Todo abraço é ato de entrega,
Ela não traiu o que sentia.
Saudade, dor e lágrimas,
Mas por poucos segundos se permitia.
Provava o cheiro, sabor e alegria,
Sentidos por muito esquecidos.
Não por proibição ou ousadia,
Apenas porque havia, um dia, perdido.
Resulta disso o desejo e a entrega,
Desejo de mudar ou retornar,
Entrega a dor que mantém distância.
Não se mostra longe de um olhar,
Recusa de seguir a rua distorcida,
Íngreme e perigosa.
O orgulho é força destrutiva.
Mas a dor de perder é pior ainda.
Ela pode levar a ruína e leva.
Ela pode destruir até o porvir da vida
Solidão profunda de uma estrada vazia,
Beco sem saída com muros altos e bem feitos,
Braços cansados não podem subi-los,
Mãos cansadas já não tem mais está força.
Contudo,
Como ele e apenas ele pode ver,
Braços e mãos se curam,
Nisto também o coração que parou lá atrás segue.
É possível vencer,
Sim, ele torna possível o olhar lá adiante,
Sobre seus ombros,
Através do calor de seu abraço,
Por único instante pude olhar para frente,
E perceber.
Conscientizo-me de que há ali uma rua,
E que eu posso dirigir através dela,
Ele diz: - sim, você veio por ela.
Eu embasbaco e sorrio,
-como você sabe disso se eu mesma não sabia?
Ele entende tudo em silêncio.
O silêncio do seu olhar é tumultuado.
Há tanto dentro dele e tão profundo.
Existe nele um homem e eu ainda não havia visto isso.
Acesso a minha vida por completo.
Decisão do coração.
Fuga e disfarce.
Inocência constrangida em ver o que desconhece.
A virtude se permuta na voz,
A glória se evidência num rosto.
Como ele não há outro.
Guardo comigo o que busco.
Traços e características desconhecidas,
O verdadeiro pintor do tempo as demonstra,
Vejo um retrato guardado me abraçar,
Um imaginário de tempos perdidos se manifestar,
Atrás de homens honestos fogem-se os moços,
Um homem moço comigo abraçado.
Vigiado e o suspeito.
Será que ele sabe disso?
Que há de mais lindo que a busca manifesta?
O tempo construindo em outro,
Nada entende,
Nada finge.
Coisa estranha.
Apaixona-se do nada!
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