Em parte, porque não conseguira esquecer seu abraço,
Ela estava em férias no trabalho, pegou as chaves do carro,
Aproveitou a brisa fresca do sol poente, olhos no futuro
E dirigiu-se até ele, é certo que a três dias haviam
brigado,
Mas a dois dias, ela estava irreparável e irremediavelmente,
Tomada por algo que a fez arrepender-se, saudade,
Ela definira no final daquela tarde, mas pouco importava o
nome,
Isso é que era o fato, havia bloqueado o seu número,
Então chegaria sem avisar, no auge da discussão também
Apagara as conversas, mas o que importava agora, era estar
de volta,
De volta a cidade de onde não deveria ter saído, de volta a
quem amava,
Comemorar o início de algo de não deveria ter acabado,
E atrasar o relógio para dar início a um ano que havia
começado para todos,
Menos para eles, dizem que a cor da roupa reflete os
desejos,
Ela preferiu usar a cor branca, sozinha, pois tudo de que
precisava
Já havia alcançado e queira Deus, não tivesse perdido, pois
no calor da hora,
Eles disseram tudo um ao outro, menos o eu te amo que quis,
em um ímpeto
De ousadia e dor profunda refletir em seus olhos, mas ela
soube fecha-los
Na hora certa, soube baixar a cabeça em sua frente, virar-se
de costas
E sair, sem esquecer de bater a porta atrás de si, não forte
o suficiente
Que demonstrasse um resquício de raiva, mas nem tão fraca
como se
Simplesmente a encostasse, em indiferença forçada,
soletrando: tudo bem,
Nem me importo, ela se importava sim, de forma simplória a
tudo que sentia,
Mas eficiente para sair em evasiva, para esquivar-se de tudo
que havia,
Sem entender bem por quê, ela precisou disso, certo, tudo
bem, ela entendia sim,
Ele havia sido grotesco, gritou, xingou, ainda a pegou pelo braço
Forçando um abraço que naquele instante, ela não queria,
detestava sua mania
De manipular, de forjar situações, por Deus: será que ele
achava que iria dominá-la?
Parou o carro na estrada, saiu para fora, olhou a tardinha
cair a sua frente,
Logo a noite chegaria com seu manto e tudo o mais ficaria
diferente,
As pessoas passavam por ela, inertes a tudo que se passava
com ela,
Tudo acontecia lá fora, mas não havia nada dentro dela?
Rostos sem vida, outros felizes e ela ali, sozinha... só ela
sabia o encanto do seu sorriso,
Mas também tinha consciência do quanto seus dentes eram
afiados,
O quanto sua voz melodiosa sabia conquistar, mas as vezes,
preferia a distância,
Pensou nele, ligou o celular, desbloqueou o seu número,
Que ela não havia apagado, pensou que pudesse ter sido
furtiva com ele,
O celular que encurtava distâncias também criava espaços
E talvez, ela pudesse ter caído em um desses vãos e agora
não conseguisse sair,
O tráfego estava intenso, mas ela estava inerte a isso,
Intenso mesmos estavam os sentimentos a explodir dentro
dela,
Tudo que ela não podia controlar agora a fitava de frente,
E ela poderia resumir a imagem refletida na tela do seu
celular,
A primeira vista, era o rosto dela, em segunda ordem seus
cães,
Em terceira vista, eles dois, abraçados, unidos e felizes,
Talvez, a ordem das coisas estivesse invertida,
Talvez ela nem devesse ter saído daquela forma que agora
Se apresentava insensata, mas quem poderia controlar ou
controlar-se?
Sabia que o amava a cada acorde que ouvia da sua voz,
Em conversas familiares aos seus ouvidos, sentia que ele
fazia pouco,
Sentia que precisava de mais esforços por parte dele,
Mas também, tinha certeza que o amava, ele era desejoso,
Deixava tudo para depois, abandonava as coisas ao acaso,
Gostava de acumular coisas, mas enquanto isso se desfazia do
mais importante,
O mato cresce rápido em caminhos que não são percorridos,
Mas nos arredores das casas dos vadios, também,
E isso abre espaço para que estranhos adentrem e tomem
partida,
Meio que a contragosto, ela clicou em seu número,
“Alô, eu te amo, eu estava errada”, ela disse, com voz
monótona,
“Eu errei em algum momento, sei disso, gostaria de me
desculpar,
Será que aí onde você mora ainda há um lugar para mim ficar,
Eu estou de chegada e não tenho aonde pernoitar,
Ainda é cedo, então pensei que estivesse em tempo para
ficar”,
Ele sorriu e disse: “Você? Não esperava que me ligasse,
Estou com amigos aqui em casa, mas há um quarto vago,
Está um pouco sujo, desajeitado, muito diferente daquele
Em que um dia você fez morada, mas sim filha, pode ficar”.