quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Por trás da Prisão

O policial fez blitz,
Assegurou alguns figurantes,
Me fez sinal de pare,
Estacionei e liguei o alerta.
Ele aproximou-se,
Bateu duas vezes
Com a traseira da mão fechada
Contra meu vidro...
Lá na cidade onde eu moro,
Eu tirei uma fotografia legal,
A garota do cara fardado
Não gostou do meu estilo,
Decretou minha morte,
E perdição do meu caráter.
Se infiltrou no sistema policial
E mandou a ordem:
“Prendam-na,
Este modelo de relógio
Que ela contrabandeou
Do Paraguay custa 24 mil”.
A informação era para ele segura,
Eu abri o vidro
Consciente da minha inocência,
Eu comprei na minha cidade
O relógio,
Não provinha do outro país,
Ele não quis ouvir,
Pediu nota fiscal,
Era usado,
Eu não tinha ali,
Como iria provar.
Ele se irritou
Mediante poucas palavras
Da tal moça
Em seu rádio
Pendurado a esquerda
De seu uniforme,
Levou a mão para dentro
Do carro,
Empurrou minha cabeça
Contra o volante,
Deu voz de prisão
E me tirou de lá algemada.
Nisto levou minha
Pequena mala de compras,
Eu tenho uma lojinha
Num bairro afastado da cidade,
Sobrevivo do que vendo,
Ele não quis saber,
Prendeu a mala e o que tinha
Dentro:
Maquiagem, roupas íntimas e etc.
Chegou minha denuncia
No Ministério Público Federal,
O valor equivalia a 24 mil
E um pouco mais,
Ocorre que 20 mil era suficiente
Para me manter lá,
Atrás das grades federais.
Estilo criminoso em potencial
Vestindo minha calça
Jeans colada azul,
Minha camiseta da Xuxa,
E o tênis de pisca pisca
Da promoção.
Tive o cabelo cortado,
Raspado até as orelhas,
Lá no presídio as garotas
Que entrar pegam piolhos
E pulgas,
Eles precisam manter
Este estilo de corte
Contra infestação.
O policial me ferrou,
Da sala dele
Ele toma seu café quente,
Eu me gelo aqui
Sentada neste chão frio,
Ele sorri,
Faz pose de abrir as pernas,
Eu consigo enxerga-lo.
Minha mãe deve estar
Sentindo minha falta,
Meu pai deve estar preocupado,
Há meses que não abro a loja,
Vou perder clientes,
Atrasar pagamentos respectivos.
Ele sabe disso,
Sorrindo e seguro
Anda até minha cela,
Agacha-se até o cheiro
Do seu café quente
Chegar às minhas narinas,
Me olha,
De olhos abertos e seguros,
Abre o zíper da calça,
Põe sua mão para dentro
Das grades,
Pega na minha nuca,
Eu nem olho,
Senti o cheiro...
Abre-se a possibilidade
De uma ligação para meus pais,
Eu preciso informar
Que estou viva,
E apenas presa,
Eu preciso de advogado
Em quem possa confiar,
Necessito de dinheiro,
Olho para seus olhos,
Agachada naquele chão,
É meu único meio,
Não peço tempo,
Meço esforços
Ou pouco me disponho.
Eu jamais irei dizer
Que não chorei
Quando aquele policial 
Pegou a maquininha
E passou no meu cabelo 
De baixo para cima,
Eu contei cada fio 
Do cabelo comprido escuro
Que caia sobre meus dedos
Naquele chão gelado,
Poucas passadas
Não sobrou nada,
Nem minha dignidade,
Repensei muito nas lágrimas 
Que caíam,
Nos fios que se misturavam,
Tentei fugir,
O rapaz,
Aquele mesmo que abriu o zíper,
Nem levantou de sua mesa,
Me viu tentar sair pela 
Porta da frente,
Como se eu fosse alguém normal,
Com aquele cabelo raspado,
O corpo ferido,
Ergueu a arma e atirou.
Quando cai de cara no chão,
Boca no piso,
Saltando sangue
Na minha frente 
Percebi que não xupo tão bem,
E a chave não foi esquecida 
Lá na fechadura por acaso.
Eu esperei pelo segundo tiro,
Aquele contra a minha cabeça 
Que estouraria meus miolos,
Mas ele preferiu me ver
Morrer sobre meu próprio sangue,
Afogada na dor,
E na distância,
Meus pais, talvez, nunca 
Irão saber disso,
Eu não pude avisa-los
Que aqui desfaleci.

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