Eles olharam.
Antes, durante e depois.
Olharam.
Para ele era importante isso.
O capo do carro estava quase preto,
Sujo, empoeirado,
Pertencente a um alguém,
Porém.
Não houve sinal de fumaça,
Gás para obrigar,
Houve sentimento e ternura,
Mãos entrelaçadas.
Ela passava de um beijo,
Esbarrou no cos da calça,
O bastante para ser segurada,
A mão levantou e veio ao rosto.
-Na cara?
-Não, desculpa.
É que você estava lá beijando,
Depois esbarrou em minha calça.
Ela puxou sua orelha,
Tocou no rosto,
Puxou-o para ela,
Ele parecia tonto.
-beije-me.
Não houve tom de ordem,
Mas havia um quê de Comando,
De ambos os corpos.
Ele tropeçou no chão espasmodico,
Ambos foram para o capo,
O riso foi contido pelos rostos colados,
A respiração entrecortada na cara,
O cheiro forte ganhando lugar.
Seu peso a continha,
O rubor na face dele denunciava,
Ela iniciou uma música,
Ele a reconhecia.
Frases sussurravam sobre os lábios,
Tocavam sua maciez e calor,
Corações aos saltos
Entre corpos e mãos colados.
Tudo ocorreu naquele instante,
Zíper aberto,
Dentes esbarramos,
Calça puxada sem jeito,
Camisa removida as pressas...
Gemidos, granidos, juras...
Plateia para presenciar,
Desconhecimento e certezas
Se misturaram ao nunca mais se ver...
Coisas que não se repetem.
Juventude, medo e imprudência.
Perfume impregnado na pele,
A escuridão pareceu se flexionar,
E conte-los,
Em si mesma e um no outro,
O peso lhe roubava o ar,
Lhe doava lufada,
Olhares clamavam conquista,
Mas, bem, ele não quis esperar,
O aglutinar das pernas,
O apalpar de mãos entrelaçadas,
Que percorriam unidas
Seus próprios corpos,
Fechadas uma na outra,
Apenas a ponta dos dedos acariciava,
Era o bastante,
Para mil arrepios,
Desejos cegos,
Olhares escurecidos de vontade de estar próximo,
Rostos suados unidos,
Suor a romper a poeira da negritude,
Um nome escrito num capo de carro escuro e empoeirado
Feito tatuagem de uma unha,
E duas mãos úmidas e unidas,
O grito cresceu,
Sem nunca abandonar aquele negro de desconhecido,
Dois passos masculinos se puseram para trás,
Ele, deitou-se, jogou-se,
Sem juras ou pressa,
Nem para sempres.
Apenas um romper,
Um escorrer,
Palpitar destrutivo.
Pálida, Olhos saltados,
Roupa suja,
Calcinha rasgada por entre os dedos,
No escuro apenas as marcas,
-dedo a conter as palavras,
Pulmões pesados pra respirar,
Portas abertas e fechadas,
-Não, pera aí, pera aí que eu pago.
Sem pressa no correr das horas
E resvalar no capo desconhecido,
Intenso e febril sobre suas pernas,
-deixarei-o guardado.
Ela sussurrou com sua mão em seu peito.
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