Quatro anos
Depois da perda
De um irmão
Não é suficiente
Para fazer esquecer,
Quanto mais o tempo passa,
Menos esquecer parece provável.
O busco,
Nas janelas de vidros,
Nos rostos rápidos,
Nos rostos que vejo,
Nas vozes que ouço,
Só o que faz meu coração acelerar
São estes vestígios dele
Que mantenho comigo.
E o mais é terror,
Terror por perde-lo tão cedo,
Pânico por ter sido fraca,
Insuficiente para protegê-lo,
Mesmo sabendo onde ele está,
No cemitério da cidade,
Eu o busco em outras lápides,
Outros cemitérios
E outras cidades.
Nem eu ou nossos pais
Aceitam a perda,
Vivemos de buscá-lo.
Encontrei uma carta
Junto as coisas dele,
Juntei coragem
Para me separar de algo dele,
Sabendo que a pessoa
Para a qual estas palavras
Estão endereçadas
Jamais as mereceram tanto
Quanto eu , ou nossos pais.
Mas, é de sua vontade,
E apenas hoje junto coragem,
Suas namoradinhas,
Todas elas estão vivendo,
Vão a festas, sorriem,
Beijam e tem filhos,
Não sei como puderam
Superar tão facilmente a perda,
Suprir a ausência dele
Com estes,
Que jamais deram como ele,
Meu irmão é insubstituível.
Bem, chego a faculdade
E me deparo com flores
Na cor branca e vermelha
Espalhadas por toda parte,
Não parece ser organização
Da universidade,
Penso que algum espertinho
Está se declarando a alguma
Desatenta.
Paro, junto uma de sobre o banco,
Me recosto no tronco
De um ipê cheio de flores,
Sinto o cheiro bom
Que vem dela,
Tem o caule verde,
E o colorido da flor
Mas é feita de papel,
Feito um livro de segredos,
De uma história desconhecida.
Olho a pizzaria a frente
Da universidade,
Quase vejo meu irmão
Escolhendo mil pizzas no rodízio,
E rindo para eu.
Depois dele ter partido,
Nunca mais pude
Comer pizza da mesma forma,
O vejo,
E ele não está,
O busco,
E sinto muita falta.
Não gosto de provar
Coisas novas
Então nem me atrevo,
É como se eu fosse falsa com ele,
Estivesse emprestando em algo
As escondidas,
Sem o conhecimento dele
Ou a presença,
Não consigo,
Há sempre uma ausência.
Bem, lembro de um garoto
Que um dia me deu um buquê
De rosas vermelhas,
Eu lhes disse:
“ Agora irão morrer,
Você as retirou da terra”.
Eu aceitei as flores,
Mas, não quis planta-las,
Não sei porquê
Não vi futuro naquele afeto.
Ele me disse:
“Faz parte da beleza
A instantaneidade da vida”.
Eu simplesmente respondi:
“Prefiro de plástico,
Que são as que permanecem comigo”.
Claro que eu as preferia,
Meu passatempo preferido
Se tornou limpar a lápide
Do meu irmão
E florir tudo ao redor dele,
Assim, flores de plástico nunca
Foram mais encantadoras,
Há um mundo de flores
Lá com ele,
Elas saltam para fora do jazigo.
Tem inúmeras cores
E variadas formas,
Encantam o lugar,
Certa vez, meu irmão
Colheu uma rosa
E a pôs no meu cabelo.
“ Ficou lindo.”
Eu disse a ele.
Então, juntei aquela flor
E amarrei uma trança rápida
Depois a pus ali no cabelo,
Olhei para o céu,
E chorei feliz,
Algo do meu irmão estava comigo
E o trazia para perto,
Muito perto,
E isto me abria para a vida
Feito uma flor que se abre
Na terra.
Em cada parte do chão
E escada tinha uma flor,
Haviam muitas flores,
Haviam versos a lápis
Escrito em suas pétalas,
Não resisti e olhei
De uma a uma,
Depois as soltei,
Algumas pendurei
Ao redor do cabelo,
Devo ter retido umas
Seis delas.
Não havia assinatura,
Nem remetente.
Quem seria o último romântico
Da faculdade de adultos?
Afinal, já estávamos todos
Nos nossos vinte e cinco anos
Quem teria estas ideias,
E quem as apoiaria?
Meu irmão, talvez,
Ele sempre gostou de flor.
Ao menos todas que via
Sempre colhia e me dava,
Adorava ver meus cabelos
Adornados em cores.
Lá no final da escadaria
Encontrei a dona da carta,
Beijando um rapaz,
Usando minissaia,
Não sei,
Mas, me pareceu mais
Que um beijo
Em pleno corredor,
Fiquei constrangida
E retive a carta.
Ela não merecia recebe-la,
Passaram quatro anos
E ela abandonou neste tempo
Toda a vergonha
E compromisso com a alma humana,
Seminua aos beijos no corredor
Era desmedido exagero
Para que eu a pudesse perdoar.
Meu irmão
Não conheceu este lado
Promíscuo dela,
Eu sim,
E a tempo de evitar maiores
Constrangimentos e dores.
Bem, nisto Nicholas me alcança
Com um pequeno buquê
De flores de plástico
E papel em mãos.
De primeira vista
Já vejo meu nome
Mil frases e ele:
“ Eu te amo”.
Me disse, de ímpeto.
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