sábado, 12 de dezembro de 2020

Um Cigarro, Por Favor?

 

Ele colocou um disco antigo na vitrola,

Serviu um drinque puro acompanhado de gelo,

Sentou-se em sua poltrona preferida,

Com uma perna estendida e a outra erguida sobre ela,

 

De uma forma absorta e livre,

Afinal, estava em sua casa,

Ali, podia agir como lhe conviesse,

Mas aquela música ousava falar de amor,

 

E um rosto pairava sobre ele como uma miragem,

Nunca acreditou que amaria algum dia,

Mas, admitia com um pingo de desconfiança,

Um dia encontraria alguém para amar por toda vida,

 

Mas sobre aquela moça, não sentia vontade de procura-la,

Apenas sua voz soava tremula aos ouvidos,

Feito um gemido de felicidade incontida,

Mas ele não chegava a acreditar que fosse isso,

 

Acendeu um cigarro, admirou-se ao notar os dedos trêmulos,

Tragou até sentir a fumaça dentro de si,

Até sentir-se absorvido por aquela sensação,

Até que seus nervos sentissem-se um pouco melhor,

 

Fazia desenhos com a fumaça enquanto ela subia até o teto,

Admirava a forma como parecia domina-la,

Pensava que, assim o faria sempre em sua vida,

Mas quando tratava-se daquela moça ele perdia sua força,

 

Perdia a pose de quem controlava tudo ao seu redor,

E as coisas recusavam-se a fazer sentido,

Eventualmente, uma lágrima trazia luz aos seus olhos,

Mas ele escondia-a dentro da penumbra do quarto,

 

Com o tempo, o escuro se tornou sua melhor companhia,

Seu drinque estava gelado, trazia um gosto bom,

Ele sentia-se tonto, entregava-se a sensação de contentamento,

Mesmo que fosse por pouco tempo, sentia-se tranquilo,

 

Repensava consigo todos os seus compromissos,

Que o esperavam logo que a noite terminasse,

E prendia-se ao trabalho como uma boa forma de se viver,

Algumas vezes, ele acreditava que pudesse reviver

Aquele sentimento que acreditou sentir nela,

Mas outrora, ele acreditava que aquilo fosse uma espécie de vício,

 

Uma necessidade por sentir-se comprometido com algo,

Algo muito distante do que denominaria desejo,

Absorvido por um caminho diferente de tudo que havia vivido,

Eu te amo, ele repetiu aos seus ouvidos,

Mas, acreditava em seu íntimo, que nunca chegara a sentir isso,

 

Ele queria alguém com quem compartilhar seus momentos,

Alguém com quem pudesse falar dos seus sonhos,

Mas quanto a amar realmente, ele se recusava,

Para que iria se entregar dessa forma?

 

Tudo que via nas outras pessoas não passava de felicidade passageira,

Nada comparado as suas músicas, seu drinque, seu cigarro,

Sentia-se mais absorvido, mais completo de alguma forma,

As pessoas tinham o costume de quererem manipula-lo,

 

Agora, estava protegido disso, seguro em seus aposentos,

Tudo estava meticulosamente organizado conforme sua vontade,

Mas os beijos daquela moça o pegavam pelo braço,

E desejavam conduzi-lo para algum lugar, ao longe,

 

Olhou sua forma diante do espelho,

Percebeu o quanto ele era atraente,

Não merecia portar-se feito um escravo,

A mercê dos desejos de uma mulher insolente,

 

Frágil demais aos seus compromissos,

Destituída de sentimentos profundos,

Ele não se entregaria a este amor egoísta,

Em que só dava ser receber nada em troca,

 

Ascendeu outro cigarro, as horas passavam o sono não vinha,

Sentia-se tolo por tentar enganar-se nessa medida,

Aquela moça se entregou a ele, era verdade, porém cobrou preço alto,

Prostituição era o nome próprio, ele pagou não apenas com o dinheiro,

 

Sujou o corpo quando a tocou, a alma por trair a si mesmo,

Como fora capaz de se permitir a algo assim tão profano?

Não era amor o que encontrou nela, aquilo tinha outro nome,

Carência, falta de amor próprio, falta de valorizar a si mesmo,

 

Perda completa e desmedida da sua dignidade,

Se ele tivesse se dado um mínimo de valor,

Jamais teria tentado conquistar com dinheiro,

O que só se alcança através de sentimento,

 

Sentia-se usado, como uma marionete nas mãos

De quem era acostumada a usurpar tudo que tocava,

Sorte sua ter protegido o seu coração,

Mas seus jogos ainda o prendiam, precisava se livrar,

 

Como foi ardilosa ao lhe prometer amor,

Sabendo o quanto ansiava por isso,

Chegou a chorar quando decidiu dar fim naquilo,

Um choro falso feito uma aranha a prendê-lo,

 

Chegou até mesmo a chantageá-lo,

Não havia limites para o seu comportamento,

Como foi falsa, traiçoeira, ao entregar-se a qualquer um por trocados,

Ele havia errado, agora tentava apagar seu passado.

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