“Tome,
Tentei escrever.
Diga o que houve”.
Ela ficou sentada
Na mesa da escrivaninha
Vendo o papel em branco
Que o doutor lhe alcançou,
E junto a ele:
Um lápis com uma borracha
Na ponta.
Sua mente estava em branco,
Ela gostaria de voltar
Ao passado,
Ser forte o bastante
Para reviver o que houve
E falar sobre isso
Com clareza,
Se defender,
Ter mais cautela,
Não sentir medo.
Já estava quase
Na hora de tomar
Seu remédio,
Agora, dormia porquê
Era dopada,
Acordava quando era chamada,
Respondia aos estímulos,
Vivia feito um corpo
A esmo com pouca vida.
“Assassina”,
Ela ouviu bem a palavra
Com a qual a designaram,
“assassina”,
Ela permaneceu calada,
Não soube o que dizer,
Há algum tempo
A voz lhe fugiu,
Levou lágrimas,
Dor e remorso.
Agora estava presa
Num cômodo de algum lugar,
Tão branco e de azulejo pegajoso,
Era como se ela visse
O doutor ali dentro,
Como se ele fosse parte
Do lugar,
De repente seu rosto
Cresceu tanto
Que já não se distinguia
Da parede,
Seus olhos estavam ali dentro
Por mais que ele não
Aparentasse estar,
Ela podia sentir a vigília eterna,
Ver o peso de seu olhar
Sobre ela,
Em busca de melhoria,
Em busca de sua fala,
A lembrança que guardava
De determinado dia,
Seus remédios pingados
Lhe buscavam este efeito.
Ela era impedida de sair
Até a sala comunitária,
Mas, podia ouvir as vozes
Sussurrantes por trás
Das portas:
“Assassina”
Lhes diziam,
As rachaduras da parede
Lhes traziam as falas:
“assassina”.
Por entre as falas
Vinha o doutor,
Com seus olhos sérios
E acusatórios.
Os enfermeiros não
Lhe definiram outro nome:
“assassina”.
As paredes tão vivas,
Mesmo em seu silêncio
Lhe traziam o termo:
“assassina”.
Ela tentava dormir,
Buscar paz em algum lugar,
Se recompor
Para se sentir segura,
Mas, no fundo da sua alma
Algo latejava e lhe dizia:
“assassina”.
Mas, sua mão de recusava
A rascunhar ou definir palavra,
E o termo partia para longe,
Escondido e omisso
Por entre as rachaduras
Da parede tão idênticas
A face do doutor,
Com seus olhos vívidos
E brilhantes apontados
Para ela,
Como se pichassem o termo
“Assassina”.
Aquele rosto pálido
De mente atenta,
Em busca do dia perdido,
Da palavra pronunciada
Em baixa voz,
Mas, que ela não se atrevia
A assimilar
“assassina”.
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