sábado, 5 de dezembro de 2020

Banco da Praça

 

Ela sente-se cansada de passar por ele sem ser notada,

Já tentou sentar-se ao seu lado lendo uma revista,

Tentou descobrir o número do seu telefone

Em um ímpeto de ousadia chegou a fazer uma ligação anônima,

 

Descobriu que ele gostava de poemas

E pôs seu coração nas palavras que lhe escrevia,

As quais ele nem ao menos chegou a lê-las,

Usando o que sobrou de suas forças

 

Traçou algumas linhas em um papel em branco

Que achou jogado sobre aquele mesmo banco

Em que todos os dias passavam algumas horas,

E o dobrou deixando-o naquele mesmo lugar,

 

Tentou definir todo o amor que sentia por ele

Em algumas poucas palavras,

As quais ela nunca ousaria confidenciar

A ninguém mais que não fosse ele,

 

Apenas disse coisas que ele nunca havia dado ouvidos,

Algo sobre o quanto ele ficava lindo

Quando o sol tocava seu rosto pela manhã,

Sobre o quanto os seus olhos brilhavam

 

O quanto os seus lábios ficavam lindos

Quando se curvavam em um sorriso,

O quanto sua voz macia e aveludada

Parecia conquistar cada alma a sua volta,

 

Transmitindo uma espécie de força

Que ela nunca havia conhecido antes,

O quanto seu corpo era esculturalmente perfeito,

Seus braços fortes pareciam feitos para um abraço,

 

O tipo de abraço em que você implora para não ser solta,

O abraço que une dois corações em uma mesma sintonia,

O abraço em que você implora de joelhos para que dure

Muito mais que uma vida, por pelo menos até que o para sempre

 

Possa ser sentido na ponta dos seus dedos ao deslizarem

Sobre seus corpos, através de uma carícia ousada,

Que faz o sangue correr mais forte nas veias,

Que faz os corpos se entregarem até sentirem esgotar-se as forças,

 

Como ela sonhava em ouvir o pronunciar do seu nome

Por aqueles lábios gentis e tão desejados,

Ela precisava ouvir o que ele teria a dizer

Sobre o quanto queria ver seu amor derramado sobre ele,

 

Por meio de longos beijos apaixonados,

Sua beleza era como uma carícia sobre o seu corpo,

Prendendo-a através do seu desejo,

Dominando-a, fazendo com que ela perdesse os sentidos,

 

Ela passou um batom vermelho sobre os lábios carnudos,

Beijou a ponta do bilhete para deixar um vestígio

De quem era e o quanto o que sentia por ele era forte,

Pensa que pode perde-lo, suas mãos tremem,

 

Provavelmente, iria lembrar de todas as vezes que o viu,

E entregaria-se a saudade até que pudesse esquecê-lo,

Mas lutaria por seu amor, ela merecia arriscar-se

A chance única de ser sua, para sempre,

Como ela sonhou desde o primeiro instante

Em que se cruzaram, uma lágrima molhou sua face,

 

No bilhete em que rascunhou algumas palavras

Não havia mentira alguma,

Estava tudo resumido em uma única frase,

Talvez seu amor pudesse ser profundo o suficiente

 

Para convence-lo, a se entregar a este sentimento

E trilharem juntos por este caminho desconhecido por ambos,

Será que amar seria suficiente para fazê-lo ficar?

Ela viu um relance de amor em seus olhos não viu?

 

Batalharia por isso até usar sua última munição,

Se o bilhete não fosse o bastante,

Ela vestiria seu melhor vestido e pediria sua mão,

Pareceria antiquado, mas ela ainda lhe levaria flores,

 

Feliz consigo mesma e convencida do quanto o amava,

Deixou o bilhete e ficou a cuida-lo, logo abaixo na esquina,

Viu quando ele chegou e sentiu sua falta,

Suspirou aliviada e se permitiu chorar como nunca,

 

Enxugou as lágrimas com a palma da mão fechada,

E viu quando ele sorriu com suas palavras,

Ele a amava, e isso era o melhor que poderia desejar,

Então, quando ele olhou para os lados a procura-la,

Ela caminhou em sua direção, estava linda,

Sentia-se a melhor e mais sortuda das mulheres, o pertenceria.

Saudade

 

Ela sente-se triste, busca algo que a conforte,

Então senta-se na grama para ver o rio correr,

Se encanta ao ver como ele contorna seus obstáculos,

E segue seu ritmo a procura de perder-se

 

Nas águas salinas e profundas do mar,

Ela pergunta-se por que ele segue este ritmo,

Por que ele nunca desiste de traçar seu caminho,

E uma lágrima quente e salina percorre seu rosto,

 

Ela abaixa a cabeça, não quer que a vejam sofrer,

Seus lábios trêmulos denunciam seu sofrimento,

Um soluço cala a voz em sua garganta,

E uma borboleta vem pousar em seu dedo,

 

Com um olhar desconfiado, ela veste-se de uma força

Que sabe no fundo do seu íntimo, não a possui,

Pelo menos é o que imagina,

Sente-se fraca, insegura, com as pernas bambas,

 

Mas um sorriso secreto se esconde por trás

Dos olhos inchados e atordoados pela dor,

Ela lembra o quanto o ama,

Se apega a isso para mantê-lo perto,

 

Mas algo dentro dela lhe sussurra

Que, talvez, ele possa nunca voltar,

E que para o azar do destino,

Quem sabe ele nunca a tenha amado,

 

Deus sabe o quanto ela desejou esquecê-lo,

Ele sabe quantas preces foram feitas

Em busca de um vestígio de esperança,

Um presságio de que caminho pudesse traçar,

 

Ela anseia com todo o amor que possui

Que isso não seja verdade,

Que ele não tenha abandonado a insignificância

Todos os momentos bonitos que viveram,

 

Ela olha para o seu redor de um modo novo,

Como se nunca tivesse visto nada daquilo,

Abraça o próprio corpo e canta algo como abrigo,

Um sussurro inaudível confessado apenas a si mesma,

 

O ama, não há como esconder tal situação,

Vez que, sente isso a cada batida do seu coração,

Como se ele não pulsasse, apenas pusesse-se

A musicar o nome dele, repetindo-o, repetindo-o, repetindo-o,

 

Sem parar, até que ela o sentisse dentro de si própria,

Como se já não pertencesse a si mesma,

Nada do que encontrava bastava,

Desejava ele, como se disso dependesse sua vida,

 

Em seus ouvidos podia ouvir o eco da sua voz,

A fala que tanto amava, que tanto admirava,

Estava junto a ela de novo, e ela apenas desejou

Que nunca mais se afastasse, o amava muito

 

Precisava dele, será que ele não havia percebido?

O amava como nunca antes havia sentido,

Sentido, que sentido haveria em se apaixonar

Apenas para nunca mais tê-lo de novo?

 

Que sentido haveria em provar seus lábios,

E nunca mais poder ouvir sua voz,

Seu carinho passeando por seu corpo,

Seu abraço apertado, abrigo de todo o resto...

 

Ela pensa em como seria difícil viver sem ele,

Mas as batidas do próprio coração a confortam,

Afinal, ele está nela como o próprio sangue a correr,

É difícil esquecer um amor depois de tê-lo em seu abraço,

 

Desejou apenas cair no sono, saberia que lá poderia encontra-lo,

Mas até isso estava sendo difícil,

Ter que encarar cada amanhecer e saber que ele não estaria,

A feria de morte, morte lenta e pesarosa,

 

Era domingo, fez-se dezembro outra vez,

Ela sabe que neste momento ele está longe,

Mas sente-se grata ao menos o teve por um instante,

Um instante apenas, que guardaria consigo para todo o sempre,

 

Sentiu seu rosto se aquecer de forma estranha,

Então o tocou, só assim, percebeu que chorava,

Desejou pedir ao sol que o recordasse do seu amor,

Mas quando foi sussurrar seu nome... qual era o seu nome mesmo?

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Para Coração

 

A razão lhe dizia aos prantos: proteste,

Mas o coração respondia em cada pulsar

Eu o amo em cada centímetro da minha pele,

E buscava mais lembranças para atormentar,

 

Não bastava amar por uma vida inteira,

Tinha que recordar a cada hora,

E ainda embeber em lágrimas a tardinha

Que caia vagarosa lá fora,

 

Deixa disso coração, por favor esquece,

Como irei lhe dar ouvidos, se você insiste

Em querer reviver este seu amor não correspondido?

As vezes, lhe juro: gostaria de poder ignora-lo,

 

Só por causa de um beijo molhado,

Decidiu entregar-se a um amor inacabado,

Do tipo que quanto mais se vive,

Mais quer tê-lo para todo o sempre?

 

Me recuso a lembrar desses momentos

Que você recorda com a mesma intensidade

A cada instante, como se viver fosse isso,

Estou certo em me recusar a viver de metades,

 

Aquele café da tarde vivido a meses atrás,

Lógico que foi lindo, isso ninguém iria negar,

Mas precisava você querer se apaixonar?

E agora, ainda decide com uma lógica que é só sua,

 

A reviver de momento a momento,

Como se assim a trouxesse para perto,

Esqueça, você não se sente capaz?

Amar quem não te gosta no mínimo é indelicado,

Vai permitir que isso estrague sua vida?

 

Você me ofende, por acaso não percebe isso?

Me recuso a sofrer por um amor não correspondido,

Se esta é sua lógica, saiba que está repreendida,

A razão não lhe assiste a seguir por este caminho,

 

Eu sei que posso estar errado, não o culpo,

Mas procure ser um pouco mais sensato,

Por acaso deve amar alguém mais que a si próprio?

A palavra amor me divide ao meio,

 

E então você pulsa, insensato, insatisfeito,

Mesmo sabendo que ela possa nunca ser sua,

Insiste nesse amor não correspondido?

Suas lágrimas rasgam minha alma,

 

Vertem sangue nos meus atos,

Ouvi-lo me inunda em profunda tristeza,

Que amor é esse que só sabe cobrar sem haver entrega?

Isso não te deixa vazio? Não é por isso que você bate inseguro?

 

Onde há tantas cobranças, buscas, não há amor,

Ela parece competir com você,

Com o único objetivo de extorqui-lo,

Ela usa o calor que vem de você

 

Para se sentir melhor, faz da sua fraqueza

O alicerce para os seus atos,

Precisa de ti para brilhar por não possuir luz própria,

Não percebe que ela está a usá-lo?

 

Você soa feito um menino na busca por este amor

Que só deseja explorá-lo, abusar de você,

Até quando irá permitir isso?

Eu lembro de quando você batia com felicidade,

 

Agora temo ao te ver definhando,

Veja, estou a perder o fôlego,

Minha razão apenas grita: esqueça disso,

Por que você teima em competir comigo?

 

Eu e você não fazemos parte da mesma pessoa?

Por que se dissocia tanto do que eu te digo?

Acha que não o amo, então quem o amaria?

Busca o que te falta em mim e vamos tentar nos fazer completos,

 

Tudo é uma questão de tempo,

Vamos buscar ser felizes juntos?

Não me ignore dessa forma,

Eu o amo e sinto dor a cada vez que chora,

 

Onde há competição, meu amigo,

Você há de convir que, no mínimo,

Algo peque por falta de amor,

E se não é amor porque você insiste nisso?

Neve Lá Fora

 

Sentada sobre a mesa da biblioteca, 

Ela olha a neve caindo lá fora,

Sente uma ponta de saudade que fere a alma,

Trazendo-lhe um brilho de dor ao seu olhar,


Uma lagrima teimosa insiste em lembrar,

De quem partiu para longe de quem jurou amar,

Eventualmente, durante suas noites insones,

Ela ainda sente um arrepio percorrer a pele,


Ele não esta mais ao seu lado,

Mesmo que ela anseie tanto por sua presença, 

A ponto de ver sua imagem refletida na janela,

Por tempo suficiente para que ela toque o vidro gélido, 


E tão logo se forma, desaparece,

Sentia-se fragil demais para esquecer,

Como se aqueles labios contivessem veneno,

Do tipo que se prova uma vez e dura para sempre,


Permanece vivo em cada batimento do seu peito,

Como se a percoresse por dentro,

Preechendo cada espaço, cada vazio,

Fazendo com que seu sonho se recusase ao silêncio gélido, 


Em que a cidade toda dormia,

Tremula temente a neve que caia,

Cada vez que cruzava com seus olhos castanhos,

Era como se um exército marchasse em sua direção, 


Fazendo -a prisioneira daquele tempo que há muito se foi,

Mas que ela ainda guardava vivo em sua memória, 

Ela balança a cabeça como se assim pudesse esquece-lo,

Solitaria realidade, ela o ama com toda a alma,


Levanta a mão esquerda onde repousa seu anel,

Toca a vidro como se sentisse a neve cair,

O anel que ela se deu de presente

No dia em que comemoriam seu aniversario de amor,


Na luz tenue da tarde de inverno,

Ela pensou que ele pudesse ser como aquele rubi falso

Que tão lindamente adornava seu dedo fragil e fino,

Apesar de possuir um brilho significativo,


Como seus olhos tinham sempre que a via,

Guardava dentro de si uma alma impura,

Que a qualquer atrito poderia se estilhaçar,

E feri-la de morte, da mesma forma que a carícia 


Que ele usou para conquista-la,

Penetrando-a paulatinamente, até faze-la sua,

Suave veneno para almas despreparadas, 

Sobre o qual ela assumia o risco,

Mantendo-o preso entre os vãos dos seus dedos,


Um lampejo de amor tocou sua paixão, 

Logo que ela percebeu que diante da claridade, mesmo que da neve,

Seu rudi se escurecia, como se desejasse se esconder,

Trazendo a sua lembrança o quão integro e inteligente ele era,


Jamais se permitiria feri-la, de forma alguma,

Assim, se permitiu acreditar que pudesse estar errada,

Foi aí que percebeu que a neve que gelava lá fora,

Não a tocava, ao contrário, parecia, de certa forma protegê-lá.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Chão Frio

 

O sol se punha sempre no mesmo horário,

Por vários meses, levando consigo suas lembranças,

Era o que ele preferia acreditar,

Porém, a cada cair da tardinha um rosto

 

Parecia se desenhar naquele céu colorido e imenso,

Como se pusesse tudo o que viveram a salvo,

Seguro dentro daquele sonho que sentia,

Mas no frio da primavera de novembro,

 

Uma música há muito esquecida toca no rádio,

Ele para, por um segundo, deseja ouvi-la,

E uma lágrima brota em seu olhar,

Mas se recusa a tocar seu rosto,

 

Apenas fica ali, a espera de que algo aconteça,

Ou quem sabe, desejo profundo dos que amam,

Deseja que aquele sonho de amor ganhe vida,

E ela possa retornar ao seu abraço, a sua alma,

 

De onde, diga-se de passagem,

Ele acreditava com todo o carinho do mundo,

Que ela nunca deveria ter saído,

Aquela sua fuga para bem longe,

 

Nunca pareceu ter sentido em seu peito,

Parecia um pensamento tolo: mas ele a amava e muito,

Por que precisava acabar? Era tudo que ele desejava perguntar,

Sentiu, dentro de si, sua pulsação se acelerar,

 

A cada pulsar seu, uma lágrima, teimosa,

Criava vida dentro do seu olhar e desejava

Traçar um caminho por seu rosto

Até chegar a garganta e ali, calar sua voz,

 

A mesma voz que jurou mil eu te amo,

Agora jazia sem vida implorando por amor,

Ele desejou, afrouxar a gravata,

Mas sentiu as mãos trêmulas,

 

Como se recusassem a seguir ordens,

Até porque, não era isso que estava em sua mente,

Tudo o que ele queria, na verdade, era ela de volta,

Era pedir demais desejar a presença de quem se ama?

 

Sempre soube que algum dia seria julgado por seus pecados,

Mas se amar fosse um erro, ele se recusaria a ser perdoado,

Afastou sua cadeira da mesa do escritório,

Abriu os braços com um grito silencioso,

 

E caiu de joelhos no chão frio: sofrimento,

Foi tudo que sentiu, fechou os olhos,

Não suportava a dor de viver uma vida em falso,

Sem amor, condenada ao fracasso,

 

Como ela pode se recusar a ama-lo?

Simplesmente, sair por aquela porta e nunca mais voltar?

Eles haviam se amado, ou aquilo tudo foi falso?

Nem mesmo suas mensagens ela desejou retornar,

 

Ainda lembrava de quando ela olhou para trás,

Com aquele sorriso que sempre guardava uma certeza,

Retirou a aliança, símbolo de tudo que sentiam,

E a jogou naquele chão frio e escorregadio,

 

E ele caiu, permaneceu imóvel, jogado

Não bastasse dizer que não o amava,

Ainda jogava na cara que nem amizade queria,

Por Deus que o amor não poderia ser tão traiçoeiro,

 

Dizer que amava apenas para prender em seus braços

Fazê-lo prisioneiro de um sentimento sempre sonhado,

E com o sussurro que o conquistou dizer: Não, eu não te quero,

Não ouse sentir nada, porque Eu, Eu não o amo!

 

Que culpa tinha ele de não ter preenchido suas expectativas?

Ele se esforçou, mas não foi o bastante,

Eu me sinto violada, disse ela,

Basta, se afaste, não o amo como antes!

 

Com lágrimas a molhar a face borrada,

Para ser sincera, eu nunca o amei – disse ela,

Com o sol da tardinha de novembro a ilumina-la,

Saiu, bateu a porta e nunca mais quis voltar,

 

Ele pensou em argumentar,

Mas sentiu que não havia o que falar,

O amor não é amor quando se ama sozinho,

Lá onde apenas os lobos eram ouvidos,

 

Ele percebeu que é o amor quem guia seus escolhidos,

Ele sabia que deveria se levantar,

Mas preferiu provar um pouco mais daquele frio acolhedor,

Assim como, também, soube: que apenas o choro poderia aliviar.

Caso de Família

Estava em seu segundo plantão,

Mais um caso dificil de ser resolvido,

Sente um desconforto no coração,

Apesar de entregar-se por completo,

 

As coisas nao conseguem se resolver,

Olha para a pilha de papéis diante de si,

De repente, lembra-se do café que iria beber,

Tentativa futil de aplacar o sono,

 

Sorve um gole, buscando aplacar a fome,

O café já esta frio e enjoativo,

Ignora o fato e o bebe sem esforço,

O ar condicionado faz frio, o ar torna-se pesado,

 

Olha para os seus sapatos disfarçadamente desgastados,

As roupas já estão amarratodas,

Ainda eram quatorze horas denunciava o relógio,

Verificou que havia uma chamada nao atendida no celular,

 

Instante em que, constatou assustado já serem 3 horas da madrugada,

Fazia portanto, três dias que não se alimentava ou dormia,

Na chamada estava expresso família,

Na pilha de papeis a serem resolvidos,

 

Descrevia-se, humanidade,

No aglomerado de leis juntadas ao seu lado,

Descrevia-se: decifra-me se for capaz,

Ou seja, decida-se entre razão e consciência,

 

Aquele aglomerado não passava de papeis em branco,

Onde poucos decidiam o que valeria para muitos,

O papel satisfeito ou não , nada pode dizer sobre isso,

Assim, como a pilha de papeis (Casos) a sua frente,

 

Descritas pela mesma mão humana,

Haviam letras que denunciavam questões sobre pessoas

Que não passariam de letras mortas,

Condenadas aos becos da ignorancia,

 

Caso aquele emaranhado de leis nao fosse reconhecido,

Identificado e posto em efetividade,

Pelas mesmas mãos humanas que o manuseavam,

Identificando seu dever para com a sociedade,

 

Dever moral por ter sido criado em sua condição de humano,

Dever jurídico por ter escolhido sua profissão,

Nunca precisou de uma roupa que o identificasse,

Manuseava a espada do direito porque sentia isso em si mesmo,

 

Caráter o definiria muito mais que a tantos outros,

Regidos por salário, ou mero dever de ofício,

Mesmo sem ter o reconhecimento que merecia,

Manuseava como poucos a balança da justiça,

 

Naquele momento o cansaço o dominava,

Sem saber como, dirigiu-se para a casa,

Ao chegar lá, avistou sua porta arrombada,

Invadiu com um ímpeto e achou sua filha jogada,

 

No chão, rosto pálido: violada!

Perdeu suas forças, lagrimas corriam desajustadas,

Jogou-se nela, carregando-a no colo,

Gritando ao vento: eu a amo, eu a amo,

 

Não se sabe se pela rapidez do vento,

Ou se pela urgencia de suas lagrimas,

Ou por simples merito proprio,

Mas Deus ouviu suas súplicas,

 

E fez a vida retornar ao corpo de sua filha,

Que o abraçou com o pouco de força que tinha

-tentei te ligar pai, você não me ouviste?

-meu Deus, me perdoe, estava no trabalho, absorto!

 

- invadiram nossa casa, feriram o cachorro,

Levaram tudo e ameacaram matar-te caso siga tão justo,

Com este seu comportamento assim tão íntegro!

Ele secou o pranto dos olhos da filha,

 

Foi até a escrivaninha e sacou sua arma,

Aquela que jurou a menina: nunca usaria,

Mas a filha precisava de cuidados,

O restante da família estava em risco,

 

Não poderia agir com descuido,

De forma premeditada, ele amava a todos,

Diante disso, colocou-os, onde imaginou ser melhor:

Estariam a salvos de todo o perigo,

 

Juntou nome a nome, fez sua lista,

Haviam desonrado o nome da família,

Roubado seus bens mais preciosos,

Nao sentiram piedade alguma,

 

Entao, ele também não teria,

Sempre se considerou um homem bom e justo,

Não seria com relação a sua família

Que deixaria de ser, lutou com toda a garra,

 

Morreria pelo que mais presava: fazer o bem,

-Assunto de polícia, pensou com voz trêmula,

Confiar em quem nessa hora de angústia?

Qualquer passo em falso e estaria trucidado,

Sem contar a ninguém,

Ele decide por descumprir a lei,

Uma unica vez,

Sem ainda ter certeza de como proceder,

 

A lista de nomes começa a crescer,

Um caminho de crime se personifica a sua frente,

Descrito naquele papel que jurara proteger,

Mas agora, na virada da 4 noite,

 

Tudo tomava outra forma,

A tinta tem um estranho cheiro de terra,

E o café se escurece feito esgoto,

Sente-se sujo, precisa fazer algo meticuloso,

 

Em seus ouvidos, ainda lembra o choro da sua menina,

Uma recordação paira em sua mente,

Sua mulher encontrada imovel e sem vida,

Por culpa daquele injustificado acidente,

 

O medo faz o suor descer pelo rosto,

Misturando-se com as lágrimas,

Um homem que protegesse a honra da família

Poderia ser perdoado, não poderia?

 

Certamente sua atitude seria comprrendida,

Em razão de um bem maior,

Que seria livrar a sociedade de pessoas,

Mesquinhas, corruptas, e educadas

 

A serem indiferentes, a agirem dentro e conforme a lei,

Mas para que a lei havia sido feita senão para proteger?

A indiferença não seria considerada um crime moral?

Entre a razão, a lei e o discurso o que deveria prevalescer?

 

Olhou para a foto da família guardada na carteira,

Dirigiu -se para o primeiro nome,

Silencioso, sorrateiro: primeiro tiro disparado,

Um corpo sem vida cai por terra,

 

Suas mãos nunca mais estariam limpas,

Estavam sujas de pólvora,

As mãos que dantes cheiraram a tinta,

Agora faziam sua família respirar aliviada,

Naquele instante o cheiro do sangue percorria seu corpo,

E parecia sussurrar aos seus ouvidos: Proximo passo.

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Carta de Amor

 

Ele larga a caneta de tinta preta,

Decide selar a carta com seu timbre,

Naquela instante, nada mais importa,

Apenas quer vê-la, abraça-la, beija-la...

 

Abre sua agenda, mês de julho, declara suavemente,

A razão me assiste ao direito a férias,

Entao, empurra-a para o final da mesa de madeira,

Forma simbólica de dar exclusividade a quem ama,

 

Pega a carta, uma lágrima borra a letra,

Mas nao chega a ferir suas palavras,

Elas se mantém intactas, firmes, resistentes,

Tal qual o amor que sente,

 

Recolhe uma flor do seu arranjo predileto,

E a repousa dentro da carta,

Com um beijo imaginário para lembra-la,

De que, ainda a ama e sente sua falta,

 

Uma vela esta acesa ao seu lado direito,

Fagulha de amor mal resolvido,

Pensa que o papel descrito encontra-se

Demasiadamente branco,

 

Dando a aparência de um amor recente,

Diante disso, passa a carta na chama,

Dando a ela a chance única de desaparecer,

De consumir suas palavras,

O fogo entende isso e se agita,

 

Como se sentisse o mesmo desejo de devorar,

E se esforçasse ao máximo para isso, sem êxito,

Agora a carta encontra-se escurecida,

Com aparência envelhecida,

 

Ofertando o amor que a anos guarda consigo,

Sem encontrar forma para demonstrar,

Fez-se silêncio em seu coração,

Feito um tigre que prepara-se para atacar

 

Traz a carta para mais perto,

Embebendo suas palavras em seu perfume,

Aquele que ele usou para ela a alguns anos,

Sera que ela lembraria de seu amor?

 

Sentia, com todo o seu carinho,

Que seu gesto derreteria qualquer mágoa,

Ou má lembrança que possa ter tentado aplacar

O amor que, ele sabia, os unia no decorrer do tempo,

 

O que mais poderia fazer?

Desejava com toda a alma, ama-la para sempre,

O amor em seu peito gritava faminto,

Sentia necessidade dos seus olhos escuros,

Do carinho do seu toque aveludado,

 

Do sabor dos seus beijos, sedentos em seus lábios,

De sentir aquele abraço apertado onde se sentia restabelecido,

É fim de tarde, não quer voltar para a casa sem te-la,

Passa por um café, sente-se entediado: ele entra,

 

A carta ainda esta no bolso do paletó,

Pediu duas xícaras, olhou para o lado,

Desejou com um piscar de olhos,

Que ela estivesse ali, deitada em seu ombro,

 

Tomou um café, depois o outro,

Em seu coração ainda vê seu rosto,

Linda, sorridente, tranquila, feliz,

Sua paixão responde a esta memória,

 

De um geito que não havia entendido antes,

Precisava ir até ela, estavam separados pela distância

De apenas uma cidade,

Pegou as chaves do carro e guiou-se até lá,

 

Chegou sem aviso, bateu a porta

Chamando seu nome, como sempre sonhou fazer,

Nao esperou mais que minutos,

E ela apareceu linda e alvorocada,

 

-Você? Nossa, como senti sua falta!

Disse ela, em um rompante de felicidade desmedida,

No mesmo instante em que se jogou em seus braços,

Fechando os olhos para receber o beijo de amor.

Busca aos Peixes

Masharey acordou, Subiu na alta cadeira Feita de pneu usados, E cantou alto: - estou no terreiroooo! Em forma de canto. Após iss...