Ela estacionou a beira da estrada para pensar um minuto,
Haviam 200 quilômetros a separa-la de quem era seu amor,
Destino traiçoeiro quis apaixoná-la, apenas para tirar
depois,
Aproximou-o do seu peito com uma das suas mãos,
A mais encantadora de todas, enquanto usava a outra
Para leva-lo para longe dos seus abraços, a mais detestável,
Lançando-a nas garras da solidão, com a alma manchada pela
saudade,
Onde antes pulsava a paixão agora apenas bombeia o sangue...
Fosse impossível este amor, ela não se dirigiria até ele,
Fosse assim tão importante, por que se colocara tão
distante?
Prostrado em algum lugar para longe de onde a vista alcança,
Neste mesmo lugar em que ela desejava tanto estar,
Encheu o tanque de gasolina, tragou um cigarro no frescor da
brisa,
Com a janela aberta, permitiu ao vento acariciar seu rosto,
Ele aproveitou e roçou em seus cabelos, embaraçando-os,
Até que suas pontas tocassem seus olhos, ofuscando seu
caminho,
Ela apagou o cigarro no cinzeiro, arrumou seu reflexo no
espelho,
Do lado de fora do carro a brisa estava contra a sua
partida,
Do lado de dentro, ela passou os olhos no calendário,
Esboçou um sorriso de soslaio, sim, sabia que dia era...
Algumas poucas horas os separavam, o pegaria desprevenido,
Seria uma boa deixa para ficar por alguns dias a mais que o
planejado,
Havia comprado uma caixa de bombons, um vinho bom,
Nada atrapalharia, a decisão dependia somente dela,
A foto dele estava pendurada no para-brisa, ele parecia
encantador,
Daquela mesma forma que a fez apaixonar-se perdida e sôfrega,
Melhor não pensar muito, isso costumava deixa-la bamba,
Precisava estar tranquila para percorrer a estrada tantas
vezes sonhada,
Mil outras vezes, mais, evitada: o caminho que os separava,
Até aquele momento, tudo parecia uma mera questão de tempo,
Mas, a partir do instante em que chegasse a ele, as coisas
mudariam,
Ela acreditava nisso, esperava que fosse como esperava,
Da forma com que ele a fez acreditar desde o primeiro beijo,
Para sugestão da alma, sentia o pulsar descompassar o
coração,
Ela sofria uma emoção silenciosa que a deixava em
sofreguidão,
Queria que as horas se adiantassem e o caminho fosse deixado
para trás,
Tão rápido quanto o piscar de olhos em que o beijo se
acabava;
Envolvida pela saudade que a consumia e a levava para longe,
Ligou a chave na ignição e aceitou o destino que estava a
sua frente,
Fez questão de trancar a porta para que nada a impedisse,
Já havia perdido muito tempo pesando as chances, precisava
dele,
Por que o faria esperar quando poderia estar ao seu lado?
Não houvera nenhum outro homem em seu caminho,
Ela sabia que ele também a amava da mesma forma,
Deveria estar esperando-a com a mesma urgência,
Duas horas depois, estacionava em sua calçada,
Com ansiedade controlada e um sorriso de orelha a orelha,
Aquele que ela nunca conseguiu disfarçar ou apagar diante
dele,
Aquele cujo qual ele era a razão principal da existência,
O resultado de todo o charme e encanto com que lhe dedicava,
Estava sem saída, o amava e agora ele teria certeza sobre o
quanto,
O sentimento que o telefone denunciava agora seria
certificado,
Pigarreou um pouco, tentando conter a felicidade estampada no
rosto,
Dessa vez, superara as expectativas e empreitava para
atitude mais ousada:
Vencer a si mesma, entregar tudo que sentia sem esconder-se
em aparências,
Estar ali parada diante da imponência do prédio dele parecia
mentira,
Cada detalhe nele parecia ter sido feito a sua espera,
- Você deveria ter visto como corri, parecia que estavam
atirando em mim;
Disse ela, assim que o porteiro tocara o interfone,
- Imagino, deve ter sido difícil – disse ele, sem conter o
sorriso,
Deve ter conseguido fugir dos quarenta por hora...- ele continuara;
- Ufa, andei muito mais rápido que isso, estou superando a
mim mesma. –
Ela sorria com lágrimas no olhar, incapaz de conter a
felicidade,
- Não sei como te explicar, mas parecia que eu fugia do sol,
naquela hora,
Não sei se foi impressão, mas ultrapassei até mesmo a
velocidade do vento –
Ela dizia, com um muxoxo, - apesar de não contar com uma
arma engatilhada
Em minha direção, o vento se aproveitou de mim, um pouco –
Ela dizia e sorria ao mesmo tempo, - isso só pode ser coisa sua mesmo – ele continuara,
- Mas não se preocupe amor, eu fugi jurando vingança,
mostrei toda a minha força –
Ela dizia, - até tirei uma foto minha no reflexo do espelho
para você conferir... –
Ela cortou a fala ao identificar uma sólida porta de aço que
abria-se para ela,
Ela olhou-a assustada, era o elevador, ela correu para ele
ansiosa,
Deixando o fone suspenso, ao entrar e procurar o botão para
subir,
- Surpresa! Que dia é hoje? – Ele, gritou para ela, puxando-a
pela cintura com o braço direito,
- Querido, eu olhei no calendário, sei bem que dia é – Ela respondeu
envolvendo-o
Pelo pescoço com um beijo apaixonado e sedento, um outro
braço envolveu-a por inteira,
Era o braço esquerdo dele que continha um buque de rosas
vermelhas...