sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Foram juntos

Ela juntou as mãos de seu pai
Junto as suas,
Ele estava perdendo as forças,
Os remédios não surtiam efeito.

- ele está fraco, querido.
Ela diz ajoelhada
Ao lado da cama,
Movendo-se para o esposo,
E segurando suas mãos.

Ele as aperta,
Para transmitir segurança,
Permanece calado,
Vira-se e pega uma cadeira de rodas,
- vamos pôr ele aqui.
Daremos um banho nele.

Ele levanta-se trêmula,
Limpando as lágrimas,
- mamãe, também está fraca
No outro quarto.
Chegou a velhice tão rápido,
Por quê leva-los desta forma?
Ele aperta o ombro dela
Em demonstração de apoio.

- você não saiu de perto dela
A noite toda enquanto eu estive aqui,
Você não dormiu uma hora sequer,
Eles estão muito frágeis,
Nós estamos revezando muito bem
Os cuidados.
Ela retira o lençol de cima dele,
O esposo o pega no colo.

Ele não reclama.
Ela corre abre a porta do banheiro,
Liga o chuveiro,
Enche a banheira de plástico
Com água morna, chás calmantes
Da chaleira da cozinha,
E sabonete antisséptico.

- é tão triste vê-lo tão fragilizado,
Ele sempre foi tão forte.
O esposo lhe disse,
Ao retirar a camisa dele.
Ela juntou uma toalha de pano
Macia
Pôs na água e foi espremendo sobre ele.

- está boa.
O pai fala,
Se referindo a água.
Ambos esposa e marido
Dão banho nele,
Usando a cadeira,
A banheira e o chuveiro.

Depois disso,
Eles o vestem com roupa limpa.
E conduzem-no pelo corredor.
Passam pelo quarto da mãe,
Que está imóvel de olhos fechados.
- sua mãe parece estar me esperando.

A filha leva a mão ao peito,
Não diz nada.
Depois, pega a cadeira de rodas
E o conduz até o jardim,
O esposo vai atrás,
Todos calados.

O pai depois de passar pela porta
Colhe uma flor vermelha aberta
Do pé de zínia,
Trêmulo e fraco leva ela aos lábios.

- eu vou levar está flor,
Aonde eu estiver vou planta-la,
Farei dela um jardim florido,
Quando você se juntar a nós
Irá gostar de ver.

Ela soltou a cadeira,
Se jogou no peito do esposo,
Chorou sôfrega e frágil,
Deixou o sol aquecer seu rosto,
Quis odiar tudo que havia.

O esposo a pegou no colo,
Veio até o lado do sogro.
Então, a soltou.
Ambos o viram fechar os olhos.

Ele o pegou no colo,
O trouxe para frente em direção ao sol,
Pediu ao sol para aquece-lo,
Pediu a terra que lhe emprestasse a vida,
O ergueu ao céu,

Mas os olhos dele continuaram
A fechar-se fracos,
E um sorriso foi desvanecendo
Do seu rosto,
Até não restar mais que uma expressão,
E os olhos não se abriram.

Na cadeira de rodas,
Horas depois,
De volta a dentro de casa,
Passaram pelo quarto da mãe,
E o soltaram ao lado dela.

- ela foi antes.
O esposo disse.
- ele não esqueceu a flor dela.
A esposa respondeu
Tocando a mão gelada dela.

O Fim

Ele sente-se feliz
Em estar na presença da filha
No último instante em que
Mantém os olhos abertos,
O tempo levou suas forças,
E agora leva sua saúde.

O corpo estendeu-se sobre a cama,
A voz tornou-se fraca,
Seus dedos mal movem-se,
E se encontram apertados
Pelos de sua filha.

- o tempo foi bom para eu,
Me trouxe você,
Agora, tantos anos após perder,
Eu estou próximo de encontrar
Meus pais,
Eu os sinto vindo me buscar.

A filha ajoelhada no leito,
Baixa a cabeça sobre suas mãos,
Ampara sua testa,
Agarrada ao pai.

- como posso perde-lo,
Sinto que demorarei tanto para vê-lo,
É quase como se todos os anos
Em que fiquei distante
Motivada pelo trabalho,
Hoje caísse neste chão limpo,
E não fosse o bastante
Diante de perde-lo.

Ele aperta as mãos dela,
Tenta acariciar a testa recostada.
- sinto dores,
Sinto saudades.
Você foi o meu melhor.

Eu irei descansar para sempre.
Por um tempo não nos veremos.
Não é sua hora.
Suas palavras demoram-se,
Os lábios parecem não se mover.
A pulsação fica frágil,
Os olhos fecham-se e se demoram.

Olhar o pai envelhecido
E enfermo é visão difícil.
Entender que ele está indo embora,
Que depois disto,
Resta um caixão lacrado e fim.

Ela puxou sua mão
Trouxe ao peito e o chamou:
- pai, pai.
Volta pai.
Ele abriu os olhos
De pronto,
Pareceu assustado.

- pai se eu pedir
Com toda dor que sinto
Você fica mais um pouco?
Ele a olhou demorado.
Uma lágrima escorreu
Até o travesseiro.

Ela ficou em prantos,
Molhou a mão dele,
A cama, o lençol.
- desta vez, filha,
Eu terei que negar seu pedido.

Ela não queria ver está imagem,
Queria menos ainda ouvi-lo.
- você não me preparou para o adeus.
Eu nunca estive em tanto pavor.

Ele tentou mover as pernas,
Quis sentar-se para abraça-la,
Quis mover o outro braço
Preso aos fios de remédios,
Não pode.

- filha, já não tenho forças
Para te abraçar,
Eu não me movi mais,
Te abraço em sentimento
A partir de agora.

Ela continuou com a testa
Recostada em sua mão,
Era o adeus,
Era o fim da vida,
O terrível fim.

- por favor, não vá embora.
Ela disse, em prantos.
- filha, é meu último dia.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Maliciosa Maldição

Distância,
Por favor,
Distância agora!
Imploro em ardor.
Clemência,
Eu o odeio.

Vocês não o vêem insistir?
Eu não quero vê-lo,
Ele me procura e sorri?!
Ri do meu ódio,
Rejeita o que sinto,
Zomba da minha ira,
Retirem-no!

Ele me olha com estes olhos
Que queima meu cérebro,
Parece penetrar minha alma,
Procurar em mim por dentro.
Invasor.
Coloquem-no para fora.

Eu o odeio.
Olhem,
Vejam o quanto é falso,
Traiçoeiro se aproxima
Com este andar de gato,
Põe-se em cima de mim,
Se sobrepõe a minha vontade,
Retirem-no,
Eu não o suporto
Muito menos sua boa vontade.

Assim que eu me descuidar,
Será capaz de me deixar louco,
Veja como me coloca em pânico,
Me fere ao estar perto,
Não preciso ouvir palavra,
Põe-no para fora!

Por quê vocês não me ouvem,
Agarrem-no,
Acabem com isto,
Não tolero sua proximidade,
Apenas o odeio,
Não sei lhe sentir afeto.

Seus braços soltos
Parecem algemas de correntes,
Prestes a me agarrar
Por me ver aqui
Frágil e inerte,
Vão me prender,
Se agarrar em mim,
Fingir liberdade
Apenas pra me ferir.

Este bafo traiçoeiro,
Deve estar embebido de álcool,
Deve conter veneno,
Sopra sobre meu rosto,
Está prestes a me matar.
Distanciem-no.

Ninguém vai me ajudar,
Coloquem-no para fora,
A meu Deus,
Tarde demais agora!

Sem delongas ele se joga
Na direção deste que entra,
Cai no chão aturdido
E debate-se feito louco.

Olha com ódio o sobrinho.
A criança que já teve no colo,
Agora adulto,
Vê com olhar de inimigo.

Ele parece saber seus gostos,
Prever seus atos
E zombar deste que se atarde
Por agora não passar de um velho.
Ora, maldição a jovialidade!

Tapa Do Esposo

O pai casa a filha
Com bom homem.
Não tarda,
Recebe notícias suas:
- sua filha agiu mal comigo hoje,
Passei corretivo nela.

O pai se embasbaca com a notícia.
- fez bem.
Ele responde em concordância.
Não passam muitos dias
E recebe nova ligação do genro.

- sua filha agiu mal comigo hoje.
Passei corretivo nela.
O pai se enraivece,
Outra vez a filha agiu errado,
Desta vez com o esposo.

Que decepção.
- fez bem.
Ele responde.
Mais alguns dias,
Outra ligação.
- sua filha agiu mal hoje,
Passei corretivo nela.

O pai retira os sapatos,
Joga contra o açoalho.
Se enraivece.
A filha é incapaz
De conviver em família.

- olha, genro, querido.
Sinto muito por seu sofrimento.
Faça o que for preciso!
Diz o pai aturdido.
- não se preocupe,
Está foi a última vez.

Depois disso,
Passa-se único dia,
O pai é chamado para o velório.

A filha que tanto levou tapa na cara
Em casa,
Não soube reconhecer
O limite lá fora.

Casada, então,
Levou uns tapas a mais,
Confundiu com paixão,
Continuou relação,
Hoje emudecida num caixão,
Não é capaz de fazer reclamação.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Amigos Para Sempre

A história ocorre
Entre duas famílias
Amigas inseparáveis,
Vizinhas próximas.

Nascem seus únicos filhos,
Uma menina e um menino.
Ambos crescem brincando
Com os brinquedos um do outro,
O menino colhe a terra
No carro de boi,
A menina prepara o almoço,
Com sua boneca
Dentro de sua casa de brinquedo.

Ela recolhe os bois,
Dá grama e água para eles,
O menino põe o carro na garagem,
Se alimenta e lava a louça.
Pega a boneca no colo,
Faz dormir.

Ela retira o carro,
Ele retorna a roça.
Certo dia,
Os pais marcaram viagem a praia,
Uma destas de sempre,
Ambas as famílias
Foram juntas,
Ficavam no mesmo apartamento,
Quartos separados,
Alimento dividido.

Contudo, em pleno tráfego
Ocorre acidente
Ambos os carros se envolvem,
Ambos os pais morrem.
Sobram as duas crianças
Em estado crítico de saúde.

A menina sobra em coma,
Estado de imobilidade,
Saúde muito fragilizada.

O menino mais forte sobrevive,
Anos se passam
Ele retorna a cidade,
Depois de estudos,
Decide tomar conta da propriedade
Da família,
06 anos transcorreu,
Encontra sua amiga no hospital.

Retoma a vida antiga,
Aos poucos recorda dela,
E de suas amizades em família,
Vê a propriedade abandonada,
Retoma também a dela.

Crescem as flores no jardim,
Tão lindas quanto eram,
Ele as colhe
E as leva,
No instante em que as recebe
Ela revive,
Abre os olhos sôfrega
Chama o nome dele.

Ele está ali ao seu lado.
Se ajoelha no leito
Chora sobre seu corpo.
Os médicos invadem o quarto,
Ela está viva, de novo.

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Fita de Vestido

Ele toma a fita
Entre os dedos
Com toda a força
Que lhe resta.

Com uma última esperança,
Junta todo o ar que alcança,
Já não possui fôlego
Está a um arfar da morte,
Mesmo o leito onde se deita
Está frio,
Suado e acolchoado,
Mas, infelizmente, gélido.

- Não há o que possa me salvar.
Ele diz,
Toca a mão do amigo,
Recorda a ele de todo amor que sentiu
Por linda moça vizinha
Que a ele apenas sorriu.

Mas de quem encontrou a fita
Caída de seu vestido
A juntou no caminho
E não devolveu.

Gostava de sentir o perfume,
A maciez do tecido,
Fez dela seu amuleto,
Quanto a amar,
Nunca pode gostar de outra,
Mas entendia também a moça,
Havia prometido seu coração
A outro homem,
E manteve-se fiel a ele,
Mesmo não o tendo,
Não desejou outro.

Pediu a ele que fosse enterrado
Ali no cemitério da cidade,
Foi onde conheceu o amor
E sorveu o perfume da felicidade,
Triste destino,
Nunca pode chegar tão perto da moça,
Abraça-la,
Ou jurar amor,
Também não se declarou.

Bastou o que sabia,
Ela amava outro homem.
Contudo,
Da fita que tirou o ar
Para seus futuros suspiros,
Não iria restar muito,
Apenas pediu que fosse
Envolta entre seus dedos,
Feito uma aliança
Nutrida por sentimentos puros.

Que fosse enterrada com ele,
Ele não iria devolvê-la,
Mesmo nunca tendo pedido a moça,
Ou relatado que encontrou-a,
A manteria até o último suspiro,
E até depois disso.

O perfume que lhe deu fôlego
Restava frágil,
Mas recordava seu rosto,
Sorriso, cabelo e vestido,
Sem poder mais respirar,
Sorvia o pouco que havia ali,
Como se nela convivesse todo seu ar,
Ou todo o ar de que precisaria
Até que chegasse o fim.

Ele respeitou seu pedido,
Lhe pediu que poupasse o ar,
Que se agarrasse a qualquer vestígio
De vida,
Mas, não havia esperanças,
A cor da fita estava envelhecida,
Havia uma marca de batom nela,
Ele a aproximou dos lábios,
Beijou em sua marca,
Depois levou-a ao peito
E recostado nela
Não respirou mais.

Quintal

Um cheiro doce
A trouxe para o quintal,
Lindas flores
Haviam desabrochado
Em um colorido perfeito.

Ela aproximou-se
Molhando os pés na grama fresca,
Colheu algumas
E as espalhou em torno de si própria,
Depois sentou-se no meio
Levantando o rosto para o céu
Que estava pintado de um azul profundo
O sol brilhando,
E trazendo seus raios sobre ela.

Ela fechou os olhos
Sentiu-se aquecida
Pelo sol
Como se ele a invadisse
Por dentro,
Despertando sonhos
Que não tinham imagens,
Pareciam estar ali presentes.

Sorriu de rosto erguido,
Nisto,
Sua mãe chega por trás dela
Se abaixa
E beija seu ombro,
A puxa para seu abraço,
E a sente em seu colo.

-linda filha,
Como me fez feliz
O tempo em que eu
A tinha em meu colo,
Cuidava tão bem de você!

Ela abriu os olhos
E sentiu o conhecido cheiro da mãe,
Abraçou-a com toda força,
E ficaram juntas abraçadas
Até que o sol se escondeu
Atrás do pé de figueira brava vermelha.

Uma laranja madura
Caiu da laranjeira,
Bateu na roseira
E veio rolando até elas,
A moça juntou ela
E descascou com suas unhas,
Repartiu ao meio
E comeram juntas.
- te amo, mamãe.

A Hora

Anunciaram os djins, - aproxima-se a Hora. O povo daquelas areias Sobre o mar azul e limpo Estremeceu. Aguardaram uns de Al...