domingo, 24 de janeiro de 2021

Parada na Encruzilhada

Tudo, de repente, ficou subitamente leve,

Como se flutuasse para algum outro lugar,

Onde eu, com certeza, nunca iria estar,

Tão longe quanto a vista poderia alcançar,

Impalpável por mais que eu quisesse pegar,

 

Tudo passava tão rápido quanto um piscar de olhos,

Eu me sentia, estagnada, como se estivesse parada,

Um frio intenso parecia me pegar pelo braço,

Me sentia rígida, trêmula, sôfrega, faltava o ar,

Como se em tudo aquilo, eu não passasse de reflexo,

Me sentia distante, não parecia me encaixar em nada,

 

Do que eu ouvia ao que enxergava havia um abismo,

E eu estava a um passo dele, prestes a cair em queda livre,

Em um vazio escuro e infinito sem nunca encontrar abrigo,

Minhas forças esvaiam-se feito água pelo chão escorregadio,

Passos curtos para o destino certo e traiçoeiro que me esperava,

Ao meu redor sentia vibrações de corações famintos,

Mesmo o meu pulsar já não correspondia as expectativas,

 

Eu tentava me posicionar de uma maneira ou outra,

Mas tudo parecia fora de lugar, uma desordem que ninguém entendia,

Eu tateava pelas paredes frias queria encontrar palavras,

Mas elas emudeciam na garganta, mesmos meus gestos, ninguém via,

Naquela estrada de mão única havia uma enxurrada que tragava,

Eu tentava me esquivar dela, via-os percorre-la, mas algo em mim se recusava,

Se alguém lá embaixo pudesse me ouvir, ou me entender ao menos um pouco,

 

Mas eu me sentia a cada dia mais sozinha, todos estavam partindo,

O relógio andava ao avesso, os ponteiros se posicionavam apressados,

Nada parecia corresponder ao que eu havia sonhado um dia,

E eu ali, tentando não ficar inerte, a um impasse de me ver resvalar,

Por aquele caminho tortuoso e inseguro, meus dedos trêmulos falharam,

Apenas um pouco, por poucos segundos, tempo suficiente para ser carregada,

Distante demais para me inteirar de tudo o que acontecia,

Apenas um eco de tudo que ouvia repetirem com sorrisos de boca a orelha,

 

Naquele instante desejei não ter caído por terra, não ter provado aquele gosto amargo,

Uma promessa e um beijo, o bastante para me fazer acreditar,

O suficiente para me derrubar e me fazer recuar, por apenas mais um tempo,

O destino me indicaria a hora certa, eu precisava me recuperar, estava ferida,

Por mais que quisesse não conseguia acompanhar aquele caminho escorregadio,

A dor que estava palpável em meu peito, agora marcava meu rosto,

 

Era vista por todos, contemplada por quem quisesse ver, não havia segredos,

O medo estava descortinado, o véu da ausência havia sido removido,

Triste destino de um coração sonhador, a mesma ausência fez sua morada,

Uma lágrima escorregou dos meus olhos e molhou meus lábios,

Levantei minha mão queria secá-la, apagar seu calor que me feria,

Como se não se colocasse tão distante minha boca ficou ressecada,

Parecia desfragmentar a olhos vistos, se havia algum remédio era desconhecido,

 

O medo criava suas raízes nas profundezas da minha ausência,

Eu apenas desejava, que algum dia, alguém pudesse removê-las,

O inseguro tão impalpável agora parecia se desenhar ao meu redor,

Queria poder traduzi-lo, que triste esperança, alguém iria acreditar?

De repente, todos andavam a passos largos para aquele caminho,

Embora eu acreditasse que ninguém queria realmente estar lá,

Ninguém ousava reclamar a esse respeito em alta voz, nem se recusar,

 

Os ponteiros do relógio davam a tudo um ar mais passageiro,

Horas se desprendiam em minutos e por sua vez em segundos,

Olhos afogueados derretiam até tornarem-se duros feito o gelo,

Eu, apenas desejava que tudo se desenrolasse rápido,

Que chegasse ao fim, quisera eu, pudesse impedir até mesmo o começo,

Como se houvesse essa possibilidade, pesava-me o silêncio,

 

Tentava me agarrar a segurança que não sentia,

Precisava pensar em algo, ser mais que aquilo que se desprendia,

E deixava-se escorregar, permitindo-se vaguear em um caminho perdido,

Em busca de encontrar-se apenas para depois perder-se de novo,

Havia, aos meus olhos, um círculo vicioso e tudo girava ao seu entorno,

 

Uma angústia dolorida berrava dentro de mim, sem que eu conseguisse contê-la,

Eu não tinha vontade alguma de me colocar tão incerta, deserta?

Desabrigada de sentido, coesão, o que me tomava não tinha explicação,

Eu baixava a cabeça sem emoção, algo batia em mim: meu coração...

 

Um meio sorriso brotava em meu rosto, um sobrolho arqueado,

A sensação ajudava a diluir o veneno dos olhares incrédulos,

Por eu ousar resistir a seguir o mesmo caminho errôneo de todos,

Quando o corpo não aguenta mais a gente baixa a cortina,

Se abriga ao que for para seguir, não toleraria ficar estagnada,

Em cada diálogo eu tentava examinar cada palavra,

 

Queria encontrar algum conforto em alguma delas,

Embora parecesse não importar qual caminho meus passos seguiriam,

Por sempre parecer ter destino certo aquele abismo traiçoeiro,

Um dia me deparei com uma encruzilhada em que havia uma placa


Com escritas em caixa alta, garrafais, lá dizia: uma promessa e um beijo,

Logo abaixo, em letras vermelhas e quase ilegíveis, uma mão se estendia,

Eu peguei minha caneta e desejei assinar o acordo, a-cor-do?

Estaria faltando algo? Talvez, a chuva tivesse apagado uma letra...

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