quarta-feira, 16 de abril de 2025

Quarta-feira de Abril

Na quarta-feira de abril,
Ele sentou atrás
Daquele banco de madeira,
Escorando-se.

Juntou uma flor
Que ficava ao final
De um ramo que descia
Próximo ao seu cabelo.
Retirou-a.

E contemplou
Sua coloração azulada.
A moça vinha com suas botas
De borracha sujas de terra,
Soltando terra para os lados,
Nisto acertou nele
Um torrão.

- oh, me desculpa!
Ela disse.
Ele permaneceu imóvel.
- você é uma estátua?
Ela indagou,
Aproximou-se e tocou seu ombro.

- nossa, mas é tão real.
Quente e parece suar.
Ela falou enquanto mexia
Em suas vestes brancas.
Olhou o ramo de flor
Entre seus dedos imóveis,
Pegou ele de lá,
E prendeu atrás de sua orelha.

-Mash’allah,
Seus cabelos são feitos
De algodão,
Possui até perfume!
Ela continuou.

- Isto porquê eu não sou estátua.
Ele respondeu.
Olhando-a seriamente
De frente,
Olhos fixos e vivos.
Ela deu um salto para trás.

- perdão, nunca vi homem
Tão perfeito e atraente.
Ela respondeu
Segurando o coração.

- sinto como se meu coração
Não me pertencesse mais,
Minha nossa,
Se você pedisse agora
Minha vida,
Eu lhe daria.
Ela continuou.

- ótimo!
Ele respondeu
Levantando-se de salto.
- dá-me, então,
Um beijo!
Ele pediu
Parando ereto
Em sua frente.

- ora, não seja imaturo.
Beijar é para adolescentes.
Adultos pagam as contas.
Ela respondeu sorrindo.
- veja, não há erro maior.
Temos em idade quarenta minutos.
Ele disse.

Ela sorriu altiva e elegante.
- não entendi.
Nossa idade é o momento
Em que vivemos,
Está certo...
Ela respondeu pensativa.

- na verdade,
Nossas vidas se iniciaram
Quando nos conhecemos.
Ele disse.
Nisso se aproximou
E lhe tocou no pescoço,
Percorrendo seu cabelo
Até chegar nos seios.

Ela arfou,
Quase não respirou.
- está certo,
“quarenta minutos”.
Ela disse,
Com um sussurro
Que mal saia de seus lábios
Entreabertos e sufocados.

Depois aproximou-se dele,
Ergueu os pés
E beijou afetuosamente
Seus lábios quentes
E sedentos.
- “quarenta minutos”.
Ele teve tempo de sussurrar.

Josefe

A presença de Josefe
Naquela sala
Se desejou algum dia
Nunca pode passar despercebida.
Desde a maneira como andava,
A roupa com corte apurado,
Ele fazia a barba toda manhã,
Gostava de hidratar as mãos.

Houve quem tropeçasse
Na porta por um cumprimento,
Quem não visse a porta
De vidro
E esperasse fora dela
Em pé por horas,
E quem excluísse o tapete
A tropeções.

Tudo isto, em sua frente,
Todas estas coisas ele mudou
Nada de repente.
Era alto, cheinho e forte.
Músculos se desenhavam
Ternamente pelo
Corte apurado da roupa.

Está sua aparência pessoal
E acolhedora causava inveja,
Desagradava a maioria,
Mulheres usavam roupas
Pra agradar,
Homens atitudes de desagrado,
E vice-versa.

Certa vez,
Decidiu trocar todos os colegas
Por robôs,
E obteve muitos pontos favoráveis
Ao fato.

Rapidez no trabalho,
Eficiência e precisão de detalhes,
Sem salário ao final do mês.
Ocorre, que saiu para fora
Da empresa,
E se deparou com pessoas
Em estado de necessidade,
Crianças pedindo esmolas,
A prostituição se avistava da janela,
Os pequenos delitos
Como meio de ganhar a vida.

Isto o incomodou mais
Que as outras coisas,
Então, não optou por robótica.
Era mais que orgulho
Por ser um sujeito honesto,
Tratava-se de segurança pessoal.

O crime que passa a existir,
Mesmo que distante,
Se alastra
E atinge a todos.
Se inicia no garoto
Da notícia do jornal,
Que furtou a avó,
Depois de tirar seu dinheiro,
Ele conseguiu um advogado,
E fez uma procuração em nome dela,
Através dela ele teve acesso
A todos os bens.

Gostando disto,
Ele roubou um talão
De cheques de um pequeno
Empresário local,
Lá, ele não apenas ganhou
Todo o dinheiro que o homem tinha.

O rapaz matou o empresário
Na porta de casa
Com uma lajota do seu quintal.
Na notícia ele é considerado
Principal suspeito,
Não há fotografia
Que represente um rosto,
Consta somente a atitude.

Contudo, além de humanitário,
Josefe era inumanamente bonito.

Mas isto não o ocultava 
De crimes tão odiosos
E irreversíveis,
Dos quais poderia ser vítima.

Dentro do seu prédio,
Ele sentia-se seguro
Lá do quintagesimo andar,
Era como abrir a janela
E aguardar as nuvens,
Nem dirigir,
Voar pelos céus.

Contudo,
Neste dia de quarta-feira
Decidiu usar o elevador,
O elevador parou no andar vinte e cinco.

Travou, desligou as luzes
Normais e emergiu
Luzes coloridas,
Então, houve uma voz.

Terrível voz:
- sequestramos seu filho
Esta manhã na escola,
O deixamos vivo,
Contudo exijo cem bilhões.
Faça o Pix neste CPF.

Ótimo,
Ele sorriu feliz,
Tinha um número de CPF,
Faltava apenas buscar
A quem se referia.

Então, chorou,
O filho?
Seu filho estava nas
Mãos de bandidos.
- vocês me ouvem?
Ele indagou.
Só recebeu silêncio.

Abriu seu celular
Na tela surgiu a fotografia
Do filho com ferimentos
No rosto,
E uma bola de papel
Dentro da boca.
O filho chorava.

Isto é dor que um pai
Não merece.
Logo, surgiu escrito
Na tela do celular
“pago, pago, pago”.
Ele chorou,
Suas mãos ficaram trêmulas,
Ele derrubou o celular.

Se ajoelhou rápido,
Feriu os joelhos e
Pegou o celular.
A tela estava escura,
O vidro se rachou.
- Allah.
Mash’allah .

Ele gritou.
Então a voz riu alto,
Depois disso,
A tela reativou
E surgiu exatamente na conta dele,
Inclusive com o valor expresso:
Trezentos bilhões.
O celular por si próprio
Foi digitando e seguindo
Adiante as etapas.

O valor triplicou,
A dor de ver o filho 
Naquela fotografia 
Jamais se resumiria a numeral.

- me devolvam meu filho,
Me devolvam.
Ele gritou desesperado.
Arrancou os cabelos,
Deu socos no elevador,
Deu um chute.

Então, o elevador desceu,
Três andares,
Parou.
E houveram mais risos.
Ele colocou a senha,
E apertou o verde.
Ok.
Transação feita.

Então, em sua tela
Surgiu o saldo de sua conta
Zero, zero zero.
- o quê?
Ele gritou.
- isto mesmo,
Zerei sua conta.
Uma voz feminina falou.
O valor cobrado foi exorbitante.

- devolvam meu filho,
É tudo que eu amo!
Nisto, surgiu uma ligação
No celular dele,
Ele teclou para receber
Mas não atendia,
Tentou inúmeras vezes
E a tela estava inerte,
Se desesperou.

Depois de ter chorado
Até soluçar,
A ligação atendeu-se por si mesma.
Surgiu o filho no vídeo,
E uma arma apontada contra
Sua cabeça,
Então, o tiro.

E gritos,
Muitos gritos,
E a imagem do filho caído,
Sangue no chão,
Seus olhos abertos
E estagnados.
O coração pulsou tão intenso
Que via-se através de sua
Camisa branca.

Ele gritou.
Gritou.
Chamou o filho.
- Vane fiquei vivo,
Por favor,
Permaneça conosco.
Eu te amo...
E continuou gritando.

-agora, você vai até seu carro.
Sobre o vidro do parabrisa
Terá um jornal,
Vai te interessar.
A voz retornou a falar.

O elevador andou.
Ele chegou ao carro
E pegou o jornal
Com data do dia seguinte.

“Criança mata a si própria
Tendo encontrado arma
No armário de roupas do pai”.
Então, a fotografia.
O menino caído,
O sangue por toda parte.
A manchete a seguir dizia.

“Empresário bem sucedido
Procura pelo filho perdido
No supermercado.”
E outra,
“Corpo de criança
Em decomposição é encontrado.”
Lá havia uma fotografia
De um corpo pequeno,
Envolto em um tecido negro.

Ele sentiu toda a sua força
Se esvair.
Correu até a área criminosa
A qual cuidou através de sua janela,
Pediu ajuda as pessoas do local,
Mostrando o jornal.

Um rapaz reconheceu o local,
Onde foi fotografado
O corpo do menino em decomposição 
Dentro do embrulho negro,
Como sendo um barracão abandonado
Não distante de onde estavam.

Ele chegou lá,
Juntou um porrete de madeira,
E encontrou três pessoas.
Matou a todas.
Encontrou o filho caído
E sangrando,
Pegou-o no colo e o retirou
Do lugar.

Nisto, juntou todos os celulares
Que haviam lá,
Recuperou seu dinheiro,
E levou o filho até o hospital.
O filho passa bem.
Está sendo medicado.
Josefe sentou ali,
Bem em frente a cama,
Com as portas fechadas,
E os pés estendidos.

Teve tempo de tomar
Dois cafés com whisky,
As oito em ponto,
Pegou o filho no colo,
E foi para casa.

Foi alvo do olhar
Dos presentes,
Como sempre,
Olhares tentadores
Pareciam querer
Lhe dirigir a palavra,
Como se quisessem
Seduzir sua atenção.
Ele disse adeus
E saiu.

terça-feira, 15 de abril de 2025

Contadora

Toc, toc, toc,
Ouviu-se o barulho
De saltos impacientes
Sobre a escada do prédio,
Parecia querer esmagar
A distância.
Instante em que
A porta abre-se de ímpeto,
E um rosto maquiado,
De cabelos em trança,
Emerge.
Depois sua mão surge
Presa a maçaneta
De dentro,
Então, o corpo.
Lindo, escultural e esbelto,
Em um vestido verde
Com linhas douradas
A percorrer-lhe a silhueta,
Sobre lindos pés
Esmaltados na cor marrom,
E saltos azuis com amarelo.
- good pra todos!
Os rostos baixaram telefones,
Papéis, canetas e lápis
E a olharam espantados.
Linda.
Perfeitamente linda
No vestido comprido.
- morning’s.
Lhes disseram.
Ela atravessou
Os olhares contrariados,
Sentou-se sobre a mesa,
Juntou alguns papéis,
Leu-os demorada,
E pasmodicamente.
 Depois, juntou seus passos leves,
Um cigarro entre os dedos,
Esmaltados na cor vermelha,
E percorreu o corredor
Até a sala privada.
Ao entrar deparou-se
Com um homem ao telefone,
Lhe fez sinal de saída,
Ele foi-se,
A passos rápidos e duros.
Fazia pouco
Que ela assumiu a direção
Da empresa,
Presente de seu pai.
Os funcionários
Não respeitavam tal condição,
Aos seus planos vinte anos,
A julgavam imatura
E insegura em sua postura.
Isso, as escondidas,
E ela nutria ódio
Por tal comportamento.
Sempre precisava estar
Próxima a algum homem
Para ser ouvida
Ou respeitada.
Preferia isto,
A ter de ligar para o pai
Pedir ajuda
E depender de sua voz
Eloquente e grave
Ecoando nos ouvidos de todos.
“A algum tempo...”
Disse ele,
“...Que salário não significa muito.
Acham sempre pouco
Tudo que ganham
Trabalham cada vez menos...”
Ele havia fumado
Em sua sala,
Ela reconheceu o cheiro.
Odiou.
Mexeu nos documentos
Com mão gordurosa
De fritura da rua.
Ela foi até a janela
Para abri-la,
Sofrendo muito
Para destravar a trava
Escolhida por ela,
Colocada por homens
Que só eles tinham
Força suficiente para abrir.
Abriu.
Voltou a mesa,
Sentou-se na grande mesa
Feita de bergamoteira antiga,
Grossa e clara.
Cruzou as pernas,
Juntou aqueles documentos
Grudados e pôs-se a calcular.
Contadora,
Ela era uma empresária
Na área de contábeis.
Juntou o empreendedorismo
Aos números,
Tudo que mais odiava
Era quando até mesmo
As mulheres negavam
Valor ao seu trabalho.
Olhavam para ela com dúvida,
Precisava sempre manter
Um rapaz equilibrado ao seu lado.
Num piscar de olhos
O trabalho feminino
É rejeitado
Ou colocado em dúvida.
Dali onde estava
Podia ouvir o rapaz
Transando com a secretária,
Na balada passada,
A uns quinze dias,
Ela dançou com ele,
E beberam cervejas.
Agora, o rapaz transou
Com a secretária,
Justo agora
Que fechavam grandes contratos.
Ficou irritada,
Quis ligar para a mãe.
Mas, conteve-se.
De ímpeto,
Ele surgiu na porta,
Ela levantou-se num susto.
- preciso do dia de folga.
Ele respondeu.
Ela abriu a boca
De vergonha e insegurança.
- está certo.
E ele foi.
Não tardou,
Repetiram-se
Os barulhos do final do corredor.
Ela pensou se estava
Delirando,
Ou as lembranças
Que chegavam fortes
Até ela.
Ao final do dia,
O telefone tocou.
Ela atendeu.
- preciso do salário do mês
Adiantado.
Era ele.
Ela desligou.
Não falou nada.
Novamente a ligação.
A voz.
A frase.
A coragem.
O pedido:
- para quê?
Meu pai caiu da escada,
Ele nos trazia um bolo
Para o aniversário da empresa,
E caiu nos primeiros degraus.
Ela ficou incomodada
E sentiu-se mal.
- claro,
Posso adiantar o salário.
De imediato providenciou
Bolo e outras guloseimas
Para a festa.
As quatorze horas
Se dirigiu para a empresa
Que acordou contrato
De prestação de serviço.
Ao chegar,
Foi obrigada a subir
Uma enorme escada
De tijolos a vista.
Com pintura apenas
Nos sulcos.
A escada não parecia
Ter fim.
Chegou cansada
Foi atendida por uns mulher
Na chegada,
Através da recepção.
- tem hora marcada?
A funcionária indagou.
-sim.
Ela respondeu.
- não consta seu nome aqui.
A outra informou
-deve estar em nome da empresa.
Ela disse.
E apresentou seu cartão
De apresentação.
- não está.
Foi a resposta.
Ela ficou chocada,
Sentiu-se tonta.
- eu tenho cálculos
Para apresentar para ele,
E é nesta data.
- hum, calculadoria?
Está agendado em nome
De Anderson Marshen.
Ela espasmou,
Virou-se de costas.
Este era seu empregado.
Não ela.
Ele não podia ter agendado
Desta forma.
Isto a prejudicava popularmente.
- ele é meu empregado
E não pode vir.
Ela respondeu.
- tá bom.
Suba até o terceiro andar.
A recepcionista informou.
Ela subiu.
Cansou-se.
Chegou suada,
Roupa colada ao corpo.
Bateu a porta,
Não foi atendida.
Esperou,
Tornou a bater.
Depois de uma hora
Cansou de esperar
E não ser atendida.
Retornou a recepção.
- ninguém atendeu.
Ela disse.
- não entendo.
A outra respondeu.
- eu preciso entregar,
São os números da contadoria.
Ela tornou.
- certo.
Ele está no prédio em frente,
Este ali.
A recepcionista apontou.
O empresário
Tratava-se de um ex-namorado.
Ela o reconhecia bem.
Então, foi até lá.
Caminhou toda a distância
Que faltava.
Parecia ver ele,
Como se ele estivesse
Esperando -a de maneira
Estranha para ela.
Sua coluna arrepiou-se,
Ficou insegura,
Mas continuou.
Chegou a ver seus olhos,
Sua face,
Seu corpo no trabalho.
Aproximando-se mais
Encontrou uma parede
Fechada,
Com uma única janela
Também fechada.
Não havia ninguém ali
Onde pensou vê-lo.
Seu medo aumentou.
Pegou o celular,
Tentou ligar
E mulheres estranhas atendiam
E diziam coisas sobre sexo.
Sentiu medo,
Será que ele trocou
De telefone?
Bateu na porta,
Bateu muitas vezes.
Parecia que alguém descia,
Olhava mas não abria,
Contudo tinha apenas
Uma parede ali.
A porta era em madeira,
A parede de tijolos,
Não tinha como ela ser vista,
Porém, o relógio marcou
Dezesseis e trinta minutos
E não surgiu ninguém.
Ela saiu sem dizer adeus.
Desceu todos aqueles
Degraus de escada,
Sentindo como se logo
Eles fossem se romper
E ela cairia dali para o fundo,
Para os escombros.
Não se sentiu bem-vinda,
No caminho,
Dirigindo seu carro
Com a logomarca de sua empresa,
Desejou morrer.
Carros passavam rápidos
Por ela,
Fazendo manobras de ultrapassagem
Arriscadas.
Tudo parecia assustar,
Até mesmo aquele caminhão
Que vinha rápido demais.
Ela abriu passagem
Para ele,
Ele cruzou rápido,
Trazia uma carga de combustível.
Logo a frente,
Na curva,
Não conteve o peso da carga,
E tombou no asfalto,
Ela seguiu por ele,
Sem saber o que fazer,
Cruzou rápida e nervosa.
Assim que cruzou,
O caminhão pegou fogo,
Logo atrás dela,
Um carro passava perto,
Todos explodiram.
De longe,
Avistava-se o fogo.
Intenso azul e verde e amarelo.
Ao chegar no escritório
Soube que mais de dez carros
E o caminhão incendiaram
Ninguém soube o que houve,
Se se tratou de faísca
Ou de negligência do caminhoneiro.
Ela não respondeu.
Foi até a sala dela,
Fumou três cigarros.
Seu vestido
Parecia estar embebido
Em combustível,
Havia cheiro intenso nele.
Ela o esfumaçou
Com o cigarro,
Tentou ligar para o empresário,
Mas, continuava a algazarra
Na linha,
Como se ele estivesse sido
Fraudado através de um bloqueio
De linha,
Em que outras pessoas atendem
Para definhar sua imagem,
Com a intensão de lucro,
Ou então, teve o número clonado
Por presidiários
Que ligam para outras pessoas
Fingem ser um conhecido
E cometem crimes
Por dinheiro,
Como por exemplo,
Fingir que sequestraram
Um ente da família
E que irão matar
Se não for depositado
O dinheiro pedido.
Cansada de ficar fechada,
Ela dirigiu-se ao final
Do expediente,
Para a sala dos fundos
Da sala de comunicação
E calculadoria,
Ao entrar lá encontrou
Seu funcionário Anderson caído.
Esmorecido no chão,
Estava duro e frio,
Sem batimentos cardíacos,
Procurou sua carteira,
E havia uma identificação
Lá dentro,
Contudo, tinha outro nome,
E um rosto mais jovem nela.
Pela semelhança
Não deixaria dúvidas
Tratar-se da pessoa que via,
Todavia, ele não se chamava Anderson?
Ajoelhou-se no chão
E chorou.

O chocolate

Uma brisa varia o chão,
Ela não se importava,
Não fez mais que levantar
As mãos,
E posiciona-las
Em frente aos olhos.

Com uma barra de chocolate
Em uma das mãos,
Ela mordia delicadamente,
Sentindo o cheiro
E o gosto.

A barra derretia
Sobre o vestido branco
Transparente e esvoaçante,
Um pouco caiu sobre seu
Seio volumoso,
Marcando sua comissão de frente.

Ela parecia inerte ao seu redor,
Percorreu com a barra derretida
Seus lábios do superior
Ao inferior,
E seguiu sobre a língua,
Com a boca entreaberta.

Chupou o chocolate
Como se fosse o último gosto,
Seguia sobre a calçada
Em seu salto alto dourado
E preto,
Salto fino.

O vestido dançava
Sobre sua silhueta,
Lhe definindo e se separando,
Ela seguia reta,
Mais próxima da rua.

Havia quem mostrasse irritação,
Uma moça vestida
Num biquíni sobre uma saia,
Veio reto a ela,
Esbarrou em seu braço
Sem pedir desculpas.

Isto a retirou da barra
De chocolate,
Por pouco tempo,
Logo ela desviou
E continuou o caminho.

Sua boca ficou grossa
De chocolate,
Várias camadas de lábios
Pareciam estar sobre aquela boca
Molhada e seca nas bordas.

Seu posicionamento
Parecia ferir,
Tamanha desatenção
Do que fazia.
Simplesmente percorria
A calçada.

Uma luz amarela
De um Porsche cegou-a,
Por um minuto,
Vindo de encontro com seu olhar,
As luzes pareceram piscar
Para ela.

Ela também não se interessou.
Quando o Porsche passou
Por ela,
Seu vestido tremeu
Feito uma parede
Prestes a cair,
Reto e aos poucos,
Ela mordiscou o chocolate.

Passou a língua sobre os lábios,
O chocolate grudou,
Ela riu,
E nisto soltou a mão
Para baixo,
O restante da barra
Veio parar direto em sua cintura
Sobre o vestido branco,
Grudou ali
Feito chiclete.

Ela puxou,
De instantâneo,
Juntou o vestido
Para tirar o chocolate
Com a boca,
E o soltou dando-se conta
Do ato,
Envergonhada.

Foi obrigada a deixar
O chocolate ali,
Mordeu a barra que derretia.
Ela não tinha pressa.
Um rapaz passou bem
Perto dela,
Ficou a olhando insistentemente,
Mas ela não demonstrou interesse.

Uma buzina soou distante,
Alta e eloquente,
Fez muito barulho,
Mas, ela não olhou.
Só ouviu.
Ouviu alto e demorado.

Num instante,
Houve um grito temeroso,
Um grito a hora da morte,
No tempo em que ela
Desviou o olhar de sua direção,
Viu um rapaz ser empurrado
De um prédio em construção.

A uma altura aproximada
De 30 metros,
Iria cair sobre a calçada.
Não teria escapatória,
Tudo foi muito rápido.

Então, na altura de quinze metros,
Um homem de aparência
Gorda e velho,
Estendeu o braço para alcançar
O rapaz.

Alcançou por um momento,
Este homem estava agarrado
As estruturas do prédio,
Logo, contudo,
Não teve forças
O bastante para manter
O rapaz sobre seu braço.

O rapaz voltou a cair,
E assim foi ao chão.
Ela levantou o olhar
Assombrou a expressão,
Mas não disse nada.
Seguiu adiante.

Neste momento,
Um outro homem
Passa correndo
E bateu com a mão
Em seu chocolate.

Ela se irritou
E jogou o que restou fora.
- que droga.
Ela disse em resposta.

Estagnada com o rosto
Em direção a seguir,
Feito um retrato,
Com pouca cerimônia.

Saudades

Levantou pesadamente,
Jornal em mãos,
Aqueles 1,70,
Idade presumida 28
Não passa despercebido,
Não de maneira tão simples,
Mesmo se estiver
Em uma foto de abertura
De jornal,
De costas.

Eu jamais
Esqueceria aquelas mãos,
O detalhe sórdido dos cabelos,
A barba que descia seu pescoço,
Estes detalhes são perceptíveis
Facilmente.
A questão é:
Com quem?

Jogou cinco pás
De carvão no fogo,
Juntou uma bandeja de prata,
Colocou pinhão sobre ela,
A pôs sobre o fogo da lareira
Para assar.

A seguir,
Em pé em frente a janela,
De costas para a labareda,
Sentindo o cheiro do assado,
Juntou um cigarro
E acendeu.

Sem perceber trouxe
O jornal para perto,
E o fez incendiar,
Jogou logo no chão,
Com os pés apagou o fogo,
Aproveitou e recortou
Aquela foto.

O coração aos saltos,
Os lábios sedentos de desejo,
Acompanhado por quem?
Consultou o relógio,
Próximo ao meio dia,
Mexeu os pinhão
Para não queimar.

Iris estragar o almoço,
Mas estava feito.
Agiu por impulso,
O casaco de lá fina
Descia transparente
Por seu corpo esguio.

O desejou.
Como nunca antes.
Desejou ardentemente.
Avançou a leitura,
Agora o jornal estava
Todo rasgado,
Com a tesoura
Recortou todas as páginas
Por causa da primeira.

Pegou um grampo
E pendurou o retrato
Sobre a lareira.
A chacoalhar com o vento,
Juntou uma faca,
Abriu os pinhão,
Estavam bons.

Sentou-se
Em uma cadeira de balanço,
Comeu alguns,
Levantou-se e serviu-se de todos
Em uma bandeja de vidro.

Festa de jogatina,
Pura diversão,
Lia-se sobre a fotografia,
No mais não dizia nomes,
Nem apresentaria interesse.

Seria um sózer?
Doraline tentou
Puxar para si as outras páginas,
Mas nada condizia.
Juntou todas e jogou na lareira.

Parou ver o trepidar do fogo,
O tremeluzir das cores,
Como se queimassem
Seu olhar.
A dúvida registrada
É a pior coisa que existe,
Não por menos,
Vale como prova,
Indícios de falta de confiança,
Mas um beijo
Nunca foi contrato,
Mas este, especificamente,
Durou uns noite.

Uma noite vale-se
Como compromisso,
Ao menos isso.
Traduziu para si a fotografia:
Beijos não se bastam,
Noites inteiras se arrastam
A não valer nada,
Também.

Ao final do jornal,
Num pouco de página
Solta pelo chão
Pode ler:
Taxista- trabalho 24 horas diárias,
Dirige por onde precisar.
Serviço barato.

Trabalho a preço certo...
Jogou também aquele
No fogo,
Juntou as cascas retiradas
Dos pinhões,
Jogou também elas.
O cheiro era afrodisíaco.

Lá fora houve
Uma buzina insistente,
Olhou através da janela,
Se tratava de um táxi.
Ela permaneceu imóvel
A olhar o carro,
Não reconheceu ninguém,
Também não contratou
O serviço.

Não fez nada.
Nem disse nada.
Muita coincidência
Rondavam o relacionamento,
Mas homens bonitos
São assim mesmo:
Cobiçados.
E arredios.

Fosse o que fosse,
Não iria acreditar
Tão facilmente.
Mas, realmente,
Representava
Que alguém tinha
Interesse específico
No relacionamento...

Só esperava que não
Se tratasse de filhos,
Estas coisas realmente
São difíceis de relacionar.
Na lareira balançava
A fotografia
Com o garoto de costas,
Barba solta,
Mãos soltas.

Seu olhar percorreu
Cada parte,
Do cheiro ao tipo de papel,
Da roupa escura
Com traços dourados,
A toca branca que ele usava.

Voltou a consultar
O relógio,
Dezenove horas,
O táxi seguiu
Para algum lugar.

As lembranças desfilavam
Na memória,
Doraline foi até a geladeira,
Pegou acelga, pimentão,
Cebola, tomates e manga
E fez deles uma salada.

Almoçou.
Era dezembro.
Anoitecia.
As flores da quaresmeira
Caiam sobre o asfalto
E bordavam de roxo
A calçada.

Um cenário lindo
Para um beijo,
Mas beijos de amor
Não precisam de cenários.
Em razão do vento frio,
Se dirigiu a janela
Para fechar.

Ao fundo viu um carro
Se afastar,
Dentro do carro
Parecia estar
O devido rapaz
Do beijo.

Ele se afastava,
Seu coração acelerou,
Ela fechou a janela
Rápida.
Escorou-se de costas nela,
Tentando controlar o medo,
Ele estava próximo
Ou estava com outra?

Imaginou ele passeando
De mãos dadas
Em sua rua,
E quis morrer de agonia.
Tentou buscar sua imagem,
Mas onde estaria ele?

Olhou na direção de seu prédio,
Do outro lado do lago,
Pôde ver as luzes apagadas,
Ao menos isso se distinguia.
E, uma figura feminina?

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Lua

No dia em que a lua
Parou para me olhar,
Eu não confessei meu medo,
Eu não gritei pânico.

Eu apenas me calei,
Eu não tentei fugir,
Fiquei parada ali,
Ela surgiu brilhante,
Estava mais linda
Que o normal,
Estava fascinante.

Tudo corria normal,
Não fosse ela,
Reduzir sua velocidade
Para me olhar,
Simplesmente parar,
Ficar por horas,
A me ver.

Este dia foi difícil de explicar,
Tanta beleza cumulada
Em único ser,
E ela se dedica a eu?!

Fiquei vislumbrado,
Não poderia melhorar.
Então, ela despiu-se,
Retirou as vestes,
Eu a vi nua,
Escura e sedenta,
Sem sua luz peculiar,
Sem aquele assombro
Prazeroso.

O mundo todo
Não poderia vê-la,
Não sei explicar,
Mas, ela foi naquele instante
Só minha.

As estrelas ficaram fluorescentes,
O mais tudo escureceu,
Anoiteceu do nada,
E ela emudeceu,
Empalideceu,
Sumiu aos olhos de todos.

Eu a vi,
Conto que sim.
Ela sorria para mim,
Trêmula em seus desejos,
Sombria em tudo o mais,
Despiu-se toda,
A me esperar.

Nenhuma outra pessoa
Notou-a,
Foi como se ela desbotasse,
E não fizesse falta,
Foi único convite,
Com endereço determinado.

Uma multidão se juntou
Para ver ela,
Que houve
Indagaram-se,
Eu simplesmente
Não entendi como
Não a viam.

Estava mais linda,
Recatada,
A minha espera,
Eu fiz um aceno,
Sorri ainda distante,
Ela compreendeu
E vestiu-se,
De pouco a pouco

Mostrou-se,
Com todo brilho
E fulgor,
Com suas faces roseadas,
E sorriso simples.
Nós dois,
Amantes.

domingo, 13 de abril de 2025

In-Ti-Mi-Dar

- certo.
Desliguei o telefone,
Soltei no gancho,
Eu não quis ouvir,
Cansei de espanto.

Fica com ela
Pensa em mim,
Deixa dela,
Corre pro meu ego.

Chega de intimidar,
Homem que é homem,
Gosta e permanece,
Sabe cuidar.

Nela,
Ele me dá,
Em mim,
Ele dá nela?
Cara, bobo,
Só me guia á asneiras.

Se dentro dele
Me ama?
Por fora,
Me queira
Da mesma maneira.

In-
Ti-
Mi-
Dar!?

Não garoto bobo,
Vê se cresce,
Se afugenta
De si mesmo,
Busca a outra
Pela outra?
Busca eu por expectativas?

Guie-se garoto,
Pelo que você for capaz
De sentir
Quanto estiver perto,
De querer
Quando estiver
Com seu bem-querer.

Dê-se a quem amar,
Não a quem for capaz,
Está coisa de ser de todos
E não pertencer nem a si mesmo,
Isto é papo antigo,
Cai fora disso,
Se adequa ao modernismo
De se entregar
A quem gostar.

Deixa deste papo,
Eu não atendo mais.
A linha está ocupada,
Fora do gancho
Se insistir demais.

Amor Pro-fun-do

Ellah tinha dezesseis anos, Rob tinha dezessete, Na noite de festa Quando todos comemoravam, Ambos decidiram beber champanhe...