto,
Lá em seus rabiscos,
Imaginou seu rosto,
Ousou beija-lo,
No teor de oito anos,
Foi a primeira boca
Que desejou em ardência,
Sentiu o corpo febril,
Cruzou os dedos sobre
A camisa de dormir,
Acariciou-se.
De seu quarto pode ouvir
A voz dele
Proveniente da cozinha,
Ele tomava o café,
Ela abraçou o travesseiro,
Chorou de afeto,
Desejou-o perto.
Pediu perdão a Deus,
Mas não o via sob o véu
De parentesco,
Preso em seus mistérios,
O queria para mais perto,
Desejava-o para esposo.
Entristecida tardou,
Mas levantou,
Chegou a cozinha,
Sem fome,
Pôs-se a chorar
Com o rosto recostado
Sobre a janela.
Da varanda,
Raimundo a viu triste,
Achou-a linda,
Pegou papel e lápis,
Desenhou-a.
Ao término,
Ela moveu-se
A custo por parar de olha-lo.
Caminhou até ele,
Soube de seu passatempo
Com desenhos realísticos,
Folheou seu álbum,
Chegou a uma foto de mulher,
Uma parasiense pintada por ele,
Não controlou o ânimo,
Separou a foto no próprio colo,
Em cerimônia riscou
O rosto da moça com a unha,
Não preocupou-se com o que fazia.
Cuidou os passeios de Raimundo,
Entrou em seu quarto,
Vasculhou suas coisas,
Deixou marcas de sua estada,
O quis para si,
Desde o instante em que
Encontrou seu retrato,
E o pousou sobre o busto,
Sobre o rosto,
Sobre os lábios,
E correu a foto por seu corpo,
Sem medo
De imagina-lo dentro de sua vagina,
Teve a audácia
De levá-lo a toca-la.
Deixou suas secreções
Sobre a cama dele,
Juntou sua cueca,
Sentiu seu cheiro
Profundo dentro de seu peito,
Então, separou dois de seus dedos,
Penetrou suas partes íntimas,
Acariciou-se com ela,
Sentindo o tecido,
O cheiro percorre-la,
Trêmula,
Ansiosa por deseja-lo.
Noite feita,
Sem poder dormir,
Luzes apagadas
Foi até ele
Sem fingir,
Abriu a porta com uma pena,
Destravou a tramela,
Entrou,
Acariciou-se ao seu lado,
Deslizou seus dedos
Por seu corpo,
Tocou seu pênis viril,
Bebeu de seu orgasmo cada gota,
Tocou-o em seu primeiro desenlace,
Subiu a cama,
Deitou sobre ele,
Fez sexo sedenta e vigorosa,
Amou-o em febril vontade.
Na manhã seguinte acordou
Mais vigorosa.
Soube que a casa dos pretos
Foi aberta durante a noite,
Cinco pretos fugiram,
Agora Manuel os buscava
Com chicotes em mãos,
Cachorros na estrada.
Ele juntou as mãos na varanda
Em prece,
Rezou pelas vidas dos negros,
Se apiedou em tamanha misericórdia,
“ São pessoas, meu Deus,
Pessoas”.
Ana Rosa,
Vendo-o triste,
Aproximou-se deslizando
O corpo por sua pele,
Então, pegou na mão dele,
E se juntou em sua prece.
Raimundo,
Assustou-se de sua ousadia,
Não pode crer,
Prima sua?
Esperou Manuel retornar,
Ele voltou
Com os cinco pretos amarrados,
Pouco sangue sobre suas vestes,
Jogou-os para sua casa.
Lá fora,
Sentado sobre a terra,
Irritado com tudo que passou,
Soube que Raimundo
Queria mudar-se,
Contestou a ideia,
O queria perto,
Ao menos até ver a fazenda,
Vende-la
E ter onde deixa-lo seguro.
No entanto,
Veio as ameaças da filha
De quere-lo,
Em frente a sobra Dona Bárbara,
Que se retesou em sua ira,
O preferiu no tronco,
Por ser o negro que não deixaria de ser,
Pobre e com ideias revolucionárias,
Negro de sorte,
Imundo como a combinar-lhe o nome.
Manuel engoliu
O entrave,
Chamou o Dias,
Marcou o casamento
Para o próximo mês,
Ana Rosa resignou-se,
Alegou preferir a morte.
Esmoreceu de dor,
Fugiu para seu quarto,
As escondidas,
Em busca de ser amor,
Entre choros e compassos
De prazer retirados em segredo.
Quem é indagou ele.
Aquela que o ama.
Disse apenas.
Não falou seu nome.
Não foi forte o bastante
Para lhes negar amor.
O quis ardentemente
E não apenas por uma noite,
O quis a percorrer sua pele,
Sentir seus dedos sensíveis
E frágeis tocarem-na
Com seu calor,
Feito um fogo a incendiá-la.
Quis ver todo o seu desejo
Ser consumido até restar
Só o pó
De todo o suor
Que se dispunha a perder,
Quis ver os lençóis molhados
Derretida em prazer,
Quis sentir seu cheiro,
Abrasar-se sobre sua pele,
Até o amanhecer.
Quis tocar-lhe o rosto,
Privar de seu prazer
Até ter dele um filho,
O quis em matrimônio,
E não aceitaria outro,
Fosse em um mês,
Ou em cruel dezembro.

O Mulato- doutor preto

Viúva do tenente espigão,
Dona Maria odiava a vadiagem,
Dizia ela que os negros estavam
Descarados devido ao pouco
Serviço que o progresso proporcionava,
Já não haviam tantos cativeiros,
É por isso que agora
Clamava-se pelo chicote,
Só o chicote iria pô-los
Em seus lugares devidos,
Chicote é tudo de que precisam,
Tivesse ela muitos,
Pelas bençãos de Deus,
De um a um os usaria
Até arrancar sangue de seus lombos.
Dona Maria, tia de duas moças
Foi a Manuel visitar Ana Rosa,
Quando deparou-se com a figura
De Raimundo:
- pra, veja como se porta,
Parece esquecer suas origens,
Eu mesma vi inúmeras vezes
Domingas, a sua mãe, sendo
Chicoteada.
Disse a tia as sobrinhas.
- não cheguem perto.
Proibiu-as.
Nisto Manuelzinho entra na sala,
E vai até Raimundo,
Nos fundos quando se refere
Ao povo:
-malditas negras,
Escondem-se atrás das brancas
Das casas para lhes passar piolhos
E quais pestes possam.
Afianço, caro doutor,
Se conservo negros a meu serviço,
É por não dispor de outro remédio.
Foi Ana Rosa quem menos
Aprovou o jeito comedido
E distanciado de Raimundo,
Ela era acostumada
A ser o centro das atenções,
Receber elogios de toda a espécie,
Sentiu-se retraída com relação a ele.
Ao final da visita,
Noite a vista,
Raimundo graciosamente
Indagou se a tia Maria
E suas duas sobrinhas
Precisavam de algum criado
Para lhes acompanhar pelo caminho,
Elas aceitaram,
Ele próprio foi.
Ao retornar,
Retirou-se para o quarto,
Abriu um livro
E caiu no sono
Com um charuto aceso
Ao seu lado,
O livro sobre o peito,
Mas não distante,
Alguém velava por ele.

O Mulato- negro

Raimundo, chegou ao Brasil
Nos seus vinte e seus anos,
Tinha cabelos negros enrolados,
Olhos azuis, tez morena e amulatada,
Negros bigodes,
Estatura alta,
Olhos escuros,
Nariz reto e fronte espaçosa.
José da Silva, seu pai,
Iniciou no Brasil
Como contrabandeador de negros da África,
O povo mulato da terra brasileira
Não o viu com bons olhos,
Até que certo dia,
Levantou-se contra ele a escravatura,
Que teriam levado ele a morte,
Não fosse uma das escravas mais moças,
Denominada Domingas,
Preveni-lo a tempo.
O contrabandista arranjou-se
Com a escrava que lhe restou
Para terras mais distantes,
Apossou -se de uma fazenda
Passou a cultivar café, arroz,
Tabaco e algodão,
Vender e buscar escravos
Deixou de ser profissão.
Depois de muitos abortos,
Domingas lhe trouxe um negrinho,
Filho,
No ato de batismo,
Ela recebeu sua carta de alforria.
Chamaram ao filho, Raimundo.
O escravo fazendeiro.
José, contudo, encontrou esposa branca,
Quitéria, de boa origem,
Bons costumes,
Bem educada,
A escrava alforriada não lhe bastou,
Casou-se com Quitéria.
Mulher rica,
Para a qual o fato de ser negro
Lhe destituía de ser considerado
Pessoa,
Um escravo nunca lhe seria homem,
Sua origem sanguínea lhe era um crime.
Por suas mãos,
De sua ordem,
Escravos sucumbiram ao relho,
Açoitados até sangrar,
Levados ao tronco,
Sob sol e escuro,
Passaram fome e sede
E foram submetidos a ferro em brasa.
Devota a Deus,
Por meio de seus negrinhos,
Construiu tudo que tinha,
A casa grande de pedras,
A capela onde rezava todas as noites,
Entregava seus pecados,
Com as mãos inchadas
Pelo cansaço e as costas talhadas
Pelo chicote,
Ela punha seus negros
De joelhos a entoar orações
Aos seus santos.
Ao lado da capela
Fez um cemitério com suas vítimas:
- seu negreiro!
Você pensa que irei aturar
Seus filhos negros?
O despache desta terra
Ou eu o farei e será para junto da capela!
Gritou a José, seu esposo.
José, destroçado,
Conhecedor dos atos de Quitéria,
Correu a vila buscar socorro ao filho,
Ao retornar deparou-se
Com o seguinte:
Estendida por terra,
Com os pés no tronco,
Cabeça raspada,
Mãos amarradas para trás,
Estava Domingas,
Nua,
Com suas partes genitais
Queimadas por ferro em brasa.
Ao lado, estava Raimundo,
Aos seus três anos chorando,
Aos gritos,
Ele tentava abraçar a mãe
E era repelido por dois negros
Através de seu chicote,
Quitéria, descontrolada
Pelo ódio bradava toda sua cólera
Contra a negra e o negrinho.
José, jogou-se contra Quitéria,
A fez cair,
Quanto a Domingas e a Raimundo
Ordenou que lhes levassem
A casa dos brancos
E lhe dessem cuidados.
Quitéria, ordenada pelo padre Marcelo,
Correu para as graças de sua família,
José, atordoado pelo medo
Entregou o filho aos cuidados
De Manuel, seu irmão.
Retornando para casa
Na mesma noite,
Encontrou Quitéria,
Já em casa,
Fazendo sexo no quarto
Com o padre Marcelo,
Num ímpeto de loucura,
José abriu a porta,
Os viu sobre a cama,
Jogou-se contra Quitéria
Pegando muito forte contra
Seu pescoço,
Soltando-a morta.
- matou-a, você é um assassino!
Gritou o padre.
- maldito, e você é menos
Assassino que eu?
Revidou José.
- perante as leis, sou.
Eu sou padre,
Tenho a batina para socorro.
E mostrou as marcas das mãos
De José sobre o pescoço
Do cadáver.
- vamos, lá. Sepulte-a,
Conforme as leis de Deus,
Faça silêncio e eu faço o meu.
Disse o padre,
Batendo no ombro de José.
José pasmo e aturdido
Não soube responder,
Obedeceu
Deu a Quitéria um lugar
Na terra onde enterrou
Seus negros,
Ao lado da capela.
Contudo, o chicote
Separou para sempre
Domingas de seu filho.
Aos três anos deste,
Ana Rosa veio ao mundo,
Fraca,
Parecia morrer a todo instante,
As atenções e promessas
Se aglomeravam em torno dela.
Ao lado dela,
Estava Raimundo
Que já não lembrava da mãe,
 Negra que lhe trouxe nas entranhas.
José passou a ser acometido
Por visões e vozes
No seu redor,
Dentro de sua cabeça,
Nos espaços de seu entorno,
Amedrontado e febril
Fugiu para a casa do irmão,
Deixou a fazenda aos cuidados de
Domingas e três negros.
José não dormiu mais,
Falava sozinho,
Perambulava pelos cômodos,
Restou a ele por intermédio de Manuel,
As orações do padre Marcelo,
Que devido as suas orações,
Salvou Ana Rosa,
E foi escolhido para seu padrinho.
Mas o coração do padre
Ansiava pela morte de José,
O qual em sua primeira melhora,
Retornou a fazenda
Em seus aturdimentos
De falar sozinho,
Se imaginar perseguido,
Viver as escondidas,
Vendo vultos
E ouvindo vozes,
No caminho,
Levou um tiro e morreu.
Seu cavalo chegou a fazenda,
Domingas delirante o encontrou
Coberto de sangue,
Foi atrás de José,
O achou e enterrou ao lado
Da esposa Quitéria.
A fazenda foi abandonada
Por todos,
Exceto os negros,
Domingas enlouqueceu,
Deixou tudo ao abandono,
Dormindo no relento,
Conforme antes,
Não entrou na capela,
Nem cuidou,
Apenas perambulava sem hora certa
As terras do cemitério
Entre um morto e outro
Enrolada num pano.
Na morte de José,
O testamento foi aberto,
Tudo dividiu-se em três,
Manuel, sua esposa e Raimundo.
Raimundo foi para Lisboa
Onde dedicou-se aos estudos.
Raimundo, a princípio,
Escondera-se do mundo,
Chamado de macaquinho
Tinha medo do escuro,
Dormia abraçado ao travesseiro,
Colado na parede,
Sentia medo de tudo.
Raimundo chorou e gritou
Para ser enviado para sua terra.
Recordava-se em noites insones
De dona Bárbara,
Que ao despedir-se de Ana Rosa
Beijava-lhe a mão,
Quando Raimundo lhe oferecia
A mão para o carinho,
Bárbara lhe devolvia
Um tapa sobre a boca.
Tanto foi,
Que na noite de nascimento
De Ana Rosa,
Ela foi descrita
Como proveniente da França.
Ele nunca esqueceu.
Mesmo sendo negro para estar
Em Lisboa.
Ele recordava, um pouco,
De sua negação no Brasil,
Ele nunca compreendeu,
Mas em sua mocidade
Aceitou piamente.
Formou-se, advogado.

sexta-feira, 9 de maio de 2025

O Mulato- Cabra

Manuel, o viúvo,
Era grande proletário,
Dono de terras,
Cultivava cana de açúcar,
Sobrevivia da venda do açúcar.
Precisava de muita mão de obra.
Pedro, pai de Ana Rosa,
Trabalhava no armazém,
Vendia e armazenava alimentos.
Era comerciante reconhecido.
Manuel recebeu em visitas
O padre da cidade
Que trazia com ele uma carta,
Tiago, trazia a carta de Marcelo,
Filho do irmão falecido de Manuel,
Com uma brasileira, Domingas.
Ele comemorava a formatura
Em direito,
Desistiu de ser padre.
- ele deveria ter preferido o celibato,
Ora, no fim das contas,
Serão superiores os negros
Que as cozinheiras!
Deveriam proibir aos cabras
Certos misteres.
Reclamava o próprio padre.
- devo proibir a visita?
Indaga a Manuel com palavras
Inchadas de ódio,
Esmurrando a carta
Das mãos do padre
Sobre a mesa de ipê.
Não deveria ser oferecido
A estes o estudo,
Deveriam ser burros,
Burros, estes bastardos!
Berrou Manuel.
- Ora, Manuel.
Não imagino o pior,
Ver a própria filha casada
Ou ter ela confessada por
Um negro.
Imagine dona Anica,
Sua sogra,
Beijando a mão de um filho
De Domingas?!
E quando vierem seus netos,
Ou próximos filhos,
Pode imagina-los
Apanhando de palmatória
De um negro mais preto
Que está batina?
Esbofarou o padre.
- pra, nestes termos
Nem quero recebe-lo.
Disse Manuel.
- deve recebe-lo
Na qualidade de bastardo!
Encerrou o padre.
Na casa de Ana Rosa,
Chegava um funcionário da casa,
O pequeno Manoelzinho,
De dentes amarelos,
Roupas esfarrapadas,
E orelhas sujas.
O compadre de seu pai,
Daniel, se irritou com a posição
Inferior da criança,
Que sofria saudades da mãe,
Deixada em outro país,
Baixava a cabeça
E nada mais fazia que obedecer.
Daniel ergueu Manoelzinho
 Pescoço,
O forçou a sorrir,
E quando este sorriu
Daniel o definiu cuspo.
Ana Rosa se apiedou,
Chamou a criança
E lhe cortou as unhas.
-sente saudades
E sua mãe?
Indagou.
O menino chorou silencioso.
As lágrimas escorrendo
Pelo rosto negro.
Dias, o funcionário
Passava pela porta da sala,
E pode ver Manuelzinho
Tendo suas unhas cortadas
Por Ana Rosa,
Nutriu apenas ódio
Por aquelas faces escuras,
Saiu dali e levou vinho
Até a casa de uma mulata gorda,
Cheia de filhos,
Conquistou sua confiança,
Recebeu dela todos os seus ouros
Objetos de valor.
Tudo pelo que sonhava Dias
Era ascensão pessoal,
Enriquecimento,
E em tudo que fazia só tinha isso
Só objetivo.
A raiva ganhou os sentimentos
De Dias,
Que nunca teve quem lhe
Cuidasse das unhas,
Fechado em si mesmo,
Feito um ovo,
Fedia feito ovo podre,
Definiu Ana Rosa
Que ele nunca teve coragem
De comprar uma escova de dentes,
Tamanha economia que fazia.
Retornando da casa da mulata,
Pediu ao patrão, Marcelo,
Para ficar no quarto.
Marcelo preocupado chamou
Um médico.
- o que tinha o rapaz?
Indagou Marcelo ao médico.
- aquilo é mais porcaria
Que outra coisa.
Disse o médico,
Receitou a ele banhos mornos.
Banhos. Precisava de banhos.
Ana Rosa ao término
De cortar as unhas de Manuelzinho,
Receitou a ele banhos
Na torneira do lado de fora da casa.
No teor de seus vinte anos,
Ana Rosa já se entristecia
Em razão da solidão,
O médico solícito,
Lhe indicou banhos frios
E passeios.
A idade chegou
E lhe tomava pelas mãos,
Chegou a hora de casar-se
Precisava escolher o marido.
Tinha pouco em vista,
Dias – o Mulato sujo.
Manuel – o proletário,
Viúvo e odioso em seus modos.

O Mulato

Meados de 1800,
A escravidão corria
As ruas brasileiras,
Tinha lindas formas maranhenses,
Pequenas criaturinhas negras e nuas,
Corriam soltas as calçadas
Feitas de pedras
Por preços vis.
Lá, dos fundos da esquina,
Uma criança loira
Era puxada pelo braço
Para dentro de uma
Das casas grandes,
Feitas em pedras,
Cobertas por azulejos,
Com paredes internas percorridas
Por papel desenhados.
O calor escaldante de verão,
Fazia todos esconderem-se,
Em razão da invasão
Por botijas de água,
Portas e janelas
Precisavam manter-se fechadas,
Nem por isso,
Todas escapavam do arrombamento.
Lindas negras com seios
A mostra e bundas extravagantes,
Percorriam as ruas
Em direção ao rio
Ou chegavam até às carroças
De barris de água
Buscar preço atrativo.
Os pretos eram escolhidos
Para o serviço
Conforme seus atrativos pessoais,
Musculatura, partes íntimas,
Formato de rosto,
Dentes fortes.
Eram mercadorias
De um país em que o valor
Das coisas era medido
Pelo comércio de Portugal.
Ana Rosa, aos quinze
Tornou-se moça,
Contemplou seu corpo
Com ares de ter se tornado mulher,
Tão jovem e atraente,
Com formas tão femininas e ardentes.
Branca, de nascença brasileira,
Buscava no amor
Um jovem de dentes limpos,
Nariz comprido, pele vermelha
De nascença portuguesa.
Via nestes olhos,
Ah, quem dera, azuis,
O seu auge.
O concretismo de seus sonhos.
Aos doze iniciou namoro,
“Coisas de criança”,
Dizia a si mesma,
“coisas de criança”.
Iniciou o namoro com um estudante,
Que partiu em busca
Dos estudos e do qual
Não teve notícias,
Depois namorou um oficial
Da marinha,
Que afundou em navio
De guerra,
Em sua primeira artilharia,
Por fim,
Namorou um rapaz do comércio...
Tudo iniciou tão rápido
Quanto encontrou o fim.
Agora, aos quinze anos,
Moça feita
De formas adultas,
Não encontrava namorados,
Ninguém lhe provinha,
Sonhava o noivado,
Idealizava o matrimônio,
Via seus filhos
Tão nítidos quanto se vê
A luz do dia.
Contudo, ninguém lhe cabia,
A febre por encontrar alguém
Lhe acometida,
Adoecia e lhe levava a beleza,
Lhe vibrava o corpo
Esperar por alguém,
Contudo passaram-se os meses,
E nisto três anos.
Seu pai
Encontrou um jovem branco
Funcionário de seu mercado,
E lhe entregou a casamento,
Ana Rosa recusou-se,
Não se via presa a jovem
Tão fracassado,
Um pobre funcionário,
Sem ares para acessão social.
De tanta espera
Veio o choro,
A tosse a entupir-lhe
As narinas,
E quanto ao amor,
Nada lhe veio.
Manuel Pedro, português
Empregador e mercantilista,
Agora aos cinquenta e tantos,
Era viúvo,
Buscava noiva e companheiro.
Casou-se com moça jovem
De vinte e cinco anos,
A jovem apaixonada por revolucionário
Local que buscava liberdade
De pensamento e religião,
Não foi boa esposa,
Foi capaz de dar a Manuel
Uma filha,
Mais nada.
Logo após a filha morreu.
Poucos anos depois
De ter perdido
Seu único e verdadeiro amor,
Um jovem apelidado Farol,
Que morreu lutando
Contra a escravidão,
Amou Farol sem saber o motivo
De tanto ama-lo,
Em busca de valorizar
As riquezas locais.
Ele tão cedo morreu
Na miséria e foragido da justiça.
Logo após, faleceu ela.
Sobrou a filha,
Manuel trouxe a sogra
Para morar com ele
Dona Bárbara,
Ela trouxe seus escravos,
Tão rígida nos costumes
Que os levava para rezar
Todas as tardes,
De mãos abertas aos céus,
Ou algemados,
Chamava-os cabras ou sujos
Para que compreendessem
Sua superioridade como pessoa,
Vez que ela era branca
De origem portuguesa
E eles simples indígenas brasileiros.
Gente da terra,
Tão desvalorizados quanto
A própria terra de onde provinham,
Menos valorosos que os frutos
Pelos quais lutavam
Para obter de suas plantações.
Restou a Ana Rosa,
Manuel.
Cinquentão, viúvo.
Ela aos dezoito,
Adoentada de amores
Por um homem ideal
Que nunca existiu
Fora de seus sonhos.
Ele pai,
Ela sonhadora em ter família.
Ele ou o funcionário
De seu próprio pai,
Rapaz jovem de dentes podres,
Estatura medíocre,
Descendente nacional.

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Perto da Gente

Em um mundo conturbado,
Tudo evolui
E as coisas parecem fugir
Do controle,
Vêm os filhos,
O nosso reino
E nosso mundo.
Neste instante,
Tudo acontece lá fora,
A gente tenta distinguir
O que há,
O que disso importa,
Olhamos para dentro
Ele está aqui.
Simples, seguro,
Com seu rosto mais perfeito,
A esperar por nossos carinhos,
Donos de um império
Sem fim,
Mas tão da gente, enfim.
Bem cuidados,
Protegidos e amados,
O amor é feito destas coisas,
Do que está perto,
Do que está dentro de casa,
Do que está dentro de nós,
Isto é o que tem valia,
O que devemos dar importância,
Entregar nosso tempo,
Porquê o lá de fora,
Tem de entregar
E mais de desperdiçar,
Aqui dentro,
Perto da gente,
Só tem o que é de amar.

quarta-feira, 7 de maio de 2025

Romance no Trabalho

Anísio, empresário famoso
Na área automobilística,
Contratou nova secretaria,
Desta vez, selecionou
Com base em suas prioridades.
Depois de trinta e cinco anos
De casado,
Dois filhos adultos e familiados,
Ele desejou uma moça
Que atendesse a caprichos,
Pessoa jovem
E com virtude para satisfaze-lo,
Tudo simples.
Ora, o ramo automobilístico
Rumou sua estrada para o alto,
E está linha remuneratória
Nunca reduziu.
O salário atenderia aos critérios.
Pôs um único anúncio
Nos jornais locais,
Sem alarde surgiu uma moça
No vigor de seus vinte anos,
Minissaia curta e vermelha,
Discrição entre os lábios,
Salto alto para elevar a estima,
Blusa de decote
Para charmosear seus botões.
Não tardou,
A esposa descobriu a indiscrição,
Mulher criteriosa
E esperançosa na vida matrimonial
Investigou os gastos,
Descobriu viagens caras,
Um prédio em nome da moça,
E um show de rock particular
Negado para a filha.
É certo que a filha,
Pedir um presente
No valor milionário ao pai,
Seria desarrazoado
Em critério normais,
Contudo, ele não pensou
Duas vezes em pagar
O mesmo valor a uma estranha.
Suas varizes começaram a latejar,
As dores lombares clamaram justiça,
Foi até o prédio onde ele trabalhava,
Juntou imagens do circuito
Eletrônico da empresa,
E rumou para a sala dele.
O encontrou sobre a mesa,
Esparramado em seus cabelos brancos,
Com a secretária ajoelhada
Sobre seu saco.
Rindo aos berros,
Gemendo feito um garoto.
Ela não bateu,
Empurrou a porta
Até marcar a parede da sala,
Tirou o salto dos pés,
E bateu com a própria mão
No chão da sala,
Então, o chamou:
-Anísio!
Ele levantou a cabeça
Para o lado dela assustado.
- o que você está fazendo?
Ela gritou,
Aterrorizada.
- Pamela, nossa casamento acabou,
Você não pode me prender...
Ela gritou alto,
Esteticamente.
- acabou?
Só porquê você está rico?
Rico?
Nunca.
Nunca acabará, meu bem!
Então, saiu porta a fora,
Batendo a porta atrás de si.
Anísio, ficou empertigado,
Irritou-se em demasia.
A secretária Maria Clara,
Abriu a bolsa e entregou a ele,
Um remédio...
- única dose,
E ela não irá importuna-lo mais.
Então, subiu sobre a mesa,
Trepou em seu pênis,
Beijou sua boca inúmeras vezes,
Enquanto dizia:
- não deixe ela nos separar,
Meu bem.
Somos felizes,
Eu cuido de você!
Enquanto cavalgava
Sobre o pênis dele,
Ela fechou a bolsa
Preta que estava sobre a mesa
Ao lado de ambos.
- eu não vou perde-la,
Eu não vou perde-la.
Ele disse,
Juntando seu rosto
Entre as mãos,
E a beijando sôfrego
E apaixonado.
Na saída do trabalho,
Passou em uma lanchonete,
Pediu pizza e suco,
O preferido de sua esposa,
Suco de côco com leite condensado,
Misturou o líquido do vidro inteiro.
Chegou em casa,
Deixou o carro na garagem,
Entrou por dentro,
Abriu a porta e chamou-a:
- amor, me perdoe.
Trouxe um lanche
Para a sua noite.
Ela desceu as escadas atônita,
Olhos inchados,
Cabelos em desalinho,
Pés inchados e mancos.
Pegou a pizza,
Bebeu o suco.
Não terminou todo o conteúdo,
Caiu estatelada no chão.
Ele teve tempo de ampara-la,
Não soube porquê,
Mas o fez.
O coração dela disparou,
Em sobressaltos parou.
Ele virou-a de frente em seus braços,
Fechou seus olhos.
A cabeça dela caiu para trás,
O vestido verde comprido
Molhou-se de súbito,
Como se fosse um xixi,
Nenhuma lágrima
Veio aos seus olhos.
Ele a deixou ali,
Três horas depois,
Chamou os filhos,
Disse que chegou tarde
E encontrou-a caída.
Levada ao hospital
Para exames cadavérico,
Anísio contratou um reconhecido,
Pagou pouco,
Cinco milhões
E ela caiu da escada,
Fraturou o tornozelo
E morreu de dor,
Em razão da velhice.
No velório,
Nada denunciava o que houve,
Paloma entrou na igreja,
Foi até Anísio ao lado do caixão,
Beijou o rosto dele,
E beijou os dedos dela.
- sinto muito.
Ela falou em alta voz.
Os filhos apenas a olharam
Em seguida baixaram
Suas cabeças para sobre a mãe.
Do local mesmo,
Ele acessou com sua senha
O circuito de vigilância
Da empresa e de casa,
Olhou a imagem da esposa
Parada na porta de casa,
Em uma das janelas de imagens,
Parou o dedo acima da tela,
Então, Paloma tocou em sua mão
Em sinônimo de força,
Ele baixou o dedo
E apagou cada filmagem.

Aniversário da Vovó

- um brinde ao aniversário
Da vovó!
Dona Lúcia ergueu a taça,
E chamou todos ao brinde.
Completava, então,
Setenta anos.
Estavam todos presentes,
Amigos próximos,
Os filhos e netos.
- um brinde a vovó!
Todos disseram
Em uníssono,
Com vibrações de felicidades
E palmas.
- comprei a melhor champanhe,
Sim, permito a todos hoje
A ingestão de bebida alcoólica,
Até mesmo a bebê de quatro anos
Disse a vovó sorrindo,
Fazendo um gesto de carinho
Em direção a menina
De rosto vermelho, sorridente,
Vestida num vestido branco
De renda, cetim e laços.
- é branco vovó,
Vou usar para o seu velório,
Pois branca é a cor da inocência.
Gritou a menina,
Que há pouco aprendeu a falar.
- ah, que dócil criança,
Tão linda menina, Dora.
Dona Lúcia
Bebeu todo o líquido da taça,
Depois voltou a falar.
- dou a ela,
Conforme fiz com todos
As mensalidades da educação
Escolar toda quitada.
Uns olharam para os outros,
Sem entender o uso da palavra “dou”,
Mas optaram por beber o líquido
De suas taças para aproximar-se
De vovó,
E fazer suas cenas de carinho
E afeição,
Buscando equilíbrio,
Lucros no que refere-se a herança.
O advogado de vovó
Estava presente.
A conversa sobre a confecção
De um testamento
Se espalhou rápida,
Um queria parte maior
Que o outro,
Cada um tinha suas
Alegações a respeito.
Porém, ao final da primeira taça,
Com ódio no olhar
Contra o namorado da vovó,
Ali presente,
De um a um eles caíram ao chão,
Olhos fechados,
Dormiam feito crianças.
- pois é Doutor FonteMar,
Dormem feito bebê,
Assim deixam de espalhar
Seus boatos de maldade,
E eu decido o que cabe
A casa um.
Ela o olhou seriamente.
- peço que deixe os documentos
Que pedi ao senhor
Que confeccionasse para cada qual,
Peça ao transportador
Que espere do lado de fora,
E certifique-se com a segurança
Da casa
Para a retirada dos pertences,
E de cada uma dessas pessoas
De dentro de todas as minhas
Propriedades,
Manterei seus devidos empregos
E salários, nada mais.
Ela soltou sua taça vazia
Sobre a mesa de centro,
Pediu a faxineira
Para fazer a limpeza
Já que algumas taças quebraram-se,
Tomou a mão de seu namorado,
Formalizou o noivado
E o levou para o quarto.
Ao acordarem o povo
Olhou-se estranhos
Um ao outro
Sem entender o que houve.
Alguns juntaram suas taças
Vazias de cima da mesa,
Embaixo delas havia
Um bilhete:
- está taça contém o pó
Que vocês deram de beber a vovó.
Alguns leram em voz alta,
Olharam-se avermelhados,
E atiraram-nas um contra o outro.
Então, o advogado pediu licença
E explicou:
- sofrida em suas amarguras,
Vovó encomendou um pó
De suco especial
E deu ordens a empregada
Que fingisse que era veneno,
Sugerindo a cada um dos presentes
Dar a vovó dissolvido em bebida
Para ela consumir e morrer.
Todos fizeram o sugeridos,
E acreditaram que vovó
Sobreviveu devido a sua fé.
Diante, vovó excluiu a todos
Do testamento.
Leonardo recordou
Que ao fazer isto,
Foi para a balada,
Gastou a noite toda,
Pagou a festa para casa
Um dos presentes,
Ganhou todas as mulheres
E comprou um iate.
Logo no outro dia,
Teve o cartão de crédito cancelado por ele.
Leandro, demitiu todos os funcionários
E fechou a empresa,
Imediatamente, todos
Retornaram aos seus empregos,
E a empresa não mudou em nada.
Natasha, comprou uma ilha,
Preparava suas roupas
Para ir morar no castelo de lá,
Quando seu cartão foi rejeitado
Na loja de roupas e jóias.
Natália comprou um avião,
Estava em busca de piloto
Particular para ir para o estrangeiro,
Quando o cartão foi rejeitado
E a divida extornou.
Só sobrou até então,
Os valores gastos com o funeral,
Contudo, logo abaixo
Do pedido de despejo de cada
Qual das propriedades
Que pertenciam a vovó,
Estava um cheque assinado
Por ela,
Com os devidos valores
Que cada qual gastaria com ela.
A ordem de despejo
Era imediata.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

O Adeus

Enfim...
Para o lugar
Onde outros não podem ir...
Adeus,
Fim.
Ele ligou última vez,
Não sei se quis realmente
Me ver,
Depois, perdeu a cor
Escura e marrom,
E amarelo e esbranquiçado,
Foi.
Restou pele flácida,
Perdeu o sorriso dos lábios,
Uma surpresa veio aos olhos,
Depois, deitou-se,
Adormeceu estigmatizado,
Foi um espasmo de adeus,
Um espasmo de vida,
Um sopro que lhe faltou.
Estranha
A reação do corpo,
Buscar proximidade
Com quem não quer,
Intensificar desejos,
Tentar alcançar
O fora do alcance.
Olhos vívidos
E brilhantes,
Apagaram-se
Para sempre.

Convite Para um Homicídio

O jornal impresso
Já foi mais requisitado,
Em tempos não tão distantes,
Era requisito para o café da manhã,
Acompanhamento do chá da tarde.
Contudo, ultimamente...
Disse Rodrigo,
Baixando o jornal sobre a mesa,
Quando num instante
Algo lhe chamou a atenção:
“Convite para Um Homicídio!”
Ele retornou a olhar,
Ergueu o jornal bem próximo
Aos olhos,
Leu e releu a frase,
Depois buscou informações
Que constava logo abaixo
Da frase,
Rua das Hortências,
N 2538, bairro centro,
Cidade São Paulo.
Horário, dezesseis horas.
- Claiton, Claiton,
Corre aqui e leia isto para eu.
Claiton deixou o pano
De limpar a mesa do café,
Veio até o senhor Rodrigo,
Um idoso de oitenta anos,
Cabelos e barba branca,
Visão fragilizada pelo tempo.
- o senhor nunca reclama
De não conseguir ler
Senhor Rodrigo,
O que houve hoje,
 É porquê está nublado o tempo?
Ele indagou,
Chegou ao lado do idoso
Que sentava-se sobre um banco,
Nas sombras do café,
Na calçada da cidade de São Paulo.
Pegou o jornal que o senhor
Alcançava,
Leu o anúncio,
A pedido releu outra vez.
- não há dúvida, senhor.
Está escrito isto.
O jovem falou.
- mas é daqui a uma hora,
E o local fica a duas quadras?
O velho falou,
Abismado com o até viu e ouviu.
- sim.
Em pleno ano de 2025
E alguém usa de estardalhaço
Para aquecer a venda de jornal.
Ele disse
Devolvendo o jornal
Nas mãos de Rodrigo.
- não penso isto.
Achei tudo muito minucioso.
Não parece fictício,
Quase me sinto com medo.
Rodrigo falou,
Sorvendo um gole de café.
- imagine, está tudo bem.
Não preocupe-se.
Homicídio é crime,
Aliás, este anúncio também não
É muito sensato.
Ele disse,
Organizando a camisa amarela
Do velho,
E o ajudando a sentar-se
Melhor no banco.
Depois, voltou aí trabalho.
Rodrigo folheou as páginas,
Logo adiante,
Havia “busca-se emprego”.
Havia ao lado a discrição
Da pessoa e uma foto sua.
Depois disso,
Havia um impresso de página inteira,
Em tons enegrecidos,
Mas muito visível.
“Acidente automobilístico tira a vida de uma jovem”,
 Embaixo dos dizeres
Tinha uma impressão
De sentença de um juiz
Onde prescreve quatro anos
De apenamento do responsável
Pelo crime,
Apreensão da carteira de habilitação
E dois anos de impedimento de direção de automóvel.
Abaixo, quase no fim da página,
Havia uma foto
De um homem com as mãos
Sobre o rosto
Em prantos,
Umm carro azul destruído
Logo a frente dele,
Uma mulher ao volante ensanguentada,
E aparentemente desfalecida.
- jeito triste de morrer hein,
Claiton?
Esmagada contra um carro,
Sem chances de viver...
Disse o idoso.
- triste senhor Rodrigo,
Deve doer.
Triste mesmo.
Comentou alto o rapaz,
Servindo um casal na mesa
Dentro do café.
- mas, se este da foto
Foi o assassino,
Está sofrendo,
Não sei o que dizer...
Disse Rodrigo.
Claiton, saiu rápido
Para fora do café,
Deu uma olhada de soslaio,
E comentou:
- qualquer um sofreria.
Matar alguém deve ser difícil.
O rapaz comentou,
Limpou a mesa de frente
De Rodrigo
E retornou para dentro.
- veja Claiton,
As horas passam.
Está se aproximando o horário
Descrito no jornal.
Rodrigo falou,
Consultando o relógio.
De repente,
Um movimento inesperado
De pessoas passa a percorrer
As ruas,
Conversas baixas,
Olhares curiosos,
Indo em direção ao local,
Lhe pareceu.
Claiton ligou a televisão,
E o plantão de notícias
Noticiou a manchete do
Jornal local.
O apresentador riu,
Mas, disse que em razão
De o jornal ser de grande
Circulação,
Estavam levando a sério
A notícia.
Disseram ainda
Que entraram em contato
Com o redator do jornal,
E obtiveram a informação
De que a notícia,
Embora, devidamente paga,
Através de transferência bancária,
Se originou por telefone,
Como uma espécie de ameaça.
Se referia ao pai
De uma jovem
Que buscando justiça
Por ter perdido a única
Filha através de um acidente social,
Deu repercussão ao acidente
Por todos os meios possíveis,
Com o intuito de evidenciar
Que não foi por descuido,
E implorou por justiça
Por parte do judiciário,
Alegou que tudo que queria,
Era unicamente isto.
Então, postou a foto
De como um trabalhador
Pai de família
Encontrou sua filha,
Ensanguentada,
Presa num veículo,
Morrendo aos poucos
Por dor e negligência.
Neste aspecto,
Ele mostrou sua dor
E resignação ante ao fato,
E recebeu após a repercussão
Da notícia e fotografia
Ligações de ameaças e ofensas,
Foi chamado de assassino
Da própria filha.
Inclusive, o próprio
Veículo de comunicação
No qual ela deu repercussão
Ao acidente,
Houve ofensas dirigidas
Diretamente contra ele.
Agora, amedrontado
Não pode sair sozinho de casa,
Sofre ameaças,
E o juiz foi ameno
E na concepção dele
Parcial ao proferir sentença,
Considerou a moça,
Filha única,
Como um animal
Que morre esmagado no asfalto.
Segundo o jornalista,
O homem gritava:
“ Ela não é um animal,
Ela não é um animal!”
E avisou que será morte
Por morte.
- veja só Senhor Rodrigo,
Será que matará o juiz?
Indagou Claiton lá de dentro.
- pois é,
Matou mesmo a filha dele.
O rapaz continuou.
- o juiz dizer que foi
Sem intenção de matar
Que ocorreu o acidente,
Alegar negligência
Através de veículo automotor,
Realmente, parece estar
Sendo omisso com relação
A dor de perder um ente querido...
Disse Rodrigo,
Com o coração aos saltos.
- sim, Senhor Rodrigo,
Se morte é morte,
Porquê se for através de um veículo automotivo
Eles querem dizer que o crime
É menor?
Perguntou o jovem.
- não sei.
Mas este homem está
Respondendo em liberdade,
Com certeza,
Já está dirigindo pelas ruas
Da cidade.
Você se cuide
Ao voltar pra casa viu?
Disse Rodrigo.
O jornalista ainda dizia algo,
Para finalizar,
Informaram que mandaram
Um jornalista especializado
Da capital de São Paulo
Para de fazer presente no local
E filmar o que ocorrer.
Encerrou a nota indagando:
“quem este homem irá matar?”
A programação na televisão
Voltou ao normal,
Na cidade nem deixou de estar,
Não fosse pelo aglomerado
De pessoas aos bandos
Próximo ao local de encontro.
Alguns portando armas,
Outros usando drogas,
Viaturas policiais assustadas,
Que fecharam seus vidros
E pareciam estar cegas,
Contudo olhando o povo.
Ao pé das dezesseis horas,
Nem um minuto menos,
Ouve-se um tiro não muito distante.
Rodrigo levanta-se,
Retira o chapéu da cabeça
E corre as tais duas quadras.
Claiton, se eleva
Nos degraus do café
E tenta buscar informações.
Chegado no local,
Rodrigo descobre
Em meio a certa multidão,
O tal homem que se envolveu
No acidente de trânsito
Com a moça, morto.
- que houve,
Que houve será?
Ele perguntou
A uma mulher que estava
Em pé ao lado do cadáver.
- recebeu uma ligação,
Ali dentro da loja,
Saiu para fora,
Virou para aquela direção...
Ela apontou com o dedo
O local onde havia um prédio alto.
- levou um tiro na testa
E caiu estremecendo,
Depois, não se moveu mais.
Veja, parece que tem um
Homem na janela lá do alto.
Ela falou,
Se referindo ao prédio.
Rodrigo olhou o homem desfalecido,
Fez o sinal da cruz
E retornou ao café
Com as notícias.
- pelo visto o enlutado
Cumpriu com sua palavra.
Ele disse na chegada.
Pessoas se juntaram nas proximidades,
A rua foi completamente fechada
Devido a aglomeração,
Carros paravam onde estavam,
Isto se referia,
Até aproximadas cinco quadras
De distância do local.
O repórter do jornal televisivo,
Filmou o homem morto,
Mostrou o tiro,
E o rosto do indivíduo,
O juizado local silenciou.

domingo, 4 de maio de 2025

Organização Criminosa Policial

- cuidado.
Ele gritou
Atirando-se no gramado,
Caindo de lado,
Um revólver vinte e dois
Entre os dedos,
Um tiro foi disparado,
No instante em que se jogou,
Depois outro,
E outro,
Então, alcançou a altura do
Muro verde e parou.
- ahn.
Um grito ensurdecido de dor.
Sua esposa estava atrás de si,
Só desejou que o maldito
Não a tivesse atingido,
Ao vê-lo parado
Com aquele sorriso gelado,
E aqueles olhos azuis do inferno,
Seu coração gritou socorro
E seu buquê de rosas vermelhas
Lhe soaram sangue.
- Rosas?
Ele gritou nos seus
1 metro e 80 de altura
Na sua voz feminina.
A esposa Gerinda sorriu,
Ela ama flores,
Eu só lembrei de pôr
O pé na escada,
Levar a mal ao bolso
Para pegar a carteira,
Então, o vi.
Corri...
A escada fica de frente para a rua,
Dez metros antes da casa
Se completar,
E dobrar para a outra parede.
Minha esposa molhava o jardim,
Extremamente, nesta parte.
Dez metros,
Mais dez até eu me pôr
Na frente
E retirá-la daquela mira.
- meu Deus,
Vinte metros é pouco.
Minha mulher.
Minha mulher!
Danilo gritou sangrando.
O tiro veio.
Pareceu-lhe que era um
Único disparo.
Cortou e sangrou,
Mas acreditou que a bala
Se alojou.
- Corra Gerinda!
Se jogue no chão,
Se arraste até atrás de mim...
Ele gritou.
- Amorrrr.
Gerinda gritou.
-ahn.
Ele tentou sufocar o grito
De felicidade,
Estava viva.
Ele levou a mão pra frente,
Juntou a grama,
Tentou se segurar nela
Para se levantar,
Arrancou o gramado e terra molhada.
Chorou silenciosamente.
A mão direita com o revólver,
- eu vou mata-lo.
Que eu o tenha matado!
Gritou e gemeu feito um touro,
Ao ver pasto verde
Atrás do muro,
Preso em potreiro de grama seca.
#
- querido,
Nossa cachorra Fareka morreu...
Gerinda disse,
Entrando para dentro
Com a cachorra imóvel
No colo.
Danilo parou de teclar no notebook,
Fechou a tampa,
E olhou atordoado para ela.
- o quê?
Nossa filha?
Nossa menina.
Ele disse,
Levantou-se,
Pegou o bichinho
Sem vida.
Trouxe ela para seu peito,
Acariciou seus pelos
E chorou feito criança.
- como aconteceu isto?
Ele indagou perplexo.
- olha, eu encontrei semana
Passada bolinhos
Ao lado do muro,
Imaginei que alguma criança
Tenha jogado,
Será que ela comeu demais?
O peito de Danilo arfou,
Ele chorou ainda mais.
-Minha esposa,
Amada mulher,
Deram a ela veneno!?!
Ele disse,
Incapaz de controlar
A dor e o sufoco.
- mas, não vi ninguém
Querido,
Quem faria isso?
É só uma cachorrinha.
Ela respondeu em prantos,
Colocou uma mão em seu ombro,
Depois abraçou ambos.
- não vi ninguém,
Juro.
Ela falou.
- querida Gerinda,
Vamos tomar cuidado,
Eu fui designado
Para uma operação policial
Perigosa.
Ele disse.
Virou-se para ela e a abraçou.
- há uma quadrilha de policiais,
Eles estão agindo contra a lei,
Usam sistemas policiais,
Todos os disponíveis,
Armas e treinamentos próprios,
E fazem tudo isto em função
De lucro financeiro...
Ela agarrou-se a ele,
Tremendo de medo.
- querida Gerinda,
Você sabe o quanto
O salário no geral
É baixo.
Estas pessoas entraram
No sistema policial
Apenas pelo lucro...
Ele pegou o rosto dela
Com uma mão
E apertou até vermelhar.
-querida, eles tem treinamento,
Armas, os sistemas...
- meu Deus Danilo.
Eu não o quero morto,
Querido, não nos quero em risco.
Ela respondeu.
Olhando séria
Em seus olhos azuis marejados
Feito uma piscina
Que transborda.
- eu vou te proteger até a morte,
Eu enfrento o risco.
Eles são fortes.
Ontem eu os peguei
Matando o dono de um banco
E sacando todo o dinheiro
Que havia lá,
E nisto foi um rombo
De bilhões
Em único ato...
As pernas dela fraquejaram,
Ela caiu.
Ele soltou seu rosto
E a manteve erguida
Pelo ombro.
- meu amor,
Hoje mesmo as provas
Foram apagadas...
Apagaram todas as imagens,
E as poucas testemunhas
Estão sendo eliminadas,
É muito dinheiro,
Muito.
Eu acho que já pertenço
As testemunhas.
Ele falou sério.
- seu chefe,
De qual lado ele está?
Ele precisa ajudar.
Ela disse.
- me sinto desesperada.
Ele massageou seu ombro.
Depois beijou seus lábios
Com calma,
Sentindo o sabor
De suas lágrimas.
- querida,
O esquema é tão sofisticado
Que eu não posso dizer...
Então, a puxou
Para seu peito,
Apertou esposa
E cachorra para
Reter um pouco de força.
Porquê, um homem
Também fraqueja,
Sentiu o cheiro de seus cabelos,
Por um momento
Esqueceu a morte da cachorra,
A filha do casal,
Absorveu o calor dela,
Ficou tanto tempo assim,
Que seu braço gelou
Onde estava o animal.
- faça o que puder por nós,
Querido, eu o amo,
Não quero te perder Danilo.
Ela disse ofegante.
- querida, Gerinda,
Eu sou totalmente a favor da lei,
Jamais iria pôr sua vida,
De nossa família,
Ou nossos pais em risco.
Estas pessoas,
São fortes e em grande número,
Eles não se importam
Com quem irão matar
Ou qual o custo
Para obter o que desejam,
Nós somos empecilhos a anos...
Ele disse,
Olhando o alto.
- querido,
Não querer dinheiro
Por custo de crime
É sério empecilho?
Meu Deus,
Como sobreviver?
Ele a beijou
Em seu ombro.
E ficou parado ali
Por um tempo.
Depois a empurrou
Com carinho para trás.
- vamos enterrar o bichinho.
Nisto, saiu para fora.
Foi para o lado oposto da casa,
Nos fundos do quintal,
Parte direita,
Cavou um pequeno buraco,
E a pôs lá
Com sua almofada de dormir.
Este foi quatorze horas
Depois da descoberta
Do crime
Sabendo que foi designado
Para descobrir
Qual a motivação
De o videomonitoramento
Da cidade comandado
Pela polícia
Estar sendo misteriosamente
Estragado.
Simplesmente, imagens sumiam,
Câmeras eram quebradas,
Postes derrubados logo
Após serem colocados,
Neste intuito,
Ele designou alguns policiais
Para fazer uma pesquisa criminal
Apresentando números
De registros de delitos
E tipos de delitos
E o local onde eram coloridos
Com vistas a implantar
Monitoramento por câmeras
Nestes locais específicos
E assim poder inibir a ação criminosa,
Bem como, prender estes
Criminosos.
Neste aspecto,
Ele fez o levantamento de dados,
Escolheu os postes,
Os tipos de câmeras necessárias,
E designou pessoas para
Instala-las,
Estava, então, escolhendo
Quais policiais propriamente ditos,
Atuarial nestas áreas,
Conforme grau criminoso
Do lugar
Para fazer um rodízio
De pessoas
E buscar o melhor desempenho
De serviço.
Porém, as viaturas passaram a
Apresentar problemas,
Os policiais alegaram perdas de armas,
E, mal as câmeras chegavam
Já eram danificadas...
Foi então,
Que uma viatura se destacou,
Dois policiais pareceram
Suspeitos,
Ele conseguiu implantar
Câmeras em suas roupas,
E os viu em ação criminosa
No banco dm específico,
Checou imediatamente
As câmeras públicas,
E as internas,
Ao apresentar o relatório
Para o seu supervisor,
As imagens sumiram...
Passado o dia do enterro,
No dia seguinte acordou cedo,
Depois do café,
Se direcionou a sala
De videomonitoramento da polícia.
Bateu duas vezes
Antes de entrar,
Haviam lá seis pessoas sentadas
Em suas cadeiras,
Uniformizados e armados.
- preciso das imagens
Da rua Ercílio,
Bairro centro.
Todas elas.
Ele disse.
- negativo.
Não foram instaladas
Câmeras neste ponto, ainda.
Respondeu uma soldado.
- como?
Ontem eu as estava vendo
Através da minha sala!
Ele contradisse.
- houve um erro, senhor!
As câmeras de lá,
Estão para ser instaladas...
Ela olhou num documento
Que estava sobre a sua mesa,
Depois respondeu:
- está aqui,
Nesta linha,
Dia 20 deste mês,
A partir das dez horas.
Ele se aproximou dela,
Que levantou o braço
Com uma pilha de folhas
Mostrando a ele.
Especificamente,
Estava escrito da forma
Como ela disse.
Ele soltou o material
E saiu.
Expediu em sua sala
Um mandato de busca
E apreensão
Para fazer vistoria no banco
E trazer as imagens
E quaisquer outras coisas
Que tivesse disponível
Do roubo do dia treze.
Três viaturas foram designadas,
Chegado lá,
Ele, que auxiliou e participou,
Soube que não noite anterior,
Colocaram explosivos
No banco e explodiram
Suas salas
Sem deixar imagens intactas,
Já que a sala de controle interno
Foi explodida, também.
O filho que herdou o patrimônio,
Decidiu vender o imóvel,
Um policial estava comprando.
- Olá, colega!
Ele disse,
Chegando por trás
De Danilo e dando três
Tapinhas em seu ombro.
- bom dia, Coronel Mirel.
Ele cumprimentou
Virando-se de frente.
O homem apenas sorriu.
Exausto, Danilo retornou
Para o lar.
Tomou banho,
Trocou a roupa,
Vestiu calças de frio,
E jaqueta jeans
Sobre o coldre
Que continha duas armas,
E uma camiseta azul
Por baixo.
Na saída de dentro de casa,
Foi a procura da esposa
Que molhava o jardim,
Quando viu aquele homem estranho
Olhando para ela...
Por instinto correu até ela,
Retirando a jaqueta jeans,
Rapidamente, e a jogando
Para a frente.
O homem olhou para ela
E ficou sério de repente,
Então, olhou para aquelas flores,
E os ouvidos aguçados
De Danilo pareceram ouvir
Um estalido,
Algo como um tilintar
Num metal,
Então, veio o cheiro de óleo...
E Danilo correu mais,
Correu o mais rápido que pôde,
Neste intelecto,
Puxou ambas as armas do coldre,
E apontou.
E atirou.
Enquanto caia,
Se pondo em frente a esposa,
Disparou três vezes seguidas,
Com ambas as armas,
Só pode ver a esposa
Levar a mão sobre os lábios
Num espasmo de medo,
E se declinar para o muro verde,
Então, ele sentiu nele um disparo,
Viu o homem gorducho cair,
Perdeu a arma esquerda
A um metro pra frente
Sobre o gramado.
Levantou-se gritando,
Atordoado.
Se ergueu sangrando
Sobre a camiseta azul,
Se aproximou do muro,
E enquanto andava
Os cinco passos faltantes
Até a beira do muro,
Juntou a pistola do cinto
Do lado esquerdo,
Avistou o loiro no chão,
E disparou mais três vezes,
Com ambas as mãos.
O homem virou-se,
Soltou os braços no asfalto,
Ficou de olhos abertos
A sangrar.
Morto.
Então Gerinda
Se aproximou de Danilo,
A um metro atrás dele,
Ele voltou-se para ela,
A abraçou,
Juntou suas coisas
Sem falar muito,
Pegou o uniforme,
E a arma que ganhou da corporação.
Dirigiu até o batalhão,
Entrou por sua porta
Como se não fosse
Nenhuma novidade,
Chegou ao coronel
E soltou o bandido morto
Em sua sala.
- o quê houve?
O coronel indagou.
- trouxe este!
Danilo disse,
Com uniforme em mãos,
O coronel não respondeu,
Danilo deixou o morto lá,
E voltou para casa.
Com a esposa ao seu lado,
Passou pela rua do banco,
Olhou os estilhaços de vidro
Quebrados pelo asfalto,
Ainda as dezoito horas
Alguns pintores pintavam
As estruturas do local,
Dentro do estabelecimento,
Outros trocavam paredes...
Engatou a marcha,
Passou na loja de armas,
Marcou treino de tiro
Para a esposa,
Adquiriu uma arma para ela,
E retornou para casa.
Levou ainda
Uma câmera de vigilância.
A instalou em sua porta de entrada.
Abraçou a esposa
No final da escada,
Lhe deu um beijo
Na têmpora
E entraram de mãos dadas.

sábado, 3 de maio de 2025

A Mão Armada

A viatura estava parada
Na curva da estrada
Com os faróis do carro de polícia
Desligados e totalmente no escuro.
Ao passar a garota não os viu,
Seguiu fumando um cigarro,
Enquanto dirigia
Ouvindo o rádio.
De imediato,
Um policial acenou
Com a cabeça
Fazendo um jeito afirmativo
Para o outro,
Ligaram o carro,
Os faróis e foram atrás dela.
- tem certeza que está é Jandira?
Ele indagou ao outro.
- claro que é.
Eu saio com a prima dela,
Ela me passou a cor do carro,
O modelo e a placa,
E o nome da garota.
Respondeu o soldado.
- você está mesmo enrascado.
Disse o cabo a ele...
- não. O processo na corregedoria
Eu já resolvi,
Não quero só apresentar ela
Ao capitão,
Quero transar com ela.
Eu vi fotos lindas dela
No celular da Carol,
Elas estavam nadando na piscina.
Ele disse,
O cabo engatou a quinta marcha,
E seguiu rápido,
Ligou as sirenes e as luzes de emergência,
Logo a alcançaram
E pediram para ela parar.
Ela não viu devido a fumaça,
Ele a alcançou,
Dirigiu bem ao seu lado,
Cara a cara um com o outro.
- encosta.
Disse o soldado Horos.
Ela se assustou
Puxou o carro para o acostamento
E parou no escuro.
Deixou o carro ligado
E manteve as luzes acesas.
- sai fora do carro!
Disse o soldado.
- eu não fiz nada!
Ela falou alto.
- calada, ou dou voz de prisão
Por desacato a autoridade,
Quem você pensa que é pra falar
Alto?
Estava dirigindo fumando,
Isto é direção perigosa
Você estava causando perigo
Nas ruas.
Ele gritou cuspindo sobre
Seu rosto.
Ela fechou a porta assustada,
Não havia ninguém próximo
Para pedir ajuda,
Também não estava embriagada.
Se recostou na porta.
- acho que houve
Um mal entendido,
Vamos resolver com calma.
Ela dizia trêmula.
- não tem calma,
Tem lei pra você!
O soldado Horos disse
E deu um chute
Contra o pneu dela.
- pneu em má conservação,
Vai ter que trocar,
Você estava dirigindo rápido
Com estes pneus?
Tem certeza que não matou alguém?
Ele indagou anotando
Algo no papel da prancheta.
O cabo Tek,
Se aproximou pelo
Lado do motorista no carro,
E de lá abriu o porta luvas,
Retirando uma arma do próprio
Bolso e a colocando lá.
- veja Horos há uma arma aqui.
Ela estava armada!
Gritou o cabo sorrindo.
Horos ergueu a cabeça
Para o céu noturno sorrindo.
- encoste-se no carro.
Você está armada,
Vai ter que passar por revista íntima!
Ela se encostou
De costas para ele,
Com as mãos apoiadas no carro.
Horos arrancou a calça dela
E a calcinha com destreza,
E a estuprou sem piedade.
Retirou o pênis para fora
Da farda ( uniforme de policial militar),,
E estuprou ela rápido e
Distante.
- está limpa garota.
Deixa eu ver os documentos do carro.
Ele disse.
Deu-lhe um tapa
Em sua bunda e ela saiu.
Ao pegar o documento do carro,
Entendendo o que ele quis dizer,
Ela buscou em sua carteira
Mil reais e colocou entre os documentos
Para que ele juntasse o dinheiro
E saísse calado sem multa-la,
Ou prende-la por causa da arma,
Pois ela estava sozinha,
Era tarde da noite
E temeu por sua vida.
Horos abriu os documentos,
Viu o dinheiro,
Virou as costas
E juntou cada nota.
Depois se virou para ela
E entregou os documentos
De volta.
- tudo certo, moça.
Tudo certo!
Ela abriu a porta do carro
Trêmula,
Ligou as chaves
E engatou a primeira,
Sentiu um pavor extremo
Ao seguir.
Sentiu um medo absurdo
De que atirassem contra ela.
Pelo retrovisor
Ela pode ver Tek sorrindo,
Segurando as duas armas
Em sua mão.
Uma que ela imaginou
Que ele usasse para trabalho
E a outra que ele mentiu
Que estava com ela.
Logo que se afastou deles,
Ela correu muito,
Muito,
Apenas desejando
Nunca mais vê-los em sua frente.

Cabo do Medo

- vamos traiar bem a rede,
Sem deixar espaços
Pro peixe fugir.
Disse Mario a Dalson.
- tá certo,
Se passarmos o cabo
De lado a lado no rio
Não temos como não pescar.

Respondeu Dalson.
Se aproximava a semana santa,
Paira a lenda
Que não se deve comer carne
Exceto a de peixes,
Pois, as outras se prestam
A alimentar o diabo.
Então, quem faz carne
Nestes dias estaria
Prestando um culto
Ao diabo.

Os dois irmãos cruzaram
O cabo da rede de uma árvore
A outra,
Juntaram a linha de pesca
E a agulha que serve pra traiar,
Começaram a costurar
Todos os buracos.

Feito isto,
Pegaram a rede,
Levaram ao caico,
Juntaram um remo cada um,
Foram ao posso mais fundo do rio,
Amarraram numa raiz de árvore
De um lado,
Soltaram a rede aos poucos
Vendo ela cair,
Enquanto o outro seguia remando,
Chegando no outro lado
Amarraram a rede no tronco
Próximo ao barro da margem
E esperaram a noite cair
E o próximo dia chegar
Para retirar a rede.

Contudo, se aproximava
A semana santa,
Faltando pouquíssimos dias.
- vocês não deveriam
Armar a rede pra pescar
Tão perto da semana santa,
É pecado trabalhar nestes dias...
Disse Angela ao vê-los
Retornar cansados do rio.

Conforme dito,
A noite iniciou a chover,
A chuva seguiu no outro dia,
E se prolongou no tempo,
O rio encheu,
Sua vazão foi tão grande
Que percorreu cinquenta metros
Acima do seu nível normal.
Carregou pontes com ele,
Casas ribeirinhas,
E se aproximou da casa de Dalton,
Com uma água escura
Tão forte que fazia barulho,
Carregava árvores,
Dava medo até mesmo
Para pegar no sono.
A rede foi esquecida,
Até mesmo o lugar
Onde foi armada
Foi esquecido.
Chegou a semana santa,
O Seu Sebastião foi nadar no rio
Para tomar banho,
Ele esqueceu por três meses
De pagar a conta de água,
E a empresa cortou o seu abastecimento.
Eram seis da tarde
Quando ele foi tomar banho,
O relógio marcou nove horas
Da noite e ele não retornou,
Amanheceu e ele não chegou.
Uma turma de garotos
Aproveitaram o feriado
Para andar de barco
Nas aguas turvas do rio,
Que já baixava consideravelmente
O nível da água,
Contudo, ela ainda não retornou
A coloração esverdeada normal,
Estava marrom.
Da casa de Dalson ouviram-se gritos
Apavorados,
Uma algazarra estranha,
Chegou o final da quinta-feira
De cinzas ele foi até seu galpão
Para organizar os animais
De seu cultivo,
E encontrou quatro carros
Lá estacionados e vazios.
Correram os dias,
Não apareceu dono.
Ele ficou assustado.
De todo modo,
Chegou a sexta-feira de cinzas,
E uma turma de garotos
Se reuniu no outro
Lado do rio
Para fazer trilha,
Todos com água e mantimentos...
Depois de muito caminhar
Decidiram nadar,
Eles tinham coletes a prova de água,
Porém, não tardou,
Seu Mário correu apressado
Até a casa de Seu Dalson
Pois disse ter ouvido gritos
De pedidos de socorro,
E pareceu ver de seu terreiro
Aqueles garotos e garotas
Sendo misteriosamente
Puxados para baixo da água,
Um após o outro.
Assustados,
Pegaram o caico,
Juntaram seus facãos,
E foram ver qual era a façanha
De tamanho sumiço
De pessoas em torno
Daquele rio.
Buscando com uma vara de madeira
Estreita e comprida o fundo da água,
Chegaram na rede de pesca,
Ao estreitar as vistas
Viram várias pessoas enroscadas
Na rede e sem vida.
Do lado delas
Havia um peixe enorme,
Ele parecia preso,
Mas nem por isso
Deixou de se alimentar,
Ele comeu partes de cada um
Dos que estavam lá,
Parecia muito satisfeito.
Os dois irmãos
Se abraçaram
E choraram suas mortes,
Jurando nunca mais pescar
Tão próximo da semana santa.
Ao tentar puxar o cabo da rede
Não tiveram forças suficiente,
Pareceu que a rede
Se soltou num dos lados
E ficou presa no fundo,
Foram buscadas outras pessoas
Para ajudar,
Contudo, ninguém nunca
Mais pode retira-la de lá,
E pessoas nunca pararam
De morrer nas proximidades.
Dizem que um cardume
De peixes se apossou dela,
E a utiliza para encontrar alimento.
Cruzam-se os anos,
E ela está lá intacta,
Com sempre alguém preso
E peixes comendo-os.
Também, não é mais possível 
Se aproximar dela,
Pois um peixe enorme
A vigia,
Aos pulos e dentes afiados
No seu redor,
Alguns atrevidos que tentaram,
Isto, depois de o nível 
De água baixar 
E sua coloração voltar
Ao normal, ficaram todos lá.

O Mulato- Ciumeiro

Junho chegou sereno E frio, Com seus ventos A brincar com os cabelos, Quebrar os galhos E arrancar algumas flores. Troux...