sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Em Frente ao Seu Prédio

Ela estacionou a beira da estrada para pensar um minuto,

Haviam 200 quilômetros a separa-la de quem era seu amor,

Destino traiçoeiro quis apaixoná-la, apenas para tirar depois,

Aproximou-o do seu peito com uma das suas mãos,

A mais encantadora de todas, enquanto usava a outra

Para leva-lo para longe dos seus abraços, a mais detestável,

 

Lançando-a nas garras da solidão, com a alma manchada pela saudade,

Onde antes pulsava a paixão agora apenas bombeia o sangue...

Fosse impossível este amor, ela não se dirigiria até ele,

Fosse assim tão importante, por que se colocara tão distante?

Prostrado em algum lugar para longe de onde a vista alcança,

Neste mesmo lugar em que ela desejava tanto estar,

 

Encheu o tanque de gasolina, tragou um cigarro no frescor da brisa,

Com a janela aberta, permitiu ao vento acariciar seu rosto,

Ele aproveitou e roçou em seus cabelos, embaraçando-os,

Até que suas pontas tocassem seus olhos, ofuscando seu caminho,

Ela apagou o cigarro no cinzeiro, arrumou seu reflexo no espelho,

Do lado de fora do carro a brisa estava contra a sua partida,

 

Do lado de dentro, ela passou os olhos no calendário,

Esboçou um sorriso de soslaio, sim, sabia que dia era...

Algumas poucas horas os separavam, o pegaria desprevenido,

Seria uma boa deixa para ficar por alguns dias a mais que o planejado,

Havia comprado uma caixa de bombons, um vinho bom,

Nada atrapalharia, a decisão dependia somente dela,

 

A foto dele estava pendurada no para-brisa, ele parecia encantador,

Daquela mesma forma que a fez apaixonar-se perdida e sôfrega,

Melhor não pensar muito, isso costumava deixa-la bamba,

Precisava estar tranquila para percorrer a estrada tantas vezes sonhada,

Mil outras vezes, mais, evitada: o caminho que os separava,

Até aquele momento, tudo parecia uma mera questão de tempo,

 

Mas, a partir do instante em que chegasse a ele, as coisas mudariam,

Ela acreditava nisso, esperava que fosse como esperava,

Da forma com que ele a fez acreditar desde o primeiro beijo,

Para sugestão da alma, sentia o pulsar descompassar o coração,

Ela sofria uma emoção silenciosa que a deixava em sofreguidão,

Queria que as horas se adiantassem e o caminho fosse deixado para trás,

 

Tão rápido quanto o piscar de olhos em que o beijo se acabava;

Envolvida pela saudade que a consumia e a levava para longe,

Ligou a chave na ignição e aceitou o destino que estava a sua frente,

Fez questão de trancar a porta para que nada a impedisse,

Já havia perdido muito tempo pesando as chances, precisava dele,

Por que o faria esperar quando poderia estar ao seu lado?

 

Não houvera nenhum outro homem em seu caminho,

Ela sabia que ele também a amava da mesma forma,

Deveria estar esperando-a com a mesma urgência,

Duas horas depois, estacionava em sua calçada,

Com ansiedade controlada e um sorriso de orelha a orelha,

Aquele que ela nunca conseguiu disfarçar ou apagar diante dele,

 

Aquele cujo qual ele era a razão principal da existência,

O resultado de todo o charme e encanto com que lhe dedicava,

Estava sem saída, o amava e agora ele teria certeza sobre o quanto,

O sentimento que o telefone denunciava agora seria certificado,

Pigarreou um pouco, tentando conter a felicidade estampada no rosto,

Dessa vez, superara as expectativas e empreitava para atitude mais ousada:

 

Vencer a si mesma, entregar tudo que sentia sem esconder-se em aparências,

Estar ali parada diante da imponência do prédio dele parecia mentira,

Cada detalhe nele parecia ter sido feito a sua espera,

- Você deveria ter visto como corri, parecia que estavam atirando em mim;

Disse ela, assim que o porteiro tocara o interfone,

- Imagino, deve ter sido difícil – disse ele, sem conter o sorriso,

 

Deve ter conseguido fugir dos quarenta por hora...- ele continuara;

- Ufa, andei muito mais rápido que isso, estou superando a mim mesma. –

Ela sorria com lágrimas no olhar, incapaz de conter a felicidade,

- Não sei como te explicar, mas parecia que eu fugia do sol, naquela hora,

Não sei se foi impressão, mas ultrapassei até mesmo a velocidade do vento –

Ela dizia, com um muxoxo, - apesar de não contar com uma arma engatilhada

 

Em minha direção, o vento se aproveitou de mim, um pouco –

Ela dizia e sorria ao mesmo tempo,  - isso só pode ser coisa sua mesmo – ele continuara,

- Mas não se preocupe amor, eu fugi jurando vingança, mostrei toda a minha força –

Ela dizia, - até tirei uma foto minha no reflexo do espelho para você conferir... –

Ela cortou a fala ao identificar uma sólida porta de aço que abria-se para ela,

Ela olhou-a assustada, era o elevador, ela correu para ele ansiosa,

 

Deixando o fone suspenso, ao entrar e procurar o botão para subir,

- Surpresa! Que dia é hoje? – Ele, gritou para ela, puxando-a pela cintura com o braço direito,

- Querido, eu olhei no calendário, sei bem que dia é – Ela respondeu envolvendo-o

Pelo pescoço com um beijo apaixonado e sedento, um outro braço envolveu-a por inteira,

Era o braço esquerdo dele que continha um buque de rosas vermelhas...


 

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