Assemelhava-se bastante.
A recordar-se de longe,
Assemelhava-se o bastante.
Um beijo presunçoso e indecente.
Que subindo pela pele
Chega ao rosto e ganha a boca,
Permanece,
Parece que gosta.
Se apetece.
Fica.
Fica por mais tempo que deseja,
Anos?
A ver pela lembrança
Mais que isso.
Teria gargalhado,
Vivenciado outras coisas,
Mas o beijo foi bom,
E não parece ser daqueles fiador,
Que ocorre em convertidas,
E não ganha mais que tempo,
Respeito e rufar de um fôlego
Que não tarda a partir
E não volta.
A luz brilha sobre a pele,
Parece competir com as carícias,
Magníficos os lábios que a percorrem,
Resfolega e ganha a lembrança.
Os gansos partem no horizonte,
Buscam os verões longínquos,
Por que impor pudores,
Estabelecer diretrizes a uma boca sedenta?
Beija-se e entrega-se,
Hoje tarde e distante,
Pensa se impor presença soaria tardio...
Pensa, pensa, pensa.
Não o faz.
A boca que aperta-se sobre a outra,
A sente,
Distante das horas,
Sente-a quente e sedosa,
Na lembrança vê sua cor mudando,
A forma mais robusta é significativa,
Na lembrança e fora.
Na laranja há um toque ácido,
Na boca o beijo que percorre.
Se declarar que o doce é falso,
Atira-se o sabor em uma masmorra,
Abandonar o ácido é o erro
Prova-se, deseja-se e fica nela.
Percorrer a boca requer tempo,
Tanto é talento.
Ninguém imporá isso,
Garanto.
Percebo isso entre lembranças quebradiças,
Que puxam-no sempre para mais perto.
Um passo em falso,
E cai-se no lábio inferior,
Muda-se o lado,
O jeito, o sabor,
Doce e fresco.
Um suco que exige tempo.
Eu perderia meu apoio,
Adentraria e sugaria seus espaços,
Conheceria seus percursos,
Não soaria estranho...
A língua acha tudo sutil,
Mas ambos os lábios se preenchem juntos,
Montanhas que colidem entre si,
Desmancham-se em prazer e desejos,
Podia ler seu rosto como a um livro,
Percorria ele por entre os dedos,
De linha a linha até cada palavra,
Buscava por sua língua e calor.
Havia calor,
Muito calor fresco.
E a laranja por sua mão agora é raiva,
Saudade, nostalgia e falta.
Gosto bom que não preenche,
Ausência e desespero,
Suga-se da polpa a casca,
Ácida e arredia foge e deixa de servir,
Longe, distante está a boca,
Ácida ferve em ausência,
Presta-se a sorrir,
Distante e pequena ausência.
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