quinta-feira, 24 de julho de 2025

No Pré Escolar

Lá na escola
Havia um amiguinho,
Ele era mais velho,
Não sei bem certo matematicamente,
Ele tinha quinze anos,
Eu tenho 1, 2, 3, 4.
4 anos completos
Mês passado.
Foi meu pai quem me ensinou
A contar usando os dedinhos,
Já estou no número quatro,
Mais um e são cinco,
Então, eu passo para a outra mão.
Minha mãe diz
Que eu já posso contar
De cabeça
Sem precisar falar o número
Alto, nem usar os dedos,
Mas, eu acho assim
Mais fácil.
A professora não reclama,
Ela possui 22 anos,
São mais anos que eu
Possa contar,
Eu estou no pré-escolar.
O amiguinho de chama Fernando,
Ele limpa o pátio,
Usa uma foice
E corta os galhos altos,
Com uma inchada
Arranca o mato pequeno.
Eu tinha medo de ir
Até lá,
Então, ele limpou
E me levou sozinha.
Ele subiu no pé
De goiaba e me tirou
Várias goiabas enormes,
Eu não conhecia a fruta,
Aí ele mordeu com sua boca
E pôs dentro da minha.
Depois me levou
Para fazer xixi
Atrás do pé de banana,
Havia bananas maduras
No cacho,
Ele tirou minha roupa,
Eu senti medo,
Disse que não tinha vontade,
Mas, ele disse que me ajudava,
Mexeu na minha vagina.
Depois tirou bananas
Para eu,
Eu senti dor depois
De ele ter mexido em mim,
Aí ele passou a mão
No meu corpo,
Depois me fez voltar nua
Para a aula com a roupa
Na mão
E me mandou contar
Que fiz cocô.
Mas, eu não havia feito.
Eu falei o que ele mandou,
Ela veio até eu e
Me vestiu,
Olhou para ele de maneira
Estranha,
Ele estava colhendo salada
Na horta para o lanche
Da aula.
Depois, ele limpou a salada,
Então, voltou a tirar frutas,
Dois dias depois disso,
Ele quebrou o abacate ao meio
E colocou ele dentro
Da minha vagina,
Nisto, ele disse que
Eu precisava de carinhos,
Tirou a roupa dele
E me pôs sentada em seu colo
Esfregou o pênis dele
No meu corpo nu,
E depois me fez sentar
Com o bumbum nele.
Doeu e ele disfarçou
Meus gritos sorrindo alto,
Depois me falou que
Uma cobra me pegou
No bumbum
E agora ele iria doer muito,
Por muitos dias,
Mas ele tinha remédio.
Todos os dias
Eu fui buscar o remédio,
Senti frio quando
Precisei tirar a roupa,
Dor quando o remédio
Era difícil de entrar em mim,
As vezes, o remédio
Estava na boca dele,
As vezes nos dedos,
E as vezes no pênis,
Ele escolhia onde pôr
O remédio em mim,
E só ele sabia onde estava,
Por isso eu não poderia
Contar para ninguém
Sobre as minhas dores,
Caso eu contasse
Eu poderia morrer,
Só ele tinha o remédio.
Mas, a professora
Estranhou minhas mudanças
De humor e meus choros,
Me seguiu um dia,
E me encontrou sentada
No pênis dele.
Ele tirou uma guanxuma
Do lado de onde estávamos
E bateu nele com ela,
Me tomou dos braços dele,
E correu comigo no colo
Chorando.
Ela sentiu minha dor
E disse que iria encontrar
Remédio para a mordida
Da cobra,
Jurou que eu iria sarar,
E me ensinou a escrever direitinho
Para que eu pudesse contar
A mamãe e papai
Amanhã no dia dos pais na escola
Através desta carta
Que eles irão ler juntos
E decidir um remédio
Para o garoto que fez isto
Em meu corpo,
Porquê a professora jura
Que eu sou sã,
Ele é que é doente.
Ele é sempre cheio
De amiguinhos no seu redor,
Agora cada colega
Está escrevendo sua carta,
Marcelo ficou cego,
Não pode escrever,
Mas ele fala as palavras
E a professora coloca
Na carta,
Os outros todos se esforçam
E sanam poucas dúvidas
Que a professora sempre responde
E ajuda.
Amanhã será um dia diferente
Para nós
E para aquele garoto,
Eu já acredito
Que nunca fui tocada
Por uma cobra
Porquê não vi nenhuma,
Era ele mentindo,
Com isso ele tocou
No meu corpo todo
De todas as formas que pode.
Ele mentiu.
Agora eu odeio mentiras.
Marcos, tem cinco anos,
Ele me disse que não é
Picada de cobra
Lá no banheiro 
Quando nós fizemos sexo,
É assim que se chama 
E ele sabe.
Agora ele quer
Que eu faça sexo
Só com ele,
Ele disse que é ele
Que me ama
E não o garoto 
Que limpa a escola.
Nós fizemos sexo 
Para se divertir no recreio,
É uma brincadeira 
Muito boa,
É igual pique e esconde,
Só que muito melhor.
Eu não sei,
Eu senti dor,
Não sei se gosto,
Mas, ele me espera
Dentro do banheiro,
E aí me abraça.
Ele agora quer me levar
Pra casa,
E brincar comigo
Também lá.
Preciso pedir pra mamãe 
E papai para levá-lo.
Ele quer dormir comigo
E ficar mais tempo brincando,
Eu digo a ele: " dói".
Ele diz " já sara".

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Coisas que Fiz na Sua Ausência

Eu jurei contar tudo
Para meu irmão,
Nunca ter segredos
Ou não confiar nele,
Porém, quando ele morreu
Haviam coisas que eu não disse.
Eu me coloquei sobre
Seu corpo dentro do caixão,
O abracei forte,
Beijei seu rosto,
Beijei suas mãos
E quis falar,
No entanto, quando o décimo
Parente me pediu para
Ter forças o bastante
Para me desvencilhar
Do abraço e permitir
Que os outros o vissem
E se despedissem eu tive
Que me afastar.
Senti um momento
Profundo de choque
Ante a ideia de despedida,
Olhei para fora da igreja
E vi que não havia a sua moto
Estacionada a espera-lo.
O busquei e ele estava
Neste caixão,
E agora se dirigia para o cemitério:
“ não, não quero me despedir.”
Eu falei alto.
“mas os outros querem “.
Alguem respondeu.
Eu nunca esqueceria está resposta,
Havia alguém
Com coragem o bastante
Para despedir-se dele,
Dizer adeus,
Distanciar-se,
Muitos se aproximaram
E lhe disseram coisas
E estes muitos estavam
Lhe dizendo adeus
Para sempre,
Com que coragem?
Com a coragem
Que eu jamais tive.
Em casa, o busquei
Nos corredores,
Seu cheiro estava pelas paredes,
Suas fotos na moldura
Pareciam falar alto,
Me levar para aquele dia
Em que estávamos juntos,
Todos nós:
Eu, ele, mamãe e papai.
Me escorrei naquela
Parede marrom
E comecei a dizer:
“Antes de você ir embora...
Eu beijei,
Sem te contar,
Ele era casado,
Exigiu sigilo,
Me pagou por isso,
Cinquenta reais,
Eu gastei em picolé
Na cantina do ginásio escolar.”
Bem, não ouve rumores,
Nenhuma fala,
Nenhuma censura,
Insisti: “ o homem disse
Que era pai de família,
Mas, sonhava em tirar
Uma virgindade
Ver qual era o sabor
Do primeiro orgasmo,
Eu vendi a ele um único...”
Olhei para o retrato
E ainda estava emudecido:
“depois vendi outro,
Então, outros”.
Basicamente, foi isto
O que escondi de meu irmão
Até aquela data,
Como sua fotografia
Estava muito alta,
Me desviei um pouco,
Peguei uma cadeira
E vi que estava vazia.
Alguém esvaziou a moldura.
Sorri.
Contar contei,
Agora, realmente,
Não restou segredos.
Guardei a cadeira no lugar,
E lá no final do corredor
Me representou de maneira
Muito forte que eu o via,
Sorri feliz,
Agora não tínhamos segredos
Algum.

Depois da Sua Perda

Perder meu irmão
Deixou tudo mais estranho,
Fui morar em outra cidade,
E quando retornei a casa
Dos nossos pais,
Não reconheci mais ninguém
E se eu me olhar no espelho,
Também rejeito este rosto
Inchado de tanto chorar,
Estes olhos vermelhos
De tanto buscar
E meu coração que pulsa
Cada vez que passa em frente
Ao cemitério onde agora ele vive.
Chegando a cidade,
Deixamos o carro
Em frente a praça pública,
Meu pai foi até o supermercado
Fazer compras
E eu fiquei próximo a ali,
Sentada num banco
Vendo o chafariz jorrar água
E as flores abrirem
Seus botões.
Nosso pai saiu
E esqueceu de travar o carro,
Nisto um homem correu até
A porta para abrir,
Vendo através do vidro
Que não havia ninguém
Ele foi depressa até o outro
Lado para levar o carro.
Eu achei ridículo,
Fiquei boquiaberta,
Estarrecida com a falta
De vergonha,
Na pequena cidade de cinco
Mil habitantes onde todos
Conhecem todos,
Onde meu pai nasceu,
E vive a sessenta anos,
Um sujeito achar que poderia
Roubar seu único carro
E deixar, ele, um idoso a pé?!
Soou tão ridículo,
Que não respondi por mim,
Simplesmente, cedi a estímulos,
Corri até o carro,
Abri a porta do carona
Onde eu estava,
Tirei de baixo do banco
Um taco de madeira grossa
E bati na cabeça do homem.
Ele cambaleou para trás
Já com a porta do carro aberta,
Buscando algo
Com o que ligar o carro
E fugir,
Ou talvez, apenas estragar
E causar prejuízo.
Me joguei sobre o capô,
Desferindo golpes naquele
Homem,
Ele sangrou,
E gritou por socorro.
“ Vagabundo, ladrão,
Acha que vai se safar?”
Gritei e bati nele.
O homem pôs o braço
Em frente ao rosto
E avançou contra mim,
Eu não senti medo
De golpeá-lo com mais força,
Ele ria,
“olha como ela se defende?”
Ele gritou rindo da minha cara.
Eu só olhei para cima,
Depois da rua,
No moro onde estava
O cemitério e imaginei
Meu irmão lá,
Na lápide dele,
Vendo eu sofrer tamanha repressão
E investida,
Então vi que o homem tinha uma arma,
Foi como se meu irmão
Me avisasse sobre isso.
Eu não medi esforços,
Não deixei nem um minuto
Meu irmão se preocupar
Com meu bem-estar,
Bati contra ele,
Até a mão dele ficar mole
E ele não poder
Retirar a arma da cintura
Que ele apenas mostrou
Que tinha.
Continuei a bater nele,
Senti medo de que matasse
Nosso pai,
Assim tão próximo
Do meu irmão
O fazendo parecer desajeitado,
Desvirtuado da família.
“jamais meu irmão
Irá se sentir mal
Por sua causa, jamais.”
Eu gritei.
E tornei a bater.
Ele correu.
De arma na cintura,
Correu até perder o sorriso.
Eu corri atrás
Com aquele taco de madeira
Em mãos,
Bati nas suas costas,
 Contra o seu rosto,
A sua cabeça,
Eu senti ódio daquele homem
Que fez meu irmão parecer
Ter nos abandonado.
Não importe quantos anos
Passem de sua morte,
Eu sei que ele nunca nos deixou
E isto nos mantém seguros.
Depois disso,
Me agachei com a madeira
Em mãos logo atrás do carro,
Que estava com a porta aberta
Eu sorri em meio ao suor
Que escorria por meu rosto
E chorei de pena do meu irmão,
Ele não merecia ser acusado
Desta maneira tão traiçoeira
De ter nos abandonado.
Nisto, duas garotas
Se aproximaram e me convidaram
Para uma noite de garotas solteiras,
Eu levantei o rosto
Com o sorriso aberto
E o choro cruzando os dentes,
A pele inteira,
E escorrendo sobre o queixo
E recusei.
Não sei,
Tão perto do cemitério desta
Maneira,
Eu receber um convite
Tão inesperado
Me pareceu um erro,
Um erro gigante,
Um erro grotesco o meu aceite.
Recusei,
Esperei dentro do carro
E fui embora com meu pai.

Flor de Papel

Quatro anos
Depois da perda
De um irmão
Não é suficiente
Para fazer esquecer,
Quanto mais o tempo passa,
Menos esquecer parece provável.
O busco,
Nas janelas de vidros,
Nos rostos rápidos,
Nos rostos que vejo,
Nas vozes que ouço,
Só o que faz meu coração acelerar
São estes vestígios dele
Que mantenho comigo.
E o mais é terror,
Terror por perde-lo tão cedo,
Pânico por ter sido fraca,
Insuficiente para protegê-lo,
Mesmo sabendo onde ele está,
No cemitério da cidade,
Eu o busco em outras lápides,
Outros cemitérios
E outras cidades.
Nem eu ou nossos pais
Aceitam a perda,
Vivemos de buscá-lo.
Encontrei uma carta
Junto as coisas dele,
Juntei coragem
Para me separar de algo dele,
Sabendo que a pessoa
Para a qual estas palavras
Estão endereçadas
Jamais as mereceram tanto
Quanto eu , ou nossos pais.
Mas, é de sua vontade,
E apenas hoje junto coragem,
Suas namoradinhas,
Todas elas estão vivendo,
Vão a festas, sorriem,
Beijam e tem filhos,
Não sei como puderam
Superar tão facilmente a perda,
Suprir a ausência dele
Com estes,
Que jamais deram como ele,
Meu irmão é insubstituível.
Bem, chego a faculdade
E me deparo com flores
Na cor branca e vermelha
Espalhadas por toda parte,
Não parece ser organização
Da universidade,
Penso que algum espertinho
Está se declarando a alguma
Desatenta.
Paro, junto uma de sobre o banco,
Me recosto no tronco
De um ipê cheio de flores,
Sinto o cheiro bom
Que vem dela,
Tem o caule verde,
E o colorido da flor
Mas é feita de papel,
Feito um livro de segredos,
De uma história desconhecida.
Olho a pizzaria a frente
Da universidade,
Quase vejo meu irmão
Escolhendo mil pizzas no rodízio,
E rindo para eu.
Depois dele ter partido,
Nunca mais pude
Comer pizza da mesma forma,
O vejo,
E ele não está,
O busco,
E sinto muita falta.
Não gosto de provar
Coisas novas
Então nem me atrevo,
É como se eu fosse falsa com ele,
Estivesse emprestando em algo
As escondidas,
Sem o conhecimento dele
Ou a presença,
Não consigo,
Há sempre uma ausência.
Bem, lembro de um garoto
Que um dia me deu um buquê
De rosas vermelhas,
Eu lhes disse:
“ Agora irão morrer,
Você as retirou da terra”.
Eu aceitei as flores,
Mas, não quis planta-las,
Não sei porquê
Não vi futuro naquele afeto.
Ele me disse:
“Faz parte da beleza
A instantaneidade da vida”.
Eu simplesmente respondi:
“Prefiro de plástico,
Que são as que permanecem comigo”.
Claro que eu as preferia,
Meu passatempo preferido
Se tornou limpar a lápide
Do meu irmão
E florir tudo ao redor dele,
Assim, flores de plástico nunca
Foram mais encantadoras,
Há um mundo de flores
Lá com ele,
Elas saltam para fora do jazigo.
Tem inúmeras cores
E variadas formas,
Encantam o lugar,
Certa vez, meu irmão
Colheu uma rosa
E a pôs no meu cabelo.
“ Ficou lindo.”
Eu disse a ele.
Então, juntei aquela flor
E amarrei uma trança rápida
Depois a pus ali no cabelo,
Olhei para o céu,
E chorei feliz,
Algo do meu irmão estava comigo
E o trazia para perto,
Muito perto,
E isto me abria para a vida
Feito uma flor que se abre
Na terra.
Em cada parte do chão
E escada tinha uma flor,
Haviam muitas flores,
Haviam versos a lápis
Escrito em suas pétalas,
Não resisti e olhei
De uma a uma,
Depois as soltei,
Algumas pendurei
Ao redor do cabelo,
Devo ter retido umas
Seis delas.
Não havia assinatura,
Nem remetente.
Quem seria o último romântico
Da faculdade de adultos?
Afinal, já estávamos todos
Nos nossos vinte e cinco anos
Quem teria estas ideias,
E quem as apoiaria?
Meu irmão, talvez,
Ele sempre gostou de flor.
Ao menos todas que via
Sempre colhia e me dava,
Adorava ver meus cabelos
Adornados em cores.
Lá no final da escadaria
Encontrei a dona da carta,
Beijando um rapaz,
Usando minissaia,
Não sei,
Mas, me pareceu mais
Que um beijo
Em pleno corredor,
Fiquei constrangida
E retive a carta.
Ela não merecia recebe-la,
Passaram quatro anos
E ela abandonou neste tempo
Toda a vergonha
E compromisso com a alma humana,
Seminua aos beijos no corredor
Era desmedido exagero
Para que eu a pudesse perdoar.
Meu irmão
Não conheceu este lado
Promíscuo dela,
Eu sim,
E a tempo de evitar maiores
Constrangimentos e dores.
Bem, nisto Nicholas me alcança
Com um pequeno buquê
De flores de plástico
E papel em mãos.
De primeira vista
Já vejo meu nome
Mil frases e ele:
“ Eu te amo”.
Me disse, de ímpeto.

Antes Do Adeus

Quando você ama um irmão
Tanto quanto eu amei o meu,
O último lugar onde você espera
Encontra-lo é num leito de hospital,
Principalmente, quando ele sai
De casa sadio e forte
Pilotando sua moto
Rumo ao trabalho.
Meu irmão, sempre tão forte
Escolheu a profissão de higienizar ambientes,
Dirigir aquela máquina de água,
Exige muito esforço,
Geralmente, ele limpa
Aviários e chiqueiros para a Sadia.
Trabalha direto com o suinocultor e avicultor,
A pessoa o contrata
E ele vai lavar,
Entrega limpo e recebe
O valor acordado.
Este trabalho dura no geral
Três dias cada barracão,
Aí o dinheiro já entra na conta.
Ele está despreocupado financeiramente,
Vai até o local de Fusca,
É um carro pequeno,
Mal cabe a máquina grande
No banco de trás,
Ele leva nosso pai para ajudar.
Os porcos são retirados
E enviados para a Sadia,
Então, ele chega limpar
Para recolocar novos porcos,
É assim com os frangos também.
Outro dia, embarcamos na moto
E fomos até o eucaliptal
Dar voltas,
Ele queria me ensinar a pilotar,
Eu senti medo de ir sozinha,
Mas recebi as diretrizes,
Aprendi onde era o acelerador,
Onde ligava,
Que a marcha era trocada no pedal,
Através do pé para cima,
Para aumentar e vice-versa,
E o acelerador era no punho,
Através de rolagem
E o freio através daquele
Daquela maçaneta onde
Se coloca a mão.
Ele fez zeros fechados,
Fez zigue e zague,
Aprendeu a estacionar,
Fazer ultrapassagem,
A aumentar a velocidade
E a diminuir de maneira rápida.
Com seu primeiro salário,
Que recebeu em cheque
Do trabalho feito num aviário
Ele nos comprou carne
Para o churrasco
E chocolate em barra.
Me deu uma toda para eu.
Ele mesmo fez o fogo
Embaixo da laranjeira
E espremeu o limão
Sobre a carne depois a pôs
No espeto, então, assou.
Nosso pai ficou feliz,
Se sentia orgulhoso,
Ele estava sendo independente.
Contudo, logo ele caiu da moto,
Sofreu um acidente sozinho,
Derrapou no chão,
E deslizou com a cara
E o corpo sobre a terra.
Quando nós soubemos
Ele já estava hospitalizado,
Nossos pais correram buscá-lo,
Eu faltei a faculdade só para vê-lo.
Ele disse para a namorada dele
Que não queria me ver,
Eu era um mal exemplo para ele,
Pois eu gostava de relacionamentos
Em que eu traísse o esposo,
E meu nariz era feio,
Então, por inveja,
Eu desejei o dele do mesmo jeito
E agora ele fraturou o nariz.
Eu o ouvi falar,
Aí me sentei triste
Ao lado da porta,
Eu queria vê-lo,
Meu coração se aprisionou.
Eu não sei quem era ela,
Nunca soube,
O relacionamento logo teve fim.
Mais tarde,
Nós fomos no rio,
Ele desceu até lá de moto,
Eu fui caminhando,
Sou mais medrosa,
Há lá um pequeno moro,
Só isso,
Não é mesmo um caminho difícil,
Mas, veja, nem piloto.
Lá tiramos fotos,
Eu fiquei assustada
Em vê-lo,
Ele teve grandes cicatrizes
No nariz e ombro.
Chamou de deformação,
Eu mostrei a ele
Que jamais seria
Ele era perfeito,
Inacreditavelmente, perfeito.
Nosso pai trocou mamãe
Por uma garota mais jovem,
Disse que precisava beber
Do vigor da juventude,
Nossa mãe voltou a estudar,
Disse que estava com pouco cérebro.
Eu guardo nossas fotos,
Eu sonho em estar sempre
Com meu irmão,
É meu sonho ver ele pilotar
Para mim,
Eu não preciso ser melhor
Que ele,
Nem independente,
Ele pilota e eu vou na carona.
Eu gosto que ele seja
Auto determinado e
Que me veja como alguém frágil
Que sempre irá precisar dele.
Certa vez, tomei remédio
Para morrer,
Apenas dormi,
E quando acordei odiei isto,
Estar viva não teria sentido
Nem nossa mãe,
Sempre forte nos fazendo
A melhor comida,
Mantendo nosso chão limpo,
Nossas roupas bem organizadas,
Nosso papai trabalhando
Para nos vestir, dar casa e comida,
E meu irmão,
O garoto forte
Em que me baseio
E busco amparo.
A roupa dele grudou no corpo
Devido a quantidade de sangue
Que escorreu do ferimento,
Teve que ser cortada,
Mamãe cortou com a tesoura,
Eu sofri,
Era a linda camisa branca
Que escolhemos juntos.
Agora iremos juntos a loja
Escolher outra tão linda
Para ele sair e se sentir bem.
A loja que escolhemos
Pertence a um amigo da família,
Ele não chegou nos cumprimentar,
Eu me sento estranha,
Compramos uma legal
Verde esmeralda,
Então, fomos tomar sorvete juntos.
Em frente a loja,
Escolhemos sorvete
Com refrigerante,
Ficamos muitas horas lá.
Ele também não foi convidado
Para o sorvete,
Era verão quente,
Não nos importamos
Em deixá-lo trabalhando
Naquela sala fechada
De loja de vestuário,
Sozinho, contando vendas.
Eu me preocupo com ele,
Tenho medo de perde-lo,
Eu tento dizer isto a ele,
Mas, as garotas que ele conquista
Sentem ciúmes da nossa ligação,
Não compreendem nosso
Sentimento de união e carinho.
Ele sempre foi meu braço forte,
Meu punho fechado,
A voz grossa e estridente,
Meu amparo para dias ruins,
Meu sorriso de sempre,
Logo depois, outra vez ele caiu.
Queria descobrir de que ele foge
Que precisa correr tanto,
De que ele precisa
Que busca sempre estar em movimento,
O que o aprisiona
Pra ele almejar tanta liberdade,
Por quê parece buscar algo
Tão distante,
Se estamos tão próximos...
O que ele ouve?
Será que há alguém o perseguindo?
Os amigos não falam
Coisas tão boas quanto os pais,
O que o aflige,
Queria saber por que
Ele não divide estas coisas comigo.

O Último Adeus

No porão,
Seu antigo quarto,
Depois de tanto esforço
Para remover nossa mãe
Que não para de chorar
Dopada em remédios
Para poder fechar os olhos
Eu não tento retirar a camiseta
Velha de Ty de suas mãos.
Ela me odiaria
Se os remédios permitissem
Talvez, me esbofeteasse
Se o luto lhe desse está força,
Contudo, ela usou todo
O seu esforço em suas lágrimas.
Trancou-se no quarto dele,
Agora dorme em sua cama,
Vasculha suas coisas
Em busca de lembranças
E de vida,
Vestígios de uma vida
Que um dia brilhou em seu olhar
E que hoje dá esperança
De vida para aquela
Que não aprendeu a perder
Seu próprio filho.
Eu sofro com isso,
Com a ideia de despedir-me,
Padeço ao ver nossa mãe
Se esvair feito lágrimas
Que dão cansaço e aliviam dor,
Mas que borram a visão
Para um futuro bom,
Um futuro em que ela possa superar,
Nos perdoar,
E talvez sorrir.
Quando Ty se foi
Imagino que ele tenha confiado
Em minha força,
Que ao ir embora,
Para sempre sem dizer adeus,
Ele imaginou que eu superaria
E ofereceria alicerce
Para nossa mãe resistir,
Afinal, um irmão não vai antes
Se não imaginar que está
Tudo bem,
Nem deixa para trás
O que não deixaria por ninguém.
O amor por ele próprio
Foi mais forte,
Ele estava com dor,
Não soube dividir
Nem pedir concelho para aliviar,
E foi deixando um bilhete
No espelho da penteadeira
Do quarto que dizia:
“Desculpa, mãe, eu estava
Muito vazio”.
Nosso pai consegue
Sair em casa manhã
Para ir trabalhar
E trazer sustento financeiro
Para a família,
Eu sigo para as aulas,
No retorno troquei as aulas
De vôlei por sessões
Com o psiquiatra e
Ganhei doses extras de remédios.
Minha nota piorou,
A concentração na temática
Não está boa,
A saudade aperta,
E eu, as vezes, gostaria
De ver seu quarto vazio
E poder me encontrar
Com ele,
Reimaginar nossas histórias,
Reviver as lembranças.
Outro dia,
O perfume dele
Perambulou pelo corredor
Da casa forte demais,
Vivo pode-se dizer,
Quando olhei na soleira da porta
O vi em pé parado
De chaves em mãos
Com aquele sorriso
De quem me levaria
Para qualquer lugar.
De início abri meus braços
E fui em sua direção
Para irmos para onde o vento
Bate contra os cabelos,
E a liberdade pega sua mão,
Foi então, que lembrei
Que ele foi capaz de dar
Um tiro contra sua própria cabeça
E que agora ele estava morto,
Então, parei no meio
Do caminho
E joguei meu celular
Contra ele,
Antes de toca-lo
Ele sumiu
Como uma fumaça.
Como um poça de lágrimas
Que lentamente secam
E vão para distante,
As minhas vão para longe,
Elas são diferentes das
De nossa mãe
Que nunca cessou de chorar,
Mesmo com os meses,
E penso que com os anos
Não irão secar.
O psiquiatra me indicou
A escrita para expor a dor,
Para me auxiliar a libertar
Os medos e traumas,
Nós optamos com continuar
Na mesma casa,
As coisas dele estão todas
No mesmo lugar,
Nós não fingimos não espera-lo.
Ele tinha dezenove anos.
Parece tão pouco tempo
Quando se imagina
Que viver é amar, casar e ter filhos,
Fazer de nossos pais avós,
Expor o branco dos nossos
Cabelos ao nos tornar tia.
As vezes, eu sinto tanto medo
Que eu me vejo querendo
Adiantar o tempo,
Fazê-lo correr mais rápido,
Talvez, eu possa ver o Ty
Muito antes,
Eu sinto vontade de vê-lo,
Também, de abraça-lo.
Nestes instantes,
Eu me vejo a olhar
Para um certo rapaz
Lá no colégio e me apaixonar,
Imagino um futuro com ele,
Me vejo falar de amor,
Pegar em sua mão,
Mas, então, busco a aprovação
De Ty e ele não está,
Não está rindo do meu beijo
Desajeitado,
Não ri das roupas engraçadas
Do garoto,
Nem o reprova de longe
Com o olhar para me fazer
Eu me afastar,
Mas, eu me afasto antes,
Antes de tudo isto.
Tentar enganar o tempo
Não faz retroceder,
Lá onde Ty está,
Eu não posso ir,
E ninguém pode.
Foi o adeus.
Um singelo e definitivo adeus.
Eu acaricio o bilhete
De adeus que ele nos deixou,
Contorno cada palavra,
A forma como escreveu
E busco uma motivação,
Busco suas roupas,
Os cheiros,
Os troféus, as coisas de que gostava,
Busco o que houve de errado.
Isto me desespera,
Ontem a noite me vi
Esquecer o horário noturno,
Abrir a porta do porão
E correr para a rua escura,
Saí em disparada rumo
A lugar nenhum,
Eu queria o abraço
Do meu irmão,
Eu corri muito
Aí lembrei da praça
Onde ele gostava de ir comigo,
E fui até lá.
Lá nós andamos de moto,
Fizemos zerinho na calçada,
Queimamos pneu
Para escrever no chão,
Pulamos os quebra molas,
Nos sentamos recostados
No tronco da árvore
Onde tiramos fotografias
E tomamos chimarrão
De hortelã com cidreira.
Sentei no mesmo tronco,
Disfarcei a dor
Abraçando-o e imaginando
Ele quente e com vida pulsante,
Beijei seus face
E peguei uma pedra na terra
E risquei Ty sinto sua falta
Meu irmão,
No escuro,
Havia uma meia luz
De lamparina próxima a
Onde eu estava,
Mas meu coração soube
Eu risquei bem certinho
Só eu sabia da saudade,
Só eu sei da falta que ele faz,
Depois, forcei um sorriso
No rosto e voltei caminhando
A passos lentos para casa,
Contei as inúmeras vezes
Que andei de carona
Em sua moto ali
Naquele chão,
Cheguei em casa
E vi que deixei a porta aberta,
Mas, tudo estava no lugar,
Ao menos me pareceu,
Até o capacete negro dele
Estava ao lado do meu vermelho.
Quando fechei a porta
E imaginei que alguém
Poderia ter mexido
Em qualquer coisa sequer
E retirado do lugar,
Ou levado embora,
Eu apertei meus braços
Contra meu peito,
E o vi caído,
Na data em que ele sofreu
Um acidente de moto
E ficou seriamente ferido
Eu senti a dor da morte,
Contudo, agora ela irá permanecer.
Eu tenho a foto do acidente,
Ele todo cortado,
Vermelho em sangue,
Uma irmã não deseja a dor
De seu próprio irmão,
Ele caiu duas vezes,
Foi parar no hospital,
Nós corremos buscá-lo,
Ninguém queria ficar longe dele,
Contudo, hoje está fora
Do alcance,
Distante do querer,
Ele descansa no cemitério,
Dorme numa lápide,
Se perde no tempo,
Não podemos remover
Ele de lá,
Está frio
O calor que nos uniu,
A pulsação cedeu ao buraco
Do tiro,
Se perdeu neste tão vazio,
Apenas deste vazio
Eu entendi,
A força,
Eu entendi,
Do outro que o levou
A fazer isto eu não entendi
Nem um pouco,
De que buraco falou?
Se era tão importante
Por quê não conversou?
Nós juramos fidelidade
Na família,
Confiança um no outro,
Agora tudo de que confiamos
É a identificação do psiquiatra
E o remédio de que fazemos uso
E seus efeitos.
O buraco que Ty sentiu
Nos afundou,
Levou a ele,
E aquele que o levou
Nos consumiu...
Bom, eu odeio armas,
Dispenso tiros,
Só espero que mamãe 
E papai não se afundem.

terça-feira, 22 de julho de 2025

Não Foi Adeus.

Bem, você não está preparado
Para perder seu irmão
Tão jovem,
E
“Ele tinha dezenove anos”
Eu comento no velório
Como se isso tornasse injustificável perde-lo.
Na época, eu estava com 21 anos.
O tempo passou,
Os dias me acordam
De alguma forma,
Como se o sol pudesse
Amenizar o buraco de dor
Que se abriu em meu peito
E guardou meu irmão ali,
Na esperança de que ele emerja
Lá de dentro,
Eu abro os olhos,
Finjo que descansei,
Busque um sorriso forçado
E encontre forças
Para sair da cama.
A parte do se alimentar
É difícil,
Eu vou até o quarto
Que tenho ao lado do meu
Para espera-lo,
Sento sobre a cama
Que arrumo todos os dias
Com um lindo cobertor antigo
Que o espera para mantê-lo
Aquecido.
Eu deito de bruços,
Imagino que se aquele cobertor
Possa aquecer meu coração,
Sanar a dor,
E trazê-lo de volta,
Depois me sento,
Pegou seus cadernos antigos,
Os abro mil vezes,
Folheio suas páginas
Buscou as histórias dele.
Eu busco traços de marcas
Sobre as páginas,
Vou do escrito
Para o não escrito
Em busca de cada momento
Em que ele viveu,
Eu sonho estar lá,
Ter acompanhado ele,
Protegido,
Eu sonho muito tê-lo amparado
Daquele maldito tiro,
Destrutiva bala que o levou,
Fez um dilacerado de dor,
Que se cravou em casa um
De nós:
Nosso pai,
Nossa mãe,
Eu.
Eu abraço cada página
Sonho que ele saiba
O quanto o amei,
E o amarei por toda a vida,
Aperto contra o peito
Tentando evitar mancha-la
Com minhas lágrimas,
Eu busco cada cheiro,
Cada perfume que esteve
Ao seu lado ou próximo,
E tentou buscar os de mais
Distante,
E depois desenho em minha mente
Cada rosto,
Cada corpo,
O que disse a ele,
Cada nome,
O que o fez.
Então, fecho o caderno
E o guardo de volta,
Acaricio o antigo cobertor
Com o qual já dormimos juntos,
Já vimos televisão abraçados,
E envolvidos nele,
Fizemos nossa gemada,
Servimos nosso café,
Comemos nosso delicioso creme
Da tarde.
Arrumo o cobertor
Da mesma maneira anterior,
Por vezes, poucas vezes,
Eu desenho ele sobre o cobertor
E tentou imaginar
Como ele estaria,
Como seria seu sorriso,
Que roupa vestiria,
Se tem saudades de nós.
Eu o desenhei tanto
Naquele cobertor
Apenas com abraços e chorou
Que já sinto o cheiro
Encravado em cada linha
De costura de suas cores
Branca, marrom e vermelha
Axadrezadas.
Buscá-lo me dá forças,
Então, eu saio para fora de casa,
Vou ao trabalho,
No meu trabalho eu ligo
Para a casa das pessoas
E ofereço planos de telefonia,
Todo o dia eu ligo
Para pessoas diferentes
E cidades diferentes da região.
Eu me esforcei
E agora posso oferecer
Planos de televisão e celular,
Eu ligo para suas casas,
Seus trabalhos,
As vezes, sou inconveniente,
Mas, eu insisto,
As vezes, sonho com a voz dele.
“Será que ele me atende?”
Eu penso,
Levou uma mão ao coração,
E a outra ao telefone
E digito um número a esmo,
Eu o busco.
Na primeira vez,
Uma voz masculina atendeu,
Eu insisti.
“voce é o Gilvan?”
 Indaguei,
“não”.
Foi a resposta tardia
Que recebi.
Eu busquei o cheiro dele,
Busquei muito.
Insisti e liguei de volta,
Outra vez masculina
E outro não.
Recebi muitos nãos,
As pessoas não gostam
De mudar planos em seus
Celulares e televisores,
E... Infelizmente,
Não consegui contato
Com meu irmão,
Não para eu.
Sim, para a verdade.
Eu fiquei rouca,
Perdi a voz,
Nunca faltei,
Cada mês lhe comprei flores,
Cada final de semana
Eu o visitei no cemitério,
Lhe abracei de perto,
Mas, o buraco em meu peito
Dava voltas,
Não se adequava.
Assim, foram dez anos.
Meu trabalho durou pouco,
Eu fui xingada por ter ligado
Para a cidade inteira
Em muito pouco tempo,
E já estar sendo reconhecida
Nas ruas,
E sendo alvo de comentários
Em cidades vizinhas.
Fui para a área jurídica,
Busquei ele nos cemitérios,
Hospitais, delegacias e afins,
Não havia processos contra ele,
Não teria sido possível,
Ele estava morto,
Havia um atestado de morte,
E um corpo num caixão
Que concordavam com isso,
Não havia está certeza
Em meu coração.
Eu quis abrir o túmulo,
Buscar no caixão os seus restos,
Ver de que forma
Eu me identificaria com a perda,
E aceitaria os fatos,
Encerraria minhas buscas.
As pessoas me indicavam
Tratamento psiquiátrico,
Alegavam insanidade,
Eu disse: “ meu bem, é saudade”.
Alguns elogiavam minha força
Por não fazer uso de remédio,
Até para esquecer e aplacar a dor,
Eu respondi:
“ não quero esquecer,
Preciso lembrar,
Buscar cada detalhe,
Estar lá...”
Então, baixei os olhos
Carregados de lágrimas
E terminei a frase:
“com ele”.
Eu tive poucos amigos,
Eles foram viver suas vidas,
Disseram que sentiam medo
Do meu luto
Porque se tornava contagioso,
E ninguém desejava
Acordar mortos.
“ não está morto”.
Eu consegui dizer
Com tanta dor
Que arrastei a frase
Até eu chegar a porta,
Abri-la e dizer adeus eterno
Para a pessoa
Que não queria lembrar dele.
Eu mataria a que me fizesse
Esquecer,
Não é possível aplacar a dor
De perder um irmão,
Eu via isto em nosso pai,
Em nossa mãe,
Via no reflexo do olhar
De cada um que chegava perto.
Eu guardei o celular
Que ele usava,
A roupa que ele gostava,
Eu liguei para ele
Muitas vezes,
Ele não atendeu,
Eu não tive está certeza,
Por isso, nunca parei.
Eu fui em festas
Onde tinham pessoas
Para buscá-lo,
Eu quis vê-lo nos olhos
De cada um que passava.
O cheiro dele
Não parecia distante.
Eu me esforcei na cozinha,
Busquei os temperos antigos,
Lembrei da culinária da família
E o busquei,
Temperei do mesmo jeito,
Com o mesmo carinho,
Abri a janela
Para que ele sentisse o cheiro,
Desejei que isto o trouxesse.
Eu sempre guardei
Um prato para ele,
Sempre mantive seu lugar a mesa.
Eu busquei o reflexo dele
Na imagem de outros garotos,
Tentando identificar
Como ele estaria
Se não tivesse existido
O maldito dia 23 de julho de 2011.

Oi Zé

Eu não sabia Que a sua boca mente, Eu só sabia que a solidão Que só me fez chamar tu, Que só me fez ligar tu, E o seu amor...