domingo, 9 de fevereiro de 2025

Fita de Vestido

Ele toma a fita
Entre os dedos
Com toda a força
Que lhe resta.

Com uma última esperança,
Junta todo o ar que alcança,
Já não possui fôlego
Está a um arfar da morte,
Mesmo o leito onde se deita
Está frio,
Suado e acolchoado,
Mas, infelizmente, gélido.

- Não há o que possa me salvar.
Ele diz,
Toca a mão do amigo,
Recorda a ele de todo amor que sentiu
Por linda moça vizinha
Que a ele apenas sorriu.

Mas de quem encontrou a fita
Caída de seu vestido
A juntou no caminho
E não devolveu.

Gostava de sentir o perfume,
A maciez do tecido,
Fez dela seu amuleto,
Quanto a amar,
Nunca pode gostar de outra,
Mas entendia também a moça,
Havia prometido seu coração
A outro homem,
E manteve-se fiel a ele,
Mesmo não o tendo,
Não desejou outro.

Pediu a ele que fosse enterrado
Ali no cemitério da cidade,
Foi onde conheceu o amor
E sorveu o perfume da felicidade,
Triste destino,
Nunca pode chegar tão perto da moça,
Abraça-la,
Ou jurar amor,
Também não se declarou.

Bastou o que sabia,
Ela amava outro homem.
Contudo,
Da fita que tirou o ar
Para seus futuros suspiros,
Não iria restar muito,
Apenas pediu que fosse
Envolta entre seus dedos,
Feito uma aliança
Nutrida por sentimentos puros.

Que fosse enterrada com ele,
Ele não iria devolvê-la,
Mesmo nunca tendo pedido a moça,
Ou relatado que encontrou-a,
A manteria até o último suspiro,
E até depois disso.

O perfume que lhe deu fôlego
Restava frágil,
Mas recordava seu rosto,
Sorriso, cabelo e vestido,
Sem poder mais respirar,
Sorvia o pouco que havia ali,
Como se nela convivesse todo seu ar,
Ou todo o ar de que precisaria
Até que chegasse o fim.

Ele respeitou seu pedido,
Lhe pediu que poupasse o ar,
Que se agarrasse a qualquer vestígio
De vida,
Mas, não havia esperanças,
A cor da fita estava envelhecida,
Havia uma marca de batom nela,
Ele a aproximou dos lábios,
Beijou em sua marca,
Depois levou-a ao peito
E recostado nela
Não respirou mais.

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