terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

O Garoto da Motocicleta

Lá do sistema
Ele foi definido um bom rapaz,
Lhe fizeram pequenos testes,
Ele foi eficaz.
Logo, lhe deram uma motocicleta,
Uma simples,
Ele jamais seria muito bom,
Nem deveria ficar sabendo de seu valor.
O pai achou perigoso,
Ele era jovem,
Mas o garoto sem saber o motivo
Foi dado a manobras,
E corridas,
Contudo não em velocidade alta,
Mas muito melhores
Se o fosse.

Sua ultrapassagem era perfeita,
A forma como ele reagia
Aos acidentes que deveriam
Ter sido fatais
Era considerada fantástica.

Lá do sistema,
Alguns retiravam seus fones,
Davam socos em suas mesas de desespero
E o aplaudiam.
Ele se safava bem.

Levado ao hospital semiconsciente,
E levantava da cama dando ordens.
Depois, disso.
Ou melhor, junto a isso.
Lhe deram uma música
E o disseram: “cante”.

Ele foi bom.
Seus movimentos sobre a motocicleta
Começaram a ser aplaudidos,
Por motoqueiros antigos
E treinados,
Ele foi se tornando um prodígio.
De pronto,
Um filme foi escrito
E seus movimentos foram postos,
Contudo, ele era odiado
Ninguém podia fugir disso.

Armaram-se represálias,
Ele saiam com escoriações
E a moto sem amassados
Ou riscos na pintura,
Estava se sobressaindo demais.
Do sistema,
Eles escolheram outros
Para serem melhores,
Ele era para estar inválido
Ou pior.

Odiado e vitorioso.
Não com um sistema daqueles
No seu calcanhar,
Fora do seu alcance,
Determinados a atacar.
Ele precisava entender
Que não foi o escolhido:
Gravaram suas músicas,
Com sua voz,
E poucas modificações.

Ele era uma mulher.
Quando soube ele desmaiou,
Desejou morrer,
Ou lhe disseram isto
Através de vozes pouco definíveis,
Era a sua voz,
Ele comprou o cd,
Mostrou aos amigos,
Parentes e conhecidos:
Eram suas músicas, sua voz...

Chorou.
Ele sentou-se escorou a cabeça
Nós joelhos e chorou.
Ele era uma cantora feia,
Drogada e desesperada.
Ele precisou recuperar o autocontrole,
Ser mais forte,
Resistir aos conflitos,
Mas, o que era isto?

Que vozes lhe diziam tanto?
Por qual motivo lhe tinham ódio?
Simplesmente,
Ele não era o escolhido.
De repente, sai em cartaz,
Um filme e dentre os atores:
Ele.

Ele se reconheceu.
Não soube explicar.
Mas se viu nele.
O garoto fez namorico
Com sua motocicleta,
Apaixonou-se nela,
Viveu para ela por algum tempo.

Pouco tempo.
Amores duram.
Ódios, porém, padecem.
Este sistema de vigilância e fala
Era composto por muitos integrantes,
As manobras que lhes rendiam
Dinheiro eram difíceis,
E as ideias de exigências
Apenas surgiam e cobravam.

Ele não sabia disso,
Não ganharia nada com isso.
Mas vinha a fala no ouvido,
Sob ameaça e represálias,
Era só um movimento,
Então, ele fez.
Girou sua moto naquela estrada de pedras,
Soltou pedras do chão,
Levantou terra mais alto que o vento,
Rodopiou e gravou um círculo,
Depois disso,
Caiu.

Último movimento.
O filme saiu.
O cd fez sucesso.
Ele não pode ser substituído.
Nem a voz ou movimentos...

Mudou.
Ele que não ganharia
Não ganhou.
A família nada soube.
Nem ele,
Na verdade.
Resta o túmulo
E a motocicleta ao lado.

Foram-se os anos,
Ela enferruja-se e cede ao tempo.
A voz dele foi calada,
Seus suspiros não são ouvidos.
Mas, o sistema falhou.
Sobre o final daquele filme,
Sobre a carreira daquela voz,
Sobre a aparência de uma pessoa
E um rosto.

Mesmo que este rosto
Tenha sido ocultado,
A imagem ficou.
Se você assistir com interesse
É possível perceber.
Eu guardo o encarte, o cd,
O cartaz e o dvd daquele filme.
Eu temo ser o próximo descarte.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

James

Já comemoraram alguns
Aniversários de namoro.
Contudo, eram jovens.
Ele dezenove anos,
Ela dezoito.

Cada vez que olhava para James
Sentia que não saberia
Viver sem ele.
Que nunca seria capaz de separar-se.
Que seu futuro era ao seu lado.
Ela gostava de colocar
Seu disco do Metallica
No toca discos,
Levantar os pés para o alto
E cuidar as estrelas,
Isto requeria a passagem
De horas em seu quarto
E nunca pensou
Que existiria algo melhor
Que isso.

Então, apareceu James
Com seus olhos cheios de vida,
Uma educação impecável,
E o melhor beijo que poderia existir.
Nisto, o disco exigiu
Música romântica,
E as estrelas me cobraram
Um garoto comigo.

Não tardou,
Eu o arrastei para o meu quarto.
Ele me disse “eu te amo”.
Eu disse “fica comigo”.
Nunca nos separamos.
Agora, procuro na estante,
E encontro este exame de saúde,
Meu pai está fadado a morte
Com hora marcada.

Doente terminal.
Minhas pernas prenderam,
Minha coluna gemeu,
Me agarrei na porta,
Estou com o coração no fundo.
Tão no fundo que penso que fugiu
E está lá com James,
Porquê sozinha não sou capaz,
Eu fui forte,
Fui forte para tudo:

Para evitar acompanhar
A modinha do colegial;
Ter namorados legais
Quando todas tinham;
Ir as festas em que todas iam.
Está certo,
Para as roupas eu não tive dinheiro,
Para os garotos eu estava despreparada,
Para a festa não fui convidada.

Mas isto,
Isto é pior.
Milhões de vezes pior.
Corri dali,
Procurei James,
Caminhei dez quilômetros até ele,
Eu não pude pegar o carro,
Não consegui ligar,
Eu não tive forças para falar,
Então, andei até cansar,
Caminhei até calejar,
Fui atrás dele,
Eu não estava sendo capaz.

Receber o atestado de morte,
Uma morte premeditada assim,
Uma doença sem cura,
Sobre o próprio pai
Isto é sepultura.
Não tenho lágrimas,
Não sei o que fazer.
Está tudo tão distante.

Bati na porta dele,
James saiu e correu me abraçar,
Me entreguei,
Não conseguia falar,
Entreguei o exame,
Ele leu e chorou.
Sentou comigo na escada,
Três anos juntos,
Tudo sempre tão perfeito,
Desmoronou.

- Amada minha,
Sei que é cedo ainda,
Estava muito fora dos planos
Mas agora é imperativo...
Ele disse,
Tocando meu rosto,
Beijando minha boca.

- case-se comigo.
Seu pai a levará para a igreja,
E a trará para mim no altar.
São três anos de amor,
Vamos viver agora uma vida.
Eu chorei.
Senti alívio,
Felicidade e amor.

Então, não ficaria sozinha.
Eu teria James comigo.
Ele seria minha família.
Não se prestaria a uma troca,
Não se troca o pai
Por um marido,
Mas, ele seria meu amparo.

Meu conforto,
Meu ombro amigo.
- é claro que sim,
Meu amor.
Você é meu sonho
Desde nosso primeiro beijo.
Ele beijou meus lábios
Aos prantos.

- vamos providenciar um filho.
O quanto antes ele possa nascer,
Muito antes foi bem-vindo.
Depois me abraçou forte.
Foi tão verdadeiro.

Eu fiquei lá recostada por horas,
Mais do que o tempo
Que eu dedico ao disco,
Muito mais do que as estrelas ficam,
Nunca o quanto preciso.
James é minha fortaleza e abrigo.
- te amo.
Eu o disse entre beijos.

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Tarde Com o Namorado

- E aí,
Vamos almoçar juntos?
Eu pedi,
Chegando na janela
Da caminhonete
E beijando meu namorado.
Ele veio me esperar
Em frente a escola,
Isto é o que há de mais legal.

- certo. Podemos
Passar a tarde juntos.
Eu pulei de alegria,
Alcancei seu rosto
E o beijei
Enquanto o segurava
Com as duas mãos,
Apertando-o.

- eu disse
Que iria fazer trabalho escolar
Na casa de uma colega,
Então, temos todo o tempo.
- que bom. Entra.
Ele disse,
Fazendo sinal
Para eu ir para a outra porta.

Porém, abri a porta dele
Subi em seu colo,
Beijei seus boca
Com gosto,
Já não me importava
Com mais nada,
Mas a professora de matemática
Sim.

Chegou sem avisar
E fechou a porta
Com toda força,
Irritadiça.
Depois bateu na janela.
- hei.
Juízo, vejam a hora.
Aqui não é lugar.
Eu fiquei estupefata,
Que vergonha,
Mas, eu estava tão afoita,
- me desculpa
A felicidade me dominou
Professora.

Eu disse, rubra e feliz.
- nada disso.
Isto é errado.
Depois virou as costas
E saiu.
Eu beijei ele
Só mais uma vez
E passei pro outro banco.
Depois beijei seus rosto.
Finalmente, juntos.

Nada melhor que o colo
Do namoradinho
Depois de cinco horas
De aula chata pra caramba.
Aturar tanto estudo,
Tanta leitura,
Tanto cálculo,
Decorar conteúdo,
Entender assuntos didáticos
Era definitivamente horrível,
Tão horrível quanto necessário.

- as vezes,
Saio da aula
E sinto que minha cabeça
Vai estourar.
Eu falei tocando
Minha cabeça,
Tirando o suor da testa.
- pega um salgadinho,
Você deve estar com fome.

Ele falou,
Me indicando o banco traseiro.
Eu peguei.
Abri e o fiz estourar.
- verdade,
Eu sinto muita fome.
Estudar exige muito.
Quanto mais me esforço
Não parece mais fácil.
Meti a mão no salgado
Com vontade.

Enchi a mão,
Levantei a cabeça pra cima
Com a boca aberta
E joguei salgado lá
Como se fosse a trilhadeira
Do pai de malhar milho,
Joguei tudo que podia
E empurrei com os dedos
E mordi claro,
Não queria passar mal do estômago.

- toma.
Come um pouco.
Ofereci a ele.
Ele pegou e não se importou
De comer enquanto dirigia.
- você me trouxe frutas?
Eu adoro frutas.
Indaguei.
- claro,
Há uma sacola nos seus pés.

Peguei uma faca de mesa,
Uma laranja
E descasquei rápida
E esfomeada,
Comi cinco.
Descasquei pra ele,
Ele comeu muito também.
Fomos para uma estrada de roça,
Nos metemos naquele mato,
E fomos indo casa vez mais para dentro.

O pai dele preferia que ele
Estivesse no trabalho
Naquele horário,
Então, poderíamos dizer
Que fugimos
Mas não verdade
Fomos curtir próximo da cidade,
Contudo, não nela.

Longe de todos os pais
E sozinhos.
Olhei para traz
A mata parecia se fechar atrás de nós,
Cipós caiam na estrada,
Havia pedras tão grandes
No caminho
Que daria para jurar
Que ninguém passou ali
Ou conseguiria passar
Sem deixar uma parte
Do motor do carro para trás.

E continuamos indo.
Uma espécie de capim
Crescia na estrada de cascalho,
A estrada aos poucos
Foi sumindo,
E ele foi indo.
Não se via nada além
De árvores,
Algumas árvores com flores,
Alguns frutos esparsos,
Barulho de pássaros,
Algumas borboletas.

Era tudo lindo.
De repente,
O pneu bateu numa pedra,
Fez um solavanco,
E eu me feri a costela.
- aí, que dor!
Eu gritei.

Com medo.
Então, olhei para o lado
E não havia ninguém.
Só ele.
- que droga.
Espero não ter furado o pneu.
Vamos caminhar um pouco.
- não parece ter lugar para fazer o retorno.

A estrada só segue um sentido.
E cabe só um carro.
Eu disse assustada
Enquanto abria a pesada porta
E me jogava para fora
Num salto.
Ele logo pegou minha mão,
E fomos pra frente.

O sol ficou intenso.
Não tínhamos água.
Tinham só mais
Duas laranjas.
Encontramos uma pedra
Alta e quadrada,
Mais ou menos.
Sentamos lá.

Fiquei no meio das pernas dele.
De costas,
Ouvindo os ruídos.
Estava tudo tão perfeito.
As horas pareciam voar.
Não havia nada mais perfeito.
- obrigada por me trazer aqui.

Está maravilhoso.
Eu disse.
Apertando suas pernas.
Eu gostava de estar recostada nele,
Mas acima de tudo,
Gostava de toca-lo,
Eu não saberia dizer por quê
Mas tinha sempre a impressão
De quê ele sumiria.

Num instante
Aconteceria algo
Que me tiraria dele pra sempre.
Que num minuto estaríamos juntos,
Mas no outro
Nunca mais.
E nunca mais de verdade.
Então, virei o rosto.

Acariciei sua orelha,
Beijei seus face,
Beijei seus boca
Depois fiquei ali.
Havia capim.
Flores silvestres.
Árvores.
E parecia ter macacos
Pulando nos galhos.
Foi lindo ver.

Parecia ter muitos.
Eles pulavam tão alto
E sem medo.
Se jogavam de árvores grossas
Para galhos finos,
Os galhos dobravam-se
E eles se seguravam no tronco
Da árvore seguinte.

Tinham cinco dedos
Bem definidos.
Braços de aparência
Que não se esticavam
Por inteiro,
Eles pareciam estar num balanço.
Subiram rápido o tronco
Até a copa da árvore,
E de lá se jogavam para a próxima,
Sem medo de cair,
Tiravam folhas e comiam.

Se escondiam entre os galhos.
Haviam 06,
Ao menos estes foram vistos
Perfeitamente.
Então, me virei de frente
Para meu namorado Briten,
E toquei seu rosto,
Acariciei seus cabelos.
Foi aí que ocorreu o inesperado.

- Aí.
Que dor terrível.
Ele gritou se empurrando para a frente.
- uma cobra!
Há uma cobra grudada
Em sua perna.
Eu gritei
Ao avistar o bicho.
Me afastei para trás.

Encontrei algumas pedras
Na estrada,
Juntei assustada
E joguei contra ela.
-pegue na boca dela com força.
Aperte até ela soltar.
Que eu apedrejou ela.
Gritei.
Ele urrava de dor.

Depois fez o que eu disse.
Assim que soltou,
Eu soltei a maior pedra
Que pude pegar
E esmaguei sua cabeça.
Saiu sangue.
Peguei mais pedras.
Joguei-as.
Pulei de medo
Tocando meu corpo
Devido ao medo.

Senti pavor.
Olhei pra todo lado.
Parecia não existir lugar
Onde uma cobra
Não pudesse se refugiar
E me atacar
Sem que eu nunca a encontrasse.
Chorei de medo.
- vamos embora, hein?!

Gritei.
- vamos esperar.
Mickelah,
Estou com muito medo.
Eu não posso me mover.
Ele estava ereto.
Olhos arregalados.
A perna começava a inchar.

- você precisa ir.
Precisamos encontrar um médico.
Eu não sei ajudar.
Eu não conheço remédio.
Disse assustada.
- tá certo.
O carro não está longe,
Mas vamos pegar um atalho,
Eu tenho medo de voltar
Por onde viemos.

Nisto, eu lhe dei apoio
Com meu ombro
E fomos por cima.
Inacreditavelmente,
Pelo lado oposto de onde veio a cobra,
Mas não por baixo
De onde não veio nada,
Lá parecia mais sugestivo.

Devido ao peso,
Eu caminhava de cabeça baixa,
Para apoia-lo também em
Minha nuca,
Ele também abaixou a cabeça
Para cuidar cobras
E devido a dor
Andava quase de olhos fechados.
Então, quando percebemos
Estávamos enroscados
Em uma teia de aranha grossa,
Com várias aranhas nela.

Eu gritei.
Ela pulou em meu rosto.
Eu gritei mais.
-uma araaaa-nha.
Peguei ela com a mão.
E não me atrevi a olhar.
Ele empurrou ela
E matou-a com os pés.
Contudo, eu fui correr da teia
E não pude.
Ela era muito forte.

Me prendeu.
Fui voltar e não pude.
Ela se contorceu na minha roupa,
No meu rosto.
Na minha boca.
- Allah. Estou presa!!!
Meu namorado conseguiu se soltar.
- garota. Há uma aranha no seu cabelo.
Ele não usou meu nome,
E quando não me chamava pelo nome o assunto, realmente, era sério.

Ele tirou a aranha do meu cabelo
Jogou no chão
Com um tapa
E a matou esmagada.
Eu tremi tanto de medo
Que perdi toda a minha força,
Cai de joelhos
E a teia da aranha me manteve.
Foi pior.
Foi horrível.

Ele correu na minha frente
E me puxou por um braço.
Um galho se soltou do alto
E caiu seco em nossa frente,
Se quebrando
Em muitos pedaços,
Aranhas pularam nele.

Eu quis correr,
Eu juro,
Tudo que quis foi correr.
Tudo que fiz
Foi apontar o dedo.
E tremer.
Ele foi corajoso.
Me honra tê-lo escolhido
Para namorado.
Ele foi esplêndido.

Passou para a minha frente
E começou a matar todas elas
Com uma perna.
Uma aranha enorme surgiu do chão.
Pulou na perna dele
E grudou em sua calça
Com um barulho estranho
E suas oito patas
Unidas e contraídas nele.

- Allah.
Nos socorra.
Ele gritou.
Eu juntei um galho seco
E bati nela.
Ela correu aos pulos
Sem duas de suas pernas.
Aquelas pernas
Nem lhe faziam diferença.
Ela pulava alto
Fazia barulhos.

Era enegrecida
E tinha partes vermelhas.
Era peluda.
Senti que seus pelos voaram
E vieram de contato
Com nossas peles.
Me vi coçar e arder.
Na verdade,
Nos vi morrer.
Então, avistamos a caminhonete.
Fomos devagar
Devido ao medo.

Entramos nela,
Fechamos as janelas
E voltamos muito depressa
Em marcha ré,
Sem fazer desvios
Ou manobras.
Apenas voltamos.

Nisto,
Batemos a traseira
Em uma árvore,
Coisas, galhos e folhas
Caíram sobre a caminhonete
Mas fomos pra frente,
Endireitamos e seguimos na ré.

Ele começou a perder a perna.
Então, eu acelerava com a minha.
E mexia o volante
Também.
Enfim, saímos no asfalto.
Quando olhei para o retrovisor
Eu tinha uma flor azul no cabelo.

Ônibus Escolar

Terminei a prova,
Fui uma das primeiras,
Saí de lá,
Sem ter o que fazer
Fui aguardar a hora passar
No ônibus
Até chegar a hora
De voltar para casa.
Sentei lá por meados do ônibus.

De repente, vem Fabinho lá.
- E ai, Patiserya?
Eu não disse nada,
Só fiquei olhando.
Morrendo de raiva.
Eu sabia que ele não tinha
Terminado prova.
Aliás, a turma dele nem tinha prova.

Ele estava faltando aula,
E decidiu vir aonde eu estava,
Ele que é garoto
E podia estar em qualquer lugar
Que não estaria mal falado
Decidiu vir para onde eu estava
Macular minha reputação.

Sentiu atrás de mim.
Portas fechadas.
Eu e ele.
De repente,
Ele folheada uma revista
Não sei de quê
E fez todos os barulhos
Que podia.

Minha turma começou a sair da prova
E olhar de longe eu e ele,
Só faltava dizer que estavamos juntos,
Meu Deus,
Que ódio do Fabinho.
Depois disso,
A turma dele foi pra mesa de sinuca
Do ginásio
E outros pra própria janela
Gritar feito uns doidos
Com ele
O chamando pra jogar.

Aí me viram.
Meu Deus,
Me viram.
Começaram a assoviar,
Gritar Só Love,
Só lobinho,
Só lovão,
Só lavai”.

Eu virei numa fera selvagem,
Quis mata-lo.
Espanca-lo até a morte.
Ele abriu a janela
E berrou feito um louco.
Todos nós virão
Sob aquela luz tênue
Do ônibus,
Metade quebrada,
Outra parte destruída.

Eu jamais provaria
Que não foi combinado
Pra bater papinho
De namorados,
Fazer conquista de idiotas,
Meu Deus,
Manchada pelo Fabinho...

Veio até o diretor do colégio,
O cachorro da vizinha,
O gato da secretaria
Subiu a árvore
E pulou sobre o colégio.

Pronto.
Fadada ao fracasso.
Ele ria feito um idiota.
Batia na perna
E ria.
Eu não pude nem soca-lo
Para não despertar mais interesse.
Maldito dia!

Trancada

- Oi.
Descobri tudo
Absolutamente, tudo.
Disse a Marciane
Pegando  eu pelo ombro
Me empurrando para a frente.

-tudo o quê?
Do quê você está falando?
Indaguei, confusa.
Confesso que senti medo.
Olhei nos olhos da minha amiga
E a achei estranha
- você está falando de quê?

Marciane me olhou.
Parecia não me reconhecer.
- Você logo saberá.
Então, cruzamos juntas o corredor
Da escola,
De frente as nossas salas.
Ela estudava ao meu lado.

E chegamos ao banheiro feminino,
Que localizava-se ao lado do masculino.
- me acompanha.
Ela me puxava com força.
Me feria.
Mas, eu gostava dela.
Não quis gritar.
Não queria ofende-la,
Só queria entender o que havia.

Então, ela fez.
Ela abriu a porta
E me empurrou lá dentro.
Me puxou de frente para ela.
Estourou com a mão
O zíper da minha calça
E me empurrou.
Não bastou isto.
Ela fechou rápido a porta.

Pôs chave.
Eu caí lá dentro
De boca aberta.
Estava o namorado dela lá.
Ele apenas.
O rapaz me olhou embasbacado.
- você aqui, Lara?
Eu não soube o que dizer
Tamanha vergonha.

- pois é.
Eu aqui.
Então, começou a gritaria lá fora.
“Vagabundos.
Vocês se merecem.
Vocês me traíram”.
Soube após sair lá de dentro
Que a Marcinha correu
Para o portão
Gritou a todo pulmão
Que eu a traí
Com o namorado dela.

A Chayera ficou irritada,
Pegou uma chave de dentro de bolso
Da própria calça,
Abriu a porta do carro dele,
Ligou a ignição,
Engatou a primeira marcha,
Pisou no acelerador
E foi para na quinta marcha
Em segundos.

Depois disso
Explodiu a parede do banheiro.
Eu morri de medo.
Quando ouvi o barulho
A algazarra corri para cima
Do mictorio,
Me agarrei na porta do
Banheiro do vaso sanitário
E fiquei lá em cima.

Longe de tudo.
Do chão.
Do garoto.
Daquele local fedorento.
Eu quis morrer.
Eu só quis sumir.
Nem existir.
Que vergonha.

Do nada aquele carro
Veio parar lá dentro.
Aquela louca gritando no volante.
- traíra.
Maldito traidor.
Vagabundos.
Então, saltou lá daqueles destroços
Engatada no cinto
De segurança,
Rasgando a unha tudo que podia,
Isto incluiu a cara dele.

Pra caramba!
Ele ficou em sangue.
E ela não parou.
Bateu nele até ele babar.
Eu só me escondi.
Nisto a Marcinha grita lá de fora.
- O quê?

Vocês não estão tentando sair?
Desgraçados!
E invadiu o local
Abrindo a porta com a chave.
Empurrou a porta com tanta força
Que amassou o trinco.
Quebrou o tijolo de trás.

Então, viu a cena que não queria:
Chayera beijou ele
Assim que viu a outra.
Em meio ao sangue,
Gritaria.
- deixe dela.
Ela te cobra muito.
Ele olhou pra ambas e sorriu.

Se encaminhou para fora
E saiu.
Não disse nada.
Nem lavou o rosto.
Saiu porta afora.
Todos os colegas
Ficaram olhando,
Me vendo eu de otária,
Zíper rasgado.

Trancada no banheiro.
Nunca mais eu ficaria ilesa
Dos comentários que viriam.
Malditos idiotas.
Eu os odiei pra caramba!

Saí de lá.
Fui embora.
Acho que chorei.
Senti medo.
Pavor.

sábado, 22 de fevereiro de 2025

Saudades

De longe
Louis observava Daniera.
Então, ela enfrentou
Uma cobra pelo garoto...

Mergulhou tão profundo
E corajosa,
Por um simples,
Garoto gordo.
Não.
Ele não toleraria.

Decidiu diverte-se,
Esquecer que já
Estiveram juntos,
Ontem, por exemplo,
A noite enquanto ele dormia.

Distante dele,
Na própria casa dela.
Pensando nisto,
Ele tomou a primeira cerveja
Que abriu com a unha.

Ela nunca levou o outro lá,
Levou ele,
Mas o namoradinho
Era quem?
O cara gordo!

Ferido,
Em estado de morto,
E ela o salva.
Garota idiota.
Se estivesse decidida
Não o trairia.
Então, ficou em pé,
Convidou a todos
Para irem para o barco.

Ninguém mais sabia nadar,
Somente os três que foram embora.
Ele riu alto.
Quem se importaria?
Que se dane a razão,
 Explicação
Ou conselhos dos pais.

Eles estavam distantes.
Juntou as dezenas de caixas
De cerveja,
Colocou todas nos barcos.
- quem ficar não bebe?
A cerveja vai comigo.
Ele disse isto,
Enquanto puxava os barcos,
Amarrou um no outro.

E foi empurrando
Para dentro do rio.
A turma inteira quis ir.
- tudo bem.
Não há mesmo perigo.
Entraram todos,
Haviam cinco barcos.

De repente,
Veio um pé de água suja,
A água do rio
Ficou mais intensa.
Eles também não sabiam remar.
Então, deram voltas e voltas.

De repente,
Um remo se enroscou
No outro.
Já haviam passado as horas.
As caixas foram quase todas.
O garoto discutiu alto:
- Seu burro.
Você enroscou em meu remo.
Por pouco eu não caio!

Ele gritou.
O rapaz não tolerou.
Desferiu uma remada nele,
Ele caiu sangrando
Longe do barco,
Ficou batendo os braços,
Tentando se agarrar
E afundando.
Não havia o que pegar.

- Garoto, o que você fez?
Ele se irritou
E meteu o remo no outro.
- morra, seu demônio!
Gritou, bêbado.
Enfurecido.
Outro rapaz foi ao fundo.
Enroscou o pé no barco.

Virou o barco.
Se afundou e não voltou.
Quando este barco afundou,
Puxou o outro.
Os garotos e garotas que caíram
Puxaram os demais.
Não restou um barco.
Não restou única pessoa.

Todos se debatiam,
Se puxavam para baixo.
Alguns pareciam
Fazer de propósito
De se segurar no outro
Para sobreviver.
Pisar no rosto
Do outro no fundo.

Pisar na cabeça.
Nos ombros.
Mas estavam muito longe,
Estavam no meio do rio.
A água estava forte.
Foram engolidos, todos.

Ele, não foi encontrado.
Ela não esperou por ele.
Dormiu com o outro.
Talvez, não chegue a sentir saudade.

Meses depois,
Alguns corpos foram encontrados
A deriva,
Boiando próximo a margem,
Comidos pelos peixes,
Inchados, com bolhas na pele.
Sem os olhos, alguns dos dedos...
Alguns foram reconhecidos,
Outros nunca.
A maioria teve morte presumida.

Caminhoneiro

Daniera se ofereceu
Para ajudar a professora
A fazer cópia da prova
Para levar aos alunos na sala.
Assim, a professora
Pode chegar cedo na sala
E impedir o pessoal de colar.

Aproveitou e fez cópia dupla
Da prova,
Ou seja, copiou também
Aquela que tinha as respostas.

Entrou na sala,
E entregou de aluno a aluno
A dupla, é claro.
Todos tiraram nota máxima.
Todos foram juntos comemorar.

O lugar escolhido foi o rio da cidade
Todos se reuniram quem tinha carro
Levava quem não tinha.
Levaram sanduíches
E refrigerantes e bebidas.
A diversão foi ótima.

Todos aprovados para a nova série.
- que legal.
Fomos todos aprovados.
Agora vamos pra sétima série.
Eles comentavam rindo.
- ótimo.
Este é o objetivo: passar de ano.
Foram andar de barco,
Pescar.
Andar de jet-ski.

Nisto um garoto mergulhou
E não voltou do fundo da água .
A garota que estava com ele
Se preocupou e olhou
Para o fundo,
Então, enxergou algo escuro
E enorme feito uma cobra
Enrolado em seu corpo.

Ele estava sufocando.
Ele soltava bolhas de ar.
Não se movia.
A coisa escura devia ser
Muito grande e muito forte.
Não havia dúvidas.
Comeria a todos.
A garota pegou, então,
Um facão de dentro do barco
E mergulhou contra a coisa.
Era mesmo uma cobra.

Uma enorme cobra.
Ela mergulhou com o facão
Na mão eriçado contra a cobra.
Cravou até o final dela
E usou o impulso do corpo
Para firmar os pés no facão
E cortar a cobra ainda dentro da água.

A cobra se soltou um pouco
Saiu para fora da água
E comeu um rapaz de dentro do barco,
A boca dela parecia pequena
Embaixo da água,
E ficou enorme lá fora.
Ficou tão grande que comeu
O rapaz em único ato.

E nisto o rapaz mexeu-se
E a cobra soltou ele.
Ela pareceu incapaz
De se manter presa a ele
Devido aos impulsos da garota
E do garoto.
O outro rapaz comido
Caiu pelo buraco
Do corte do facão,
Tocou no facão assustado
E perdeu um braço.

O facão era poderoso,
Deixou a mão do rapaz
Dependurada.
A moça se impulsionou
Contra o rapaz que estava
Sendo esmagado,
Num mergulho para trás
Retornou ao barco.

Bateu os pés no lado,
E num salto caiu dentro.
A cobra se virou para come-la.
Ela estava pela metade cortada.
A garota arrancou o facão dela
E quando a cobra pegou-a
No braço,
O facão foi jogado sobre a parte
Não cortada.

Sangue voou na garota.
Ela gritou.
O braço direito sangrou.
Um osso saiu para fora.
A cobra caiu sobre o barco
E desceu para o fundo.
Pesada.
Enorme.

O outro garoto só com um braço
Trouxe o rapaz que sufocava,
Empurrou para o barco.
De dentro ela puxou o garoto.
Depois o outro.
Depois fez respiração boca a boca nele.
Ele voltou.
Cuspiu água.

Depois vomitou muita água.
Ela sentiu raiva.
Muita raiva.
Então pisoteou toda a cobra
A facão.
Cortando ela em mil pedaços.
Os alunos ficaram em alvoroço.
Depois, decidiram limpar a cobra
E comer ela.

Ela tinha gosto de peixes.
Dentro da barriga dela
Encontraram um boi,
E duas pessoas abraçadas.
Pareciam um casal
Que foi comido juntos
Enquanto dormiam.

Alguns ficaram com muito medo.
E mesmo depois de ter comido
Os pedaços da cobra fruta
Na gordura ao lado do rio
Ao chegar na parte do casal
Correram e correram muito
De tanto medo.

Dois garotos vomitaram
No rio
De nojo e medo
Por terem visto o casal dentro.
Ninguém reconheceu o casal,
Nem ao menos o boi.
Mas sabe-se que
Nas proximidades,
Ao menos cinco vizinhos
Não muito longe
Um do outro
Relatou falta de gado.

Ninguém notou falta de gatos.
Havia um gato lá.
Pressupôs-se que se tratava
De um gato
Aquele ser humano
Pequeno, peludo
E muito parecido com um gato
Que estava dentro da cobra.

Não tardou
Um bando de corvos
Chegaram próximo a eles,
Conforme eles deixaram
Pedaços da cobra
Próximo ao rio
Os corvos comeram.
Eram grandes e negros corvos.

Os corvos comem restos
Que encontram pelo local,
Eles costumam limpar tudo.
Eles abriram as asas
Como se fizessem um ritual.
Primeiro o maior chegava comer
De um a um o bando de aproximava
Depois disto.

A turma que ficou se divertiu muito.
Os garotos foram levados
Ao hospital para receber socorros
Médicos.
Foram de moto
Os três:
A garota de piloto
E os outros dois juntos.

A estrada que levava ao rio
Tinha cipós que caíam
Na estrada a certa altura,
Tinha pedras
E o tráfego de carro
Era dificultoso.
O osso do braço dela saiu.
Ela seguiu.

O outro garoto
Perdeu totalmente a mão
Que estava pendurada.
Ela enroscou em um cipó.
Ficou pendurada no caminho.
Ele gritou
E se jogou para trás.

O rapaz que se afogou
O segurou,
Então, ele não caiu.
Mas gritou.
Urrou.
Aí, a garota parou,
Voltou e pegou a mão.
Depois, continuaram.

O gordinho abria a boca
Para receber ar.
Nisto, uma aranha pulou
Dentro da boca dele.
O rapaz sem a mão.
Ouviu o grito emudecida
Meteu a única mão que restou
E arrancou a aranha de lá.

Depois a matou
Sobre sua perna.
A garota viu tudo
Pelo canto do olho.
Gritou,
Acelerou e não se voltou
Para trás.
Neste momento
Ela só pensou em uma coisa:
Fugir dali.

Se mandar.
Meter a mão no acelerador.
Não importaria se alguém ficasse,
Se alguém caísse
Ou pedisse ajuda.
Empinou aquela moto
Fez uma curva em s
Naquele barro molhado
Daquela estrada,
Caiu meio de lado,
Mas não tocou no chão,
Seguiu por uns vinte metros
Andando em curva
E pendendo de um lado
Ao outro.

Depois chegou no asfalto,
Resvalou o pneu cheio de barro
E caíram os três
No meio da pista.
Um caminhão vinha
Naquele instante,
E não conseguiu segurar
Bateu no rapaz de uma mão
E o esmagou no chão.

Tendente a não esmagar todos,
O motorista tentou desviar,
Queimou pneu no chão,
Derrapou com o freio acionado,
Saiu fora da pista com
Metade do garoto
E foi parar na ponte,
Entre o cai e o não cai.

Um carro esporte
Passou em velocidade alta
Pelo acidente,
Fez vento contra o caminhão,
O caminhão fez um barulho estranho
E caiu no barranco
Levando árvores com ele
Foi parar na beira da água.
O motorista sofreu escoriações.
Quebrou o para-brisa.

Ficou preso no cinto
Mas foi removido.
A garota fugiu a pé.
O rapaz afogado pediu carona,
A encontrou mais a frente
Andando feito uma louca
E a levou.

O caminhão era carregado de milho,
A carga caiu no barranco
E entrou também na água,
Peixes enormes pulavam comer.
Algumas galinhas e pássaros
Apareceram se alimentar.
Um homem em uma camioneta
Parou lá,
Viu o acidente
E correu juntar o milho.

Vendo o motorista ferido,
Se fez de louco,
Não cumprimentou,
Não perguntou se estava bem,
Apenas colheu tudo que pôde.
Não tentou ajudar.
O viu sentado em uma pedra,
Sério e com cortes no rosto.
Mas não falou nada.

Encheu a camioneta
E se retirou.
O vizinho que retirou o motorista
Usou uma serra,
E não tinha carro
Para levar ele aí hospital.
Então, o homem ficou lá,
Até o outro conseguir carona.

Quatro carros abertos na traseira
Pararam na pista levar o milho
Nem um quis levar o motorista.
O homem chorava calado
E com medo.
Metade do rapaz que estava
Na roda do caminhão
Foi levada pelo rio.

A outra ficou do outro lado
Da pista.
Ninguém fez nada com relação
A isto, também.
Ele olhava o corpo ir e chorava.
O vizinho rezava.

Um carro vinha corrido,
Encontrou a moto abandonada,
Caída num lado da pista,
E não pode segurar,
Bateu nela
E a carregou metros para frente,
Foi parar sobre a ponte.

Apavorado,
Com medo de ter matado alguém,
Vendo se tratar de uma moto
Através do espelho,
O motorista não segurava,
Nem gritava,
Apenas ligou o rádio 
E aumentou o volume 
Da música.

A moto pegou fogo
Sobre a ponte,
Embaixo do pneu dele,
O carro pegou fogo também,
Foi muito rápido,
Ele nem se viu queimar.

Fumaça e música 
Voavam pelos céus,
Um pedaço da ponte rangeu,
Lá de cima,
Um caminhoneiro veio
Não segurou,
Bateu no carro
E levou um pedaço da ponte
Com eles
Para o fundo do rio,
Carro e moto pegando fogo,
Caminhão caindo sobre.

A Hora

Anunciaram os djins, - aproxima-se a Hora. O povo daquelas areias Sobre o mar azul e limpo Estremeceu. Aguardaram uns de Al...