sábado, 2 de janeiro de 2021

Dormir de Conchinha

 

Eu ficaria a noite toda acordado cuidando dela,

A vida toda ficaria velando o seu sono,

Se eu conseguisse, pois, vê-la segura em meu abraço,

É minha realização, é onde deposito minhas esperanças,

A protejo do real, do imaginário, de tudo que for necessário,

Pois a amo de uma maneira única, que nenhuma outra mereceria,

 

Senti-la repousar em meu braço é o que me faz homem,

Vê-la dormir serena é tudo que sempre imaginei fazer,

Desde a primeira vez que a vi, me faz tocar o céu

Ouvir ela sussurrar no meu ouvido que ama meu cheiro masculino,

De homem, seu protetor; os instantes em que em seus sonhos

Vejo ela me procurar, ressonando, buscando meu cheiro, meu carinho,

Me faz completo, me faz realizado, me faz inteiro,

 

Eu chego a pensar que durmo muito mais do que gostaria,

Preferiria passar insone a noite toda, a contempla-la,

Ela acorda pela madrugada, suspira, se encosta em mim,

Me procura, se ampara e me pede para dormir,

Unidos como um só corpo, nos sinto flutuar,

 

Uma noite as 3:15 da manhã, ela ressonou, procurou meu cheiro

E não me encontrou, eu havia ido ao banheiro,

Ouço ela soluçar assustada, triste, magoada, volto correndo,

E vejo que ela ainda nem abriu os olhos, apenas sentiu minha falta,

Deito e abraço-a com todo o meu amor e vejo que não há nada maior que isso,

Às vezes, ela acorda, me pede água e eu busco para ela,

Me satisfaz como homem ver ela saciada, feliz, contente comigo,

 

Não medimos esforços para realizar um ao outro,

Ela odeia dormir sem mim, e gosta de deixar isso bem claro,

A cada vez que acorda pela madrugada enroscando os pés às escuras,

A procura de água, do banheiro, do que for que seja,

E eu também, não durmo sem ela do lado, gostamos de ser assim,

Quando se ama não há nada pior do que deixar seu bem mais valioso,-

 

A pessoa que amamos, sozinha-, ainda mais conhecendo seus medos estranhos,

Nós pertencemos um ao outro, nos completamos, nos realizamos, isso é tudo,

É claro que antes de nos conhecermos dormimos sozinhos, isso é obvio,

Mas a partir do momento em que juramos cuidar um do outro,

Cumprimos isso à risca, mesmo se nos custasse a própria vida,

Nós não sabemos ao certo se acreditamos ou não em vidas passadas ou futuras,

 

Por isso nos dedicamos com integridade ao presente, simplesmente vivemos,

Nós adoramos escrever um para o outro o quanto nos amamos,

Fazemos todos os tipos de declarações, até aquelas bizarras, adoramos os sorrisos roubados,

Estes que surgem do nada e que, quando estamos sozinhos gostamos de recordar,

Só para rir mais um pouco, feito dois bobos, aquelas gargalhadas que fazem doer a barriga,

Ela adora se esconder pelas paredes e sussurrar ao meu ouvido:

 

Um amor para a vida toda ou um beijo roubado?

Os dois, respondo e a seguro em meus braços, isso é absolutamente maravilhoso,

Esta declaração pode parecer um tanto quanto bajuladora,

Mas é a realidade expressa pelas mãos de quem muito ama,

E que é profundamente amado também, me sinto seguro quanto a isso,

Não admitimos fofocas um sobre o outro, nem paira mentira sobre os nossos atos,

 

Somo unidos, íntegros, o amor em sua forma íntegra é o que nos une,

Não são ideias, relatos, nem nada, unicamente amor,

Os outros se importando ou não, essa é a verdade,

Nossos planos pertencem a nós dois, nossas vitórias são nossas,

Cobrar algo dela iria parecer chantagem, em nosso relacionamento

Nós nos doamos, nos entregamos de forma espontânea,

 

Se é possível estabelecer um preço para as coisas como o amor ou a vida,

Eu diria que é saber viver, se entregar de maneira profunda,

Respeitar, acreditar um no outro, evitar evasivas, construir-se através do diálogo,

Ver ela chorar, me fere muito mais que a mim mesmo,

Me ferir ataca a ela mais que o cometimento de um crime bárbaro,

Estupro ou pânico são aversões que ninguém poderia medir,

 

São coisas que ferem o corpo e machucam a alma, e quem é que poderia

Calcular um preço a algo nojento desta magnitude,

Qual seria a pena justa para quem rasga a pele e dilacera a alma de alguém?

Imagine a amplitude desta aversão quando ocorre contra quem se ama?

Isso são questões que entrego para as senhoras que gostam de tricotar,

Quanto a nós, nos amamos profundamente, respeitamos a realidade

Um do outro, cuidamos dos nossos machucados, entregamo-nos,

 

Sempre que possível seguramos a mão um do outro,

Seja em um passeio, na cama ou o que for, gostamos de demonstrar presença,

Gostamos da segurança de estar juntos, de simplesmente amarmo-nos,

Isso são questões que a sociedade precisa considerar,

Negar-se a ver o que a moral, a lei, a ordem, os bons costumes, ou seja, o que for

Jogam nas nossas caras no nosso dia a dia não deveria passar despercebido,

 

Sempre vejo a vizinha trocando farpas com a outra do lado,

Falando da vida alheia, mas comentamos eu e meu amor,

Quem é que cuida dos desafortunados expostos as agressões de todo tipo?

Há quem relate que um crime em que se ceifa a vida de uma pessoa por dinheiro

É mais cruel que certas formas de terrorismo ou o estupro,

De fato, o direito à vida deve prevalecer, mas, e quando nos furtam o direito de viver?

 

Condenando a perambular sobre a terra feito corpos errantes, violados,

Condenados ao silêncio devido ao medo, a vergonha do julgamento,

De enfrentar, admitir: sim, fui estuprado, sim fui ferido e isso dói,

Vou depor, me expor, mexer com uma faca invisível as feridas dilaceradas,

Transcorrido o tempo do processo, serei chamado ao tribunal,

Cutucar com uma lâmina afiada as feridas que já pareciam cicatrizadas,

Que Deus me ajude para que pelo menos eu não tenha que aturar de novo,

 

A cara do agressor ou da agressora, sim, porque eu sujeito homem,

Também padeço, e sou suscetível a cair no vão do estupro,

E para mim, ter que falar, talvez doa mais ainda,

Eu sou homem e tentaram tirar meu direito de sê-lo,

Sobrou o que de tudo que fui, ignoraram meu pênis, fui sufocado,

 

Me feriram com agressões, me jogaram no chão, e ficaram sobre mim,

Me seguraram com uma única mão sobre o meu peito,

Desejaram silenciar o amor que eu poderia sentir algum dia?

Me socaram por trás, no fundo, me ignoraram, sou nada e agora?

Os músculos dos quais me orgulho, não me ajudaram, falharam na hora H,

Eu não poderia gritar, poderia? Doeu e ainda dói, mas falar agora?

 

Será que quem irá me ouvir saberá dar vazão ao que eu sinto?

Será que entenderia a amplitude do que eu vivi, ali sozinho...

E se minhas palavras falharem e eu chorar na frente de todos,

Estarei preparado para expor o que me foi retirado à força?

Terei que passar por um corpo de delito? Irão me tocar de novo, e agora?

De novo me sinto homem, mas agora condenado aos próprios medos,

Encarcerado sem chave de saída por dentro, dentro?

 

Sofri uma ereção instantânea, poderia ter resultado em um filho,

Agora sou um assassino? O que sobrou do que eu era?

Minha voz masculina, grave, agora está rouca em soluços,

De vítima a agressor, de agredido a silenciado

...um passo não percorrido, carência de lógica, razão, sentido,

 

O que estariam a procurar? O que estariam a tirar de mim, se não a vida?

Me fizeram parecer fraco, me condenaram a poeira da terra suja,

Sujaram meus lábios agora sou um pecador? Um predador?

Ainda posso sentir aquele peso sobre as minhas costas,

Me esforcei, tentei empurrar para longe, mas nada...

Acordo suado, enfraquecido, ela me abraça, está ao meu lado,

Eu te amo, sou eu meu amor, ela fala com suavidade,

Não tenha medo, foi apenas um pesadelo... choro colado em seu peito, seguro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Plantação de Pêra e Maracujá

Os pais de Pitelmario Fizeram uma linda plantação, Araram o campo, Jogaram adubo, Molharam a terra, Então, plantaram pêras...