terça-feira, 15 de abril de 2025

Contadora

Toc, toc, toc,
Ouviu-se o barulho
De saltos impacientes
Sobre a escada do prédio,
Parecia querer esmagar
A distância.
Instante em que
A porta abre-se de ímpeto,
E um rosto maquiado,
De cabelos em trança,
Emerge.
Depois sua mão surge
Presa a maçaneta
De dentro,
Então, o corpo.
Lindo, escultural e esbelto,
Em um vestido verde
Com linhas douradas
A percorrer-lhe a silhueta,
Sobre lindos pés
Esmaltados na cor marrom,
E saltos azuis com amarelo.
- good pra todos!
Os rostos baixaram telefones,
Papéis, canetas e lápis
E a olharam espantados.
Linda.
Perfeitamente linda
No vestido comprido.
- morning’s.
Lhes disseram.
Ela atravessou
Os olhares contrariados,
Sentou-se sobre a mesa,
Juntou alguns papéis,
Leu-os demorada,
E pasmodicamente.
 Depois, juntou seus passos leves,
Um cigarro entre os dedos,
Esmaltados na cor vermelha,
E percorreu o corredor
Até a sala privada.
Ao entrar deparou-se
Com um homem ao telefone,
Lhe fez sinal de saída,
Ele foi-se,
A passos rápidos e duros.
Fazia pouco
Que ela assumiu a direção
Da empresa,
Presente de seu pai.
Os funcionários
Não respeitavam tal condição,
Aos seus planos vinte anos,
A julgavam imatura
E insegura em sua postura.
Isso, as escondidas,
E ela nutria ódio
Por tal comportamento.
Sempre precisava estar
Próxima a algum homem
Para ser ouvida
Ou respeitada.
Preferia isto,
A ter de ligar para o pai
Pedir ajuda
E depender de sua voz
Eloquente e grave
Ecoando nos ouvidos de todos.
“A algum tempo...”
Disse ele,
“...Que salário não significa muito.
Acham sempre pouco
Tudo que ganham
Trabalham cada vez menos...”
Ele havia fumado
Em sua sala,
Ela reconheceu o cheiro.
Odiou.
Mexeu nos documentos
Com mão gordurosa
De fritura da rua.
Ela foi até a janela
Para abri-la,
Sofrendo muito
Para destravar a trava
Escolhida por ela,
Colocada por homens
Que só eles tinham
Força suficiente para abrir.
Abriu.
Voltou a mesa,
Sentou-se na grande mesa
Feita de bergamoteira antiga,
Grossa e clara.
Cruzou as pernas,
Juntou aqueles documentos
Grudados e pôs-se a calcular.
Contadora,
Ela era uma empresária
Na área de contábeis.
Juntou o empreendedorismo
Aos números,
Tudo que mais odiava
Era quando até mesmo
As mulheres negavam
Valor ao seu trabalho.
Olhavam para ela com dúvida,
Precisava sempre manter
Um rapaz equilibrado ao seu lado.
Num piscar de olhos
O trabalho feminino
É rejeitado
Ou colocado em dúvida.
Dali onde estava
Podia ouvir o rapaz
Transando com a secretária,
Na balada passada,
A uns quinze dias,
Ela dançou com ele,
E beberam cervejas.
Agora, o rapaz transou
Com a secretária,
Justo agora
Que fechavam grandes contratos.
Ficou irritada,
Quis ligar para a mãe.
Mas, conteve-se.
De ímpeto,
Ele surgiu na porta,
Ela levantou-se num susto.
- preciso do dia de folga.
Ele respondeu.
Ela abriu a boca
De vergonha e insegurança.
- está certo.
E ele foi.
Não tardou,
Repetiram-se
Os barulhos do final do corredor.
Ela pensou se estava
Delirando,
Ou as lembranças
Que chegavam fortes
Até ela.
Ao final do dia,
O telefone tocou.
Ela atendeu.
- preciso do salário do mês
Adiantado.
Era ele.
Ela desligou.
Não falou nada.
Novamente a ligação.
A voz.
A frase.
A coragem.
O pedido:
- para quê?
Meu pai caiu da escada,
Ele nos trazia um bolo
Para o aniversário da empresa,
E caiu nos primeiros degraus.
Ela ficou incomodada
E sentiu-se mal.
- claro,
Posso adiantar o salário.
De imediato providenciou
Bolo e outras guloseimas
Para a festa.
As quatorze horas
Se dirigiu para a empresa
Que acordou contrato
De prestação de serviço.
Ao chegar,
Foi obrigada a subir
Uma enorme escada
De tijolos a vista.
Com pintura apenas
Nos sulcos.
A escada não parecia
Ter fim.
Chegou cansada
Foi atendida por uns mulher
Na chegada,
Através da recepção.
- tem hora marcada?
A funcionária indagou.
-sim.
Ela respondeu.
- não consta seu nome aqui.
A outra informou
-deve estar em nome da empresa.
Ela disse.
E apresentou seu cartão
De apresentação.
- não está.
Foi a resposta.
Ela ficou chocada,
Sentiu-se tonta.
- eu tenho cálculos
Para apresentar para ele,
E é nesta data.
- hum, calculadoria?
Está agendado em nome
De Anderson Marshen.
Ela espasmou,
Virou-se de costas.
Este era seu empregado.
Não ela.
Ele não podia ter agendado
Desta forma.
Isto a prejudicava popularmente.
- ele é meu empregado
E não pode vir.
Ela respondeu.
- tá bom.
Suba até o terceiro andar.
A recepcionista informou.
Ela subiu.
Cansou-se.
Chegou suada,
Roupa colada ao corpo.
Bateu a porta,
Não foi atendida.
Esperou,
Tornou a bater.
Depois de uma hora
Cansou de esperar
E não ser atendida.
Retornou a recepção.
- ninguém atendeu.
Ela disse.
- não entendo.
A outra respondeu.
- eu preciso entregar,
São os números da contadoria.
Ela tornou.
- certo.
Ele está no prédio em frente,
Este ali.
A recepcionista apontou.
O empresário
Tratava-se de um ex-namorado.
Ela o reconhecia bem.
Então, foi até lá.
Caminhou toda a distância
Que faltava.
Parecia ver ele,
Como se ele estivesse
Esperando -a de maneira
Estranha para ela.
Sua coluna arrepiou-se,
Ficou insegura,
Mas continuou.
Chegou a ver seus olhos,
Sua face,
Seu corpo no trabalho.
Aproximando-se mais
Encontrou uma parede
Fechada,
Com uma única janela
Também fechada.
Não havia ninguém ali
Onde pensou vê-lo.
Seu medo aumentou.
Pegou o celular,
Tentou ligar
E mulheres estranhas atendiam
E diziam coisas sobre sexo.
Sentiu medo,
Será que ele trocou
De telefone?
Bateu na porta,
Bateu muitas vezes.
Parecia que alguém descia,
Olhava mas não abria,
Contudo tinha apenas
Uma parede ali.
A porta era em madeira,
A parede de tijolos,
Não tinha como ela ser vista,
Porém, o relógio marcou
Dezesseis e trinta minutos
E não surgiu ninguém.
Ela saiu sem dizer adeus.
Desceu todos aqueles
Degraus de escada,
Sentindo como se logo
Eles fossem se romper
E ela cairia dali para o fundo,
Para os escombros.
Não se sentiu bem-vinda,
No caminho,
Dirigindo seu carro
Com a logomarca de sua empresa,
Desejou morrer.
Carros passavam rápidos
Por ela,
Fazendo manobras de ultrapassagem
Arriscadas.
Tudo parecia assustar,
Até mesmo aquele caminhão
Que vinha rápido demais.
Ela abriu passagem
Para ele,
Ele cruzou rápido,
Trazia uma carga de combustível.
Logo a frente,
Na curva,
Não conteve o peso da carga,
E tombou no asfalto,
Ela seguiu por ele,
Sem saber o que fazer,
Cruzou rápida e nervosa.
Assim que cruzou,
O caminhão pegou fogo,
Logo atrás dela,
Um carro passava perto,
Todos explodiram.
De longe,
Avistava-se o fogo.
Intenso azul e verde e amarelo.
Ao chegar no escritório
Soube que mais de dez carros
E o caminhão incendiaram
Ninguém soube o que houve,
Se se tratou de faísca
Ou de negligência do caminhoneiro.
Ela não respondeu.
Foi até a sala dela,
Fumou três cigarros.
Seu vestido
Parecia estar embebido
Em combustível,
Havia cheiro intenso nele.
Ela o esfumaçou
Com o cigarro,
Tentou ligar para o empresário,
Mas, continuava a algazarra
Na linha,
Como se ele estivesse sido
Fraudado através de um bloqueio
De linha,
Em que outras pessoas atendem
Para definhar sua imagem,
Com a intensão de lucro,
Ou então, teve o número clonado
Por presidiários
Que ligam para outras pessoas
Fingem ser um conhecido
E cometem crimes
Por dinheiro,
Como por exemplo,
Fingir que sequestraram
Um ente da família
E que irão matar
Se não for depositado
O dinheiro pedido.
Cansada de ficar fechada,
Ela dirigiu-se ao final
Do expediente,
Para a sala dos fundos
Da sala de comunicação
E calculadoria,
Ao entrar lá encontrou
Seu funcionário Anderson caído.
Esmorecido no chão,
Estava duro e frio,
Sem batimentos cardíacos,
Procurou sua carteira,
E havia uma identificação
Lá dentro,
Contudo, tinha outro nome,
E um rosto mais jovem nela.
Pela semelhança
Não deixaria dúvidas
Tratar-se da pessoa que via,
Todavia, ele não se chamava Anderson?
Ajoelhou-se no chão
E chorou.

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