Ela, pensativa e com os olhos no horizonte,
Voltou-se para as nuvens,
Como se tivesse um desejo em mente,
Um do qual não fosse se arrepender,
Que não exigisse tanto quanto o anterior,
Talvez, ter pedido aquele beijo foi seu pior erro,
Repetiu maquinalmente mais para si mesma:
Preciso esquecer, dar um passo a frente,
Qualquer coisa que não me fira a alma,
Que me exclua de ansiar tremula por ele,
Aquela noite deixou ele um tanto abalado,
Então, ela podia resistir a beijá-lo,
Não correr para o seu abraço sempre que chegasse,
Ou ainda, ser indiferente como se não o desejasse?
É certo que aquele olhar abalado e tristonho
Dizia o contrário,
Mas, quando chegou e procurou por sua boca,
Ele a viu hesitar, única vez, mas o fez,
Ele experimentou algo que se iguala a um trovão,
Que rompe os céus com um estrondo e atinge o chão,
Fazendo com que se abra e o consuma,
Antes mesmo de seus olhos baixarem-se para ver o que há,
Antes que sua mente cogite estar em perigo,
Quando se percebe já não existe mais – consumido-,
Há então, nele apenas as feridas,
Um respirar incerto e controlado – a contar o ar-,
Até que tudo acabe e suas narinas não tenham mais nada,
Nem seu coração mais pense em pulsar,
Perder o amor tem qualquer coisa de morte,
Seu olhar ficou sombrio e procurou sua pele,
Tocou seu rosto primeiro, depois foi até a boca,
Há quanto tempo não a vê com tanta atenção?
Ela trocou o creme, há um cheiro diferente nela,
Não usava o perfume que a presenteou,
E seus lábios rosados estavam avermelhados,
Chamativos como em um convite que não era seu,
Declarou a si mesmo que não iria duvidar,
Mas contra todas as suas forças não foi forte o bastante,
Tremeu com ela em seus braços e não era paixão,
Era medo, de perde-la, de nunca mais a tê-la,
Estar preso nos braços de quem mais chama a sua emoção,
Vê-la hesitante quanto a estar com ele ou não...
Ela conteve o suspiro ante a aproximação,
O sol caiu e a noite veio afoita e escurecida,
Esqueceu da lua em algum lugar distante,
Sua alma já não se contentava em apenas instantes,
E beijar aquele homem já não tinha o mesmo toque,
A sombra da noite, vê-lo daquele jeito a fazia mal,
Por mais forte que fosse o seu desejo não queria ceder,
Apesar de tudo que sentia, não queria estar ali sem saber
porquê,
Mas, as mãos dele a procuravam e pareciam implorar,
Era como se seus olhos lhe pedissem para ficar,
Se entregar como antes, continuar naquele sonho,
Aquele do qual nunca imaginou acordar,
Sentir-se segura em seu abraço e manter-se,
Sentia que sua pele era irresistivelmente levada a
continuar,
Mas, algo, algo dentro dela hesitava,
Não tinha certeza se queria ir mais longe com aquilo,
O beijo, o cheiro, o abraço... não tinha certeza,
Aonde aquele sonho a conduziria?
Até que ponto seria capaz de entregar-se dessa forma,
Mil juras de amor lhe vinham a mente e fugiam,
Seus sonhos desenhavam-se a sua volta,
Mas ela já nem sentia que os pertenciam,
Não estava de acordo em fugir sem explicar,
Mas, também, não se entendia em nada,
Percebeu-se em uma armadilha,
Temerária para quem deixa de amar e é amada,
Atrasada para ela, que apaixonou-se e agora já não sabe,
Pela demora, pela imprecisão dos gestos dele ou por quê?
Deixou de ir ao café.