domingo, 23 de fevereiro de 2025

Trancada

- Oi.
Descobri tudo
Absolutamente, tudo.
Disse a Marciane
Pegando  eu pelo ombro
Me empurrando para a frente.

-tudo o quê?
Do quê você está falando?
Indaguei, confusa.
Confesso que senti medo.
Olhei nos olhos da minha amiga
E a achei estranha
- você está falando de quê?

Marciane me olhou.
Parecia não me reconhecer.
- Você logo saberá.
Então, cruzamos juntas o corredor
Da escola,
De frente as nossas salas.
Ela estudava ao meu lado.

E chegamos ao banheiro feminino,
Que localizava-se ao lado do masculino.
- me acompanha.
Ela me puxava com força.
Me feria.
Mas, eu gostava dela.
Não quis gritar.
Não queria ofende-la,
Só queria entender o que havia.

Então, ela fez.
Ela abriu a porta
E me empurrou lá dentro.
Me puxou de frente para ela.
Estourou com a mão
O zíper da minha calça
E me empurrou.
Não bastou isto.
Ela fechou rápido a porta.

Pôs chave.
Eu caí lá dentro
De boca aberta.
Estava o namorado dela lá.
Ele apenas.
O rapaz me olhou embasbacado.
- você aqui, Lara?
Eu não soube o que dizer
Tamanha vergonha.

- pois é.
Eu aqui.
Então, começou a gritaria lá fora.
“Vagabundos.
Vocês se merecem.
Vocês me traíram”.
Soube após sair lá de dentro
Que a Marcinha correu
Para o portão
Gritou a todo pulmão
Que eu a traí
Com o namorado dela.

A Chayera ficou irritada,
Pegou uma chave de dentro de bolso
Da própria calça,
Abriu a porta do carro dele,
Ligou a ignição,
Engatou a primeira marcha,
Pisou no acelerador
E foi para na quinta marcha
Em segundos.

Depois disso
Explodiu a parede do banheiro.
Eu morri de medo.
Quando ouvi o barulho
A algazarra corri para cima
Do mictorio,
Me agarrei na porta do
Banheiro do vaso sanitário
E fiquei lá em cima.

Longe de tudo.
Do chão.
Do garoto.
Daquele local fedorento.
Eu quis morrer.
Eu só quis sumir.
Nem existir.
Que vergonha.

Do nada aquele carro
Veio parar lá dentro.
Aquela louca gritando no volante.
- traíra.
Maldito traidor.
Vagabundos.
Então, saltou lá daqueles destroços
Engatada no cinto
De segurança,
Rasgando a unha tudo que podia,
Isto incluiu a cara dele.

Pra caramba!
Ele ficou em sangue.
E ela não parou.
Bateu nele até ele babar.
Eu só me escondi.
Nisto a Marcinha grita lá de fora.
- O quê?

Vocês não estão tentando sair?
Desgraçados!
E invadiu o local
Abrindo a porta com a chave.
Empurrou a porta com tanta força
Que amassou o trinco.
Quebrou o tijolo de trás.

Então, viu a cena que não queria:
Chayera beijou ele
Assim que viu a outra.
Em meio ao sangue,
Gritaria.
- deixe dela.
Ela te cobra muito.
Ele olhou pra ambas e sorriu.

Se encaminhou para fora
E saiu.
Não disse nada.
Nem lavou o rosto.
Saiu porta afora.
Todos os colegas
Ficaram olhando,
Me vendo eu de otária,
Zíper rasgado.

Trancada no banheiro.
Nunca mais eu ficaria ilesa
Dos comentários que viriam.
Malditos idiotas.
Eu os odiei pra caramba!

Saí de lá.
Fui embora.
Acho que chorei.
Senti medo.
Pavor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Hora

Anunciaram os djins, - aproxima-se a Hora. O povo daquelas areias Sobre o mar azul e limpo Estremeceu. Aguardaram uns de Al...