quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Esquecido

Condenado a bastilha,
Grades de ferro
Pesam a sua frente
E ao redor,
Cadeados por chaves
Que não pretendem abrir.
Esquecido.
Até virar carne podre,
Perdido lá embaixo,
Num subterrâneo,
Onde nada entra,
Ou sai.
Esquecido.
Sobre sua cabeça pedras,
As vezes,
Sorte grande.
Pior é o esquecer.
Silêncio triste
De paz profunda,
Você dentre os vivos
Não iria querer,
A movimentada e ruidosa vida
Vê -se abandonada
Até o apodrecer.
Ali formigas gritam de dor,
Mas a alma aguenta,
E geme seu silêncio,
Pedras ferem,
E morte silenciosa
Parece mais honrosa,
Bem,
Some-se a isto,
Que o tempo,
A dor,
E o abandono
Roubam as forças.
Dor ou penitência,
Querer de si próprio
Ou simples condena,
Um recluso,
Esquecido,
Atormentado pelo silêncio,
Sozinho,
Num buraco obscuro,
Olhos fracos,
Lábios vazios.
De joelhos
Neste espaço frio
Qualquer ser humano reza,
Me recuso.
Prefiro ser diferente,
Mas lá de cima
Não consigo saber
Se eles sabem disso,
Mas com certeza,
Num futuro
Me verão,
E não estarei de joelhos
Ou mãos juntas.
O esquecido
Aprende a ignorar.
Devoto a lamentação
Enquanto houver vida,
Lamento.
Horrível cela,
Intermédio de cova fresca,
Falta aqui o lugar em que deitar
E a terra para cobertura,
Nem direito a céu,
Apenas o escuro.
Esquecido.
Uma lamparina é consumida
Aos poucos,
Um sopro de voz nela,
Nenhum em meus lábios,
Sua luz logo se apagara,
 Não haverá esforço,
Desfalecera sozinha,
Não me importo.
Não sou mais que uma alma
Presa a um corpo
Este corpo sofre
A alma está livre,
Aqui não sou tocado,
Apenas o abandono,
Nenhum esforço,
Poucos medos.
Nada que santifique o sacrifício.
Só o ódio.
Pelo buraco do teto
Posso sentir o cheiro,
A comida é servida.
Novo dia se aproxima.
Não me sinto refém de vontades,
Não cedo a fome.
Esquecido.

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Calcula!

Então, chegou mensagem,

Meses hein?

Você voltou,

De saudade a saudade,

Retornou.

Não me contou o que fez,

Eu não pedi ambages.

 

Quanto tempo,

Eu nem lembro!

Eu segui o trabalho,

Vivo de beijo a beijo,

Esqueci de você por completo.

Então, abro a mensagem e o vejo.

 

Respondo.

Claro,

No começo sou raivosa,

Não escondo,

Não é por rancor,

É efúgio.

Você chega todo educado.

Tudo certo.

Perdoado.

 

Em outubro,

Dia 01,

Eu acho.

A noite chega cedo.

As ruas estão escuras

Quando você se despe

De príncipe

E abandona o Palácio.

 

Fico feliz por a noite ter caído,

Imaginar você tirar o sapato,

Calçar botas de barro,

Mas logo inicia mesmo papo,

Conversa antiga,

Teor melodioso,

Dispendioso,

Amparativo.

 

O que você me pede

Está além do meu alcance,

Já foi repetido tanto

O desenlace

Do que você fala,

Eu escuto e lhe respondo,

Que imagino que você sabia

Ou então descobriu,

Eu não tinha mesmo

Tal poderio.

E você,

De repente,

Não tinha outra desculpa

Para usar de conversa.

 

Ok.

Podíamos falar da lua,

Do sol, da terra e outras coisas,

Mas você prefere falar de emprego,

Da dificuldade de encontra-lo,

Do prazer de exercer função,

Receber salário,

Ser independente,

Me diz que é bom com os números,

A cada salário,

Sabe bem o que fazer,

Nisto combinamos.

Ok.

As vezes, eu extrapolo gastos,

Preciso realmente de um amparo,

Você entra e resolve,

Cálculo e cálculo.

Ok.

 

Cidades distantes,

Coisa chata de se viver,

Vamos calcular quilômetros,

Números considerados em gastos,

Perfeito.

De repente, a parcela de um terreno,

O sonho de ter nosso filho.

Ótimo.

Você é lindo.

Perfeito.

Bom nos números.

Então, calcula nossa chance juntos.


terça-feira, 1 de outubro de 2024

Seu Idiota

Eu sei.
Não te interessa!
Estive folgando,
Relendo páginas
Esquecidas,
Evitadas.
Fechadas.
Abri-as.
Eu abri aquele livro
Que lembrou nossa primeira vez,
Trouxe a minha memória,
Sobre o quanto eu notei
Que você não sentia nada,
O quanto eu parecia esperta
E entre quatro paredes
Não fui nada.
Desprotegida.
Desabrigada.
Foi difícil falar de amor
Nua entre suas mãos.
Eu quis me esquivar,
Correr daquele lugar,
Fugir para longe,
Até de seus olhar,
Suas frases,
Suas histórias.
Você me enganou bem.
Tudo que disse e fez,
Foi o bastante para tirar minha roupa,
E meter,
Meter em mim sua presença,
Seu sobrenome estúpido,
Sua família idiota.
Você.
Desnuda,
Pensei que não havia saída,
Tive que convence-lo
A sentar-se ao meu lado,
De seios farfalhantes,
Coração a mil,
E aqueles seus dentes
A mostra e tão perto,
Perto demais da gente,
Sua mão buscou minha perna.
Não bastava me ver,
Não conseguia se conter.
Seu calor
Parecia me tocar
E enjoar cada parte.
Seu cheiro possessivo
Tomou conta do lugar,
Eu tive que dizer eu te amo.
Esconder o ódio,
Ignorar rancor.
Tivemos que conviver.
Obrigação recíproca,
Você forçado a me dar prazer,
Eu aturar o seu derreter.
Foi horrível o peso de sua mão
Sobre meu corpo,
Meus ossos frágeis ao seu dispor.
Eu fui fraca,
Ingênua.
Não soube dizer não.
Entrego tudo isto a vergonha
E tudo que você fez
Nunca foi o bastante.
Me obrigou a conviver
Eu te obrigo a saber:
Você não é suficiente.
Não sabe dar prazer,
Eu ainda,
Mesmo após tanto tempo,
Sinto nojo de você!
Aquilo que você tirou
Não foi virgindade,
Eu não sou troféu,
Foi apenas sua máscara,
Entenda,
Ela caiu
E hoje todos te reconhecem.

Sua

Mas o gesto dele foi o bastante,
Com voz serena,
Fez as promessas,
Seus carinhos seguros
Foram o bastante,
De alfinete a alfinete,
Deixou-a: ombros e peitos nus.
A mostra.
A seu dispor.
Num único movimento
Perdeu a inocência,
Não se via mais menina,
O rubor e vergonha impediam-na.
Não.
Em tudo que ensaiou,
Em tudo que aprendeu
Não foi capaz...
Reconhecer,
Afastar,
Proteger-se.
Estar segura.
-Eu te amo, diz como voz rouca.
Ele ri, seguro de si.
Poucas horas.
E outra puritana,
Linda moça em sua cama.
Mais um nome a desonra!
-Marta, é isso?
-Não, querido. Márcia...
Ela diz doce e serena.
Toca seu rosto com amor.
-que fascínio, tê-lo.
Tanto esperei por este momento!
-Ah, querida.
Que importa um nome?
Eu tanto a busquei,
A segui, procurei.
Enfim, a sós.
Finalmente, um do outro.
Nisto um nome pouco importa.
Ele fala afastando
Seu cabelo comprido
Dos ombros
E repousando um beijo.
Gélido e quente.
Desejante e dilacerante.
- beija-me,
Seja mais insistente.
Ele diz,
Puxando-a pelo canto do rosto,
Próximo a boca
E buscando seus lábios
Com maliciosa segurança.
Ela estremece,
Leva as mãos para cobrir os seios,
Sente o corpo quente dele
Busca-la,
Exceto a isso: medo!
-Eu não te amo?
Estou contigo agora!
Ela segurou-o através de um gesto,
Fazendo-o sentar-se ao seu lado.
-Mas o que está dizendo amado?
O que você deseja,
Dilacerar meu coração?
É certo que o amor
Com toda certeza e precisão.
Por isso, me entregou, busco.
Ah, você quer mais que isso?
Deseja me tocar inteira?
Sentir cada parte,
Remover toda a roupa?
Eu sou sua,
Que importa o tirar a roupa?
Faz de mim o que deseja,
Me ensina a dar prazer,
Que me importa outra coisa,
Se o amor
E a nenhum outro!
Olha-me,
Sustenta seus olhos
Em meu olhar,
Você me vê?
Eu sou aquela que te amava,
E promete ser sua,
E será.
Sou eu,
A garota que você não quer rejeitar,
Sou a que você busca,
Precisa e anseia.
Veja-me agora.
Então, casa-se,
Meu amor.
Nos casemos!
Eu me casar com um
Grande homem feito você,
Seguro,
Cavalheiro,
Com mais hábeis,
Justo eu?
Que tanto o amor!
-ora, querida.
Não nos fale em casamento.
Ela retira a mão dele
Que buscava seu ombro
Esquerdo
E a puxava de frente
E para ele,
Com um gesto forte,
Quase um tapa.
-ora, eu a menina.
A que te ama e espera.
Não fui feita para isso.
Ser sua.
Certo que não.
Mereço ser desprezada.
Não sou digna de sua afeição.
Quanto eu importa?
Sua amada,
E sou a mais orgulhosa das mulheres,
Estar em sua cama,
Remover sua roupa,
E assim, o será.
Para sempre.
E o tempo irá passar
E eu ficar feia,
E ainda sua.
Quando não servir mais para prazer
Ainda serei mulher
E poderei lhe proteger,
Amparar,
Cuidar de você.
Tenha de mim piedade,
Seja meu homem.
Não sou o bastante para outro,
Um instante de volúpia
E pele exposta,
Pega-me!
Toca meus seios
Isto te pertence.
Apenas me ama.
Que me importa
Que não seja ar e amor?
Sua.
De graça.
Por nada.
Aceita.
Sua desgraçada.
Não posso ser de outro.
Sua agora.
E por todo o tempo.

Sombras

É, Raha?
Era já!
O casaco surrado
Do garoto visualizado,
Viu seu último suspiro,
Antes de ser deixado.
Sobre o decorrer desta luta,
Houve pescoço virado,
Primo desarraigado,
Até marido abandonado,
Resultado negativo,
Não foi beijo.
A realidade se esclarece,
A lua brilha ao redor,
Chocando seus olhos,
Aquecendo seus pés,
Que de chinelos,
Ainda não se movem,
Mas sentem o orvalho.
E vê-se demolir,
Como se cada sombra
Tivesse seu existir,
E tudo que estivesse antes,
Já não houvesse,
Pois sombra sendo,
Já deixa de ser objeto,
Vira assombro,
Acaso e medo.
Desagrado meticuloso,
Tudo se desforma,
Pedaço a pedaço,
Até mesmo a mais aterradora
Poesia,
Perde suas frases
E deixa encanto,
Efeito de máscara
Ou coisa qualquer,
Tudo que foi um dia,
Na noite deixa de ser.
E como benigna forma,
Ele foi,
Adentrou-se entre sombras,
Até ver-se no horizonte
Desforme,
Onde por mais que busque,
Não acha-se,
Por entre sombras,
Todo olhar se engana,
E quem estava,
Simplesmente parte.

domingo, 29 de setembro de 2024

Foi Você

Eu cuido de você
Faz tempo,
Você não sabe,
Nada cobro.
Apenas que esteja bem.
Eu te amo.
Tirei por base
Seu estilo de vida,
Não tive outro interesse
Que não fosse
Sua vivência,
Seu bem,
Sua família.
Nisto decidi minha faculdade,
Te proteger.
Lá naquela sala
Eu virei o assunto,
Mas nunca
Fui capaz de me afastar de você,
Reconhecer seu caminho,
Percorrer passos,
Saber pra onde
Poderia te conduzir.
Assim o fiz.
Depois de descobrir tudo,
Eu escrevi,
Fiz manuscritos,
Uma espécie de mapa,
Com um direcionamento,
Falei em voz alta,
Fiz tudo que pude,
Tendo em intuito
Seu bem.
Só fiz proteger.
Hoje,
Deitado em meu braço,
Apoiado ao meu peito,
Você vê.
Quanto dos teus erros
Eu fui capaz de impedir,
Apenas porquê
Lá no início
Você foi meu maior querer.
Posso te proteger,
Posso encurtar distâncias,
Abrir sua mente,
Te deixar consciente.
Veja,
Meu amor,
O quanto agora
Você pode ser mais forte
Entenda o quanto é bom
Saber onde pisar,
Como fazer,
Acredite,
Quando iniciei tudo isto
Eu não tinha respostas,
Elas não chegaram de graça,
Há sinais no meu corpo,
Há sinais na minha mente,
Mas acima das cicatrizes
Há você,
Meu maior intuito,
Maior amor,
Hoje
Quem pode fazer tudo é você.
Agradeço,
Não precisa me agradecer,
Só recorde,
Lá no início,
Meu amor,
Foi sempre você!

Pica!

Vamos a um passeio,

Te convido a galgar comigo,

Você fica no alto do morro,

Eu subo a colina,

Lá do alto pode-se ver

Um pequeno lago,

De águas limpas e doces,

Sabor de frutas frescas,

Caso você resvalar,

Eu te asseguro por entre

As estrias de terras mornas,

Caso você caia:

Pica!

 

As vezes,

O olhar daqui de cima,

Embora,

Não seja tão terno

Feito o mergulho

Em águas serenas,

Valem os buracos de seu casaco,

Que você se esquiva ao subir,

Valem o tirar da roupa,

Expor o peito nu,

Sentir o suor escorrer

Até penetrar o chão,

Ver o resvalar do chinelo,

O molhar de cada dedo,

O cheiro que exala,

Vale tudo isso e mais.

 

Agarrar-se a este sentimento

É aceitar sentar,

Se acomodar por suas espécies,

Ficar.

Mexer-se sobre terra morna,

Até formar um sinal

De onde você esteve,

Deixar sua marca,

Sair e permanecer,

Nunca querer desistir de estar.

 

Espichar os pés,

Sentir cada músculo,

Agarrar-se a vegetação,

E não ter razão,

De tanto estar tão bem,

E ainda no raso,

Porém,

O afundar-se nestas águas,

Não vale o mergulho louco,

Que é isso?

Exige o cuidado,

O conhecimento da decida,

Mas se der pica,

Apenas se prenda a este fio,

Solte-o com cuidado,

E permita-se,

Entre e saia quantas vezes quiser,

Fiquei e deixe sua marca,

Aprofunde-se com tudo que tiver,

Sinta-se molhar e ser convidado.

 

Quando se mergulha em águas doces,

Não há tanta cerimônia,

Gemidos e carinhos incontidos,

Tantos quanto forem os cuidados,

Tantos serão as horas para se estar,

Verão, inverno ou primavera,

É destino certo,

É pica!

E esquecer de seu peso

A mergulhar

Sem querer voltar,

Ser convidado a ficar,

Desejado,

Entregue,

Submerso me diga

Quanto tempo você pode ainda?

 

Aguenta,

Por favor, aguenta,

Veja o tanto que vale a subida,

O desenrolar da descida,

Esteja, cara,

Permanece muitas horas,

Entenda,

Deu pica!

Simplesmente, fica!

 

Caso: Assassinato da Balconista

Aos vinte e cinco anos Não se espera a chuva fria De julho Quando se sai para o trabalho, Na calada da noite, Até altas mad...