segunda-feira, 21 de abril de 2025

Forever

Domingo de abril,
Dia vinte,
Noite escura,
Eu aqui te busquei.

Quis provar seu beijo,
Dissipar a névoa
De um passado
Onde eu o amei,
E feito ontem,
O esperei.

Então, fique mais tempo comigo,
Me aperte forte em seus braços,
Sinta a sintonia que sinto,
Me tenha e entregue-se a isso.

Faz frio,
E a névoa se assemelha a chuva,
Contorne meu corpo
Com suas mãos,
Me entrega seus carinhos,
Agora eu posso ser sua.

Fui te procurar,
Não houve erro,
Nada do que senti ficou distante,
Você foi minha inspiração,
Hoje é realidade.

É verdade que sai a janela
Para te buscar,
Escrevi eternamente
Em muitas linhas do caderno escolar,
Como eu esqueceria isso?

Mas agora há algo maior,
Me desculpa,
Eu posso, finalmente te beijar,
E tenho duas promessas,
Não esquecer o que senti,
Te amar a rigor.

Os anos consumiram tantas coisas,
Você viveu,
Eu vivi,
Mas a estrada onde andei,
Nos caminhos que te busquei,
Ainda encontro os resquícios,
E isto, meu amor, é bom!

Você foi minha melhor make,
Senti-lo colado ao meu rosto,
Seu calor a escorrer por mim,
É perfeito!

Eu posso falar do passado,
Cruzar antigas ruas,
E desenhar para sempre
Com meu dedo ao vento,
E ainda eu não estarei errada,
Nem darei tempo
Para o arrependimento.

Você foi linda inspiração,
Hoje faz parte da minha vida,
Se quiser,
Porquê meu coração
Palpita seu nome,
E gosta de seus carinhos,
Então, este amor do para sempre,
Ainda não pede o fim,
Nem teria motivos para pedir.

Seu rosto pequeno,
Seu olhar de meigo mistério,
Seus lábios quentes
Ainda são os que preciso,
Deitado em meu ombro,
A sentir meus afagos,
Se aproximar do meu pescoço,
Se aconchegar em meu corpo.

Então, enquanto o for,
Seja meu,
Enquanto durar,
Eu posso ser sua.

domingo, 20 de abril de 2025

A Boneca com Seu Rosto

A menina delicada
Ganhou uma boneca
Com seu rosto de princesa,
O tempo passou,
Tudo mudou.

Hoje, ela acordou,
E não se olhou no espelho,
Buscou sua imagem
No rosto de porcelana
De uma boneca.

Juntou-a de seu roupeiro,
Limpou o vestido roseado,
Lembrou do tempo
Em que tinha uns cor favorita,
Um estilo de ser
E um rapaz a conhecer.

O lindo xeique,
O rapaz alto e magro,
De rosto gentil
E sorriso displicente.
Ela abraçou a boneca,
E lembrou
O tanto que o amou
E esperou.

Depois, afastou a boneca,
Olhou seu rosto lívido,
Cheio de fulgor e volúpia,
Sonhos suplicavam em sua boca.

Ela foi incapaz de contar,
Lindos olhos desenhados,
Abertos e atentos,
Memória perfeita,
Sonhos vívidos ali dentro.

Largou a boneca
Ao lado do celular,
Nem hoje tinha o número do rapaz,
Nem sabia se em seu olhar
Depois de tanto tempo,
Ainda lhe cabia pretensão...

Tirou seu olhar da boneca,
Buscou o espelho,
O que viu assustou-a,
Dos sonhos nos seus olhos,
Restavam marcas profundas,
Num lugar onde tanto houve
Mas nunca saiu nada.

Da imagem daquele que amou
Não restou lembrança inequívoca,
As pálpebras baixas,
Já impediam de olhar
Para tão longe.

Os lábios caídos,
Se antes calaram-se,
Hoje já não tinham forças
Para declarar sentidos contidos,
Os dentes vagos
Na gengiva pulsante,
Não permitiam o melhor sorriso,
Foi-se a boneca,
Com seu rosto resplandecente,
A que ficou,
Está que agora vê-se,
Está chora.

Tentou limpar os espasmos
De sobre o espelho,
Levantar os braços
Se tornou custoso,
Bem certo que sua boneca
Nunca teve mobilidade,
Mas nunca conseguiu menos
Que neste instante
Buscar aquele xeique,
O tal amor adolescente.

A pele já estava cansada
De brigar contra o tempo,
A menor brisa ela sente,
Move-se e não sorri,
Um prestes a desfazer-se...

Os anos não sabem levar sonhos,
Mas sabem todo o resto.
Sentou-se sobre a cama,
Acobertou-se em incertezas.

Então, olhou de volta a boneca
Que guardou um sorriso,
Um brilho amistoso,
Revestiu-se,
E beijou o ar,
Num aceno
Contou a ele:
Ainda o amo!

Páscoa

Hoje é dia comemorativo,
O calendário está
Em letras escarlates,
Os carros trafegaram ontem,
Hoje estamos com quem gostamos,
Onde queremos estar.

Reunimos os amigos,
Chamamos todos
Que podemos,
Abraçamos a família,
Nos permitimos:
Rir tudo que não rimos,
Beber o que não podíamos,
Comer o que não deveríamos,
Por quê,
Amanhã,
Se quisermos nos arrependemos.

Hoje olhamos sorrindo
Para o cachorro da rua,
Que rasga os sacos da lixeira,
Temos sobra de comida,
E damos a ele.

Hoje reconhecemos
O rosto do vizinho
Que se mudou a pouco tempo,
Cumprimentamos os próximos,
Ofertamos um sorriso.
Nos permitimos.

Hoje a esposa usa biquíni,
O marido se permite
Retirar a camiseta,
Deitar na cadeira de descanso,
Beber um suco com gelo.

A esposa escolhe a salada,
O marido prepara a carne,
Os pais se fazem presente,
Os filhos fazem barulho,
Os vizinhos se aproximam.

Por quê, hoje é ressurreição,
Surge o parente que ninguém
Mais vê,
E que termina a festa
Ele some,
De repente, surge a amante,
Quem sabe algum filho perdido.

Ressurge a vontade de cantar
Embriagado,
Mergulhar na piscina,
Andar de barco
E ser chamado de capitão,
Dirigir o navio,
E rir da marinha em guerra
Contra o tubarão.

Hoje não se dá roupa
Ou calçado,
O presente é o chocolate.
Hoje vem o apertado abraço,
O olhar no fundo dos olhos,
Ouvir um ao outro,
Conviver com todos os sonhos,
Hoje é Páscoa,
Felicidades e magias!

Baby Jane Bonequinha

Eu teria esquecido,
Facilmente, me esqueceria,
Não fosse o que houve.
Eu tinha dois anos,
Dormia no meu cestinho
Feito de folha de palmeira trançada,
Era meu aniversário,
Meu pai chegou da cidade
E deixou ao meu lado
Uma boneca.
Uma linda boneca,
Cabelos escuros,
Olhos escuros,
Lábios vermelhos,
Pele acentuada na terra,
Com vestígios de poeira avermelhada.
Ela tinha uma chupeta,
Destas de bebê usar,
Quando se removia ela,
A boneca chorava.
Eu acordei,
Eram quatorze horas da tarde,
Minha pomba entrou
Dentro de casa
Buscando quirela.
Eu acordei,
Vi a boneca,
Me apaixonei,
Levantei,
Dei quirela a pomba,
E me sentei no início da escada.
Logo a boneca chorou,
Ela foi tão incrível
Que em pouco tempo
Eu ouvia sua voz,
Seus pedidos de bebê,
Mais jovem
E frágil que eu.
Então, ela disse:
-sinto frio,
Corte o vestido de noiva,
E me enrole.
Eu o fiz.
Subi na cadeira,
Cai de lá,
Me feri.
“ Só um pouco,
Só um pouco”.
Logo melhorei,
Subi de volta,
Peguei a faca,
Cortei o vestido de noiva,
Aquele que minha mãe
Usou em seu casamento.
Minha mãe chegou,
E indagou perplexa:
- o que houve?
Ela disse, séria.
- o pai me deu.
Eu falei rápida,
Mais pareceu a boneca.
Ela sentou e chorou.
Eu não entendi,
Mas soube que a boneca
Sentia fome,
Então, era isto.
Logo que minha mãe
Entrou em casa preparar
O almoço,
Eu subi na bergamoteira,
Foi simples,
Mas minha boneca disse:
- se você me ama
Caia por mim.
Eu me joguei de lá de cima,
Com as bergamotas
Em minhas mãos.
A árvore era entroncada,
Tinha espinhos do início ao fim,
O tronco era arqueado,
Próximo ao chão.
- eu me feri.
Eu disse a boneca.
Limpando a sujeira da mão.
E entregando a ela
As bergamotas descascadas.
Ela comeu.
Mais tarde,
Ela disse:
- pegue o estilingue do seu primo,
Prepare pedras
E acertei o olho do seu pai,
Ele ficará feliz.
Eu sabia que ela entendia
De felicidade,
Sempre que eu a abraçava,
Sentia seu cheiro bom,
Eu era feliz,
Isto me deixava bem.
Então, eu fiz.
Treinei contra as galinhas,
Joguei contra a pomba
No ninho,
Bem de perto,
Trepada na árvore,
A centímetros de distância,
Ela ficou lá pra sempre,
Os passarinhos bebês voaram,
Sem penas,
Eu atirei contra o gato,
O gato pulou e os pegou.
Foi simples jogar contra minha mãe,
E mais tarde,
Contra meu pai,
Eu me escondi atrás de um tronco
Caído ali ao lado
De outras bergamoteiras,
E joguei muitas pedras contra ele.
Ele me viu,
Veio até eu,
Me pegou no colo,
Me abraçou e disse:
- eu te amo.
Ele estava feliz.
- foi a mãe quem mandou,
Eu disse.
Ele olhou para o lado
De casa,
Não disse nada.
A boneca sorriu.
- olha pai,
Minha boneca sorri.
Eu disse.
Ele olhou para ela
Deitada sobre um lençol
Em frente a outro tronco caído,
De frente para nós.
- claro que não filha,
Bonecas não sorriem.
Então, ele se virou
E me deixou brincando,
Ela piscou um olho.
Depois disso,
Ela falou séria:
- vamos andar de carinho
De rolimã.
Eu disse:
- ótimo.
Peguei com muito custo
O carrinho,
De um metro aproximado,
Sem freios.
Ela disse:
- vamos subir até o topo
Do morro,
De lá de cima
Você se solta no carrinho.
Eu fiz como ela disse.
Cheguei no topo,
Soltei o carrinho
Que puxei empurrando,
Erguendo e levando
Com uma corda de puxar vacas.
Soltei no chão,
Subi em cima
Com a boneca no colo
E me larguei,
Eu corri muito
Sobre aquela tábua de rodas,
Com meus pés sobre
Aquele eixo duro.
Eu voei,
Pedras e galhos voavam
Contra meu rosto
E meu corpo,
E a boneca rua,
Ria, ria,
Sem parar.
Eu parei,
O carro finalmente parou,
Com meu pai correndo atrás,
Todos nós em disparada,
Eu caí no boeiro,
Entre sujeira e galhos,
Lá no fundo
Sobre as pedras.
Ele correu chorando
E me pegou.
A boneca abriu muito
Os lábios eu vi,
Ela se sentiu muito feliz.
Eu chorei,
Chorei muito.
Minha pele se escoriou,
Eu fiquei inteira arranhada,
Eu senti muita dor.
Meu pai me levou no colo
De volta para a casa...
Destas brincadeiras
Minha boneca me ensinou muitas,
Hoje aos quinze anos,
Eu ainda a ouço falar,
E ela tem ideias sensatas,
Parece sempre muito madura.
Agora conseguiu trabalho,
Ela é policial militar,
Ela nunca irá me deixar,
Sempre vai me cuidar
E proteger,
Ela disse que eu dormi
Está noite e sonhei
Com força sobrehumana,
Então, é para eu juntar
Umas folhas da bergamoteira
E isto será meu distintivo,
Pois eu sou outro tipo de polícia,
Depois, quando vier
Aquele ônibus
Nesta estrada sem freios,
É para eu me colocar
Em sua frente
Eco segurar.
Ela é muito forte,
Sabe o que os outros pensam,
Sabe o que acontece lá fora,
E não erra nunca,
Ela sabe de mim
E do quanto eu posso ser forte.
Quinze anos é uma boa idade,
Há treze moramos juntas,
Se eu tiro o biquinho dela
Ela chora como antes,
Ela é minha filha,
E me ama.
Neste dia,
Meu pai trabalhava
Capinando o mato
Atrás de casa,
De repente,
Ele surgiu ali:
- filha, começo a crer
Que sua boneca fale.
Ele disse, sério.
Escorado na enxada.
- sim, pai.
Ela é viva
E tem poderes.
Eu respondi.
Ele disse:
- filha, não existem poderes.
Contudo,
Eu sabia que sim.
A boneca falava,
Adivinhava coisas,
E quando eu ia pra cidade,
Tudo acontecia
Conforme ela dizia.
Então, eu fui ajudar
Aquelas pessoas do ônibus,
E quando ele veio
Correndo feito uma bala,
Jogando pedras pra todos
Os lados,
Eu me coloquei na sua frente.
Então, meu pai correu mais,
Mais que o ônibus,
O que pareceu absurdo
E me tirou de lá.
Bem na hora,
O ônibus não me acertou,
Nem a ele,
Mas, também não parou.
- estava sem freio pai,
Eu sabia,
Eu precisava ajudar.
Então, ele beijou minha cabeça
E chorou.
Abandonou a casa,
Fechou a boneca dentro
E queimou.
De longe,
Eu ouvia o choro da boneca,
Seus gritos e risos.
Sobrou fumaça,
Sobre os escombros
Corroídos pelo fogo
Restou Baby Jane
Com o rosto rachado ao meio,
Um olho fechado,
Os lábios abertos
A chorar,
E o bico queimou
Ao seu lado.
- meu Deus,
Ela vai chorar para sempre?
Indagou meu pai,
Ouvindo-a.
Minha mãe
Segurou no ombro dele.
- e parece se divertir.
Ela respondeu.

sábado, 19 de abril de 2025

Garoto na Estrada

- Para o carro.
Para, para, para.
Agora.
A namorada dizia
Batendo com a mão aberta
No ombro do homem
A seu lado.
- uau, Jorge,
Eu vi um garoto caído ali.
Ela falou alta e estabanada,
Fez um gesto para mostrar
O trajeto do lado do asfalto,
Composto por pequenas arvoretas,
E uma espécie de capim com
Uma flor em formato de vassoura.
Ao virar a mão para mostrar,
Ela jogou cerveja
Contra o vidro do carro
Que estava fechado.
A cerveja espirou em seu rosto,
Molhou sua baby look branca
Na altura dos seios.
Jorge freou no mesmo instante,
Uma freada brusca
Que lhe custou pneus arrastados,
Um rastro atrás de si,
E um cheiro insuportável.
Ele ligou o alerta,
Beijou o queixo de Camomila,
E passou para a sua baby look,
Beijando-a ternamente.
Depois pegou a cerveja da mão dela,
Saiu para fora do carro,
Retirou os sinais de alerta
De dentro do porta malas
E os colocou no chão.
Ela saiu do carro,
Recostou-se no porta malas aberto,
Com uma perna sobre o carro,
Na altura abaixo da portinhola.
- nossa,
Eu fiquei assustada.
Há um garoto caído
Logo ali atrás.
Ela disse.
- Camomila, eu cuido de você.
Ele respondeu,
Escorou seu corpo no dela,
 Beijando-a ternamente
Contra o carro.
- eu amo o seu jeito meigo
De se importar com o bem-estar
De todo mundo.
Ele disse,
Abraçou sua cintura,
Beijou seu queixo.
- me apaixonei por está garota.
Então, deu um selinho
Sobre seus lábios e afastou-se.
Segurando sua mão.
- Vamos ver Jorge,
Talvez, possamos ajudar.
Então, foram os dois,
Caminhando a passos lentos
Na beira do asfalto.
- Ai, ai, ai.
Ouvia-se gemidos.
Na verdade se assemelhava
A sonoros, rosnados, grunhidos,
Espasmos de dor terrível.
Logo, avistaram um garoto,
Seu rosto e corpo estavam dilacerados,
Estava com aspecto vermelho,
Com sulcos de sangue,
Carne se soltando do corpo.
- Allah, você está vivo?
Gritou Jorge assustado,
Com o rosto negro lívido
De susto.
- o que houve com você?
Indagou camomila
Levando suas tranças para trás
Da orelha,
Com os lábios avermelhados
Trêmulos e inseguros.
Eles olharam para todos
Os lados antes de aproximar-se,
Então, ergueram os passos
E saíram do asfalto
Para pisar naquele capim,
Cuidadosos com medo de aranhas
E cobras.
Nisto um grilo voou do chão
E pulou na perna de Camomila
Que gritou de medo.
- ah.
Um grito estridente
Que teria alcançado
Quilômetros de distância.
Jorge virou-se
E matou o bicho com um tapa.
Depois, levantou a chaves do carro
E apertou o botão do alarme,
Travou tudo.
O garoto mexeu-se, levemente,
A parte da perna esquerda
Antes do joelho se deslocou,
Ele não tinha a mão direita,
Um olho parecia ter caído,
Os lábios vertiam sangue.
- eu estou morto?
Ele indagou sôfrego
Em meio a tanta dor.
- Garoto, você está vivo,
Mas está mal.
Jorge disse.
Depois correu até ele,
E segurou seu pulso.
- rapaz, você perdeu uma mão?
Ele pediu,
Olhando aquele braço sem a mão.
Camomila se abaixou.
Tomou um gole da cerveja.
- garoto, você está mal,
Caso contrário,
Eu te ofereceria a cerveja.
Ela disse.
Tremendo de medo,
Agachada ao lado do garoto.
Depois virou-se para Jorge
E o beijou.
Apertou sua cintura.
Agarrou-se a sua camiseta
Como se fosse um mantra da sorte,
Algo inquebrável,
Que a protegeria de tudo.
E este tudo,
Ela não soube imaginar
O que era.
- você se acidentou?
Cadê seu carro?
Jorge pediu.
- você consegue se mexer?
Camomila indagou.
- Cara, tentaram me obrigar
A entrar em um carro,
Eu não quis,
Eles me empurraram de qualquer jeito,
Eu tentei fugir e me enrolei
No cinto de segurança,
Eles andaram cinco quadras comigo
Lá pendurado
Enquanto exigiam dinheiro
Do meu pai para me soltar....
Ai, ai, ai.
Eu vou morrer de dor.
Eles se irritaram por eu não
Conseguir me soltar,
Eles entraram numa loja
De ferragens,
Compraram cordas,
Cortaram o cinto de segurança
Onde eu estava,
Me amarraram na corda,
Enrolado no cinto,
Me puxaram,
Me puxaram,
Me puxaram.
Eu morri.
Eu só lembro de doer,
Doer minha cabeça,
Doer,
Doer minha coluna,
Eu fechei os olhos,
Eu acho,
Eu morri...
O garoto contava,
Lágrimas escorriam de seus olhos,
Sus boca tremia,
Os dentes estavam quebrados,
Sangravam no queixo pontudinho.
- eu só ouvia gritos e risos,
Eles diziam dinheiro,
Dinheiro, dinheiro.
Meu pai gritava e chorava,
Eles pediram mais e mais,
Prometiam que iriam
Me soltar,
Juravam que iriam me ajudar,
Diziam que eu era viado,
Me chamavam de “ze ruela “,
“cu de Biba”,
“coca uva”, “rosinha”.
Ele soluçou de dor,
Seu peito mal arfava.
-disseram pro meu pai
Que eu era drogado,
Eu ouvi,
Eu não pude falar...
Ele pegou na camisa de Jorge
Abriu os olhos,
Um deles estava muito ferido.
- eu tive medo,
Medo!
Você entende?
Ele perguntou.
Ele tentou se impulsionar
Não teve forças,
Gemeu de dor.
Sua pele estava em sangue,
A roupa foi consumida pelo
Asfalto.
- garoto,
Quem são eles?
Será que eles estão perto?
Jorge indagou muito assustado.
- não sei,
Me jogaram aqui,
Cortaram a corda,
Colocaram droga no meu bolso...
Eu não uso...
Eu juro...
Acredite em mim...
Eu não uso...
O garoto dizia em pânico.
Tentava tocar em Jorge,
Depois em Camomila.
- Garoto, acreditamos em você.
Você mora longe?
Camomila indagou.
- nós vamos te levar daqui.
Jorge disse,
Então agachou-se
Juntou o garoto,
E o levou até o carro.
- você sabe seu nome?
Lembra quem você é?
Ele indagou.
Soltou o garoto no banco traseiro,
Tirou os sinais de alerta
Guardou no porta malas
E entraram no carro.
- a cerveja esquentou, amor.
Disse Camomila.
Tomando todo o conteúdo
Em dois grandes goles.
Depois, ela pegou a sacola
Da Sadia,
De guardar gelados no gelo,
E juntou outra cerveja.
Abriu com o abridor,
E bebeu.
- amor, tenho vontade de me
Embriagar,
Eu sinto medo,
Medo terrível,
Sinto pavor.
Ela disse
Alcançando a cerveja a Jorge.
Ele bebeu meia garrafa
Sem remover da boca.
Olhou para trás e disse.
- vamos embora!
Ligou o carro e foi.
Lá atrás,
Próximo de onde estava
O garoto,
Ficou sua carteira caída.

Baby - comporte-se!

O que houve
Com a Baby?
Se os vizinhos não sabem,
Não chamem a polícia,
Peçam as vozes,
As vozes sabem.

Foi o depoimento
De uma empregada
Doméstica,
Cuidadora de crianças,
Desesperada,
Ao chegar a passos longos,
Guarda-chuva armado,
Toda de negro,
Um chapéu fosco na cabeça,
Botas nos pés,
Meias de lã negra comprida,
Saia abobadada,
Casaco abobadado,
Seios arfantes,
Uma gota de suor no pescoço,
Vestígios de chuva no pescoço.

Ela tirou as botas no início da escada,
Colocou-as para dentro,
Atrás da porta,
Levantou o rosto
E embasbacou-se:
A boneca de Baby
Estava pendurada
Na grade de madeira
Do corretor do quarto,
Uma cadeira no chão da sala,
Logo abaixo,
Embaixo da cadeira sangue empoçado,
Sobre a cadeira Baby?

Um grito saiu
De seu peito arfante,
Um botão abriu-se
Deixando a mostra
O top negro de lã
Que usava.

Sua barriga arquejante
Parecia que iria explodir,
Então, puxou os botões
Do casaco abobadado
Estilo apertado no início,
Aberto e armado no final,
Deixou o casaco cair
E vesti-la feito um vestido.

- ahhhhh.
Foi o grito oco,
Que fez eco dentro da casa
E não obteve resposta,
Bolas de jogar bolitas
Desciam pela escada,
De todas as cores,
Milhões delas espalhadas.

Ela soltou o guarda-chuva
Aberto no chão
E correu.
Chegou próximo a cadeira
E não restou dúvidas
Era Baby,
Sangrante e emudecida.

Ela juntou a menina
Nós braços,
Abriu sua boca com
Uma das mãos,
Buscou por sua voz
Não houve nenhuma,
Gritou e chorou.
- Baby.

O vestido branco
De bolinhas vermelhas
Se misturava ao sangue
Da criança,
Que mantinham seus olhos
Negros abertos e vítreos,
Cílios compridos
Jogados sobre eles
Como um lenço bonito,
Mãos geladas,
Peito parado,
Corpo gelado.

- está morta,
Baby, está morta!
Ela gritou,
Saiu para fora
Com a menina no colo,
Abriu a porta,
Foi até a chuva,
Gritou alto:
- me devolva Baby!

Um cachorro latiu
Num vizinho próximo,
Uma vizinha bateu a janela
De madeira ao abrir
Com força,
Olhou espantada,
Levou as mãos aos lábios,
Calada.

Um cachorro do vizinho oposto,
Chegou correndo até o portão,
Latiu forte e pulou contra o portão,
Com toda força.
O portão rangia,
E estremecia,
Ele quase alcançava
Para pular por cima,
O cadeado deixava
Um buraco onde um portão
Se encontrava com o outro,
Enquanto o cachorro se jogava,
Porém, não ainda não conseguia
Entrar.

Ela emudeceu com Baby
Nos braços,
O cachorro babou.
Agachou-se no solo
E jogou-se algumas vezes,
Depois se cansou e saiu.

Outra vizinha saiu a porta
Do lado esquerdo,
De onde surgiu o cão,
Ela ficou no início da escada,
Uma escada alta e escura,
Abriu a boca vendo a menina
Inerte e não disse nada.

A empregada retornou
Com a menina nos braços,
A porta fechou-se atrás dela
Alta e sonora.
- Baby, Baby, você morreu?

Ela indagou olhando
O rosto simples e sereno
Escuro da menina radiante
Que calou-se num instante
Para sempre.

Contemplou seus lábios negrinhos
Fechados e imóveis,
Percebeu que nunca mais
Iriam dizer nada,
Nem ao menos sorrir
Pelos cômodos da casa,
Seus dentes frágeis
E bem cuidados,
Escondidos para sempre.

Nem um estímulo a traria,
Nem um grito seria ouvido,
Nem uma carícia sentida,
Nem o adeus compreendido.
Baby,
A linda Baby se foi.

Nisto,
Ouve-se um barulho
Horrível de portão a abrir-se,
E latidos altos e nervosos,
Os portões bateram-se
Contra as trepadeiras fortes demais.

Um estrondo
E um cão surge a porta,
Se jogando contra ela,
Latindo e raivoso.
Ela se voltou e chaveou.
Olhou ainda a criança
Molhada de chuva e sangue,
E chorou.

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Na Rede

Sim,
O rapaz da rede?
Ele me ligou,
Eu atendi.

Pra eu foi amor,
Pra ele eu nem sei,
Questão de tempo,
Conhecimento um do outro.

Eu sou simples,
Confio nas pessoas,
Troco confidências,
Acredito no que falam,
Mesmo os que dizem pouco.

Eu acredito.
Pra eu é nova experiência,
Pra ele, talvez, consequência.

Eu deixei a rede,
Por um momento apenas,
Parece que não fui bastante,
Ele me bloqueou,
Agora não o vejo,
Ou posso falar com ele.

Me sinto mal,
Eu me acostumei a vê-lo,
Isto é coisa preocupante,
Talvez, 
Ele arrependa-se,
Quem sabe?

Sim, eu expus minha alma,
E a quarto fechado,
Entre quatro paredes
Tirei a roupa,
Se você me ver nua,
Não ignore,
Eu estou na rede!

Sessão Tia

- você está sendo diagnosticada Por transtorno bipolar. Disse o psiquiatra, Olhando para o rosto De Adora enquanto Batia...