Como se flutuasse para algum outro lugar,
Onde eu, com certeza, nunca iria estar,
Tão longe quanto a vista poderia alcançar,
Impalpável por mais que eu quisesse pegar,
Tudo passava tão rápido quanto um piscar de olhos,
Eu me sentia, estagnada, como se estivesse parada,
Um frio intenso parecia me pegar pelo braço,
Me sentia rígida, trêmula, sôfrega, faltava o ar,
Como se em tudo aquilo, eu não passasse de reflexo,
Me sentia distante, não parecia me encaixar em nada,
Do que eu ouvia ao que enxergava havia um abismo,
E eu estava a um passo dele, prestes a cair em queda livre,
Em um vazio escuro e infinito sem nunca encontrar abrigo,
Minhas forças esvaiam-se feito água pelo chão escorregadio,
Passos curtos para o destino certo e traiçoeiro que me
esperava,
Ao meu redor sentia vibrações de corações famintos,
Mesmo o meu pulsar já não correspondia as expectativas,
Eu tentava me posicionar de uma maneira ou outra,
Mas tudo parecia fora de lugar, uma desordem que ninguém entendia,
Eu tateava pelas paredes frias queria encontrar palavras,
Mas elas emudeciam na garganta, mesmos meus gestos, ninguém
via,
Naquela estrada de mão única havia uma enxurrada que
tragava,
Eu tentava me esquivar dela, via-os percorre-la, mas algo em
mim se recusava,
Se alguém lá embaixo pudesse me ouvir, ou me entender ao
menos um pouco,
Mas eu me sentia a cada dia mais sozinha, todos estavam
partindo,
O relógio andava ao avesso, os ponteiros se posicionavam apressados,
Nada parecia corresponder ao que eu havia sonhado um dia,
E eu ali, tentando não ficar inerte, a um impasse de me ver
resvalar,
Por aquele caminho tortuoso e inseguro, meus dedos trêmulos falharam,
Apenas um pouco, por poucos segundos, tempo suficiente para
ser carregada,
Distante demais para me inteirar de tudo o que acontecia,
Apenas um eco de tudo que ouvia repetirem com sorrisos de
boca a orelha,
Naquele instante desejei não ter caído por terra, não ter
provado aquele gosto amargo,
Uma promessa e um beijo, o bastante para me fazer acreditar,
O suficiente para me derrubar e me fazer recuar, por apenas
mais um tempo,
O destino me indicaria a hora certa, eu precisava me
recuperar, estava ferida,
Por mais que quisesse não conseguia acompanhar aquele
caminho escorregadio,
A dor que estava palpável em meu peito, agora marcava meu
rosto,
Era vista por todos, contemplada por quem quisesse ver, não
havia segredos,
O medo estava descortinado, o véu da ausência havia sido
removido,
Triste destino de um coração sonhador, a mesma ausência fez
sua morada,
Uma lágrima escorregou dos meus olhos e molhou meus lábios,
Levantei minha mão queria secá-la, apagar seu calor que me
feria,
Como se não se colocasse tão distante minha boca ficou
ressecada,
Parecia desfragmentar a olhos vistos, se havia algum remédio
era desconhecido,
O medo criava suas raízes nas profundezas da minha ausência,
Eu apenas desejava, que algum dia, alguém pudesse
removê-las,
O inseguro tão impalpável agora parecia se desenhar ao meu
redor,
Queria poder traduzi-lo, que triste esperança, alguém iria
acreditar?
De repente, todos andavam a passos largos para aquele
caminho,
Embora eu acreditasse que ninguém queria realmente estar lá,
Ninguém ousava reclamar a esse respeito em alta voz, nem se
recusar,
Os ponteiros do relógio davam a tudo um ar mais passageiro,
Horas se desprendiam em minutos e por sua vez em segundos,
Olhos afogueados derretiam até tornarem-se duros feito o
gelo,
Eu, apenas desejava que tudo se desenrolasse rápido,
Que chegasse ao fim, quisera eu, pudesse impedir até mesmo o
começo,
Como se houvesse essa possibilidade, pesava-me o silêncio,
Tentava me agarrar a segurança que não sentia,
Precisava pensar em algo, ser mais que aquilo que se
desprendia,
E deixava-se escorregar, permitindo-se vaguear em um caminho
perdido,
Em busca de encontrar-se apenas para depois perder-se de
novo,
Havia, aos meus olhos, um círculo vicioso e tudo girava ao
seu entorno,
Uma angústia dolorida berrava dentro de mim, sem que eu conseguisse
contê-la,
Eu não tinha vontade alguma de me colocar tão incerta,
deserta?
Desabrigada de sentido, coesão, o que me tomava não tinha
explicação,
Eu baixava a cabeça sem emoção, algo batia em mim: meu
coração...
Um meio sorriso brotava em meu rosto, um sobrolho arqueado,
A sensação ajudava a diluir o veneno dos olhares incrédulos,
Por eu ousar resistir a seguir o mesmo caminho errôneo de
todos,
Quando o corpo não aguenta mais a gente baixa a cortina,
Se abriga ao que for para seguir, não toleraria ficar
estagnada,
Em cada diálogo eu tentava examinar cada palavra,
Queria encontrar algum conforto em alguma delas,
Embora parecesse não importar qual caminho meus passos
seguiriam,
Por sempre parecer ter destino certo aquele abismo
traiçoeiro,
Um dia me deparei com uma encruzilhada em que havia uma
placa
Com escritas em caixa alta, garrafais, lá dizia: uma
promessa e um beijo,
Logo abaixo, em letras vermelhas e quase ilegíveis, uma mão
se estendia,
Eu peguei minha caneta e desejei assinar o acordo, a-cor-do?
Estaria faltando algo? Talvez, a chuva tivesse apagado uma
letra...
Nenhum comentário:
Postar um comentário