- Para o carro.
Para, para, para.
Agora.
A namorada dizia
Batendo com a mão aberta
No ombro do homem
A seu lado.
- uau, Jorge,
Eu vi um garoto caído ali.
Ela falou alta e estabanada,
Fez um gesto para mostrar
O trajeto do lado do asfalto,
Composto por pequenas arvoretas,
E uma espécie de capim com
Uma flor em formato de vassoura.
Ao virar a mão para mostrar,
Ela jogou cerveja
Contra o vidro do carro
Que estava fechado.
A cerveja espirou em seu rosto,
Molhou sua baby look branca
Na altura dos seios.
Jorge freou no mesmo instante,
Uma freada brusca
Que lhe custou pneus arrastados,
Um rastro atrás de si,
E um cheiro insuportável.
Ele ligou o alerta,
Beijou o queixo de Camomila,
E passou para a sua baby look,
Beijando-a ternamente.
Depois pegou a cerveja da mão dela,
Saiu para fora do carro,
Retirou os sinais de alerta
De dentro do porta malas
E os colocou no chão.
Ela saiu do carro,
Recostou-se no porta malas aberto,
Com uma perna sobre o carro,
Na altura abaixo da portinhola.
- nossa,
Eu fiquei assustada.
Há um garoto caído
Logo ali atrás.
Ela disse.
- Camomila, eu cuido de você.
Ele respondeu,
Escorou seu corpo no dela,
Beijando-a ternamente
Contra o carro.
- eu amo o seu jeito meigo
De se importar com o bem-estar
De todo mundo.
Ele disse,
Abraçou sua cintura,
Beijou seu queixo.
- me apaixonei por está garota.
Então, deu um selinho
Sobre seus lábios e afastou-se.
Segurando sua mão.
- Vamos ver Jorge,
Talvez, possamos ajudar.
Então, foram os dois,
Caminhando a passos lentos
Na beira do asfalto.
- Ai, ai, ai.
Ouvia-se gemidos.
Na verdade se assemelhava
A sonoros, rosnados, grunhidos,
Espasmos de dor terrível.
Logo, avistaram um garoto,
Seu rosto e corpo estavam dilacerados,
Estava com aspecto vermelho,
Com sulcos de sangue,
Carne se soltando do corpo.
- Allah, você está vivo?
Gritou Jorge assustado,
Com o rosto negro lívido
De susto.
- o que houve com você?
Indagou camomila
Levando suas tranças para trás
Da orelha,
Com os lábios avermelhados
Trêmulos e inseguros.
Eles olharam para todos
Os lados antes de aproximar-se,
Então, ergueram os passos
E saíram do asfalto
Para pisar naquele capim,
Cuidadosos com medo de aranhas
E cobras.
Nisto um grilo voou do chão
E pulou na perna de Camomila
Que gritou de medo.
- ah.
Um grito estridente
Que teria alcançado
Quilômetros de distância.
Jorge virou-se
E matou o bicho com um tapa.
Depois, levantou a chaves do carro
E apertou o botão do alarme,
Travou tudo.
O garoto mexeu-se, levemente,
A parte da perna esquerda
Antes do joelho se deslocou,
Ele não tinha a mão direita,
Um olho parecia ter caído,
Os lábios vertiam sangue.
- eu estou morto?
Ele indagou sôfrego
Em meio a tanta dor.
- Garoto, você está vivo,
Mas está mal.
Jorge disse.
Depois correu até ele,
E segurou seu pulso.
- rapaz, você perdeu uma mão?
Ele pediu,
Olhando aquele braço sem a mão.
Camomila se abaixou.
Tomou um gole da cerveja.
- garoto, você está mal,
Caso contrário,
Eu te ofereceria a cerveja.
Ela disse.
Tremendo de medo,
Agachada ao lado do garoto.
Depois virou-se para Jorge
E o beijou.
Apertou sua cintura.
Agarrou-se a sua camiseta
Como se fosse um mantra da sorte,
Algo inquebrável,
Que a protegeria de tudo.
E este tudo,
Ela não soube imaginar
O que era.
- você se acidentou?
Cadê seu carro?
Jorge pediu.
- você consegue se mexer?
Camomila indagou.
- Cara, tentaram me obrigar
A entrar em um carro,
Eu não quis,
Eles me empurraram de qualquer jeito,
Eu tentei fugir e me enrolei
No cinto de segurança,
Eles andaram cinco quadras comigo
Lá pendurado
Enquanto exigiam dinheiro
Do meu pai para me soltar....
Ai, ai, ai.
Eu vou morrer de dor.
Eles se irritaram por eu não
Conseguir me soltar,
Eles entraram numa loja
De ferragens,
Compraram cordas,
Cortaram o cinto de segurança
Onde eu estava,
Me amarraram na corda,
Enrolado no cinto,
Me puxaram,
Me puxaram,
Me puxaram.
Eu morri.
Eu só lembro de doer,
Doer minha cabeça,
Doer,
Doer minha coluna,
Eu fechei os olhos,
Eu acho,
Eu morri...
O garoto contava,
Lágrimas escorriam de seus olhos,
Sus boca tremia,
Os dentes estavam quebrados,
Sangravam no queixo pontudinho.
- eu só ouvia gritos e risos,
Eles diziam dinheiro,
Dinheiro, dinheiro.
Meu pai gritava e chorava,
Eles pediram mais e mais,
Prometiam que iriam
Me soltar,
Juravam que iriam me ajudar,
Diziam que eu era viado,
Me chamavam de “ze ruela “,
“cu de Biba”,
“coca uva”, “rosinha”.
Ele soluçou de dor,
Seu peito mal arfava.
-disseram pro meu pai
Que eu era drogado,
Eu ouvi,
Eu não pude falar...
Ele pegou na camisa de Jorge
Abriu os olhos,
Um deles estava muito ferido.
- eu tive medo,
Medo!
Você entende?
Ele perguntou.
Ele tentou se impulsionar
Não teve forças,
Gemeu de dor.
Sua pele estava em sangue,
A roupa foi consumida pelo
Asfalto.
- garoto,
Quem são eles?
Será que eles estão perto?
Jorge indagou muito assustado.
- não sei,
Me jogaram aqui,
Cortaram a corda,
Colocaram droga no meu bolso...
Eu não uso...
Eu juro...
Acredite em mim...
Eu não uso...
O garoto dizia em pânico.
Tentava tocar em Jorge,
Depois em Camomila.
- Garoto, acreditamos em você.
Você mora longe?
Camomila indagou.
- nós vamos te levar daqui.
Jorge disse,
Então agachou-se
Juntou o garoto,
E o levou até o carro.
- você sabe seu nome?
Lembra quem você é?
Ele indagou.
Soltou o garoto no banco traseiro,
Tirou os sinais de alerta
Guardou no porta malas
E entraram no carro.
- a cerveja esquentou, amor.
Disse Camomila.
Tomando todo o conteúdo
Em dois grandes goles.
Depois, ela pegou a sacola
Da Sadia,
De guardar gelados no gelo,
E juntou outra cerveja.
Abriu com o abridor,
E bebeu.
- amor, tenho vontade de me
Embriagar,
Eu sinto medo,
Medo terrível,
Sinto pavor.
Ela disse
Alcançando a cerveja a Jorge.
Ele bebeu meia garrafa
Sem remover da boca.
Olhou para trás e disse.
- vamos embora!
Ligou o carro e foi.
Lá atrás,
Próximo de onde estava
O garoto,
Ficou sua carteira caída.
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