quarta-feira, 23 de julho de 2025

Depois da Sua Perda

Perder meu irmão
Deixou tudo mais estranho,
Fui morar em outra cidade,
E quando retornei a casa
Dos nossos pais,
Não reconheci mais ninguém
E se eu me olhar no espelho,
Também rejeito este rosto
Inchado de tanto chorar,
Estes olhos vermelhos
De tanto buscar
E meu coração que pulsa
Cada vez que passa em frente
Ao cemitério onde agora ele vive.
Chegando a cidade,
Deixamos o carro
Em frente a praça pública,
Meu pai foi até o supermercado
Fazer compras
E eu fiquei próximo a ali,
Sentada num banco
Vendo o chafariz jorrar água
E as flores abrirem
Seus botões.
Nosso pai saiu
E esqueceu de travar o carro,
Nisto um homem correu até
A porta para abrir,
Vendo através do vidro
Que não havia ninguém
Ele foi depressa até o outro
Lado para levar o carro.
Eu achei ridículo,
Fiquei boquiaberta,
Estarrecida com a falta
De vergonha,
Na pequena cidade de cinco
Mil habitantes onde todos
Conhecem todos,
Onde meu pai nasceu,
E vive a sessenta anos,
Um sujeito achar que poderia
Roubar seu único carro
E deixar, ele, um idoso a pé?!
Soou tão ridículo,
Que não respondi por mim,
Simplesmente, cedi a estímulos,
Corri até o carro,
Abri a porta do carona
Onde eu estava,
Tirei de baixo do banco
Um taco de madeira grossa
E bati na cabeça do homem.
Ele cambaleou para trás
Já com a porta do carro aberta,
Buscando algo
Com o que ligar o carro
E fugir,
Ou talvez, apenas estragar
E causar prejuízo.
Me joguei sobre o capô,
Desferindo golpes naquele
Homem,
Ele sangrou,
E gritou por socorro.
“ Vagabundo, ladrão,
Acha que vai se safar?”
Gritei e bati nele.
O homem pôs o braço
Em frente ao rosto
E avançou contra mim,
Eu não senti medo
De golpeá-lo com mais força,
Ele ria,
“olha como ela se defende?”
Ele gritou rindo da minha cara.
Eu só olhei para cima,
Depois da rua,
No moro onde estava
O cemitério e imaginei
Meu irmão lá,
Na lápide dele,
Vendo eu sofrer tamanha repressão
E investida,
Então vi que o homem tinha uma arma,
Foi como se meu irmão
Me avisasse sobre isso.
Eu não medi esforços,
Não deixei nem um minuto
Meu irmão se preocupar
Com meu bem-estar,
Bati contra ele,
Até a mão dele ficar mole
E ele não poder
Retirar a arma da cintura
Que ele apenas mostrou
Que tinha.
Continuei a bater nele,
Senti medo de que matasse
Nosso pai,
Assim tão próximo
Do meu irmão
O fazendo parecer desajeitado,
Desvirtuado da família.
“jamais meu irmão
Irá se sentir mal
Por sua causa, jamais.”
Eu gritei.
E tornei a bater.
Ele correu.
De arma na cintura,
Correu até perder o sorriso.
Eu corri atrás
Com aquele taco de madeira
Em mãos,
Bati nas suas costas,
 Contra o seu rosto,
A sua cabeça,
Eu senti ódio daquele homem
Que fez meu irmão parecer
Ter nos abandonado.
Não importe quantos anos
Passem de sua morte,
Eu sei que ele nunca nos deixou
E isto nos mantém seguros.
Depois disso,
Me agachei com a madeira
Em mãos logo atrás do carro,
Que estava com a porta aberta
Eu sorri em meio ao suor
Que escorria por meu rosto
E chorei de pena do meu irmão,
Ele não merecia ser acusado
Desta maneira tão traiçoeira
De ter nos abandonado.
Nisto, duas garotas
Se aproximaram e me convidaram
Para uma noite de garotas solteiras,
Eu levantei o rosto
Com o sorriso aberto
E o choro cruzando os dentes,
A pele inteira,
E escorrendo sobre o queixo
E recusei.
Não sei,
Tão perto do cemitério desta
Maneira,
Eu receber um convite
Tão inesperado
Me pareceu um erro,
Um erro gigante,
Um erro grotesco o meu aceite.
Recusei,
Esperei dentro do carro
E fui embora com meu pai.

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