sexta-feira, 18 de julho de 2025

O Fim de Adam

Marlise se virou para Adam,
O abraçou com força,
Mesmo imprensada contra
O volante do carro esportivo,
Teve um último ímpeto de força,
Para virar o corpo
E buscar pelo filho
Sentado no banco ao lado,
E abraça -lo.
Seu coração chorou,
Antes de seus olhos confirmarem,
O filho não resistiu,
Sofreu uma pancada na testa
Contra o para-brisa do carro
E não resistiu.
Logo, seu corpo esfriou,
Seu pulmão não se mexeu mais,
Nem seus olhos tiveram tempo
Para buscá-la,
Seus lábios sequer
Pediram ajuda
Ou informaram sobre dor,
Simplesmente, silenciaram-se,
De uma maneira
Que nunca mais se abririam
Ou voltariam a dizer
Qualquer coisa.
Ao ser retirada do carro,
Que ficou de talvez forma
Imprensado contra o caminhão
Que vinha no sentido inverso,
A primeira coisa que fez
Foi buscar o filho
Do outro lado.
Marlise, guiada pelos
Sentidos de mãe,
Rastejou até lá,
Incapaz de colocar-se
Em pé,
Ela sangrava,
Suas costelas perfuraram
O pulmão,
E ela sangrava no joelho,
E peito.
- Senhora, você está sangrando...
Um homem lhe falou,
Aos gritos no seu ouvido
Ao ser seus esforços
Para buscar o filho,
Ela não conseguiu responder,
Mas, continuou a puxar o corpo
Com os antebraços
Até por trás do carro.
Um outro jovem, então,
A juntou do chão e
A carregou até o filho,
Ela chegou a tempo
De vê-lo ser retirado imóvel
Do carro,
Olhos fechados,
Mãos paradas,
Braços moles caídos.
- filho.
Ela conseguiu usar
De todo seu esforço
E amor de mãe
Para chama-lo.
- fi...lho.
Ela disse,
Outra vez.
- Ele se foi.
Respondeu um dos socorristas,
Que observava seus sinais vitais.
Era uma rotatória apenas,
O caminhão seguia o sentido
Oposto ao dela,
Não representaria para quem
Apenas observasse
Que um acidente naquele local
Poderia causar resultados
Tão graves quanto este,
Mas, tomou.
Marlise, se dirigia
Para casa com o filho,
Próximo ao meio dia
Para levá-lo almoçar
Após as aulas colegiais,
O caminhão entrou na rotatória
No mesmo instante,
E se chocaram,
Ele vinha de sua esquerda.
Rotatória é uma espécie
De canteiro de flores
Que separa quatro saídas duplas,
De ruas diferentes,
Sem sinal eletrônico.
No cemitério da cidade,
Marlise preferiu escolher
O local em que sepultar Adam,
Escolheu o lado direito,
Bem ao final,
Próximo de onde haviam
Muitas árvores frondosas
Para que ele descansasse
Na sombra de suas folhas.
O filho amava árvores
De caules grossos,
Escolheu a mais linda,
Lá foi feito um buraco no chão,
Posto uma lápide
Do lado de cima,
E agora desciam seu caixão
Fechado,
Nunca mais seria aberto,
Nem ele seria visto.
Quatorze anos
Foi o tempo que ele viveu,
A dor no corpo de Marlise
Era intensa,
Contudo, a perda foi irreparável,
Era o único filho dela e
Jorge.
- Este é o fim do casamento.
Jorge disse,
Ao colocar a mão
Sobre o ombro de Marlise,
Se aproximando por trás dela.
- depois do acidente,
Eu não o vi.
Ela teve tempo de responder.
Ele já não a ouvia,
Simplesmente se certificou
De providenciar o mortuário,
E não chegou perto dela
Única vez,
- ele tem problema
De alcoolismo.
Ela tentou falar
Para sua cunhada
Que estava em pé ao seu lado,
Mas não teve força
A dor de perder um filho
Cala uma boca,
Emudece um coração,
Fecha os olhos para todo o resto.
Se conteve em apertar
O braço dela,
Como se lhe transmitisse conforto,
Ou buscasse.
Ela não pensava,
Mas, teve certeza
Que era melhor deixa-lo ali
Entre as árvores
Que sob o sol escaldante
Dos outros locais
Ao lado ou mais adiante.
Jorge abriu seu casaco,
Retirou de lá dois vidros
De uísque,
Abriu e bebeu um pouco,
Parado ao lado do buraco
Profundo onde era colocado
O caixão, lentamente.
Depois, abriu outro vidro,
Bebeu também um pouco deste,
Então, ele soltou sobre o caixão,
Derramou o líquido todo.
- ele não conheceu bebida,
Não provou nada da vida,
Foi tão cedo,
Não saberá o que é viver,
Eu preciso mostrar isto a ele,
Faz parte de ser pai.
Então, caiu de joelhos
Fazendo desmoronar terra
Sobre o caixão.
Bebia de um vidro,
Derramava de outro,
Seu pai que ajudava a descer
O caixão segurando uma
Das três cordas,
Virou o rosto para o lado,
Com um grunhido de dor
Que o fez cuspir para frente
E para o lado,
Junto com o choro
Que escorreu em seu rosto.
Marlise tentou pôr a mão
Sobre o ombro de Jorge
Mas ele empurrou:
- vagabunda. Você o matou.
Ele balbuciou entre lágrimas,
Tentando se levantar
Usando uma mão
E a garrafa.
Derrubou mais terra
Sobre o caixão.
- filho.
Ele gritou.
Se jogando para frente.
E resvalou mais,
Teria caído,
Mas, Miguel, seu irmão
O conteve a tempo.
- ela o matou.
Ela o matou.
Jorge disse
Indo parar recostado
No ombro do irmão,
Dando empurrões nele
Com a mão fechada,
E vidro de uísque nela.
Algum tempo se passou,
O caixão repousou no fundo
Da terra úmida,
Algumas palavras de adeus
Foram pronunciadas,
- filho, perdoa a sua mãe, filho.
Filho, como eu posso dizer adeus?
Marlise falou,
Abraçando a si própria,
Com o rosto encharcado de dor,
A roupa escorria lágrimas
E respingava sobre o caixão
Lá no fundo,
Como pingos de chuva
E dor,
Que nunca silenciaria.
Jorge jogou o vidro lá dentro.
- filho, vamos beber?
Vamos nos divertir juntos,
Precisamos viver.
Ele disse.
Seu casaco se encharcou
De lágrimas e dor
Em pouco tempo.
As pas de terra foram erguidas,
Carregadas de terra
E de uma a uma jogadas
Sobre o caixão.
Algumas flores foram deixadas
Organizadas ao redor
Da sepultura,
Junto com velas acesas.
Não tardou,
E a última pa de terra
Selou o enterro,
Mais flores foram soltas
Sobre o local.
Um coelho branco
Surgiu do lado de cima
Daquele cemitério
De grama fresca,
Pulou diversas vezes,
E fugiu dos presentes,
Haviam muitos parentes.
Jorge tomou as chaves do carro
De dentro do bolso de Marlise,
E saiu para fora inconsolável
Bebendo de seu uísque,
O portão do cemitério se fechou
Com Marlise parada do lado
De fora sem poder reagir a dor.
Jorge cruzou por ela
Dirigindo o carro,
Jogou o vidro de uísque
No chão próximo a ela,
E saiu fazendo voar poeira
E brita sobre ela.
Ela o olhou,
Ergueu o rosto para vê-lo
Subindo o moro,
Até esconder-se por entre as árvores,
Ela continuou olhando,
Mesmo quando o tempo
Passou,
Ela se manteve olhando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Depois do Fim

Marta piscou algumas vezes, Tentou entender O que houve, Se viu dentro do carro Esmagada contra o chão. Estava imprensada ...