sexta-feira, 15 de agosto de 2025

A Perda

Falar sobre a dor
De ficar viúva
Nunca seria simples,
Se contentar em dirigir
Todos os dias até o cemitério
Para levar flores,
E contar da dor que sente,
Deixar uma carta,
Com um beijo sobre a lápide,
Nunca seria o suficiente.
Rebeca atingiu seu limite
No que se refere a sofrer,
Contudo, Marcelo retirou
O carro da garagem
Buzinou para avisar
Que estava pronto pra levá-la,
E Rebeca decidiu se apressar.
Abrindo a porta de vestido longo,
Viu uma nova flor no jardim
Que balançou mais intensa
E liberou um aroma delicado
Que seu esposo merecia sentir,
Reconhecer,
E ela sentiu que precisava dividir
Este sentimento de alívio
E esperança que teve,
Então, fechou a porta rápida,
Não percebeu que prendeu
O vestido nela,
E se apressou para o lado
Da flor segurando
O buquê de rosas costumeiro.
O vestido preso a reteve
Ainda sobre a escada,
Ela perdeu o equilíbrio,
Caiu sobre a barriga,
Sangrou até seu bebê
Sair pelo líquido,
Sozinha e insegura.
Marcelo correu para ajudar,
Ela pediu para ir levar
O buquê,
Ignorou a outra flor,
Sentou ao lado da lápide,
Contou de sua dor
Enquanto sangrava
Sem parar.
Marcelo, o motorista,
Ficou no carro,
Do lado de fora do cemitério,
Rebeca não resistiu,
Chorou intensa e triste,
Pôs suas mãos contra a lápide
E a abriu.
Ali encontrou o esposo,
Se perdendo entre a madeira
Do caixão escuro de veludo.
Seus lábios selados e pálidos,
Olhos fechados,
Rosto sem expressão,
Ele não viu sua dor,
Não se compadeceu
De seu sofrimento.
Indignada,
Pegou a haste da roseira,
E o agrediu,
Arranhou seu rosto
Até tirar a pele,
Rasgou seus lábios
Para que se comparecesse.
Um mês,
Um mês sem ele,
E o filho o chamava,
Não resistiu ao pranto,
Não se contentou
Com a oportunidade de viver,
Foi atrás do pai,
Galgou o sonho de todo inocente,
Conhecer o colo fraterno.
Indignada,
Chorou até não ver
Mais nada a sua frente,
Então, o caixão descolou,
Ela arrancou sua parede,
E retirou de dentro
Da lápide de mármore.
Soltou a sua frente,
O veludo azul ficou molhado
No mesmo instante
Com sua dor,
Em um mês em que Tiago
Estava ali,
Nenhuma gota de sangue,
Suor ou secreção
Saiu dele que molhasse
O pano,
Contudo, num único
Minuto de pranto de Rebeca,
Tudo escorreu por lágrimas
Abaixo.
Ela retirou o tecido,
Riscou com os espinhos
Da roseira,
Duas horas de choro
Depois,
Viu que desenhou o rosto
De Tiago ali.
O abandonador,
O amor que partiu
Para deixá-la sozinha
E grávida,
Olhou entre suas pernas abertas,
E havia uma poça de sangue
Entre elas,
E ali: algo.
O filho escorreu.
Usando sangue, dor e pranto,
Ela pegou a pele do esposo,
E colocou sobre o desenho,
Pegou grama, terra,
E algo do mármore,
Que não foi difícil quebrar,
Ao bater a parte da madeira
Do caixão contra ele.
A madeira se partiu
Em partes menores,
E o mármore se soltou.
Juntou suas roupas,
Rasgou até a cueca.
Maldito.
A deixou.
Preferiu a morte.
Desenhado o rosto
Do esposo morto,
Desenhou o filho,
Fez um pequeno bebê
Na altura do seu peito,
Como se ele o segurasse,
Então, ergueu o vestido,
Encontrou o grosso
Do seu sangue,
A espessura de algo nele,
A formatura de um bebê,
O bebê que o pai voltou
Para buscar,
O entregou.
Esmagou o que restou daquilo,
E colocou na peça de madeira,
Cravejada de dor,
Espinhos, pranto, sangue e pele.
Colocou um brilho amarelo
No olhar de cada um,
Desenhado pelo mármore
Do mesmo tom.
Pôs no sol para secar,
Trabalhou com o tecido
Cada detalhe,
Juntou alguns ossos
Para relevo da obra,
No fundo da tela
Coloriu com o próprio sangue.
Depois disso,
Secou o choro,
Que por si próprio
Desistiu de fazer luto.
Fechou o caixão,
Soltou a lápide sobre
O mármore de volta,
Nada pareceu ter sido mexido,
Nem a fotografia de Tiago
Que lhe sorria do lado de fora,
Nem sua pele
Sentiu qualquer coisa,
Ou os ossos.
Abriu a caixa da lápide,
Onde se colocava as flores,
E soltou lá dentro sua tela,
A cor do esposo
Ganhou tonalidade e vigor,
O filho ganhou forma,
Ambos sorriam felizes,
Estavam distantes agora,
E juntos.
Chaveou a caixinha,
Fez uma oração pra ambos,
Calou sua dor.

Dor

“De útero para útero,
O sangue doente
Se revela,
E a histeria é transmitida”.
O médico sugeriu para Anne,
Que estava deitada na cama
Hospitalar,
Com o nariz quebrado,
E algumas ataduras pelo rosto.
Ela ficou calada,
Ele queria emitir
Um diagnóstico
Que não fosse o costumeiro
De que, outra vez,
Seu esposo descontou nela
Toda a sua fúria, ódio e força.
“Ele feriu-se?”
Anne olhou para seu rosto,
Como se quisesse indagar,
Mas, não conseguiu dizer nada,
Então, permaneceu olhando
Fixo para aquele homem alto
Vestido de branco
Com uma prancheta
E uma caneta branca
Em mãos.
Contudo, ela imaginou
Que não,
Ele não sofreu único arranhão,
Nem quebrou seus dedos
Contra os ossos
Do seu rosto.
Anne tentou se mover,
Mas viu-se impedida,
Estava usando gesso
Em um dia braços,
E custou lembrar o motivo.
Rolinton estava fazendo
Açúcar de cana,
Quando começou a gritar
Para ela pôr lenha no fogo
Caso contrário o fogo
Se apagaria e isto retardaria
O resultado do açúcar,
Ou então, estragaria.
Ela se aprumou
Com um feixe de lenha
Em mãos,
Então, a dois passos
Da fogueira
Tropeçou sobre palha seca,
Gravetos e outras sujeiras
Que estavam ao redor
Do tacho
No redor e dentro
Do galpão aberto
Onde estavam.
Caiu de rosto na sujeira,
Estendida feito uma boba,
A lenha correu dos seus braços,
Chegou ao fogo
E incendiou feito palha seca,
Faiscando contra sua cara,
Crepidando próximo ao seu rosto.
Rolinton irritou-se,
Levantou de seu tronco
De madeira onde estava sentado
Com a pá de mexer o tacho
Nas mãos,
Soltou a pá naquela labareda
E atirou contra ela.
Jogou brasas acesas,
Madeira incandescente,
Fogo vivo em seus braços,
Então, pisou sobre o braço
Próximo a ele.
Sua mão esquerda
Presa entre o chão
E seu pé,
E o fogo a consumir
Sua pele,
Suas unhas,
Seus dedos,
Seu braço,
Chegando ao seu rosto.
Ela uniu toda a sua força,
Puxou o braço,
E conseguiu fugir,
Caindo sentada contra
O pilar do galpão.
Rolinton não se viu sossego,
Lavou a pá no balde de água
Que estava ao seu lado,
Depois, colocou no açúcar
Que fervia a sua frente,
E jogou três pás
Do doce contra Anne,
Depois disso,
Largou a pá dentro do tacho.
Juntou Anne pelos braços,
E desferiu socos
Contra seu rosto
Até fazer saltar sangue.
Ele disse que ela era lerda,
Histérica e vadia.
Ela pegou uma madeira
E revidou contra seu rosto,
Ele defendeu com o braço
O golpe dela,
Lhe tomou a madeira
Com a mesma mão
E soltou a madeira com força
Contra ela,
Ela acordou ali onde estava.
Não sabia o dia,
Ou hora,
Mas, olhava-se no espelho
A sua frente
Preso na parede
Ansiosa para voltar
Para casa.
O médico falava,
Movia-se ao seu redor,
Lhe indicava remédios
Pedia se sentia dor,
“dor?” ela indagou-se,
Então, chorou copiosamente.

Esposa Traída

Mais uma noite
Eu dormi fora,
Fiquei na farra
A noite inteira,
Beijei e até amei outra.
Porém, minha esposa
Decidiu se espertar,
Não aguardou minha volta,
Não esperou a desculpa,
Foi a minha procura,
Chegou em frente a loja
Onde eu estava,
Encontrou um maldito carro,
E bateu nele
Com tanta violência
Que deixou só a carcaça,
Destruiu meu salário,
Arrasou com meu mostruário
De marido traidor.
O dono veio a minha procura,
Me indagou se ele
Tem cara de marido safado,
Eu lhe disse,
Mas é certo que não amigo,
Ele respondeu me desferindo
Um soco no meio da cara,
Me jogou contra o chão,
Tamanha força,
E gritou:
Pague a desgraça
Que sua esposa me fez,
Achando que aquele
Carro era o seu,
Porquê de parecido tem muito,
Mas, jamais seria dirigido
Por um otário feito você,
Seu maldito!
Vou trocar a cor,
Trocar o modelo,
Deus me livre
De ser confundido
Com um idiota feito você!
Virou as costas e saiu,
Quando olhei lá fora,
Do carro não restava nada,
Além de desgraça.
O homem me viu outra vez,
Veio para o meu lado,
Retirou as chaves do meu carro,
E gritou de dentro dele:
Pague, porquê eu volto!

Caminhoneiro por quê?

“O único vício da minha filha
Era o cigarro,
Agora ela pegou o carro,
Retirou dinheiro
Da minha carteira
E foi comprar no mercado.”
“Meu Deus,
Faz doze horas
Que ela saiu,
Isto me preocupa,
Eu li uma notícia
Que dizia
Que um caminhoneiro armado,
Veio na direção oposta
Da pista de tráfego,
E atirou contra um carro,
Por Deus,
Na foto que está disponível
Não mostra o rosto,
Não diz o nome,
Porém, a vítima morreu,
Era uma feminina,
E o carro é parecido
Com o meu,
Será que é minha filha?
Eu não pude ver
O número da placa,
Como eu posso saber
De quem se trata,
Eu ligo,
Ela não me atende,
Cadê minha filha,
Aonde ela pode estar,
Eu a amo,
Preciso dela,
Minha esposa está chorando,
Eu estou sofrendo,
O que houve com minha filha,
Este maldito vício,
Tal simples,
Causou sua morte,
Caminhoneiro, por quê?
Você matou minha filha,
Ela nada me fez,
É uma moça calma,
Caminhoneiro por quê?
O que houve com você,
Por quê você descontou
Sua fúria sobre minha filha,
Ela é moça decente,
Nada lhe fez,
Caminhoneiro por quê?
O está destruído,
Depois de receber o tiro
Ela perdeu a direção,
Caminhoneiro por quê?
Isto que você fez
Não tem explicação,
Minha filha,
Uma inocente vítima
De você,
Caminhoneiro por quê?
O que ela te fez
Que conversando comigo
Nós não poderíamos resolver?
Você foi maldoso e cruel,
Caminhoneiro por quê?

Nossa Família

Hoje eu e meu esposo
Pegamos as crianças
Convidamos meu sogro
E fomos a loja
Comprar os móveis
Para a nossa casa.
Nossa primeira experiência,
Juntamos um dinheiro
No início do mês
E renovamos tudo,
Cama, colchão,
Pia e sofá novo,
Tudo do mais bonito,
Escolhido juntos.
De presente
O sogro nos deu uma televisão,
Nunca estivemos mais felizes,
Agora a casa está
Com cheirinho de novo,
É um orgulho,
As crianças estão felizes,
O hambúrguer já está
Na chapa
E o pão no forno,
Isto é felicidade completa,
Estarmos juntos,
Comprar tudo que precisamos,
De pouco a pouco,
Ver nossos rostos radiantes
Num sorriso de completude,
Isto é amor,
Isto é estarmos unidos.
Agora cada cômodo
Da nossa casa
É um sonho
A ser idealizado
E depois estabelecido,
Olhamos a sala
E pensamos juntos:
O que precisa?
Escolhemos o que há
De mais bonito,
E tudo fica lindo,
Porquê tudo está perfeito,
É mais que um sonho
É nossa família unida.

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Destinos Laçados II

Encontrado os dois quadros antigos
Da família Williams,
Cathuca decidiu retira-los
Do quarto,
Pensando na mansão enorme
Onde residia,
Decidiu reconhecer alguns
Dos outros cômodos
E encontrar um local
Mais apropriado para eles,
Onde o ouro da moldura,
E as preciosidades deles
Fossem ressaltados.
Ela abandonou seu primeiro nome
Com o enterro do esposo,
Lhe doeu em demasia
Ter de deixá-lo dentro daquele
Espaço escuro e tão pequeno,
Que agora,
Com o primeiro frio molhava
E o congelava de pouco a pouco,
A terra em volta do túmulo
Onde diariamente ela se ajoelhava
Para falar com ele
Estava congelada,
Era como se cubos de gelo
Tivessem sido diluídos ali,
Seu corpo adormecia de frio,
Logo, ela precisava fugir
O mais depressa possível
Da brisa que afogueava seu rosto,
Para depois lhe congelar
Os lábios e a própria fala,
Incapaz de dizer mais nada
E não querendo usar voz baixa,
Ela retornava a própria casa.
Moroquenn era bondoso
Em levá-la,
Deixa-la a sós com o esposo,
E voltar buscá-la,
Ele nunca ficava longe demais
E sabia respeitar seu tempo
Com o esposo.
Ele foi melhor amigo
De ambos em vida do esposo,
Agora estava sendo seu ombro amigo,
Um acalento para seu coração aflito,
Sua filha já respondia a sua voz,
Se mexia para a direção dele,
Ela tinha certeza disso,
Sua barriga lhe mostrava,
E o sorriso que surgia contava.
Logo a menina nasceria,
Conforme os quadros de sua família,
Ela já havia tido um nome
A alguns séculos,
E aquele nome lhe soou familiar,
Ela pensava em mantê-lo,
Ao menos teve certeza dos
Próprios nomes ao olhar
Para cada rosto.
Não era casualidade os quadros,
Era destino.
Caminhando por entre os cômodos,
Chegou no doze quarto
E abriu a porta por instinto,
Ela sentiu que ali
Havia uma história sua
Que viveu há tantos séculos,
Mas que manteve-se viva
E precisava ser buscada.
Ao abrir a porta,
A emoção do que viu
Foi tão intensa
Que desmaiou.
Horas mais tarde acordou,
O quarto era inteiramente
Enfeitado para crianças,
Mais específico,
Para uma menina.
Havia bonecos feitos
Em tecidos do tamanho
De um ser humano real,
Com seu próprio rosto,
O do esposo e de um bebê.
No transcorrer do tempo,
Este bebê cresceu,
E tinha suas mudanças
Em novas bonecas
Absurdamente idênticas
A menina do quadro.
Cathuca pôde se ver
Vestida a moda de trezentos anos
Passados, usando joias
E vestidos longos de anágua.
Num lapso de memória
Se viu beijando o esposo,
O viu com a neném no colo,
Eleonora ele a chamou,
Ela o ouviu dizendo o nome da filha,
Depois retornou ao dia em que estava,
Perdeu a imagem da filha,
Do esposo,
Olhou para a janela,
E lembrou que agora
Ele estava enterrado.
De ímpeto,
Ela foi até a penteadeira
Da menina e encontrou jóias
Antigas ali guardadas,
Viu roupas de bebê antiga,
Ursos de pelúcia,
Flores desenhadas em algodão,
E tecido.
Como se fossem vivas,
A ideia de perder o esposo
De tantos séculos de amor devoto
Lhe foi tão cruel
Que sentou-se no chão
Com um colar de pedras preciosas
Em mãos e chorou.
Quando ergueu o rosto
E limpou as lágrimas,
Todo o colorido dos bonecos sumiu,
O quarto perdeu o papel de parede
De flores que tinha,
Se rasgava até a parede se corroer,
As roupas se desmancharam
Ao toque de suas mãos.
Isto a assustou demais,
Havia uma cama lá,
Com lençóis e cobertor,
Ela deitou sobre ela
E ficou estagnada
Olhando o teto,
Sentindo que havia algo
Terrível no ar
Que lhe dava os sonhos
Mais perfeitos apenas
Para sentir o prazer de retira-los.
Ficou lá por muito tempo,
Sentindo cheiro de choro,
Cheiro de felicidade,
Era como se pudesse ouvir
Os risos de sua família feliz
E unida.
Então, Maroquenn a encontrou,
Em prantos a retirou daquele
Quarto e a levou para o seu próprio,
Desolada, ela o abraçou
Entregando a ele um beijo...
- ah, então acabou a leitura?
Cathuca indagou.
Estava agora com setenta anos
De idade.
- sim, meu amor.
Lhe respondeu Maroquenn
Aos setenta e cinco.
- Eu não vi erros.
Ela falou com os olhos tristes.
- nem eu, meu amor.
Mas foi bom você escrever
Cada dia de nossas vidas
Em um diário para que existindo
Nova história outro alguém
O possa ler e evitar que erros
Sejam cometidos.
Ele disse,
Beijando sua testa.
- então, vamos deixar o diário
Sobre a cômoda do quarto de Eleonora,
Em frente aos quadros antigos.
Ele respondeu,
Levando o diário até a cômoda.
- sim. Trancaremos também a porta.
Cathuca falou,
Levantou-se da cama infantil,
E saiu com a chave em mãos
Para o corredor
Acompanhada de Maroquenn.

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Destino Laçados

Cassie chegou tarde
Ao velório,
Vestida de negro,
Retornou a velha morada,
Ver o esposo,
Então, morto.
O encontrou dentro de um caixão,
Guardou suas lágrimas,
Estava grávida,
Precisava poupar-se,
Então, o marido foi antes,
Desfaleceu e fez novo caminho,
Agora ele lhe guardaria,
Cuidaria os portões do céu,
A espera-la,
Assim esperava ela,
E assim permaneceria:
A sua espera.
Ela não sabia se estava
Porvir um menino
Ou uma menina,
Mas, era seu primeiro filho,
O sonho a consumar-se
Na família.
O velório duraria três dias,
Seria aberto ao público
No amanhecer,
Por vinte e quatro horas
Os moradores locais
Estavam convidados a despedir-se.
Há dois meses,
Ela partiu para a cidade,
Deu a ele um beijo na testa
De despedida,
E apertou sua mão com força,
Agora, a sua força diminuiu
Consideravelmente,
Ele estava gelado,
De olhos fechados,
Lábios cerrados.
Não haveria outro abraço quente,
Um novo olhar de vai bem,
Uma nova promessa de amor,
Ou mesmo o casual eu te amo.
Nem mesmo um abraço.
Nem adeus.
Aberto o funeral,
Ela cansou de chorar,
Ouviu ruídos estranhos
A noite,
Sem ele para protege-la
Tudo ficou mais difícil,
Mas, optou por ser forte,
Pegou uma vela e seguiu
O ruído assustador
Que não cansava de arranhar
E fazer barulhos estranhos.
Chegou próxima,
Cada vez mais perto
E percebeu que vinham
Do sótão,
Pegou uma escada,
Soltou embaixo do alçapão
E subiu até lá.
Iluminado pela vela
Ela viu seis pares de olhos brilhantes,
Que mais pareciam com pontos
De luz móveis,
E lá estava o barulho.
Ela perdeu o equilíbrio
Mas conseguiu manter-se em pé,
E protegeu-se de sofrer uma queda,
Arfou o peito,
Lembrou de ser forte
E subiu mais perto.
Estendeu o corpo para a frente
E repousou inúmeras velas acesas
Com a luz da anterior,
Então, viu o que era,
Se tratava de um ninho de gatos
Pretinhos de olhos verdes,
Não via-se nada deles no escuro,
Contudo no claro
Eram os mais perfeitos animaizinhos,
Eles estavam escondidos
Amedrontados.
Sorrindo,
Ela decidiu lhes dar carinho,
Subiu até lá
Para ampara-los,
Com os gatinhos em mãos,
Abraçados a ela,
Ela tropeçou em dois quadros
Enormes que caíram no soalho,
Mas, não quebraram.
Lá estava a fotografia do esposo,
Em tamanho real,
Mas pintada em tela,
Ao lado da dele encontrava-se
Uma dela própria,
E em frente havia outra
Que parecia ser de uma criança.
Ela pegou os quadros
E levou para baixo,
Então, pendurou na parede
Do quarto,
Olhando com mais atenção
Viu que havia assinatura e datas,
Contudo, era datado de trezentos anos passados,
Ela assustou-se,
Com as mãos trêmulas
Abriu o quadro menor,
E lá havia uma menina.
Ela estava grávida de Rubens
Há trezentos anos atrás,
Nunca pode fazer um retrato
Ao seu lado,
Porém , ela teve uma menina,
E mexendo o quadro menor,
Ela viu uma espécie
De vestido ao lado dela,
Então, ela percebeu que poderia
Abri-lo até torná-lo maior,
Ao fazer isto,
Se viu ao lado da filha.
Todavia, com roupas antigas,
Data extremamente longínqua,
Mas, o rosto do esposo
Era idêntico e o seu também.
A filha tinha os traços dele
Nítidos em seu semblante,
O sorriso dela,
E olhava com determinação
Para aquele que pintava o quadro,
Ela sobressaltou-se,
Lembrou de Geraldo,
O amigo íntimo da família
Que cuidava do velório,
Seu coração se acalmou,
Não estaria sozinha
A espera do tempo passar,
Tinha um amigo, também,
De longa data.
Sua mão ficou gelada instintivamente,
A criança mexeu-se dentro dela,
Faltavam poucos meses
Para o nascimento,
Parecia uma premonição,
O destino que tornava
A separa-los também os união
Por vidas e séculos.

Amor Platônico

Ah o amor, Quando nos cativa, Encanta a alma De tal forma Que Amaro basta, Porém, quando se conta, Se deseja O beijo na b...