Assim se criam as raízes do amor,
Primeiro um olhar,
Depois um afago em segredo,
E por fim, vê-se em um sonho bom,
O amor, quase sempre padrasto da saudade,
Vem de mãos dadas com ela e não se apieda,
Algumas vezes, ele é pai também,
Instante em que tudo dá certo na alma.
A privação do beijo gera poder a saudade,
Ela se acomoda ao lado do amor e toma forma,
O amor alimenta sua altivez,
Vive de pranto aquela que não quer esquecer.
Desde o primeiro olhar não deixaria de sonhar,
Mesmo que o afago não estivesse para acontecer,
No entanto, na saudade os sonhos é que vão embora,
Partem para lugar distante com aquele que se ama,
Até que vive-se de espera: esperar ele voltar,
Esperar, enfim, esquecer,
Então, chega o dia tão esperado
E já não se sabe mais se esquecer é mesmo o remédio,
O amor, enraizado na alma, lá ainda resiste,
Que fazer?
Como continuava a viver de sonhar,
Vestia a noite de saudade,
E o dia de esperar a volta daquele que é amado,
Até que entra no santuário da alma,
Lá não há o que temer ou esperar,
Mas, enraizado lá dentro, não há fuga;
E então, compreende ela o destino de amar,
Certamente não é temer o terreno escorregadio
Ou calcular as chances de cair em ruína;
Como são destruídos, de repente,
Os sonhos daqueles repletos de pavor,
São como um abrir de olhos assim que se acorda,
Deixa-se na noite os sonhos de uma cama desfeita,
Quando ela levanta-se,
O próprio acordar faz com que o sonho se desfaça,
Quando um coração é tomado por amargura,
Até o íntimo é afetado pela inveja,
Quer-se voltar ao passado a todo custo,
Reviver o que se viveu sem prestar contas,
"Agi, disse ela, dessa forma e não de outra,
Contudo, sempre estou contigo,
Mesmo quando o sentia distante,
E pensava: acaso, estás em outro abrigo?"
Ainda assim o tomava em seus braços,
Com o mesmo afeto e respeito lhe acalmava o ânimo,
Ainda agora, toma a sua mão direita e a sustém,
Pensa no que sente e o dirige um conselho,
O abriga em seu peito antes mesmo de obter resposta,
Mas, tomada apenas pela saudade,
Isso lhe ganha o pensamento e ainda assim, com quanta honra!