segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Mulher Sozinha

 


Ela o amava com toda a alma, despia-se de tudo por ele,

Seus medos, seus segredos, em seu amor não pairava limite,

Apaixonou-se feito uma boba e entregou-se por completo,

Ao aproximar-se a triste surpresa, o sujeito era casado,

Tinha outra família, porém jurava que a amava com atenção,

Prometeu cuidar dela, entregar-lhe da alma ao coração,

 

Ela sentia-se incerta, nem sempre se sabe o caminho a seguir,

Sentia-se frágil, era como se houvesse um complô contra ela,

Queria viver, ela dizia, queria entregar-se, permitir-se sentir,

Mas sentia-se perseguida por ele, por todo canto e em todo lugar,

Lá ele estava, ou alguém que o recordava, ela caía com medo,

Como esconder-se entre os becos quando se é perseguida com esmero?

 

Ele forçava o sentimento, ela não tinha destino certo,

Então, ele pareceu a saída ideal, um soldado armado no seu encalço,

Havia amor em tudo isso, em algum lugar haveria, ela estava certa disso,

Porém, o relógio nunca permitiu parar seus ponteiros,

Ela via-se velha, insegura, seu rosto e seu corpo seguiam as horas,

Não havia tempo para pensar ou meios para escapar, estava presa,

 

Algemas invisíveis fechavam-se sobre seus pulsos, segurando-a,

Apesar de não haverem tantos Eus Te Amos, os atos diziam o contrário,

Ele escolhia alguns dias especiais na semana em que por poucas horas seria dela,

O restante do tempo, pertencia a sua família, com direito a bloqueio de chamada,

Troca de número, enfim, distância de tudo que havia prometido um dia,

Ela, tinha o coração frágil, sentia-se sedenta por amar e ser amada,

Se apegava a qualquer promessa, se entregava a qualquer coisa,

 

Em suas noites mal dormidas, vencia o desespero e o procurava no trabalho,

Às vezes, ele atendia suas chamadas, depois de muitas tentativas,

Com seus sorrisos travessos, e ainda alegava não estar,

Sempre com seu bom-humor reconhecido, você rezou para dormir noite passada?

- “Sim, - respondia ela, insegura, amedrontada, - inclusive rezei pela manhã,

Posso perder tudo, menos a fé que um dia possa me ouvir e fazer algo por mim”

 

Lágrimas molhavam seus olhos, via esvair suas forças e depois, tudo partir,

Pois é moça, rezou pouco seu namorado acabou de sair, foi para casa...

As lembranças das perseguições que sofria, das vezes em que era violada,

Vinham em sua cabeça e a prendiam, em algemas frias e doloridas,

 

“Seu namorado está com a mulher dele e você aí sozinha,”

Ela entendeu o recado, estava na rua, desamparada,

Ainda não havia chegado sua hora... mais tarde talvez, se ele disponibilizasse a agenda,

Nem uma palavra de confiança, nada em que pudesse se apegar,

Por Deus, não deveria ser sonho mas sim pesadelo amar assim, mas como poderia escapar?

 

Um dia, ela ousou falar de filhos, num momento em que estavam fazendo amor,

Ele sorriu, de forma companheira, foi sincero como deveria ter sido,

“Eu estarei ao seu lado em tudo que for preciso, mas nunca serei o pai do seu filho,

Porém, no instante em que você estiver na sala de parto eu estarei lá, segurando sua mão,”

Ela estremeceu, não sabia mais o que fazer, sentia descompassar o coração,

 

Não era uma promessa de ficarem juntos, mas como ela se envolveria com outro?

Estava presa pela alma, amordaçada, como poderia falar sobre seus sonhos,

Em quem confiar se ele pertencia a outra, era casado, que mundo louco,

 

Amar tanto alguém que por você não se importa nem um pouco,

Ela lembrava-se perfeitamente da época em que a deram uma surra,

De tantas brigas que teve com sua família, tendo ele como motivo,

E onde ele estava naquela hora, com outra, possivelmente em sua cama,

Se estava distante demais dela, por que mantê-la como uma espécie de refém?

O que havia na cabeça dele, acaso se julgava no direito de possuir um harém?

 

Sem posicionamento quanto aos costumes,

Até porque na época em que estavam juntos,

O próprio direito abria respaldo para este tipo de relação,

Permitindo que eles andassem juntos por onde quisessem,

De mãos dadas se fosse sua vontade, mas nunca houve essa questão,

 

Estava amando sozinha, via-o olhar para todas as mulheres, em cada esquina,

A própria esposa chegara a confidenciar, que uma só nunca lhe bastou,

Por Deus, ela não compreendia o que para ele abrangia a definição do amor?

 

Um dia o pai dele lhe falou que ele havia mudado por ela,

Pediu para conversarem, ela levou como uma ameaça,

O que mais poderia ser, ela era sozinha, como iria se defender?

Essas histórias sobre amantes é bastante complexa,

Sempre se quer defender apenas o direito da esposa,

Ninguém ousa reconhecer quem é o sujeito que procura a outra,

 

A menina que havia sido no passado agora estava muito distante,

Via-se presa ao que sentia, escorregadia por medo de pisar em falso,

Lá na favela onde habitava ela precisava de socorro, quem poderia ampara-la?

 

É certo que ele escolheu a pessoa certa quando foi busca-la,

Que chances ela teria de defesa? Ele tinha propriedades, era bem sucedido,

Poderia trancar qualquer oportunidade de êxito na vida dela,

Poderia, inclusive, ceifar sua vida sem satisfação alguma,

Tinha a arma, a munição, até mesmo álibi, que chances ela teria?

 

As ameaças ao seu redor eram uma constante, como ela poderia escapar?

Lembrava de ter falado com ele sobre ameaças de estupros,

E de que sua resposta foi que ela deveria cooperar, sem tentar escapar,

Do contrário poderia perder não apenas os sentidos, mas a própria vida,

 

Vida? Sobre qual vida ele se referia? Aquele caminho de mão dupla que ela seguia,

Que não importava por onde andasse nunca levaria a lugar algum,

Condenada as grades do próprio coração, por amar de forma desmedida,

Agora a fecharia em si mesma, para ver tudo cair em ruínas, até mesmo ela,

 

Ela clamou por justiça, mas no caminho da escola, o avistou com outra,

Ela procurou ganhar a própria vida, mas no caminho do trabalho,

Ele estava com outra, ainda mais bonita, dentro do carro em que se amaram,

 

Ele abria portas para ela, ela queria acreditar nisso, mas de outra forma,

A batia na cara com toda a força, uma promessa e um tapa com toda raiva,

Burra, ele a identificava; seca, ele a definia; ela não era nada,

Nem mesmo a sombra do que foi um dia, como poderia lutar por si mesma,

Se estava amarrada, tendo que jurar amor em troca da sua vida,

Que covardia, tentar conquistar sem intenção nenhuma de amar,

 

No instante em que o sentimento vazava, ele lhe dava remédio,

Após algum tempo, a abraçava por trás, sem chance alguma de fuga,

Ela seria somente sua a partir de agora, ele fez quentão de mantê-la,

Frouxa o bastante para não configurar cadeia,

Apertada o suficiente para não empreender em fuga,

 

Como pertence-lo em maior medida, propriedade com direito a identificação,

A outra: a reconheciam, ninguém: a definiam; fechada no próprio coração,

O piloto automático estava ligado, devia-se agradecer por isso,

Faça-o se puder, em que lugar estamos, qual será nosso destino?

Um Homem Sozinho

 


Sim, compreendo, disse ele ao vê-la dar de ombros,

Com os olhos seguros como quem dizia, não sinto nada,

Ele sentia seu coração partir-se em mil pedaços,

Condenação prematura ao fracasso, sem lágrimas,

Quem iria permitir-se chorar a uma hora daquelas,

Ela tocou aquele trinco gelado, como deveriam estar seus lábios,

 

De que outra forma estaria a boca que quebrou suas promessas,

Que juntou todos os seus sonhos, pôs na mala e disse: vou embora,

A mesma boca quente que dissera eu te amo, agora estava fria,

E ainda assim, ele desejava toca-la, apenas mais uma vez dizia,

Ela parou um pouco, olhou adiante, talvez fosse se virar,

Ainda brilhava uma esperança em sua alma, ela não o deixaria...

 

Então, ela ficou um pouco mais de lado, ele pode contempla-la,

Lembrar de cada abraço, da forma como dormiam juntos,

Juntou todas as suas forças e olhou no fundo dos olhos dela,

Não encontrou nada, confidenciou-se com seus olhos assustados,

Não encontrou seus momentos felizes, as juras apaixonadas,

O esforço que ele fez para que ficassem juntos, inseguro,

 

Foi como ele se sentiu, com um frio a percorrer a espinha,

Afundou-se na poltrona, não ousaria levantar-se, como poderia,

Suas forças esvaíram-se de suas veias e estavam todas nela,

Por mais que se esforçasse não conseguia acreditar na frieza que via,

Ir embora, negar-se a tudo, com um dar de ombros sair de suas vidas,

Nem mesmo um pedido de desculpas, mas também naquela altura,

 

Quem acreditaria em qualquer palavra que ela fosse falar,

Se colocava em um pedestal, quem iria alcança-la?

Lembrou dos últimos dias, de quantas vezes ela ficava vazia,

Como se fugisse dali e fosse parar em algum outro lugar,

Mas agora estava abastecida, roubara suas forças,

Deveria ser o bastante para sair para sempre, até nunca,

 

Ele quis dizer a ela, mas não teve a chance, ela já não os pertencia,

Será que algum dia havia se entregado mesmo a este amor?

Ela fazia tantas cobranças, nada nunca fora o suficiente, nada a preenchia,

Então de uma hora para outra, de forma desmedida, ela ficou cheia,

Será que pretendia escrever uma historinha, fazê-lo de idiota,

Cansar da vida lá fora, como sempre se cansava de tudo e ainda querer ser recebida de volta?

 

Ela olhou para o chão, para as flores desenhadas em suas unhas,

Ele se sobressaltou de emoção, será que agora ela o veria?

Estagnado, imóvel, cansado de lutar sozinho, agora ele sofria,

Não desejava que ela o visse daquela forma, uma lágrima teimosa,

Brilhou em seu olhar, e ousou ficar ali parada, será que queria gesticular?

Desejava chamar a atenção dela, e agora, se ela o olhasse, como esconderia?

 

Mas ela não olhou, continuou da forma que estava, segura em si mesma,

Naquele instante ele soube que nada abalaria a sua confiança,

Ela havia sido esculpida em pedra e assim ela permaneceria,

Abriu a porta, inquieta, gemeu como se estivesse a avisar sobre sua saída,

Os lábios dele estremeceram, ela o olharia, ao fecha-la,

Falaria alguma coisa qualquer que pudesse guardar,

Já que levava no fundo falso da sua mala, os sonhos de uma vida,

 

Mas não, ela não emitiu nenhum som, nenhum aviso, nada mesmo,

Seu rosto agora era uma máscara de maquiagem, o dele, uma ausência,

Ausência de um lugar para abrigar os sonhos perdidos, talvez, concertá-los?

Será que se ela fosse tão longe, ele de alguma forma poderia recriar,

Feito uma mágica, tudo aquilo que sonhou um dia, e que ela carregou para fora?

 

Tocou em seu braço pedindo abrigo, quando queria extraí-lo,

E conseguiu o segredo dos seus sonhos, traçou um caminho,

Tirou-os de dentro dele dando vida de um a um, ao seu jeito,

Depois, cansou-se, pegou sua mala e seguiu outro caminho,

Ele levou a mão em concha e secou o suor do rosto molhado,

Embebido em um pranto inseguro, de quem estava sozinho,

 

Preso naquela poltrona, inseguro quanto a tudo, inclusive a si mesmo,

Desejou acender um cigarro, tragá-lo, até algo preenchê-lo,

Até que a fumaça subisse aos céus e escondesse seus olhos,

A partir daquele instante, ele se negaria aos sentimentos,

Errou uma vez, depois duas, não queria errar de novo,

Era grotesco demais ser abandonado por quem mais amou,

 

Ver todas as juras ditas, silenciarem dentro de si mesmo,

Ecoarem dentro do vazio crescente do seu peito, morte premeditada,

Como ele fora um tolo ao ousar falar de sonhos em alta voz,

Agora a cada vez que saísse daquela poltrona os veria retornar na sua cara,

E quando ousasse sorrir, feliz por recordar os bons momentos,

Se veria sozinho, não haveria nada em que pudesse se confortar,

 

Até mesmo os segredos silenciados seriam jogados contra o seu rosto,

Sentia seu sorriso desfazendo-se, não haveria nada em que se agarrar?

Agora que todos conheciam sobre o amor em que ousou acreditar,

Receberia apenas o eco no instante em que todos estivessem a recordar,

Talvez, com alguma intervenção divina alguém tivesse acreditado nele,

E quem sabe, passasse por sua porta a devolver-lhe o que foi tirado,

 

Sobraria algo de bom de tudo aquilo, não sobraria?

Talvez, dela, nunca mais tivesse notícias, ela era decidida,

Por que voltaria, depois de abandoná-lo, usurpando suas forças?

Mas, ele queria, ao menos por um pouco, se agarrar as memórias,

Desejou, naquela hora, que ao menos isso não fosse tirado,

Seria difícil receber dos seus sonhos, apenas o eco jogado em seu rosto.

domingo, 24 de janeiro de 2021

Homem Ferido

A saudade como um calmante, afagando sua ausência,

Um pouco mais claro que antes, soavam minhas ideias,

Enquanto suas promessas me tomavam pela mão,

E traziam-na de volta, em meu abraço, no meu coração,

Era uma espécie de ir e vir bastante nostálgica,

Os momentos vividos se misturavam com os de agora,

 

Eu já não sabia em que acreditar ou no que me apegar,

Fosse amor ela ainda estaria comigo, eu preferia acreditar,

Me vejo inerte nesta cadeira, de trago em trago afogando o ego,

Situação difícil jurar amor e receber em troca um dar de ombros,

Eu carecia de razão, precisava me amparar, ser mais altivo,

Na falta de emoção, atitude ressoavam aos meus ouvidos,

 

Não que eu tivesse desistido de amar, não era isso,

Apenas estava entregue a um sentimento cabisbaixo,

Quando você aposta alto e se vê perder, em farrapos,

Alguma coisa se rasga dentro de você e não volta a ser o mesmo,

Nesta aposta eu perdi muito, minha alma eu acredito,

Com os olhos intactos nem uma lágrima rolou por meu rosto,

 

Mas seria pedir demais que ela tivesse um pouco mais de respeito,

Ter mexido comigo não era o bastante para me dar um abraço?

As promessas que eu fiz ainda como amigo, foram poucas para oferecer abrigo?

Sim, por que eu caí, me vi desamparado, em frente aos seus olhos,

E ela não conseguiu fazer nada, nem uma atitude passou por sua cabeça?

Quando eu estava ereto e intacto, por que ela me forçou a desabar?

 

Até agora uma parte de mim se recusava a aceitar esta desfeita,

Eu que tanto soube escolher as palavras não encontrei a mulher certa?

Não bastava ser eu mesmo para satisfazê-la, o que fez falta?

Me desculpe por perguntar, mas esta pergunta ainda me cala a garganta,

Estou a me afogar nela, preciso falar para que me ouça, me desafoguear,

De outra forma, como eu poderia entende-la, então, está o mundo a errar,

Não ela, não é, nunca; Por quê erraria a mulher que eu fiz minha?

 

A escolhi para ser única em minha vida, não a outra como ela queria,

Por Deus, em minha alma ainda ressoam seus atos, suas palavras,

Sua ausência ainda grita tão forte que sinto que não a posso controlar,

Me abandonou ao acaso apenas por que eu a tirei de lá?

A pedi para que me fizesse uma lista de como conquista-la,

Queria apenas algumas dicas, querida, você não poderia se esforçar?

 

O sonho de amor em que sempre acreditei, o mesmo que vi brilhar no seu olhar,

A fechou em si mesma, me excluindo de lá, desviando-a para outro lugar,

Apenas dissesse aonde ir, e eu iria, sempre estive disposto a te encontrar,

Não deixei transparecer isso em cada detalhe, cada ideia?

Meu bem, apenas diga, não fui suficiente para convencê-la?

Como pode me deixar enrijecido nesta dor que me fere impiedosa,

Eu chorei ainda na sua frente, você não pode me enxergar?

 

Estivesse eu, estagnado na sua frente, você não poderia derreter-me?

Querida, eu não soube reagir, você queria que eu representasse?

Nem mesmo um toque seu houve ou um sorriso em sua fonte,

Nada, nada em que eu pudesse me apegar, nem mesmo uma promessa forte,

Senti cansar meus dedos, não tinha mais em que me segurar,

Estava de olhos fechados quando minhas forças esvaíram na sua frente,

Mas eu não, então me vi descer, escorregar, até, não sei bem aonde...

 

Ainda guardo cada detalhe em minhas memórias, isso me faz bem,

Eu a amarei por uma vida, nunca amei assim outro alguém,

Mas não imagina o quanto doeu te ver ausente de mim, inerte,

Quanto ao que eu sentia, inconsistente, quanto ao nosso amor, indiferente,

 

Você não foi capaz de perceber em nenhum momento que me destruiu?

Minhas defesas ruíram, permaneci preso as promessas que você proferiu,

Fiz delas meu amuleto, se você não notou, será que pode recordar agora?

Não dói o tanto que padeço, cada pedaço que se desfragmenta em minha alma?

 

Querida, me refiro a aquela alma que um dia jurou concertar,

Que um dia você prometeu amar, cuidar, aquela que fiz sua,

No mesmo instante, em que te coloquei num pedestal: minha,

Eu acreditei no reflexo que havia em seu olhar, querida,

De todo o nosso amor, não sobrou nada, nada em que me agarrar?

Aqui onde estou, não tenho forças suficientes sem você me ajudar,

 

Você pode, por favor, ao menos uma vez me apontar uma saída,

Querida, se dependesse apenas de mim, não haveria problema,

Mas aqui estamos nós perdendo-nos entre os espaços,

Me sinto carente dos seus beijos, padeço por seus abraços,

 

Em nenhum momento você desejou se aproximar de nós,

Então, poderia responder-me porque lá fora você foi diferente?

Da sua boca, não houve uma única palavra para consolo,

Nada a me dizer, ao menos em um pequeno instante?

 

Era tudo uma questão de fingir um amor correspondido,

Usar minhas próprias juras contra mim mesmo?

Ferir-me assim, que castigo, justo aquela para quem jurei dar abrigo...

Aquele sonho de amor que sonhei me foi afastado,

Por você, e este seu doce rostinho adorado, me sinto fraco,

Como posso escapar deste martírio ao qual me coloco,

Doce Amor, como pode jurar abrigo e agora, não estar mais comigo.

Moças e Seus Saltos

 

Examinava de uma a uma, cada palavra,

Gostava de contemplar o efeito delas,

As pessoas gostavam de procurar conforto nelas,

Mas, para mim, elas pareciam vazias de tudo e de si mesmas,

Não importava que frase fosse pronunciada por suas bocas,

Nada além de saliva tocavam-nas, estavam áridas, secas,

 

Se houvesse alguma doçura em algum momento em suas almas,

Elas, deveriam tê-las tragado para si mesmas, consumindo-as,

Perdendo-se, no labirinto em que caíam, traídas - as traidoras -,

Sobre o amor em suas almas, infelizmente estas eram as notícias,

O fato de eu poder me abrir um pouco, expressar minhas ideias,

Me conforta sobremaneira, mesmo que minha ideia pareça vaga,

 

Deixo a liberdade para discordar de mim o quanto precisar,

Não entendo essa mania corriqueira de querer forçar as coisas,

É como se em seus olhares chorosos houvessem algemas,

Usam suas vozes melodiosas para apaziguar as coisas,

Colocar véu sobre os vazios em que foram consumidas,

Escondendo-se dentro de si mesmas, para emergirem barulhentas,

 

Suas vozes fazem eco aos meus ouvidos, mas não dizem nada,

Seus saltos altos, suas roupas esvoaçantes, nada me toca,

Será que é impossível pensarem um pouco por si mesmas?

Ai de mim se me identificasse, de antiquado a machista

Seria definido, com toda a certeza, mas e se eu me definir como pessoa?

Haveria alguém convicta o suficiente para dizer quem eu sou agora?

 

Peço que não me queiram mal, não é minha intenção discordar,

Nenhuma das minhas frases são embebidas em raiva,

Podem até conter uma lágrima ou outra, mas com certeza,

Estão carentes de qualquer vestígio de lamúria ou incerteza,

Bom, aqui não poderiam definir minhas palavras como secas?

Uma lágrima e uma palavra, de repente uma frase pronta,

 

Por quê, todas tão desapegadas em cuidar umas das outras,

Pode haver pouco sentido no que eu digo, alguém concorda?

Alguém gostaria de conforto no que tange aos problemas,

Sempre tão absortas em si mesmas, para que esta tal concorrência?

Qual a graça de conquistar o primeiro lugar sem ter com quem contar?

Qual o sabor da vitória se chegar ao final sem ninguém para abraçar?

 

Sempre a espera de suas habilidades e experiências camufladas em conquistas,

Qual o sabor da vitória se para conquista-la teve que burlar lê-a?

Vejo-as condenadas ao abandono de si mesmas,

Então, já encontraram a resposta, quem eu sou agora?

Melhor um dar de ombros que encarar a verdade em minha fala,

Abrir-se ao inseguro do que encarar seus medos sem pestanejar,

 

Há algum problema na sinceridade umas para com as outras?

Sempre com suas manias de se colocarem poderosas,

O que há de errado em descer das nuvens e andar com os pés na terra,

Essa água que afoga suas gargantas não poderia, ao invés disso, lavá-las?

Isso para o caso de que algo aqui embaixo pudesse sujá-las,

Afinal, definem-se as indefinidas – imaculadas? - ,

 

Embora, apenas e até enquanto as convém, e ainda se julgam, as sábias,

Inteligentes em quê? Na arte de enganar, em despencar de suas almas,

Em destituírem-se de tudo, sempre vazias a vagarem por si mesmas,

Não podem sair para fora e contemplar um pouco além das suas janelas,

Para que servem seus olhos senão para avistar um pouco na dianteira,

Que importa o tamanho das suas calças se nem possuem ideias próprias?

Se colocam na defensiva para manipular, peritas na arte das falácias,

 

É certo que o dia da verdade chegaria, por que não poderia ser agora,

O que estou a dizer não é mera queixa, as palavras em suas bocas,

Ceifam-nas, a todas; como uma faca afiada poderiam cortar as rédeas,

Contudo, lá estão elas, petrificadas em suas posições de vítimas,

Achando que enganam, estagnadas em ideias feitas por outras,

Vocês não são donas de nada, nem do que pensam acreditar,

 

Emudecidas com suas vozes presas na garganta, enganadas,

Traídas - as inertes -, as submissas presas na ideia de liberdade falsa,

Há algo em vocês que ainda possa se definir em sua forma verdadeira?

As defensoras do nada, credoras na arte de serem enganadas,

Gemendo em suas camas desarrumadas, as peritas falseadas,

Apegam-se ao gozar como se ganhassem nisso uma medalha,

 

Já pensaram em dar prazer a quem entrega-se a essas camas?

Chegou o instante de se falar de sexo, o que teriam a falar?

Há algo verdadeiro que valha ser ouvido e que se possa acreditar?

Suas falas descabidas são como zumbidos que não querem cessar,

Me recuso a ouvi-las, como eu poderia abraçar suas ideias,

Vocês se apegam a que quando tentam convencerem a si mesmas?

 

Mesmo estes seus movimentos, agilidade e força estranha,

Usam seus saltos para mexerem suas bundas,

Mas não conseguem usa-los para se colocarem em suas vidas?

Precisam sempre esvaziarem-se e prostrarem-se, ajoelhadas?

Qual é a posição mais perfeita na qual se veem favorecidas?


Não consigo passar por vocês sem registrarem-nas,

Sempre tão carecedoras de ideias, as libertadoras,

Se afastem daí, me coloco a postos para dialogar,

Querem coesão para as suas ideias, então, aí está.

Parada na Encruzilhada

Tudo, de repente, ficou subitamente leve,

Como se flutuasse para algum outro lugar,

Onde eu, com certeza, nunca iria estar,

Tão longe quanto a vista poderia alcançar,

Impalpável por mais que eu quisesse pegar,

 

Tudo passava tão rápido quanto um piscar de olhos,

Eu me sentia, estagnada, como se estivesse parada,

Um frio intenso parecia me pegar pelo braço,

Me sentia rígida, trêmula, sôfrega, faltava o ar,

Como se em tudo aquilo, eu não passasse de reflexo,

Me sentia distante, não parecia me encaixar em nada,

 

Do que eu ouvia ao que enxergava havia um abismo,

E eu estava a um passo dele, prestes a cair em queda livre,

Em um vazio escuro e infinito sem nunca encontrar abrigo,

Minhas forças esvaiam-se feito água pelo chão escorregadio,

Passos curtos para o destino certo e traiçoeiro que me esperava,

Ao meu redor sentia vibrações de corações famintos,

Mesmo o meu pulsar já não correspondia as expectativas,

 

Eu tentava me posicionar de uma maneira ou outra,

Mas tudo parecia fora de lugar, uma desordem que ninguém entendia,

Eu tateava pelas paredes frias queria encontrar palavras,

Mas elas emudeciam na garganta, mesmos meus gestos, ninguém via,

Naquela estrada de mão única havia uma enxurrada que tragava,

Eu tentava me esquivar dela, via-os percorre-la, mas algo em mim se recusava,

Se alguém lá embaixo pudesse me ouvir, ou me entender ao menos um pouco,

 

Mas eu me sentia a cada dia mais sozinha, todos estavam partindo,

O relógio andava ao avesso, os ponteiros se posicionavam apressados,

Nada parecia corresponder ao que eu havia sonhado um dia,

E eu ali, tentando não ficar inerte, a um impasse de me ver resvalar,

Por aquele caminho tortuoso e inseguro, meus dedos trêmulos falharam,

Apenas um pouco, por poucos segundos, tempo suficiente para ser carregada,

Distante demais para me inteirar de tudo o que acontecia,

Apenas um eco de tudo que ouvia repetirem com sorrisos de boca a orelha,

 

Naquele instante desejei não ter caído por terra, não ter provado aquele gosto amargo,

Uma promessa e um beijo, o bastante para me fazer acreditar,

O suficiente para me derrubar e me fazer recuar, por apenas mais um tempo,

O destino me indicaria a hora certa, eu precisava me recuperar, estava ferida,

Por mais que quisesse não conseguia acompanhar aquele caminho escorregadio,

A dor que estava palpável em meu peito, agora marcava meu rosto,

 

Era vista por todos, contemplada por quem quisesse ver, não havia segredos,

O medo estava descortinado, o véu da ausência havia sido removido,

Triste destino de um coração sonhador, a mesma ausência fez sua morada,

Uma lágrima escorregou dos meus olhos e molhou meus lábios,

Levantei minha mão queria secá-la, apagar seu calor que me feria,

Como se não se colocasse tão distante minha boca ficou ressecada,

Parecia desfragmentar a olhos vistos, se havia algum remédio era desconhecido,

 

O medo criava suas raízes nas profundezas da minha ausência,

Eu apenas desejava, que algum dia, alguém pudesse removê-las,

O inseguro tão impalpável agora parecia se desenhar ao meu redor,

Queria poder traduzi-lo, que triste esperança, alguém iria acreditar?

De repente, todos andavam a passos largos para aquele caminho,

Embora eu acreditasse que ninguém queria realmente estar lá,

Ninguém ousava reclamar a esse respeito em alta voz, nem se recusar,

 

Os ponteiros do relógio davam a tudo um ar mais passageiro,

Horas se desprendiam em minutos e por sua vez em segundos,

Olhos afogueados derretiam até tornarem-se duros feito o gelo,

Eu, apenas desejava que tudo se desenrolasse rápido,

Que chegasse ao fim, quisera eu, pudesse impedir até mesmo o começo,

Como se houvesse essa possibilidade, pesava-me o silêncio,

 

Tentava me agarrar a segurança que não sentia,

Precisava pensar em algo, ser mais que aquilo que se desprendia,

E deixava-se escorregar, permitindo-se vaguear em um caminho perdido,

Em busca de encontrar-se apenas para depois perder-se de novo,

Havia, aos meus olhos, um círculo vicioso e tudo girava ao seu entorno,

 

Uma angústia dolorida berrava dentro de mim, sem que eu conseguisse contê-la,

Eu não tinha vontade alguma de me colocar tão incerta, deserta?

Desabrigada de sentido, coesão, o que me tomava não tinha explicação,

Eu baixava a cabeça sem emoção, algo batia em mim: meu coração...

 

Um meio sorriso brotava em meu rosto, um sobrolho arqueado,

A sensação ajudava a diluir o veneno dos olhares incrédulos,

Por eu ousar resistir a seguir o mesmo caminho errôneo de todos,

Quando o corpo não aguenta mais a gente baixa a cortina,

Se abriga ao que for para seguir, não toleraria ficar estagnada,

Em cada diálogo eu tentava examinar cada palavra,

 

Queria encontrar algum conforto em alguma delas,

Embora parecesse não importar qual caminho meus passos seguiriam,

Por sempre parecer ter destino certo aquele abismo traiçoeiro,

Um dia me deparei com uma encruzilhada em que havia uma placa


Com escritas em caixa alta, garrafais, lá dizia: uma promessa e um beijo,

Logo abaixo, em letras vermelhas e quase ilegíveis, uma mão se estendia,

Eu peguei minha caneta e desejei assinar o acordo, a-cor-do?

Estaria faltando algo? Talvez, a chuva tivesse apagado uma letra...

sábado, 23 de janeiro de 2021

Sem Pressa...




Ela estava meia deitada nos braços do esposo,

Olhos fechados coração aberto para os sonhos,

Que acabara de ver refletido em seus olhos negros,

Sem querer deixara escapar um gemido de desejo,

Erguera-se até ele, e o beijara com sofreguidão,

De maneira estonteante, absorta em sua afeição,

 

Sentia-se inebriada por um carinho que não saberia expressar,

Tocou seu rosto com suavidade, tentando acalmar o prazer,

Em vista de não ser tão apressada, queria aproveitar as horas,

Com o máximo de proveito possível sem medo de que tudo acabasse,

Abriu os olhos para avistar o rosto que tanto amava,

Com um sorriso nos lábios, beijou-lhe delicadamente a boca,

 

Passou a perna esquerda sobre o corpo dele,

Queria sentir cada parte sua, queria que o calor dele a puxasse,

Ele demonstrou entender seu sentimento,

Envolveu-a com o braço, puxando-a mais ao seu encontro,

O seio dela, agora recostava em seu peito quente e macio,

Estava um pouco mais deitada sobre ele,

 

Era como se os seus corpos falassem a linguagem de suas almas,

O calor ardia, queimava a pele, entre os beijos e carinhos,

Gotas de suor escaparam dela, molhando-o um pouco,

Ela fez um gesto de desculpas com a cabeça,

Enquanto se abaixava para sugar cada parte molhada,

Agora estava totalmente sobre ele, incapaz de escapar,

 

Desejava suas investidas, queria sentir-se desejada,

Amparada por seus braços seguros e fortes,

Era como se cada desejo do seu coração estivesse sendo ouvido,

Naquele instante eles já não pertenciam mais a si mesmos,

Eram apenas um do outro, absortos diante de tanto amor,

Como um cometa que desiste dos céus e cai por terra,

Inerte, a derreter-se em um doce fogo acalentador,

Calor que encontrava refresco nos beijos sedentos de suas bocas,

 

Sentada sobre ele, ela parou por um instante para admirá-lo,

Queria gravar em sua memória cada traço, registrar o momento,

Do carinho mais reservado ao afago mais provocante,

O sorriso que ele abriu deixou-a tremula, era estonteante,

Irresistível seria pouca definição para tudo que sentia,

 Ela passou a mão sobre seu peito, com esforço,

 

Não conseguia controlar a própria força,

Sentia-se fraca, absorta por aquela sensação que a consumia,

E entregava-a ele, como última saída, com uma urgência incontida,

Estava por inteira tremula, sôfrega pelo amor que a tomava,

Por Deus, que desejou com toda a alma, nunca mais pertence-la,

Seria totalmente dele, em cada instante da sua vida,

 

As horas ousavam passar no relógio, como se a identificassem,

Contando que mesmo todo o tempo do mundo já não seria o bastante,

Via-se absorta nele, em cada parte, agachou-se até estar nele,

Sentia-se penetrar sua pele, em uma entrega sem limites,

Prazer e amor se confundiam entre beijos e desejos desregrados,

Um fio de saliva percorreu seus lábios sedentos de carinho,

 

Como se nada dentro dela mais a pertencesse, esqueceu de si mesma,

Era inteiramente dele e cada parte sua desejava tocá-lo,

Com a intensão única de demonstrar o que sentia em sua alma,

Via-se tomada por um desejo insaciável, via-se desnuda por seu olhar,

Sentia que poderia confiar todos os seus segredos e ser compreendida,

Que poderia entregar todos os seus medos e vê-los afastados entre afagos,

 

Como se a confidenciassem para ele, os cabelos dela caíram sobre seu rosto,

Com um gesto tremulo e seguro, ele afastou para trás da orelha com carinho,

Depois curvou-se em seu encontro para beijar-lhe enquanto a acariciava,

Gemidos e sussurros ecoavam pelo espaço do quarto, pulsando um no outro,

Seus corpos agora, estavam juntos, unidos como em um único suor,

Seguidores de uma única vontade, entregar-se ao prazer que os consumia,

E não tinha pressa nem mesmo intensão de acabar,

 

O carinho tomava suas feições, unindo dois corações em amor,

O corpo dele possuía a força de uma rocha sustentando-a,

Sorte a dela, pois não tinha controle algum sobre si mesma,

Entre sorrisos, e gemidos ele sugava seus lábios com voz rouca,

Cada parte sua respondia aos seus carinhos, absortos em carícias,

Dedos percorriam sua pele, com um traço delineando-a,

Sentia-se queimar, derreter feito água sobre a cama macia,

 

Naquele momento todas as suas perguntas encontraram respostas,

Cada passo passou a ter sentido, antes acreditava em seus pontos de partida,

Mas agora, sendo totalmente sua, ela havia encontrado a linha de chegada,

O ponto máximo que havia desejado por toda a sua vida,

O auge de seus sonhos de mulher feita que era, a partir de agora,

Ela olhava para ele, esforçava-se ao máximo para demonstrar seu amor,

Queria ser amada na mesma medida e podia ver-se refletida em seus olhos,

 

Permitiu-se cair de novo e de novo sobre ele, agora estaria segura,

Não desejava pertencer-se, havia encontrado uma razão maior para si mesma,

Sentia-se a sorte em pessoa, quais eram as probabilidades de se encontrar o amor,

E ser por inteira retribuída? Tomada pela mão guiada e por única razão, negar-se a ser sua...

Por ter provado o amor que não cabia mais dentro da sua alma

E desejava ansiosamente derramar-se através das suas carícias, para que conteria?

Por que motivo se negaria a entregar-se a ele com tudo que sentia,

Se ele era seu em tamanha proporção que ela, retribuindo-a com toda a ternura,

 

Ela tentava encontrar as palavras certas, buscava uma linha de lógica,

Mas quando o amor toma as rédeas quem há de resistir-lhe?

Procurou de novo em si mesma, redesenhando o corpo dele com a língua,

Cada centímetro dele agora ardia de encontro a sua pele,

O melhor de tudo isso era que ao verem-se queimar, derretiam-se,

Abrasando, entregando-se um ao outro, isso era pouco ao que sentia,

 

Havia urgência, havia uma necessidade desmedida,

As horas perdidas de outrora, agora faziam a diferença

Na busca de saciar as carícias desenfreadas,

Algo berrava dentro de si mesmos e era extravasado,

Ganhava vida no fulgor de cada carinho expresso,

 

Espasmos violentos tomavam seus corpos,

Suas almas agora, tinham vontade própria,

E não desejavam mais permanecer no vazio de si mesmos,

Queriam entregar-se para serem completos,

Como um meio de contar suas histórias particulares,

Apagar cada erro e fazer disso um álibi para evitar deslizes,

 

Agora, o vazio de si mesmos criava um ponto de desvio,

Uma curva em uma estrada pouco percorrida,

Que através de afagos sinceros aceitavam ser preenchidos,

A delicada curva em seus corpos tinha uma razão de existir,

Traçar um limite para ser percorrida com calma, sem pressa...

Beijo na Boca

 

Ela o abraçou com força, desejando nunca soltar-se,

Seus corações batiam no mesmo ritmo, ele um pouco mais alto,

Abaixou-se até o seu ouvido, um convite ao silêncio,

Disse-a, eu te amo, com precisão exata, ela ergueu a sobrancelha,

De um jeito brincalhão, em descredito fingido,

Será que devo acreditar nisso, porque eu te amo e muito,

 

Sua voz soou sôfrega, suas pernas falharam por um instante,

Logo que, os dedos dele tocaram em carícias seu rosto,

Movimentando uma mexa do cabelo dela para trás da orelha,

Agora, ficava mais audível o que ele dizia,

E sua fala soava com efeito de um beijo quente e molhado,

Em resposta, seus lábios ficaram secos na medida do desejo,

 

Com um sorriso satisfeito, ela passou a língua por sua boca,

Depois afastou-se um pouco, para olhar em seus olhos,

Sentia-se pronta para o que viria seguir, segura do que sentia,

Ele também, e o beijo que aconteceu foi profundo e completo,

Não há a necessidade de palavras quando os atos falam mais alto,

Naquela hora, seus corpos pareciam gritar de encontro um ao outro,

 

Sedentos para aprofundarem o que antes era apenas um sonho,

Sim, ele indagou com uma cortesia no olhar que afastava a insegurança,

A atenção sobre ela era distribuída na medida exata, não havia o que pensar,

Sim, lhe respondeu encaixando-se nele em um abraço que despia a alma,

Seus corpos pulsavam em um derramar de amor incontido,

Era como se suas almas não pertencessem mais a si mesmos,

 

Se houvera alguma sombra de dúvida em seus olhares, foram afastadas,

Entre carinhos e amor desmedidos, lá fora a chuva caia, se derramava,

E o amor foi servido embebido em lábios apaixonados e sedentos,

Seus hálitos quentes despiam-nos dos medos e segredos,

Seus cheiros espalhavam-se pelo ar, a envolve-los mais ainda,

Depois de sugar uma porção de amor de sua boca macia,

Ele, ergueu-a com um abraço, colando seus corpos em um apenas,

 

Entregavam-se, um ao outro com a mesma sintonia, havia urgência em suas almas,

Isso gritava em seus atos, mesmo que as palavras não soubessem falar,

Na falha dos seus fôlegos, buscavam um no outro o ar para respirar,

Talvez parecesse insensato agir de forma precipitada, e... ansiosa?

Mas quem pode medir o tempo necessário para que o amor surja?

No exato segundo em que seus olhos se viram todo o resto fez silêncio,

 

O amor baixou a voz para ceder espaço a outras formas de expressão,

Quando as palavras falam mais alto do que a voz do coração?

No momento em que se traduz em fala todo o sentimento sentido,

Corre-se o risco de estabiliza-lo, reduzi-lo ao minimalismo,

Colocá-lo na referência que a palavra contém é forçar um aspecto,

Reduzi-lo ao exato teor que a palavra é capaz de expressar, nada mais que isso,

 

De repente, todo o amor que se expressou através dos atos vividos,

Estanca o fluir de todo o sentimento, petrifica-o a aquilo que foi dito,

Uma palavra, ou mesmo uma frase, nunca serão capazes de medir o todo,

Sem tentar forçar indiferença ou buscar esconder tudo o que sentia,

Ela gritou: eu te amo, com um sorriso convidativo, em alta voz,

Queria que todos ouvissem o quanto amavam-se, a exemplo de poucos,

 

A timidez era afastada por afagos e desejos distribuídos em seus carinhos,

A chuva batia na janela como se a afagasse, um trecho do que estava oculto,

Não havia o que se perder, quando dois corações se encontram em amor,

Tudo passa a se traduzir em uma linguagem natural, espontânea,

No mesmo instante, ele viu o sentido da sua força, segurar sua amada,

Pelo tempo que fosse preciso em seu abraço enquanto a beijava,

 

Não pensou em mais nada, só queria perder-se nela,

Para encontrar-se em cada parte sua, até achar-se amparado em sua alma,

Conhecê-la por completo, ser o dono de cada abraço,

O homem por quem sonhou por toda a vida, com toda a alma,

O homem dentro dele sentia-se seguro do seu destino,

Pois, na doçura dos seus beijos encontrou todas as respostas,

Mesmo com relação a aquelas que nunca ousou buscar,

 

Sentiam-se completos, seus corpos falavam por si próprios,

E respondiam-se na medida exata, quando se ama não há dificuldade,

As coisas se desenrolam em cada afago, no convite de cada sorriso,

Em suas respirações ofegantes e corpos suados, refletem-se,

Não há muito o que se pensar quando o amor fala mais alto que tudo,

Apenas transborda-se o que sente, pois, o amor é algo que vem no tempo devido,

 

Logo, que a sentiu entregar-se por inteiro, viu que encontrou a pessoa certa,

Talvez, isso ainda tenha ocorrido algum tempo antes, na primeira troca de olhar,

Os medos dissipavam-se no transcorrer dos segundos de afagos,

Como se um caminho de fogo traçado por mãos suaves fosse engolido,

Para retornar em horas de amor distribuído entre beijos incontidos,

Teria perdido o fôlego e sentiria tragar sua confiança, não fosse o eu te amo sussurrado,

 

Entre carinhos e afagos que pareciam nunca serem finalizados,

Visto a ânsia do pulsar dos seus desejos, incontrolados,

A chuva que caia lá fora, os lençóis desarrumados, as roupas deixadas a esmo,

Tudo perdeu o foco, só restando os dois a extravagar seus sentimentos,

De repente, seus passos ganharam um sentido de existência maior,

Seus destinos nunca mais seriam os mesmos,

O amor se fez, e o mundo ganhou novo aspecto.

A Cobra Rosa

Houve invasão na chácara, De repente, Todos os bichinhos Correram assustados. Masharey subiu na pedra Mais alta, Que há a...