Ele sempre dizia que a amava da mesma forma,
Seguia seu ritual firmemente calculado,
Mandava-lhe flores na hora certa,
Não esquecia sequer um único aniversário,
Porém, ela sentia que faltava algo entre eles,
Ela seguia seu ritual de mulher madura,
Marcava hora no salão, cuidava da pele,
Arrumava os cabelos, fazia as unhas,
Mas havia algo que a afastava dele,
Algo que ela não conseguia evitar ou entender,
Cada vez que conversavam as palavras falhavam,
O diálogo era monótono, não acrescentava,
Ele parecia não a ver realmente,
Ela havia se cansado de todas as suas manias,
Das roupas espalhadas pelo chão,
Da toalha molhada sobre a cama,
Da sua mania de querer resfriar por onde andava,
Como se tivesse uma necessidade de mantê-la
Sempre protegida, pendurada em seus braços,
Dependente de cada um dos seus passos,
Desde a primeira noite em que passaram juntos,
Ele sempre a fazia dormir abraçada a ele,
Como uma dependência de tê-la por perto,
Ela entendia sua mania por proteção,
Mas as vezes, isso parecia atordoa-la,
Desviar o foco, tirar sua atenção,
Certa vez, tarde da noite, enquanto ele dormia,
Ela sentou-se silenciosa sobre a cama macia,
E pensou sobre o quanto ele a amava de forma até, desmedida,
Mas ela ainda não dominava o que sentia,
Somente em seus mais belos sonhos,
Ele parecia o homem ideal para se passar os anos,
Ela não sabia se estava preparada para viver tudo isso,
Sentia seus anseios, medos infantis sempre retornando,
Como se nunca tivessem partido,
Ela desejava conversar com ele sobre isso,
Mas não conseguia se expor, a insegurança calava a sua voz
Antes mesmo que ela encontrasse as palavras certas para
falar algo,
O medo a dominava, a calava, e ela se permitia ser
conduzida,
Aceitava sem pensar tudo que ele a propunha,
Tinha todos os seus desejos ao próprio alcance,
Mas não sentia dentro dela que isso era suficiente,
Havia algo nela que estava muito errado,
Um sentimento de vazio que a consumia por dentro,
Quanto mais ela tentava escapar deste sentimento,
Mais se via consumida por este estranho lamento,
As vezes, parecia que ele notava algo errado,
Mas ela sempre respondia de forma evasiva,
Sentia-se atordoada ao ver o velho medo retornando,
Mas quanto mais fugia mais se via perdida,
Parecia-lhe que realmente não havia saída alguma,
Como poderia contar a ele seus mais profundos segredos?
Será que ele a entenderia, será que a aceitaria assim mesmo?
Ela não era perfeita, fazia questão de repetir isso,
Mas sentia que ele a enaltecia, que a via de uma forma
sobre-humana,
Que ela temia, na parte mais profunda de si mesma,
Não ser capaz de atingir suas expectativas,
Quando se indagava sobre ser feliz ou não,
Ela sabia que a resposta era positiva, assim lhe ditava o
coração,
Lembrou-se ela que, certo dia, ele procurou um beijo em seus
lábios,
E ela desviou com uma desatenção calculada,
Ele pareceu não perceber, então a acariciou no rosto,
E a fez olhar no fundo dos seus olhos,
Ela sorriu com lágrimas no olhar diante de tanto amor,
Mas ainda assim, quando ele a abraçou com esmero,
Ela, apesar do esforço, não achou que sentia o mesmo,
Seus segredos estavam colocando obstáculos em seus sonhos,
Ela sentia que o amava profundamente, porém,
Não se via segura para abrir-se com ele,
Ela dormia em seus braços com um sonho recorrente,
Amava-o o máximo que podia apenas porque parecia ser
O que ele desejava dela, não porque realmente o sentisse,
Havia algo gritante de errado, algo que não se encaixava,
Ainda na cama, ela virou-se para o lado e enterneceu-se ao
contempla-lo ressonar,
Seu rosto era lindo, tranquilo, parecia sorrir para ela,
Fez um carinho nele, abaixou-se e tocou de forma suave sua boca.