sábado, 19 de abril de 2025

Baby - comporte-se!

O que houve
Com a Baby?
Se os vizinhos não sabem,
Não chamem a polícia,
Peçam as vozes,
As vozes sabem.

Foi o depoimento
De uma empregada
Doméstica,
Cuidadora de crianças,
Desesperada,
Ao chegar a passos longos,
Guarda-chuva armado,
Toda de negro,
Um chapéu fosco na cabeça,
Botas nos pés,
Meias de lã negra comprida,
Saia abobadada,
Casaco abobadado,
Seios arfantes,
Uma gota de suor no pescoço,
Vestígios de chuva no pescoço.

Ela tirou as botas no início da escada,
Colocou-as para dentro,
Atrás da porta,
Levantou o rosto
E embasbacou-se:
A boneca de Baby
Estava pendurada
Na grade de madeira
Do corretor do quarto,
Uma cadeira no chão da sala,
Logo abaixo,
Embaixo da cadeira sangue empoçado,
Sobre a cadeira Baby?

Um grito saiu
De seu peito arfante,
Um botão abriu-se
Deixando a mostra
O top negro de lã
Que usava.

Sua barriga arquejante
Parecia que iria explodir,
Então, puxou os botões
Do casaco abobadado
Estilo apertado no início,
Aberto e armado no final,
Deixou o casaco cair
E vesti-la feito um vestido.

- ahhhhh.
Foi o grito oco,
Que fez eco dentro da casa
E não obteve resposta,
Bolas de jogar bolitas
Desciam pela escada,
De todas as cores,
Milhões delas espalhadas.

Ela soltou o guarda-chuva
Aberto no chão
E correu.
Chegou próximo a cadeira
E não restou dúvidas
Era Baby,
Sangrante e emudecida.

Ela juntou a menina
Nós braços,
Abriu sua boca com
Uma das mãos,
Buscou por sua voz
Não houve nenhuma,
Gritou e chorou.
- Baby.

O vestido branco
De bolinhas vermelhas
Se misturava ao sangue
Da criança,
Que mantinham seus olhos
Negros abertos e vítreos,
Cílios compridos
Jogados sobre eles
Como um lenço bonito,
Mãos geladas,
Peito parado,
Corpo gelado.

- está morta,
Baby, está morta!
Ela gritou,
Saiu para fora
Com a menina no colo,
Abriu a porta,
Foi até a chuva,
Gritou alto:
- me devolva Baby!

Um cachorro latiu
Num vizinho próximo,
Uma vizinha bateu a janela
De madeira ao abrir
Com força,
Olhou espantada,
Levou as mãos aos lábios,
Calada.

Um cachorro do vizinho oposto,
Chegou correndo até o portão,
Latiu forte e pulou contra o portão,
Com toda força.
O portão rangia,
E estremecia,
Ele quase alcançava
Para pular por cima,
O cadeado deixava
Um buraco onde um portão
Se encontrava com o outro,
Enquanto o cachorro se jogava,
Porém, não ainda não conseguia
Entrar.

Ela emudeceu com Baby
Nos braços,
O cachorro babou.
Agachou-se no solo
E jogou-se algumas vezes,
Depois se cansou e saiu.

Outra vizinha saiu a porta
Do lado esquerdo,
De onde surgiu o cão,
Ela ficou no início da escada,
Uma escada alta e escura,
Abriu a boca vendo a menina
Inerte e não disse nada.

A empregada retornou
Com a menina nos braços,
A porta fechou-se atrás dela
Alta e sonora.
- Baby, Baby, você morreu?

Ela indagou olhando
O rosto simples e sereno
Escuro da menina radiante
Que calou-se num instante
Para sempre.

Contemplou seus lábios negrinhos
Fechados e imóveis,
Percebeu que nunca mais
Iriam dizer nada,
Nem ao menos sorrir
Pelos cômodos da casa,
Seus dentes frágeis
E bem cuidados,
Escondidos para sempre.

Nem um estímulo a traria,
Nem um grito seria ouvido,
Nem uma carícia sentida,
Nem o adeus compreendido.
Baby,
A linda Baby se foi.

Nisto,
Ouve-se um barulho
Horrível de portão a abrir-se,
E latidos altos e nervosos,
Os portões bateram-se
Contra as trepadeiras fortes demais.

Um estrondo
E um cão surge a porta,
Se jogando contra ela,
Latindo e raivoso.
Ela se voltou e chaveou.
Olhou ainda a criança
Molhada de chuva e sangue,
E chorou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Mulato- encontro com o passado

Apeou do cavalo Em frente a antiga varanda, Agora com caibros Para o alto, Grade de madeira a apodrecer Devido a chuva Qu...