Encontrado os dois quadros antigos
Da família Williams,
Cathuca decidiu retira-los
Do quarto,
Pensando na mansão enorme
Onde residia,
Decidiu reconhecer alguns
Dos outros cômodos
E encontrar um local
Mais apropriado para eles,
Onde o ouro da moldura,
E as preciosidades deles
Fossem ressaltados.
Ela abandonou seu primeiro nome
Com o enterro do esposo,
Lhe doeu em demasia
Ter de deixá-lo dentro daquele
Espaço escuro e tão pequeno,
Que agora,
Com o primeiro frio molhava
E o congelava de pouco a pouco,
A terra em volta do túmulo
Onde diariamente ela se ajoelhava
Para falar com ele
Estava congelada,
Era como se cubos de gelo
Tivessem sido diluídos ali,
Seu corpo adormecia de frio,
Logo, ela precisava fugir
O mais depressa possível
Da brisa que afogueava seu rosto,
Para depois lhe congelar
Os lábios e a própria fala,
Incapaz de dizer mais nada
E não querendo usar voz baixa,
Ela retornava a própria casa.
Moroquenn era bondoso
Em levá-la,
Deixa-la a sós com o esposo,
E voltar buscá-la,
Ele nunca ficava longe demais
E sabia respeitar seu tempo
Com o esposo.
Ele foi melhor amigo
De ambos em vida do esposo,
Agora estava sendo seu ombro amigo,
Um acalento para seu coração aflito,
Sua filha já respondia a sua voz,
Se mexia para a direção dele,
Ela tinha certeza disso,
Sua barriga lhe mostrava,
E o sorriso que surgia contava.
Logo a menina nasceria,
Conforme os quadros de sua família,
Ela já havia tido um nome
A alguns séculos,
E aquele nome lhe soou familiar,
Ela pensava em mantê-lo,
Ao menos teve certeza dos
Próprios nomes ao olhar
Para cada rosto.
Não era casualidade os quadros,
Era destino.
Caminhando por entre os cômodos,
Chegou no doze quarto
E abriu a porta por instinto,
Ela sentiu que ali
Havia uma história sua
Que viveu há tantos séculos,
Mas que manteve-se viva
E precisava ser buscada.
Ao abrir a porta,
A emoção do que viu
Foi tão intensa
Que desmaiou.
Horas mais tarde acordou,
O quarto era inteiramente
Enfeitado para crianças,
Mais específico,
Para uma menina.
Havia bonecos feitos
Em tecidos do tamanho
De um ser humano real,
Com seu próprio rosto,
O do esposo e de um bebê.
No transcorrer do tempo,
Este bebê cresceu,
E tinha suas mudanças
Em novas bonecas
Absurdamente idênticas
A menina do quadro.
Cathuca pôde se ver
Vestida a moda de trezentos anos
Passados, usando joias
E vestidos longos de anágua.
Num lapso de memória
Se viu beijando o esposo,
O viu com a neném no colo,
Eleonora ele a chamou,
Ela o ouviu dizendo o nome da filha,
Depois retornou ao dia em que estava,
Perdeu a imagem da filha,
Do esposo,
Olhou para a janela,
E lembrou que agora
Ele estava enterrado.
De ímpeto,
Ela foi até a penteadeira
Da menina e encontrou jóias
Antigas ali guardadas,
Viu roupas de bebê antiga,
Ursos de pelúcia,
Flores desenhadas em algodão,
E tecido.
Como se fossem vivas,
A ideia de perder o esposo
De tantos séculos de amor devoto
Lhe foi tão cruel
Que sentou-se no chão
Com um colar de pedras preciosas
Em mãos e chorou.
Quando ergueu o rosto
E limpou as lágrimas,
Todo o colorido dos bonecos sumiu,
O quarto perdeu o papel de parede
De flores que tinha,
Se rasgava até a parede se corroer,
As roupas se desmancharam
Ao toque de suas mãos.
Isto a assustou demais,
Havia uma cama lá,
Com lençóis e cobertor,
Ela deitou sobre ela
E ficou estagnada
Olhando o teto,
Sentindo que havia algo
Terrível no ar
Que lhe dava os sonhos
Mais perfeitos apenas
Para sentir o prazer de retira-los.
Ficou lá por muito tempo,
Sentindo cheiro de choro,
Cheiro de felicidade,
Era como se pudesse ouvir
Os risos de sua família feliz
E unida.
Então, Maroquenn a encontrou,
Em prantos a retirou daquele
Quarto e a levou para o seu próprio,
Desolada, ela o abraçou
Entregando a ele um beijo...
- ah, então acabou a leitura?
Cathuca indagou.
Estava agora com setenta anos
De idade.
- sim, meu amor.
Lhe respondeu Maroquenn
Aos setenta e cinco.
- Eu não vi erros.
Ela falou com os olhos tristes.
- nem eu, meu amor.
Mas foi bom você escrever
Cada dia de nossas vidas
Em um diário para que existindo
Nova história outro alguém
O possa ler e evitar que erros
Sejam cometidos.
Ele disse,
Beijando sua testa.
- então, vamos deixar o diário
Sobre a cômoda do quarto de Eleonora,
Em frente aos quadros antigos.
Ele respondeu,
Levando o diário até a cômoda.
- sim. Trancaremos também a porta.
Cathuca falou,
Levantou-se da cama infantil,
E saiu com a chave em mãos
Para o corredor
Acompanhada de Maroquenn.
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