terça-feira, 15 de abril de 2025

Saudades

Levantou pesadamente,
Jornal em mãos,
Aqueles 1,70,
Idade presumida 28
Não passa despercebido,
Não de maneira tão simples,
Mesmo se estiver
Em uma foto de abertura
De jornal,
De costas.

Eu jamais
Esqueceria aquelas mãos,
O detalhe sórdido dos cabelos,
A barba que descia seu pescoço,
Estes detalhes são perceptíveis
Facilmente.
A questão é:
Com quem?

Jogou cinco pás
De carvão no fogo,
Juntou uma bandeja de prata,
Colocou pinhão sobre ela,
A pôs sobre o fogo da lareira
Para assar.

A seguir,
Em pé em frente a janela,
De costas para a labareda,
Sentindo o cheiro do assado,
Juntou um cigarro
E acendeu.

Sem perceber trouxe
O jornal para perto,
E o fez incendiar,
Jogou logo no chão,
Com os pés apagou o fogo,
Aproveitou e recortou
Aquela foto.

O coração aos saltos,
Os lábios sedentos de desejo,
Acompanhado por quem?
Consultou o relógio,
Próximo ao meio dia,
Mexeu os pinhão
Para não queimar.

Iris estragar o almoço,
Mas estava feito.
Agiu por impulso,
O casaco de lá fina
Descia transparente
Por seu corpo esguio.

O desejou.
Como nunca antes.
Desejou ardentemente.
Avançou a leitura,
Agora o jornal estava
Todo rasgado,
Com a tesoura
Recortou todas as páginas
Por causa da primeira.

Pegou um grampo
E pendurou o retrato
Sobre a lareira.
A chacoalhar com o vento,
Juntou uma faca,
Abriu os pinhão,
Estavam bons.

Sentou-se
Em uma cadeira de balanço,
Comeu alguns,
Levantou-se e serviu-se de todos
Em uma bandeja de vidro.

Festa de jogatina,
Pura diversão,
Lia-se sobre a fotografia,
No mais não dizia nomes,
Nem apresentaria interesse.

Seria um sózer?
Doraline tentou
Puxar para si as outras páginas,
Mas nada condizia.
Juntou todas e jogou na lareira.

Parou ver o trepidar do fogo,
O tremeluzir das cores,
Como se queimassem
Seu olhar.
A dúvida registrada
É a pior coisa que existe,
Não por menos,
Vale como prova,
Indícios de falta de confiança,
Mas um beijo
Nunca foi contrato,
Mas este, especificamente,
Durou uns noite.

Uma noite vale-se
Como compromisso,
Ao menos isso.
Traduziu para si a fotografia:
Beijos não se bastam,
Noites inteiras se arrastam
A não valer nada,
Também.

Ao final do jornal,
Num pouco de página
Solta pelo chão
Pode ler:
Taxista- trabalho 24 horas diárias,
Dirige por onde precisar.
Serviço barato.

Trabalho a preço certo...
Jogou também aquele
No fogo,
Juntou as cascas retiradas
Dos pinhões,
Jogou também elas.
O cheiro era afrodisíaco.

Lá fora houve
Uma buzina insistente,
Olhou através da janela,
Se tratava de um táxi.
Ela permaneceu imóvel
A olhar o carro,
Não reconheceu ninguém,
Também não contratou
O serviço.

Não fez nada.
Nem disse nada.
Muita coincidência
Rondavam o relacionamento,
Mas homens bonitos
São assim mesmo:
Cobiçados.
E arredios.

Fosse o que fosse,
Não iria acreditar
Tão facilmente.
Mas, realmente,
Representava
Que alguém tinha
Interesse específico
No relacionamento...

Só esperava que não
Se tratasse de filhos,
Estas coisas realmente
São difíceis de relacionar.
Na lareira balançava
A fotografia
Com o garoto de costas,
Barba solta,
Mãos soltas.

Seu olhar percorreu
Cada parte,
Do cheiro ao tipo de papel,
Da roupa escura
Com traços dourados,
A toca branca que ele usava.

Voltou a consultar
O relógio,
Dezenove horas,
O táxi seguiu
Para algum lugar.

As lembranças desfilavam
Na memória,
Doraline foi até a geladeira,
Pegou acelga, pimentão,
Cebola, tomates e manga
E fez deles uma salada.

Almoçou.
Era dezembro.
Anoitecia.
As flores da quaresmeira
Caiam sobre o asfalto
E bordavam de roxo
A calçada.

Um cenário lindo
Para um beijo,
Mas beijos de amor
Não precisam de cenários.
Em razão do vento frio,
Se dirigiu a janela
Para fechar.

Ao fundo viu um carro
Se afastar,
Dentro do carro
Parecia estar
O devido rapaz
Do beijo.

Ele se afastava,
Seu coração acelerou,
Ela fechou a janela
Rápida.
Escorou-se de costas nela,
Tentando controlar o medo,
Ele estava próximo
Ou estava com outra?

Imaginou ele passeando
De mãos dadas
Em sua rua,
E quis morrer de agonia.
Tentou buscar sua imagem,
Mas onde estaria ele?

Olhou na direção de seu prédio,
Do outro lado do lago,
Pôde ver as luzes apagadas,
Ao menos isso se distinguia.
E, uma figura feminina?

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