A menina delicada
Ganhou uma boneca
Com seu rosto de princesa,
O tempo passou,
Tudo mudou.
Hoje, ela acordou,
E não se olhou no espelho,
Buscou sua imagem
No rosto de porcelana
De uma boneca.
Juntou-a de seu roupeiro,
Limpou o vestido roseado,
Lembrou do tempo
Em que tinha uns cor favorita,
Um estilo de ser
E um rapaz a conhecer.
O lindo xeique,
O rapaz alto e magro,
De rosto gentil
E sorriso displicente.
Ela abraçou a boneca,
E lembrou
O tanto que o amou
E esperou.
Depois, afastou a boneca,
Olhou seu rosto lívido,
Cheio de fulgor e volúpia,
Sonhos suplicavam em sua boca.
Ela foi incapaz de contar,
Lindos olhos desenhados,
Abertos e atentos,
Memória perfeita,
Sonhos vívidos ali dentro.
Largou a boneca
Ao lado do celular,
Nem hoje tinha o número do rapaz,
Nem sabia se em seu olhar
Depois de tanto tempo,
Ainda lhe cabia pretensão...
Tirou seu olhar da boneca,
Buscou o espelho,
O que viu assustou-a,
Dos sonhos nos seus olhos,
Restavam marcas profundas,
Num lugar onde tanto houve
Mas nunca saiu nada.
Da imagem daquele que amou
Não restou lembrança inequívoca,
As pálpebras baixas,
Já impediam de olhar
Para tão longe.
Os lábios caídos,
Se antes calaram-se,
Hoje já não tinham forças
Para declarar sentidos contidos,
Os dentes vagos
Na gengiva pulsante,
Não permitiam o melhor sorriso,
Foi-se a boneca,
Com seu rosto resplandecente,
A que ficou,
Está que agora vê-se,
Está chora.
Tentou limpar os espasmos
De sobre o espelho,
Levantar os braços
Se tornou custoso,
Bem certo que sua boneca
Nunca teve mobilidade,
Mas nunca conseguiu menos
Que neste instante
Buscar aquele xeique,
O tal amor adolescente.
A pele já estava cansada
De brigar contra o tempo,
A menor brisa ela sente,
Move-se e não sorri,
Um prestes a desfazer-se...
Os anos não sabem levar sonhos,
Mas sabem todo o resto.
Sentou-se sobre a cama,
Acobertou-se em incertezas.
Então, olhou de volta a boneca
Que guardou um sorriso,
Um brilho amistoso,
Revestiu-se,
E beijou o ar,
Num aceno
Contou a ele:
Ainda o amo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário