De olhos fechados para o amor e abertos para o futuro,
Parecia ser a atitude ideal para seguir seus objetivos,
Desenhar um destino diferente daquele desajeitado,
Aquele qual, alguns seguem e ao final arrependem-se,
Pondo a culpa em desígnios ocultos e erros indesejados,
Olhos fechados para um plano que foque em um futuro
planejado,
Vivem apenas o hoje como se não houvesse um dia após o
outro,
Uma pessoa pode passar a vida toda vivendo de qualquer
forma,
Sem refletir sobre o destino em que acredita para si mesma,
Acreditar estar feliz sem colocar medida para as
consequências,
E ao final, venha o que vier tem a pesar sobre si duas
alternativas,
A primeira é ser feliz com o que alcançou, está é a mais
adequada,
O problema circunda a segunda: martirizar-se pelo caminho
escolhido,
Acreditar que os frutos do vizinho são melhores ou mais saborosos,
Que o destino foi mais benéfico com relação aos planos do
outro,
Essa é uma coisa temida sobre a qual deveria ser repensada,
Cravar uma estaca sobre o peito funciona bem nos filmes românticos,
Estagnar o amor como se ele não existisse e viver a esmo
É a alternativa mais adequada para aqueles filmes com final
feliz,
Aquele em que o mocinho sempre salva a princesa a qualquer
custo,
Aquele em que o rapaz não engravida a mocinha e a abandona,
Não à força a viver uma vida indesejada a fazer nada que não
queira,
Aquele em que eles se olham à primeira vista e passam o
filme inteiro
A conquistar o amor um do outro, uma espécie de competição
Para ver quem é mais capaz de conquistar o cobiçado coração,
Lá a mocinha nunca é feia e o rapaz nunca é o conquistado,
Apenas ao homem é dado o direito de se apaixonar ao primeiro
olhar,
Para depois seguir todo o roteiro com destino ao amor do
primeiro capítulo,
A moça sempre se faz de difícil, mas não trata-se de um
joguinho,
É o roteiro escrito desde os primórdios e que funciona até
hoje nas telas,
O homem sempre enfrenta os maiores problemas, sempre é o
mais bonito,
Sempre precisa cumprir com o rigor de masculinidade forjada,
O definem como dominador, o bom atirador, o bom nos punhos,
O bom em o que for, nunca pode ser a moça a conquistar,
A morrer no fim da trama, é como se toda a textura
discorrida
Valesse chegar ao final para ganhar o cobiçado beijo da
moça,
Nunca nenhum apaixonado desiste no percurso,
Ou desvia-se para o lado definido como malfeitor,
Nem mesmo a moça decide nunca ser conquistada,
Mas alguém realmente acha que é possível viver sem amor?
Ela encolheu os ombros, ergueu os olhos e seguiu o caminho,
Tinha algumas esquinas a percorrer até chegar ao trabalho,
Gostava de caminhar um pouco para ver o tráfego,
Por isso, deixou o carro um pouco antes do destino desejado,
Havia comprado saltos novos, sentia vontade de mostra-los,
Se tem uma coisa a qual foi feita para a mulher forte,
É o salto alto vermelho, o que cai bem com a minissaia
preta,
Aquele que apenas as chefes podem usar sem serem
recriminadas,
Com o qual poucas conseguem se estabilizar em um caminho
longo,
Ou posicionar sobre os pedais de um carro esportivo,
Seguir a passos bem definidos, segura por seu corpo esbelto,
Consciente de ser alvo de todos os olhares cobiçosos,
Segura por desejar algo maior de que ser apenas mais um
corpo,
Dizem que um diploma pendurado na parede não faz diferença,
Mas para ela sempre fez, a colocou no status que ela
desejava,
A fez alcançar o emprego que desejou para si mesma,
A líder de si mesma e de muitas pessoas ao seu redor,
Não se considerava uma pessoa que seguia padrões definidos,
Embora, não fugisse deles por completo, não estava arredia
do mundo,
Pequenos percalços na calçada mal feita riscavam o salto,
Mas ela os ignorava e seguia seu rumo,
Gostava de sentir o vento sobre os seus cabelos lisos,
De perceber por si própria que mesmo tendo passado longe dos
trinta,
Ainda era tão encantadora aos olhos de todos como outrora,
Conquanto não desejava ser alvo de cobiça, também não o
repelia,
Apenas preferia reagir de forma distinta, mantendo a
cautela,
Um sorriso, um olhar ou um gesto educado era o que
alcançavam dela,
E quem desejasse ser algo mais teria que esforçar-se,
Apesar de manter certa distância ela não fugia de ser romântica,
Apenas não se considerava uma pessoa fácil de ser
conquistada,
Mas, com um sorriso resplandecente ao sol da manhã de
outono,
Dispersa sob a brisa do frescor dos frutos a conquistar seu
olfato,
Uma fisgada na barriga a levou para baixo, com uma dor
aguda,
Dois dias, nesta mesma hora, ela usava uma minissaia branca,
Logo que seu cabelo cobriu o rosto na metade do caminho,
Um vestígio de sangue molhou a saia, estava menstruada,
Sentiu um rubor tomar a face, e três gotas de suor percorrer
o rosto,
Levantou os olhos, colocou o cabelo atrás da orelha,
Mordeu o lábio, viu que um rapaz a olhava um pouco a frente,
no caminho,
Respondeu com um sorriso tímido, o rapaz enrubesceu mais que
ela,
Reconheceu o problema, com um aceno pediu que ela ficasse
onde estava,
Ele resolveria o problema, ela permitiu ao cabelo cair sobre
o rosto,
Sentiu alguns fios grudarem nos lábios molhados, enrubesceu
distraída,
Realmente há momentos em que o destino nos põe em uma
encruzilhada,
Se ela havia se colocado em uma encrenca por esquecer o
absorvente,
Imagina a situação em que se colocaria o rapaz por ir compra-lo,
Logo, os homens que sempre se colocam em posição prepotente,
Pensou ela, com um sorriso entre o inseguro e o comovido,
Imaginou em sua cabeça a cena se construindo a sua frente,
O rapaz entrando na farmácia escolhendo algo sem conhecer,
Sem nem ao menos saber qual era a sua preferência,
Ela baixou o olhar para a minissaia branca,
Tentava imaginar o que se desenrolaria,
Uma gargalhada solta saiu da sua boca... algo mudou dentro
dela.